AVISO

Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

A partir de agora poderão encontrar-me em:

http://www.arocoutinhoviana.blogspot.com

Obrigado

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

IRMÃ MARIA DE JESUS VEIGA TORRES

A PRIOREZA COM QUEM PRIVEI PELO TM E NO LOCUTÓRIO. ERA NATURAL DE VIANA DO CASTELO, NO COVENTO DE SANTA TERESINHA E S. JOÃO EVANGELISTA FALECEU HÁ POUCO TEMPO. ERA TIA DO CATEQUISTA ANDRÉ LOUSINHA E MEMBRO DO CONSELHO ECONÓMICO.


A imagem pode conter: 1 pessoa, óculos graduados e closeupIrmã Maria de Jesus Veiga Torres, (Maria de Jesus das Dores de Cristo Crucificado, nome de consagrada) nascida há mais de 92 anos na casa que foi dos Wernek(s), onde os seus pais habitavam na rua da Piedade, junto e ao lado da casa que foi conhecida pela Casa do Papagaio. Ficava-lhe nas traseiras a casa dos pais do Dr. Defensor Moura. Era segunda filha, de 11 irmãos, de Alberto Teixeira Veiga, comerciante com estabelecimento na rua da Piedade (Mateus Barbosa) e de sua esposa Rosa Meira Torres que, para além dos seus afazeres domésticos ajudava o seu marido e era cuidadora da Capela das Almas.
Esta irmã viveu a espiritualidade carmelita descalça e viveu sempre preocupada com as coisas do mundo e da família, mas recolhia-se em oração e em trabalhos mesmo para esta Paróquia de Nª Sª de Fátima.
Aos olhos do mundo uma vida assim é um fracasso, mas aos olhos da fé, este foi o caminho que a fez ser feliz e a todos os que acreditavam nela e na comunidade do Carmelo.
É um caminho, uma vocação para qualquer jovem deste mundo em que o material as sufoca de tudo menos dos valores do espiritual.  Jovens, não deixeis fechar o Carmelo de Viana...Ali há também um caminho para a felicidade.

Tinha nascido uma menina!

