Milagre?... Não!... ,mas uma graça é certa…
Alexandrina de Balazar
Conheci a Alexandrina na minha infância. Os meus pais
resolveram ir lá porque a minha irmã tinha as pernas arqueadas e andava com as
plantas dos pés voltadas para dentro, pousando o corpo na parte exterior
lateral da planta. Ao chegar lá, vi tanta gente que levou tempo a romper e ir
até ao pé dela. Lembro-me que falava de Jesus. Estive sentado na cama dela.
A Alexandrina perguntou à minha mãe o que queria. Muito
naturalmente disse que queria ver a filha com as pernas direitas, ao que a
Alexandrina respondeu: “reze a Deus que eu vou também rezar”. Viemos embora e
no dia seguinte a minha irmã andava normalmente como hoje.
Aconteceu que em 1970, em extensão de Legião de Maria na
Região de Abrantes e Castelo Branco, encontrei um jovem enfermeiro “Dominique”
com uma espiritualidade que me impressionava, a mim, Legionário de Maria e
Seminarista a frequentar teologia.
Em 1971 recebo deste jovem, com quem me fiquei a
corresponder, um convite para frequentar um Curso Dominique, o primeiro na
Arquidiocese, e no Minho, em Balazar. Fui fazer esse curso. Não me seduziu o
método, mas, o entusiasmo da juventude que me acompanhava gerou em mim uma
certa vontade de continuar e ver a obra crescer, trazendo-a depois para Viana.
Em Setembro, depois do Curso Dominique em Balazar, terra da
Alexandrina, sou nomeado, como diácono, ao serviço da Paróquia de Balazar, onde
estive até Fevereiro de 1972.
Aí fiz trabalho com os doentes e ajudei o pároco naquilo que
podia. Ao mesmo tempo realizavam-se cursos “Dominiques” (Cursos de Orientação
para a Vida), aos quais eu assistia e cada vez me impressionava mais a fé, o
sacrifício, o entusiasmo, quase o êxtase de tanta juventude masculina e
feminina à volta do mistério do Santíssimo.
Alguns pareciam ter mais fé do que eu. Mal sabia eu que,
tendo conhecido a Alexandrina na infância, sabendo da sua morte, iria parar
lá para um “Curso de Orientação para a Vida”, já diácono, voltando depois para trabalhar e
conviver com a irmã da Alexandrina, a Deolinda, e poder contemplar a sua casa,
o seu quarto, o seu sepulcro na igreja, a capela no cemitério e os peregrinos
que de todo o lado chegavam pela semana, mas, sobretudo, ao Sábado e ao
Domingo.
Quem era a Alexandrina?
Uma menina como outra qualquer e que aos 14 anos saltou duma
janela, de uma altura de 4 metros (?) para fugir a ser molestada por um homem,
causando-lhe uma mielite que lhe causava, por vezes, grandes dores. Deixou de
comer e o seu alimento era só a eucaristia. O seu médico, a partir de certa
altura, só para as dores lhe receitava, e ficava crente na Alexandrina,
enquanto outros, descrentes, chamavam-lhe falsa, impostora. Alexandrina ouvia
calúnias vindas de todos os lados, mesmo do lado de clérigos e cristãos, da
imprensa, causando-lhe um Pré-câmbrico, castigado ainda pela hierarquia da
Igreja que a impediu de ouvir conselheiros espirituais.
Mas a verdade provou-se numa Casa de Saúde da Foz do Douro,
onde ela esteve 40 dias sob vigilância total, diurna e nocturna, por vigias
ateias, tendo o médico responsável, neurologista, chegado à conclusão que se
encontrava perante um fenómeno que contrariava todas as leis da medicina
científica, não podendo acreditar em milagre por ser ateu. Assim viveu dez anos
sem comer e com anúria.
Isto levou muita gente a crer nesta mulher que, na
simplicidade, na humildade e na intimidade com Jesus na Eucaristia que era
alimento suficiente durante tantos anos, poderia concluir-se como alguém dizia
“a personalidade está para o ser humano como o perfume está para a flor, e esta
deixa de ter aroma quando perde cor”.
Morreu com fama de santidade e só agora se reuniram
condições para que o Papa a beatifique em 25 de Abril.
Assim escrevi antes da beatificação. Continuo atento e tenho
presente na minha oração até porque há um passado familiar e pessoal como
criança de 5 anos e depois como diácono.
Será que no dia 25 de Abril possa integrar-me em alguma
peregrinação com uma camionete de paroquianos?
Pe. Artur
Coutinho