«Antes da resposta, foi
necessário, muitas vezes, colocar as questões correctas».
Bruno Manuel Gonçalves Barbosa nasceu no dia 3 de
Outubro de 1991, em Poiares, Ponte de Lima. É o mais velho de três irmãos.
Entrou para o Seminário Menor no 7º ano de escolaridade, em 2004, e prossegiu a
sua formação no Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo, em Braga. Foi
ordenado diácono no dia 8 de Novembro de 2015 e, ao longo deste ano, fez o seu
estágio pastoral na paróquia de Santa Maria Maior (Sé). No dia 24 de Julho, às
15.30h, será ordenado presbítero, na Sé Catedral.
Nesta pequena entrevista, falou do seu percurso
vocacional e do modo como está a viver este momento.
Quando começou a
sentir a vocação ao sacerdócio?
O desejo de ser padre começou ainda na infância,
quando tinha sete anos. Depois da minha primeira comunhão, dizia que gostava de
me tornar sacerdote para poder dar a comunhão a muitos meninos, porque esta
tinha sido uma experiência marcante na minha vivência cristã. Na verdade, este
desejo foi aumentando ainda mais com a oportunidade de poder acolitar nas Eucaristias,
o que me permitiu observar todos os gestos do sacerdote. Olhava para ele como
alguém muito especial e único, com o poder de celebrar este grande mistério: a
Eucaristia. Tudo isto me fascinava. E pensava para mim: quero fazer o mesmo que
o Senhor Padre faz.
Quem foram as
pessoas mais importantes nessa descoberta?
Estou convencido de que as vocações nascem do
testemunho de quem já foi chamado. Por isso, foi uma graça contactar com o
testemunho de vários sacerdotes que me ajudaram nesta descoberta, nomeadamente o
meu pároco actual, Pe. Claúdio Belo, bem como os seus antecessores. A
debilidade física do Pe. Manuel Antunes foi importante para perceber que a
Igreja necessitava de trabalhadores para a sua seara. A docilidade para com as
crianças e idosos do Pe. Tomás Vieira chamou também a minha atenção. Foi com
ele que vim para o Seminário. Contudo, a pessoa que mais me ajudou nesta
descoberta foi um seminarista da minha paróquia. Foi com o testemunho dele que
eu me senti interpelado, que me senti chamado a trilhar o mesmo caminho que ele
trilhava. Por outro lado, também foi por meio dele que tive contacto pela
primeira vez com o Seminário. No entanto, não posso deixar de frisar o papel
fundamental da minha família, especialmente dos meus pais. Foi muito difícil
para eles ver um filho tão novinho ir para o seminário, contudo aceitaram
sempre a minha decisão. Considero todas estas pessoas uma graça de Deus para
mim, contudo, outras foram aparecendo no desenvolvimento deste caminho que o
ajudaram a consolidar ainda mais.
De que forma é que
o percurso de Seminário o ajudou a consolidar o seu sim?
O percurso de Seminário foi muitíssimo importante para
consolidar esta resposta. Mas antes da resposta, foi necessário colocar muitas
vezes as questões correctas. Neste percurso foi uma constante a pergunta:
Senhor, que queres de mim? Aliás, é uma questão que me há-de acompanhar toda a
minha vida. Uma questão respondida muitas vezes com o silêncio por parte de
Deus, mas marcada pelos seus sinais. Foi um tempo muito fecundo, tanto no sim
quotidiano à sua vontade e ao seu chamamento, como a nível formativo nas suas
diversas vertentes (espiritual, intelectual, humana e pastoral). Na resposta ao
chamamento de Deus, foi igualmente importante o papel das pessoas que me
acompanharam, tanto os formadores e colegas, como os directores espirituais que
me ajudaram na consolidação da entrega ao projecto de Deus para mim.
Quais os
sentimentos que o habitam nesta hora?
Uma profunda gratidão e ao mesmo tempo um sentimento
de pequenez perante tão grande dom. Sinto-me agraciado por tantas e tantas
coisas que o Senhor me tem concedido, sobretudo pela sua confiança em mim. A
minha sorte é que Deus continua a apostar naqueles que são mais frágeis e
indignos, e, por isso, sinto-me tão pequeno perante tão grande dom. Contudo,
sei que Deus precisa
de mim; tem necessidade de mim. Olha-me e vê as minhas capacidades e
incapacidades. E continua a dizer-me: Bruno, preciso de ti para o Reino,
segue-Me. De facto, ao aproximar-se o dia da Ordenação Presbiteral, habita em
mim um sentimento de muita confiança e serenidade, no entanto, confesso que, à
medida que o dia se aproxima, estes sentimentos se misturam com alguma
ansiedade e nervosismo, porque, na verdade, aproxima-se uma hora de graça e de bênçãos, para mim, para a minha família, para a comunidade paroquial
de São Tiago de Poiares que me viu nascer e dar os primeiros passos, para a
comunidade de Santa Maria Maior (Sé Catedral) que me acompanhou durante o Ano
Pastoral, para o Presbítério Diocesano que acolhe mais um irmão e para toda a
Diocese de Viana do Castelo que, em pleno Ano Santo da Misericórdia, terá mais
um presbítero para o anúncio de Jesus Cristo, o rosto da misericórdia do Pai.
Por vezes, diz-se
que os jovens andam afastados da Igreja. De que forma pode a Igreja
aproximar-se dos jovens e ajudá-los a descobrir a sua vocação?
Que mensagem lhes deixaria?
A Igreja tem
necessidade de se aproximar das gerações mais novas, mas isto não pode implicar
que deixe de parte toda a sua doutrina e tradição. A aproximação da Igreja aos
jovens faz-se da proximidade com cada um dos jovens, ouvindo cada um dos seus anseios,
sonhos, dificuldades e esperanças. Será, como em tudo, uma pastoral próxima e
de escuta. Há necessidade de pessoas que ouçam os jovens. Há necessidade de líderes
juvenis que compreendam os jovens e que apontem caminhos seguros à luz do
Evangelho. Há necessidade de acompanhar os jovens no seu desenvolvimento
humano. Há necessidade de colocar os corações dos jovens em contacto com o
Coração de Deus. Aos jovens peço para que nunca desistam, mas que arrisquem
sempre. Junto deles, a Pastoral Vocacional terá que convocar e provocar,
desinstalar os jovens com as questões fundamentais da vida. Uma pastoral do
testemunho e de acções, tanto das próprias famílias, como dos párocos e das
comunidades paroquiais. Seguir Jesus Cristo no contexto hodierno não é fácil,
porque ser hoje padre implica ter presente que há mais incompreensões do que
compreensões. Contudo, é desafiante. Sim, o anúncio do Evangelho é feito de
desafios, foi assim com os Apóstolos e será assim connosco. Porque teremos
sempre consciência de que o “Senhor é meu pastor: nada de falta” (Sl 23,1).