Estas fotografias são do livro do Zamith: Um quadro a óleo na capela do Cemitério de Julian Mantins (Martinez), a foto de uma sobrinha da da Madre, a entrada para o convento e para a igreja, o mansoléu, um dos armários da capela do cemitério e uma janela da cela da Madre, no concento. Tenho outras fotografias mais actuais, mas já a as publiquei.
Tinha nascido uma menina!
Madre Maria da Conceição
Não foi a estrela do Oriente, mas com sabor a festa do dia seguinte, pois era véspera da Imaculada Conceição, um dia negro com muitas nuvens sobre Braga. Nesse dia 7 uma menina, a nova filha dos onze irmãos dum casal, rico, nobre. Como se aproximava o dia 8, o dia da Imaculada Conceição, adivinhava-se próxima a festa da Imaculada.
No dia 7 toda a família também sentiram festa no coração à volta de um berço bem rico onde já crescia a menina Maria da Conceição e baptizada no dia 15 daquele mês Dezembro.
No entanto, sem se esperar, embora fosse a Maria da Conceição muito virtuosa e piedosa, aliás, segundo os bons exemplos da família com 22 anos voou para o Carmelo de S. José, no Porto. Fez o noviciado em 14 de Agosto de 1831, levando-a a assumir e a fazer profissão solene dos três votos: obediência, pobreza e castidade.
No entanto, veio parar ao Carmelo do Convento de Jesus Maria José, de Viana Castelo, em 11 de Julho de 1833. O título de Madre Maria da Conceição não foi usado por ela, mas apareceu a título póstumo devido à sua vida conventual exemplar.
Ocupou no Carmelo lugares humildes e secundários, preferindo a sombra e o anonimato, no silêncio e recolhimento, na penitência, na caridade, na oração, mas sobretudo distinguia-se pela obediência. Tocava órgão mas não cantava por ter fraca voz, só baixinho para não destoar.
Na Igreja do convento celebrava-se a festa de Stª Filomena que se punha, naquela altura, em paralelo com a da Senhora da Agonia.
Deixou de se fazer quando a Igreja se fechou ao público. Voltou a fazer-se e quase 70 anos mais tarde em 1858 a festa realizou-se a 15 de Agosto. Acabou a realização com orientações pastorais…
A Irmã, a Madre Maria da Conceição, faleceu em 19 de Março de 1888, tendo o funeral decorrido pelo caminho do lado poente encostado à Igreja e à muralha da quinta e que subia até ao caminho que ligava ao cemitério.
Em Viana nunca se falou de outra coisa se não da Madre Maria da Conceição. O odor de santidade à sua morte foi tanto que logo percorreu por todos os lados e a sua cela, ao fim de um ano, ainda tinha o mesmo odor preservado. Quando vim para esta paróquia o Lar de Santa Teresa recebia correio de longe agradecendo graças e mandando ex-votos.
Uma vez o Lar entregou-me a mim que o fiz chegar ao Carmelo.
Desde 19 de Março de 1888 que a sua cela de carmelita era guardada como relíquia, pois foi dali que a “freirinha” partiu para a eternidade.
O seu mausoléu, foi construído pela Câmara com esmolas que se recebiam a capela com os armários cheios de ex-votos de todas as espécies.
O primeiro livro a aparecer foi em 1908, em Setembro. De Espanha veio o Vice-Postulador. Aqui apareceu o primeiro livro?! O R. P. Miguel, da Sagrada Família, Vice-postulador, vindo de entre os frades espanhóis e ainda encontrou suas contemporâneas, embora o Convento já não fosse o original. Encontrou as 6 meninas do coro.
Foram estas que cederam a preciosa fonte desta biografia e o livro da Fundação e memórias do Convento.
Ainda se encontrou uma memória escrita, bastante extensa e pormenorizada, e mais 2 cadernos escritos à mão em pequenos cadernos de 23 linhas das mãos de uma religiosa que faleceu em Braga em 1918.
O Pe. Miguel, da Sagrada Família com a sua chancela de Vice- postulador para as causas dos Santos, para a sua Beatificação e canonização assinou e chancelou os factos recolhidos.
Com a revolução espanhola houve algumas turbulências, mas uma memória se salva de um incêndio.
Ultimamente aparece mais memórias escritas pelo Rer. Pe. José Luís Zamith.
Perante o exemplo da Madre Maria da Conceição, não podemos ter mais exemplos, assim assinou em 24 Novembro de 1952, assim assinou o Vice-postulador.
Em Maio de 1953 a Câmara de Viana entregou à Ordem do Carmelo, em solene e público acto, o Mausoléu e a capela do Cemitério.
Ficaram incólumes das tropas francesas comandadas por Napoleão. A rua das Trincheiras daí tem o nome. Quando comecei a andar por aqui como pároco as pessoas de provecta idade contavam que uma das meninas do coro caindo ao chão duma escada toda podre de madeira que subia à Torre, nada sofreu. Atribuíram, na altura, a um milagre da Madre Teresa da Conceição.
Quando acabaram as meninas do Coro, que muita gente da Bandeira conheceu ou participou nos seus funerais, encerrou o convento.

domingo, 22 de dezembro de 2019

O CABAZ PARA OS POBRES, seja nesta ,seja noutra Paróquia

O CABAZ PARA OS POBRES, seja nesta ,seja noutra Paróquia
Alguns presente de solidariedade para com os pobres colocados no cabaz de Natal com amor e não em sacos pretos como se fosse para deixar lixo. Os pobres merecem muito respeito, carinho, muita caridade quando esta é Amor e não por rotina sem criação, sem gosto, sem Alma. Os pobres não precisam de coisas, mas de dignidade que o nosso Amor
lhes dá da forma que os tratamos como os mais queridos de Deus.

