“Cristãos pela Esperança”
“Spe salvi facti sumus!” (É na esperança que fomos salvos) – (Rm 8,24)
1 – Com este versículo da carta aos Romanos de S. Paulo, abre a carta encíclica Spe Salvi
do Papa Bento XVI, convidando-nos à esperança.
Crentes e não crentes.
2 – Como cristãos, vivendo em Portugal, sentimos como todos os nossos concidadãos,
um travo amargo da falta de esperança generalizada, um povo que perdeu a esperança. Os
Portugueses andam angustiados. Aumentam as depressões. Crescem os suicídios. A violência
intrafamiliar e na sociedade gritam-nos, com grande fragor, que a falta de esperança se
instalou. Não se vislumbram horizontes de alívio. Pelo contrário, muitos dos nossos
concidadãos já perderam a força anímica para encontrar rotas novas. Parecemos um povo de
derrotados. Muitos jovens, determinados a reencontrar-se e encontrar a esperança perdida,
fluem para outras geografias económicas, sociais, culturais e políticas. Empobrecem o Pais.
Envelhecem-no.
3 – Como cristãos, não nos passa despercebida esta angústia generalizada. Procuramos
viver, orientados pela nossa fé, que queremos viva, consequente e interventiva. Porque
acreditamos que cada homem é a imagem e o reflexo de Deus, não conseguimos deixar de,
publicamente, proclamar que “o amor de Deus se releva na responsabilidade pelo outro”
(Spe Salvi n.º28).
Ao abraçarmos o Evangelho, fazendo dele a força motriz do nosso agir solidário e
corresponsável, esforçamo-nos para que “o Evangelho não é (seja) apenas uma comunicação
de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera factos e muda a vida”
(cf. Idem n.º2)
Por isso, como cristãos que se norteiam pelo Evangelho, temos a forte convicção de que
teremos de gerar factos que mudem a vida dos que andam tristes, acabrunhados e infelizes.
Daí a necessidade que sentimos de, publicamente, anunciar que “um mundo sem Deus, é um
mundo sem esperança” (cf. Idem n.º44).
Quando toda a nossa envolvência entrou em colapso, e já nada parece ter retorno, a
falta de esperança que tece os cotidianos de uma larguíssima faixa de Portugueses, marca de
modo vincado a paisagem humana de Portugal!
4 – É chegado o momento de proclamar a Esperança como um valor humano cheio de
transcendência, que norteie a nossa vida individual, familiar e colectiva.
“Torna-se evidente que o ser humano necessita de uma esperança que vá mais além”
(Spe Salvi n.º30), de uma esperança que reencontre Deus, se centre em Deus e O busque sem
cesar. Basta de nos esgotarmos dia a dia na procura de vãs e falaciosas ilusões de que é
possível encontrar a esperança sem Deus, ou, então, nos deuses do consumo, do efémero e do
relativo. Deus, que é Amor, é a única fonte de esperança que nos alivia nos percalços,
solavancos e tropeções que diariamente vamos sofrendo.
Por isso urge recolocar Deus em todos os roteiros das nossas vidas. Sem vergonha. Sem
receios. Ele, que é o Alfa e o Ómega. O Princípio e o Fim.
Impõe-se-nos que a “Tempo e a Contra-Tempo” manifestemos que cremos em Deus
que é Amor e rico em misericórdia e fonte de toda a Esperança.
Os cristãos, homens e mulheres de esperança, têm de se tornar agentes decididos,
interventivos e permanentes semeadores de esperança: Anunciando que a única esperança
salvadora é Deus e agindo politica, cultural e socialmente, como é seu direito inalienável, nos
diferentes meios em que se encontra para que sejam criadas condições dignas e justas para
todos os nossos concidadãos como premissa da recuperação da esperança na justiça e na
liberdade, no progresso harmonioso que respeite todo o homem e o homem todo.
Os decisores políticos, económicos e sociais devem sentir que os cristãos e o
cristianismo não são aspectos da vida privada e da sacristia. Os cristãos são homens e
mulheres na plenitude dos direitos mas também nos deveres de intervenção e de luta pela
dignidade da pessoa humana.
Chegou a ora de nós, cristãos pela esperança, clamarmos bem alto que a esperança é
possível. A esperança é necessária. A esperança existe. A esperança urge. Pois só com a
esperança se constrói o futuro! Uma sociedade sem esperança desaparece rapidamente.
Sejamos todos semeadores de grãos de esperança à nossa volta.
Sejamos homens e mulheres de esperança.
A esperança está erradicada na própria natureza humana. A sua falta é um dos mais
graves sintomas da anunciada, defendida e promovida “morte de Deus” do seculo XX. Mas
Deus não morre, Deus é. Os homens por mais sábios e poderosos que sejam não podem matar
Deus. Mas podem eclipsá-Lo. Escondê-Lo. Afastá-Lo dos olhos e dos corações da humanidade.
Porém, Deus está sempre presente. Disponivelmente amoroso. Não se impõe, Deus propõe-se
a todos os homens. Neste momento de gravíssimo eclipse de Deus, e da agonia da esperança,
só o regresso a Deus nos devolverá a esperança. Esperança que não se funda na gula do
imediato, da deriva relativista em que tudo se equivale, na desmedida do consumo que aliena
e é ecocida. A esperança que nos impele a busca incessante de Deus e na ordem temporal, a
procura teimosa de soluções e alternativas à insatisfação face à mediocridade e a olhar
alienadamente para um estado-solução que não é solução nenhuma, porque a solução está
em, nós, na nossa capacidade de ousar e inovar, de ser solidários, de compartilhar com os
outros as nossa angústia e as nossa ideias. A esperança é liberdade. A esperança é solidaria.
A: CAFAP - Associação Famílias esperança está em Deus.
documento da Militia de Sanctae Mariae - Cavaleiros de Santa Maria, de seu nome Cristãos pela Esperança, da autoria do Dr. Carlos Aguiar, para publicação e divulgação