A Escola de Música da Paróquia de Nª Senhora de Fátima


A Escola de Música da Paróquia de Nª Senhora de Fátima levou a efeito uma festa de Natal para a qual convidou o Camilo Correia, Dra. Helena Vieira e o Pároco, Pe, Artur Coutinho. Havia exposição, de coração da Escola com harmonia e interpelava e viveram-se momentos de alegria à volta de uma mesa. O João Sá falou para todos desta escola que nasceu em 1979. Vários professores passaram por aqui e já houve 160 elementos da Escola de Música. João Sá pediu à direccão alargamento d espaços para poder receber mais alunos. Por fim falou o Presidente da Direcção do Centro Social, Padre Artur Coutinho, que falou também da história e como não estando presente muitas vezes onde a Escola do Centro Social está a entusiasmar o povo, as pessoas em espaços fechados ou ao ar livre encantando os ouvintes, os foliões, os amigos da música ao ponto de terem feito gravações várias e ainda há pouco estiveram a animar no Casino Afifense e sempre com o selo do Centro Paroquial de Nª Sª de Fátima. Deu os parabéns e agradeceu o esforço dos professores e a todos os que com eles trabalham. Centro. Foi ainda prometido que iríamos fazer tudo ao nosso alcance para aumentar ao espaço e embelezar a entrada.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

A pobreza e a riqueza

A pobreza e a riqueza
A diferença destes conceitos é difícil. É mais fácil falar delas e descrevê-las do que dizer que a pobreza é uma carência de bens e serviços essências, o contrário em abundância e a riqueza é tu teres dinheiro ou bens com abundância.
No meu tempo de criança pobre era aquele que andava de porte em porta de saco às costas a pedir esmolas; sacos de pão, de milho, farinha, azeitem, vinho, enfim, outros bens.
Esta era o que se via, e batia às portas rezando padre-nossos atrás de padre nossos ou Avé Marias pelas alminhas de quem esta família já la tem, ou pela saúde.
Havia formas de pobreza que enumera-las seria enfadonho, já para não falar da pobreza moral e analfabética e educação cívica.
A pobreza hoje é quase a mesma. Supriram-se muitas, mas apareceram outras. Estamos a falar ter comida na mesa, já não me refiro aos sem abrigo, aos filhos da droga, ou dos vícios, mas até aos que tem uma reforma de 200€ para viverem um mês(comer, vestir, agua, luz, habitação, medicação) e o mesmo acontecendo aos que trabalham e têm vencimentos de ordenados mínimos. Nunca vi o ordenado mínimo cobrir o nível de custo de vida, por isso, cade vez mais pobres para com 635€ poder pagar a casa, luz, água, comida, farmácias, etc.
Ás vezes esse ordenado mínimo para uma família de três, quatro ou cinco pessoas, de modo que aumenta o complexo da classe baixa que esta no limite de pobreza e que diminui ao mesmo tempo classe média. Ainda que no meu tempo de criança poucos na minha terra natal tinham uma bicicleta e automóveis, haviam 3 ou 4 depois fui para seminário apareceram a pouco e pouco famílias a comprar carros. Hoje suponho que são muito poucos os que não são proprietária de um automóvel.
Nestas classes encontra-se muitas vezes um outro tipo de nobreza, na moral, espiritual e são eles por vezes mais generosos e solidários. Os mais ricos nos valores humanos e sobre naturais.
Para além disto resta a classe alta, verdadeira mente ricos, porque trabalharam para isso sem explorar ninguém e ao mesmo tempo com valores altos nobres na solidariedade e generosidade, mas proporcionalmente sempre inferior aos pobres, porque tenham tudo e custa-lhes abrir as mãos ou o coração.
Dentro desta classe alta há uma classe oculta ou quer passar e faz por passar por isso, é a classe dos corruptos e para os manter a boa vida e gozando dos seus bens tudo só passa de um corre-corre entre o tribunal e a vida normal. Enquanto os pobres têm de pagar aquilo que os outros se apropriaram licitamente. Para esses não há valores, vale tudo.

domingo, 8 de dezembro de 2019

MENS SANA IN CORPORE SANO

MENS SANA IN CORPORE SANO

“Alma sã em Corpo são”. É um dito antigo.
É um dever nosso tratar da saúde. No tratar da saúde do corpo, em consequência, tratar da alma. Queremos saúde para o corpo e para a alma. Queremos um corpo belo, mas ao mesmo tempo devemos querer a beleza da nossa alma.
Um corpo belo e sem alma é como um cadáver ambulante que repele e faz parte dos mortos e não dos vivos. Há quem pense o contrário. Eles vivos ainda não chegam à vida, aquela que para nós está
 preparada pelo nosso Deus, ser absoluto e transcendente que será eternamente feliz.
Para ser assim, é necessário tratar do corpo e do espírito que anima o corpo e lhe dá mais beleza, como parte de um todo. “Sou eu”.
Sou nobre se tratar da nobreza das duas coisas como se fosse uma só. Em todas as religiões é assim. Para mim, Cristo veio dar-nos essa alegria e, por isso S Paulo aconselha a Timóteo: não bebas vinho que te faz mal ao estômago; pois Timóteo era sofredor do estômago”.
Aí está uma máxima que valeu na altura e vale agora.
Quando eramos pequenos eram os nossos pais responsáveis pela saúde e beleza do nosso corpo, como também cedo nos ensinavam falando-nos de Jesus, de Deus. Agora que somos crescidos somos nós que temos que tratar da nossa vida e da sua integridade.
Hoje aparecem casais inférteis e somos nós os responsáveis por essa infertilidade. Porquê?
Não irei dar lições da razão pelo que acontece assim, mas não há nada como saber para se acautelar.
Nestas coisas a culpa não é só dos mais novos, a culpa é, sobretudo, do sistema, que os mais velhos lhes oferecem. Mais… também da imoralidade da sociedade materialista em que vive, do ambiente poluído, não só do clima, mas também da tecnologia mal aproveitada, de uma vida sem ética e sem moral, levianísmos, sem princípios, sem regras, indisciplina que cada um de nós, vive. Tudo é permitido porque estamos em liberdade, quando há um princípio que devemos ter sempre em mente. A nossa liberdade acaba onde começa a do outro. O respeito ético, moral pelo outro, seja quem for, são princípios inabaláveis.
Só nisto está implicitamente dito muita coisa.
Normalmente os princípios que os pais ditam em casa aos filhos, são sempre bons. Quando são! Já vi pais a deseducar, a educar a seu modo; porque há pais que têm princípios, mas outros para quem não há nada…
Portanto há muita gente nova que em casa não recebe nada e os pais julgam que a escola é que tem o dever de fazer o trabalho dos pais. Se alguma coisa vai mal no aspeto disciplinar a culpa é do professor, é dos profissionais ou… da falta deles. Antes de fazer afirmações dessas deviam perguntar a si mesmos… o que é que eu fiz do meu filho? O que fiz da minha filha? O que faço de mim mesmo?
Alguma vez lhes falei do corpo e da alma e de tudo que daí pode advir?
Então, ponto final.
                                                                                    Artur Coutinho

sábado, 7 de dezembro de 2019

BAÚ DE MEMÓRIAS


A apresentação por José Carlos Loureiro


Baú de Memórias: um livro em três palavras
BAÚ
A capa do livro não mente. O baú converte-se em livro. Dito de outro modo, pode afirmar-se que o livro se assemelha a uma caixa onde contemplamos algumas memórias acumuladas pelo autor, Padre Artur Coutinho.
Nos nossos baús reunimos pedaços da nossa existência; depositamos o que nos importa; conservamos o que gostaríamos de recordar.
A memória é sempre seletiva. Ela não é um armazém de inertes, mas um reservatório daquilo que queremos reter, do que foi “quente” e nos envolveu afetiva e intelectualmente. A memória é o antídoto da perda, do esquecimento. Sempre que abrimos um baú voltamos ao vivido e, se não formos “cegos e surdos”, ele volta a aquecer-nos – daí resulta a nostalgia e a saudade.
Setenta e dois anos de vida plena permitem ao Padre Artur Coutinho acumular muitas recordações, informação e conhecimento (que tem registado em várias obras).
O livro “Baú de Memórias“ é, portanto, uma coleção de factos, de saberes e ditos, de topónimos, de palavras em desuso, de artefactos…. de muitos artefactos. Nas suas páginas deparamo-nos com artefactos do mundo rural (o sachador, a gamela, a padiola, a dorna, a talha de azeite, o serrão, a rodilha…) e objetos do uso quotidiano (os canecos, os cântaros, as canecas, a malga, a masseira, os talheres, a touca, o chapéu…). Sobre todos apresenta alguns dados cedidos pela História, mas o olhar é sobretudo antropológico. Os objetos falam dos homens e das suas vidas, ainda que sejam coisas, aparentemente, insignificantes, como uma tranca; efémeras, como um espantalho; ou engenhosas, como um manípulo de uma porta do curral.
Neste baú conservam-se, especialmente, testemunhos do mundo rural. A vida campestre sobressai nas descrições minuciosas dos processos de semear, cuidar e colher os produtos da terra. Explica-se como se faz uma “meda”, como se cultiva o milho, como se processa a sacha, como se transporta o fruto colhido. São práticas em desuso ou abandonadas, com dimensão comunitária, que marcaram a identidade do Alto Minho. O que resta é, na maior parte das circunstâncias, mais encenação (para usufruto do turista) do que prática (quotidiana).
O mundo atual, urbano e higienista, esqueceu que a bosta selava a porta do forno onde se cozia o pão, que era preciso despejar o bacio na fossa e que o penico, o lavatório e a banheira eram sinais de riqueza. De tudo isto se fala no livro.
Encontramos, igualmente, uma extensa recolha de palavras e de topónimos. Arrisca-se uma nova justificação para o topónimo “Viana” (p. 119). Apresentam-se dados históricos sobre Mazarefes e alguns dos seus habitantes. Não faltam orações e ditos de cariz religioso. Por lá, encontramos, também, a Serra d’Arga, como não podia deixar de ser.
SINOS
O primeiro texto refere-se aos sinos, da Igreja de S. Nicolau de Mazarefes. No tempo da infância do Padre Coutinho “eram (e cito) esses que mandavam”. A vida de outrora era ritmada pelo tempo solar e pelo tempo litúrgico cristão. Ainda que houvesse um relógio no frontispício da Igreja era o sino que determinava a ordem dos dias e numa época em que a sincronia era uma raridade, havia um sino que “mandava”, cuja voz altiva e soberana se ouvia distintamente na freguesia, seguindo-se o toque de outros. Imperioso o sinal, pelo meio dia, impunha uma breve interrupção no quotidiano. Como afirma “as pessoas, quase sempre, estavam a trabalhar e descobriam a cabeça, faziam silêncio e rezavam” (p. 14).
Durante séculos, o “tempo do relógio” não existiu. Havia o tempo solar, cíclico, o das estações do ano e dos dias; o tempo litúrgico, linear e orientado, da Criação ao Juízo Final; do nascimento de Cristo à sua Assunção, do nascimento do Homem à sua morte; o tempo político, um ciclo, o das eleições e dos mandatos, do ano escolar e dos jogos olímpicos, dos orçamentos e dos planos financeiros; é o tempo da Pólis, do Estado. Na verdade, usando expressões a que o autor se refere: “o tempo das vacas gordas” dá sempre lugar ao “tempo das vacas magras” (p. 264). O tempo de outrora era qualitativo.
Hoje, o tempo dominante é o do relógio, aquele que não conhece “nem os dias nem as noites, nem as estações nem as festividades” (Pomian). Tudo nos lembra a passagem do tempo. O relógio enxameia o espaço (o relógio da torre, quase único, deu lugar a uma multiplicidade de marcadores de tempo: relógio de ponto, relógio de pulso, relógio no telemóvel… - cada vez mais ligado ao corpo – controlando a vida à milésima de segundo).
Já não vivemos o tempo definido pelo ritmo natural. De igual modo, perdemos a ilusão de que ganharíamos tempo com a eletrificação, a mecanização, a robotização e a globalização da informação. Com efeito, longe de nos aliviar, a sociedade atual – tecnicista, da eficiência, da mediatização – impõe um ritmo demencial. Por isso, recordar o “tempo dos sinos” não é apenas uma questão de saudosismo, mas um modo de refletir sobre o presente e imaginar outro futuro.
Mas o tempo é, também, irreversível, o que permite que o autor diga, referindo-se à palmatória da escola da sua infância, “ainda bem que passou esse tempo!...” (p. 94). Na certeza de que não haverá outro “tempo da toma de óleo, de fígado de bacalhau” (p. 288), mas que chegará sempre o “tempo das castanhas” (p. 289); com a reconfortante ideia de que é benigno abandonar algumas coisas do passado – deixá-las no “tempo dos afonsinhos” (p. 170) – o autor sabe que o tempo emergente nem sempre traz o melhor. Contudo, confia. E afirma “a nossa confiança nos outros deve revelar que desejaríamos que eles tivessem a mesma relação connosco” (p. 285).
O tempo do homem é finito, por isso, (e cito) “há que Amar e não perder tempo”, pois “o Amor é a teia com que se urde a vida” (p. 285). A condição humana, da finitude, é razão maior para a gratidão.




GRATIDÃO
O autor afirma, a dado instante, que um dos seus mandamentos de vida é “não ser escravo dos hábitos, ser imaginativo e criativo com plena liberdade para que cada dia possa nascer e morrer”. A biografia do Padre Coutinho não desmente este modo de ser. Este livro é mais uma prova da sua vitalidade e a concretização daquilo que afirma na pág. 282: “luta por um futuro com coragem e sem medo, com uma memória larga e não tão curta que depressa passa e esquece”. Para que não nos esqueçamos da riqueza da vida das outras gerações, para que saibamos usar o que herdamos em prol da definição de um futuro melhor, o baú que o autor nos abre é mais do que uma caixa de velharias, cheias de pó; é um repositório de informações e conhecimentos que coloca nas nossas mãos à espera que delas façamos o melhor uso. Com efeito, o passado não interessa se não for para que possamos compreender melhor o nosso presente e antecipar futuros. Como escreveu Balzac, “a esperança é a memória que deseja”.
A memória permite-nos vivenciar o mundo fora do quadro do tempo mecânico, regido e quantificado ao segundo; do tempo “frio”. Convocar a memória é funcionar em contraciclo; trazer o conforto da chama acesa.
O que recordamos é sempre uma pequena parte do que vivemos; a ponta de um iceberg. Para o Padre Coutinho – que fecha o livro afirmando que “o grande segredo da felicidade está no viver o presente com Alma” (p. 311) – o baú é resultado da sua gratidão, pela vida que experimentou (e experimenta em cada novo dia). Este livro é mais uma, entre muitas, dádiva do Homem que personifica a Vida; por isso lhe estamos gratos.



















José Carlos Loureiro
(texto da apresentação do livro “Baú de Memórias”, realizada no dia 30 de novembro de 2019, na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo)