A propósito da Igreja Nova, extraímos um texto do livro cujo autor se indica
Arquitetura Religiosa pós Concílio Vaticano II:
Adequação do espaço celebrativo ao rito litúrgico
caso do Alto Minho
Jorge Alexandre Rodrigues Martins
Vila Nova de Cerveira, março de 2015
Estudo de Caso 2
3.1.2 – Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo
Fig. 83: Localização EC2
Fonte: http://www.google.pt/imagens
Fig. 84: Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Apresentação
A Igreja da Sagrada Família localiza-se na Freguesia de Stª Mª Maior, concelho de
Viana do Castelo (41º 42’ 19’’ N, 8º 49’ 30’’ O), e pertence à Fabrica da Igreja de
Nossa Senhora de Fátima. A sua implantação é junto à variante norte da cidade, que
comunica a A28 com o hospital distrital.
Como referia o pároco da igreja, padre Artur Coutinho (ver entrevista completa no
anexo 5.3), “a sua localização no meio da comunidade é importante, aproximando-se
dos fiéis“, tendo em conta que a freguesia tinha expandido para Norte, e a nova zona
em causa não tinha nenhum espaço de culto, e acrescenta que esta “ surge por uma
questão de necessidade de mais espaço e mais conforto“ (comunicação pessoal, 18
de outubro, 2014), visto a igreja existente (N. Sª de Fátima) ter ficado, pequena,
distante e sem comodidades para os tempos atuais.
Segundo o pároco, aquando da sua nomeação em 1978, já se falava numa nova
igreja e, desde então, “andamos para a frente” com o projeto, dando assim
cumprimento a um desejo comunitário há muito requerido. Neste sentido refere que
as igrejas antigas são frias (e não é por uma questão térmica). Os homens
de hoje não podem ser parasitas, toda a vida, de um estilo (tipologia) do
passado, tem que haver evolução, e as pessoas têm de se adaptar aos
tempos de hoje. Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)
Daí que, na sua opinião, este novo edifício, tendo em conta a sua arquitetura, foi
perfeitamente aceite pela comunidade e entidades oficiais, que o viram como um
elemento dinamizador de toda uma localidade, transmitindo uma imagem de
modernidade e sendo uma marca da cidade (Fig. 84).
Análise descritivo
O autor do projeto foi o arq. Luís Faro Viana em 2004 (ver entrevista completa no
anexo 5.2) tendo a obra prolongado por cerca de oito anos, foi inaugurada em 8 de
setembro de 2012. Neste momento, o edifício encontra-se inacabado, faltam salas,
serviços administrativos, entre outras, mas o espaço de celebração está concluído,
sendo o seu funcionamento diário e normal.
Antecede a esta proposta um projeto licenciado pela Câmara Municipal em 2000
(PO-217/00) que previa a fusão de igreja com o centro paroquial e social.
Posteriormente houve uma reavaliação das pretensões, tendo os dois espaços sido
concebidos por separado, e a igreja em causa entregue ao arquiteto supra referido.
Esta divisão deve-se, essencialmente, a questões logísticas e jurídicas de
financiamento da obra, que neste âmbito da pesquisa não importa aprofundar.
A nova proposta contemplava a ocupação do lote nº28 (processo de loteamento
974/98), na zona da cidade densamente urbanizada da Abelheira, junto à base do
Monte de Stª Luzia. Neste sentido, o autor considerava este lote, e todos os
elementos que o caracterizam como ”terreno fértil à imaginação”, tendo este espaço,
administrativamente (PDM) ficado reservado para equipamentos.
O programa previa a instalação de uma igreja com capacidade de 800 pessoas,
salas de catequese e atividades socioeducativas, bar e sede dos escuteiros.
Não é alheio a este programa o facto da freguesia em causa ser muito dinâmica e
interventiva em ações sociais, considerando o autor esta zona como “um ambiente
ideologicamente aberto” (2004) requerendo um ‘perfeccionismo e apuro’ das formas
na conceção do edifício em causa. O conceito da mesma foi: a Árvore da Vida.
(Teologicamente, a Árvore da Vida era uma das duas árvores que Deus colocou no
centro do jardim de Éden.)
Fig. 85: Enquadramento urbano EC2
Fonte: http://www.imprensaregional.com.pt
Na conceção inicial da proposta da nova igreja, o autor referia que a arquitetura “tem
que ter sentimento” Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014), e tem que
ser fruto das incidências e de uma leitura da envolvente. Neste sentido, o que mais
prevalecia no entorno eram os círculos, na opinião do autor, daí a ‘curva’ ser a tónica
dominante de toda a morfologia do espaço, de salientar que a curvatura das paredes
exteriores é fruto de circunferências de igual raio.
O autor refere-se à proposta apresentada como querendo criar
um elemento que fosse destinto do resto, e para enfatizar esse objectivo, a
própria Câmara Municipal alterou a materialidade da envolvente para melhor
enquadrar esta proposta. Pronunciando-se o presidente da Câmara na
época, o Defensor de Moura, com a frase ‘gosto, gosto!’ em relação à
proposta da nova igreja, agilizando desta forma o licenciamento da mesma.
Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
E termina por dizer que quando chegou a esta forma, tudo isto foi feito com muita
seriedade e com muito critério.
Em relação ao desenvolvimento do programa, ele distribui-se em duas
espacialidades diferentes, por um lado o corpo principal da igreja ‘visível’ e as salas
de catequese e outras de apoio ‘ocultas’, adaptando-se, desta forma, o edifício à
topografia existente, vencendo o desnível do terreno no sentido N/S.
Enumera-se sucintamente, que o programa era composto por 15 salas de catequese
com paredes amovíveis para melhor gestão do espaço, respetivas instalações
sanitárias e demais espaço de apoio, num total de dois pisos semienterrados que
perfaziam 1547m2 de área construída.
O essencial do programa, que é o espaço de culto – a igreja - é composto por dois
espaços, sendo o principal no piso 0, no piso 1 existe um “tribuna” que se articula
com o anterior através de uma escada (Fig. 86). Este espaço superior é importante
em dias de grande festividade ou até mesmo quando há algum evento musical no
edifício, sendo este tipo de espetáculos frequente neste recinto.
Fig. 86: Piso 1 (tribuna) EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A lotação total da igreja é de 804 pessoas, 626 no piso 0 e 178 no piso 1, de
mencionar que o espaço está habilitado para pessoas com mobilidade condicionada,
e, como tal, no interior há 5 lugres para estas situações.
O piso 0 é o espaço primordial por excelência, e assim as relações quer interiores
quer exteriores são relevantes e serão devidamente analisadas.
O acesso exterior ao arruamento é franco e no espaço sobrante no lote é criado um
estacionamento para 80 lugares, colmatando o fecho do quarteirão.
A entrada no edifico é ‘pausada’ por um pequeno nártex porticado, característico nas
primeiras igrejas cristãs, onde o portal principal, centrado no edifício, abre-se para
norte, sendo ladeado por duas portas de uso diário. De referir um pequeno desnível
entre o estacionamento e a entrada principal.
No interior há dois elementos que ganham destaque de imediato, por um lado a
estrutura construtiva aparente (colunas), de secção circular, orientam o olhar para o
altar e, por outro lado, esse mesmo altar encontra-se à mesma cota (altimétrica) da
entrada (Fig. 87).
No primeiro caso, os pilares foram desde o início assumidos pelo autor, que
considerou a estrutura como muito importante, inicialmente já contemplada no
projeto, evitando-se assim surpresas na execução da obra; o segundo aspeto
referido é simbólico, e nesse sentido o autor refere que
colocar a cota da entrada ao mesmo nível que a cota do altar, foi uma opção
simbólica, assim como a cruz na histerotomia da caixilharia exterior é
propositada e foi, talvez, o único simbolismo religioso presente no edifício.
Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
Fig. 87: Elementos simbólicos EC2
Fonte: Fotografia e montagem de autor (2014)
Ainda no piso 0, a sua área de construção total é de cerca 1130m2, sendo a maior
igreja do Alto Minho. Para além dos equipamentos de apoio, o espaço litúrgico é
composto pelo altar no quadrante Sul, pela nave principal e por duas naves laterais
(Fig. 88). Estas, por seu lado, são delimitadas por fileiras de pilares, que perfazem o
número de catorze, o mesmo número das estações da via-sacra, que é o elemento
que eles contêm - as estações da via-sacra.
Os grandes vitrais laterais orientados, preferencialmente, ao quadrante norte,
permitem uma iluminação constante e difusa do espaço, tendo sido muito cuidada e
ponderada, refere o autor.
Fig. 88: Planta interior EC2
Fonte: Projeto de Licenciamento-CMVC
A assembleia é inclinada no sentido do altar, vencendo um desnível de um metro
desde a entrada. Os bancos são corridos, somente interrompidos pelo corredor
central que relaciona diretamente a entrada com o altar.
O interior assume uma construção nua, num espaço rígido devido aos elementos
maciços e às paredes opacas e lisas. A planta é longitudinal, marcada por um eixo
central, com suportes intermédios (pilares) exibindo relações abstratas entre planta e
fachada.
O recinto interior é único, definido por uma alternância entre paramento-pilar-vitral,
onde o altar, graças a esta composição, obtém uma importância extra no conjunto. O
paramento aproxima o exterior e interior, através do efeito lumínico produzido pela
entrada de luz nos panos verticais dos grandes vitrais.
Todos os elementos construtivos foram manipulados para enfatizar o máximo
protagonismo do altar na sequência entrada-presbitério, seguindo as
recomendações teológicas da Igreja
Quanto ao exterior, o revestimento é em cobre com o embasamento em granito
bojardado. A materialidade do cobre é algo que personaliza e identifica a nobreza do
edifico, é algo marcante e, como tal, referência assumida por todos os intervenientes,
com um “significado especial” diz o autor. Sobre esta matéria o pároco refere que
o cobre do revestimento foi muito caro (daria para pintar duas vezes a igreja),
mas o arquiteto justificou a opção com a tonalidade que adquiria no futuro
(esverdeada) e com o impacto que teria junto ao Monte de Stª Luzia.
Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)
Fig. 89: Revestimento exterior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A volumetria do edifício é definida por panos de paredes curvos que encerram o
espaço litúrgico, simétricos e o desfasamento dos mesmos é preenchido pelos vitrais
que se desenvolvem desde o pavimento até à cobertura. Por seu lado, a cobertura é
plana, de uma só água e com inclinação descendente no sentido entrada-altar (Fig.
90), acompanhando a topografia existente e que segundo o autor permite “uma
leitura variável que se acentua no pórtico da entrada” (comunicação pessoal, 23 de
outubro, 2014)
Fig. 89: Revestimento exterior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Fig. 90: Alçado nascente EC2
Fonte: Projeto de Licenciamento – CMVC
Análise dos indicadores – EC2
Espaço Litúrgico (geral)
Participação ativa
A participação ativa poderá ser enfocada de vários prismas, é importante referir,
neste caso, a mais-valia da definição de um programa concreto que vá ao encontro
das necessidades da comunidade. Neste contexto, o edifico em causa é portador de
uma valência que fomenta grandemente essa mesma participação que é o facto de
possuir um serviço de ‘babysitting’, como referia o padre Coutinho “as crianças mais
novas, que ainda não assistem às celebrações, poderão ficar ali a brincar, em
segurança, para comodidade dos pais” (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),
que desta forma poderão acompanhar a celebração de forma proveitosa.
O edifício adapta-se, assim, à contemporaneidade e às exigências do tempo atual,
dando um sinal inequívoco de adequabilidade à comunidade eclesiástica,
fomentando o dever pastoral da Igreja.
A participação ativa é tão mais eficaz, quanto mais a comunidade interagir e se
envolver nos atos litúrgicos. O edifício terá de proporcionar condições de mobilidade,
acessibilidade e outras, aos fiéis, mas per si não é suficiente para o sucesso desta
vontade pós-conciliar.
Neste aspeto, a igreja em causa, sendo a maior da Diocese de Viana, não apresenta
uma monumentalidade (interior) que intimide e iniba as fiéis, devido entre outros
fatores à fragmentação do espaço pelos pilares enfatizando o modelo axial que a
caracteriza. O altar surge, então, elevado, num ambiente puro, simples e sem
distrações.
A assembleia inclinada é uma opção válida, onde o corredor central, largo e
generoso (Fig. 92), faz a comunicação desta com os degraus que elevam ao
presbitério. Como nota, referir a ausência que qualquer apoio e/ou guarda de auxilio
na transição desses mesmos degraus, facto sempre delicado.
Fig. 92: Corredor central EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
O espaço da assembleia, que se localiza no piso 1 (tribuna), tem dificuldade numa
comunicação mais direta com as ações litúrgicas, mas a utilização do mesmo é
pontual. Por exemplo, aquando da comunhão, neste espaço é o próprio pároco que
se desloca ao local em causa.
O pároco refere que a igreja “no sábado às 16h00 e no domingo às 11h00 enche por
completo e funciona bem. Com muita ou pouca gente, o edifício é completamente
funcional” Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), e relembra-se
que a capacidade é de 800 pessoas sentadas podendo em ocasiões especiais
receber 1200, contando-as de pé.
Esta participação, para ser efetiva, terá de ser assumida e vivenciada pela
comunidade, neste sentido, esta quando interrogada sobre o assunto (ver
entrevistas completas no anexo 5.4) refere que “sim, esta igreja fomenta a
participação. As antigas não deixam as pessoas tão à-vontade”, outro testemunho
diz que “parece-me bastante funcional e prático, para além disso também é seguro”
(comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Estes são alguns exemplos das
opiniões daqueles que de facto sentem e manipulam o espaço litúrgico citado, onde
no cômputo geral o parecer da comunidade é satisfatório quanto à adequabilidade
do espaço a uma participação ativa.
Fig. 93: Distribuição geral EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A Igreja da Sagrada Família de Viana é o fiel reflexo de um espaço aglutinador das
premissas do Concilio Vaticano II quanto à participação. É um espaço luminoso,
desafogado, simples, onde a elevação do presbitério tem uma duplicidade funcional
e simbólica, democratizando a proposta.
O espaço único envolve o altar em ampla curva interior, que o pároco designou de
‘útero’, aproximando o presbitério da assembleia em gesto de simplicidade
organizativa e de inspiradora força simbólica.
Espaço Litúrgico (geral)
Comodidade
Em 1 de setembro de 2012, o Jornal de Notícias, em artigo referente à inauguração
da igreja escrevia: “de linhas contemporâneas, gigante, com chão radiante para que
os fiéis possam orar de pés quentes”, não sendo indiferente ao repórter o facto de
este edifício estar dotado de um aquecimento, que acompanha as necessidades
atuais das populações.
Neste sentido, a comodidade quer térmica, quer acústica estão garantidas neste
novo espaço, referindo o pároco que até ao momento não foi comunicado qualquer
desconformidade neste aspeto, relembra-se que o edifício é recente.
Os bancos corridos de madeira tratada são os adequados a estes espaços,
permitindo o genuflexório. O conforto visual é garantido e melhorado pelo facto de a
assembleia ser inclinada, apesar de nas naves laterais e “tribuna” superior a
visibilidade do presbitério ficar parcialmente comprometida pela existência dos
pilares (Fig. 94).
O sistema de som é moderno e eficaz em todo o espaço.
Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo
sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também
bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os
genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)
de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade
contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço
para os atos litúrgicos.
Fig. 94:
Fig. 94: Pilares estruturais EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo
sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também
bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os
genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)
de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade
contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço
para os atos litúrgicos.
Esta igreja aposta no aproveitamento da energia solar, através de painéis
fotovoltaicos, que permitirão reduzir os consumos elétricos e, devido à grande
luminosidade interior, as celebrações serão feitas apenas com a luz natural.
O pároco referia que “temos de pensar nos fiéis e nas condições que oferecemos”
(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), justificando, assim, toda a tecnologia
aplicada ao edifício, fazendo parte da igreja transmitir esta modernidade.
A comodidade do coro em participar nas celebrações é total, isto porque está
localizado junto ao presbitério numa nave lateral (Fig. 95), onde a sua presença é
discreta, limitando-se unicamente ao acompanhamento musical, neste sentido o
autor da obra referia que “em relação à acústica, sempre pressenti que funcionaria
bem pela experiência que tinha em assistir a concertos em espaços com a mesma
forma.” (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
Fig. 95: Local do coro EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Espaço Litúrgico (presbitério)
Centralidade
Os alinhamentos definidos pelos pilares, simples e harmónicos, onde o volume
decresce de altura à medida que se aproxima do altar, numa organização evoluída
da planta basilical, geram uma perspetiva pura e direta, para onde converge toda a
iluminação natural.
A planta montada num eixo longitudinal enfatiza o caminho desde a entrada sombria,
até ao presbitério inundado de brilho e magnificência lumínica (Fig. 96), presidido por
uma bela representação artística da sagrada família, que personaliza o espaço, cuja
autoria são artistas locais.
A subtileza extrema dos elementos construtivos, sem cor ou outra decoração que
não a proporcionada pelos materiais, gera uma curiosa volumetria, onde o teto
fragmentado é o limite do olhar, produzindo um lugar calmo e solene.
Fig. 96: Espaço interior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Note-se que a iluminação nunca incide diretamente no espaço, mas é potenciadora
de uma atmosfera simbólica, obtida através da conjugação desta com a
materialidade e o cromatismo dos elementos existentes (bancos, pavimento, entre
outros), definindo claramente a linha do horizonte que separa a zona da ‘luz’, no
campo ascendente, da zona da ‘sombra’, campo descendente, num gesto carregado
de transcendência simbólica, onde o olhar procura o altar.
O espaço interior é carregado de sensações e incidências, pela organização e
conjugação das partes, num claro apelo à simplicidade, onde a luz é a grande
dominadora de todo o ambiente cénico e litúrgico.
Colabora nesta centralidade a localização do batistério no presbitério, havendo um
equilíbrio litúrgico dos sacramentos, demostrando desta forma as mudanças do rumo
teológico da Igreja e a justa interpretação do projetista.
A boa visibilidade dada ao altar resulta, também, da proporção ocupada por este na
composição interior do espaço, correspondendo ao preenchimento da totalidade da
largura do edifício (Fig. 97), sendo por sua vez este dominado pela própria largura
em relação ao comprimento, conduzindo, deste modo, toda a assembleia ao coração
da liturgia - o altar.
Fig. 97: Presbitério EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Os elementos da assembleia quando interrogados sobre este assunto – a
centralidade do presbitério manifestaram-se da seguinte forma; “parece-me
adequado, é um convite à interioridade”, outro refere que “sim, agrada-me. É amplo e
tem muita luz natural”, sendo a “simplicidade” (comunicação pessoal, 25 de outubro,
2014) a referência concetual do presbitério para os fiéis. Por seu lado, o pároco
considera o altar ”nobre e espacialmente converge a visão para lá” (comunicação
pessoal, 18 de outubro, 2014), e termina por dizer que quando assim é “a arquitetura
‘apela’ e é acolhedora, e isso é o mais importante”, num edifício que tem como
missão a congregação de toda a comunidade em torno do altar, neste caso repleto
de luz.
A luz e a ausência dela, tem um papel fundamental na definição desta centralidade,
onde o autor a manipula, no sentido da sua incidência sobre os corpos realçando as
formas dos elementos deixados propositadamente no campo visual, potenciando a
perceção do espaço central por excelência – o altar.
Espaço Litúrgico (simbólico)
Reunião
A arquitetura deve favorecer o conceito de assembleia e não de grupos separados,
como era frequente acontecer nas igrejas pré-conciliares, havendo nesses casos a
separação por género, estrato social, raça, entre outras.
Nesta igreja comprova-se a fracionamento do espaço litúrgico em três naves, a
central de maior dimensão e duas laterias. Nas igrejas antigas, a existência de naves
laterais era justificada pela relação direta com os altares laterias, atualmente esses
altares desapareceram e estes elementos (colunas) impedem a comunicação e
visibilidade de toda a assembleia. O teólogo Jorge Barbosa referia na entrevista que
um dos maiores problemas para a adaptação das igrejas antigas à nova liturgia é
precisamente a existência de colunas no espaço litúrgico.
Note-se neste contexto, a “tribuna” existente no piso 1 (Fig. 98) também se encontrar
em franca desconexão com a “unidade” pretendida.
A comunidade eclesiástica quando questionada sobre esta matéria referia que “a
própria distribuição dos bancos contribui a essa reunião” ou que “o conceito de
circularidade une o povo” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Apesar de a
espacialidade não fomentar que todos se sintam membros de um único corpo, a
perceção da comunidade é diferente, sendo que todos se sentem reunidos nas
celebrações, e isso é o principal.
Mais importante do que os elementos construídos possam indicar numa primeira
análise, é a opinião dos fiéis que utilizam o espaço que importa e as sensações que
o espaço lhes transmite, onde, por vezes, a relação entre espaço e perceção vai
mais além do inteligível.
Fig. 98: Piso 1 (tribuna) EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Espaço Litúrgico (simbólico)
“Chamamento”
O projetista da obra referia na memória descrita constante no processo de
licenciamento (anexo 5.1) que a mesma era “ uma janela privilegiada para o exterior
que se conjuga com a envolvente próxima, para em conjunto traçar o perfil da rua,
configurando a malha urbana e criar uma marca na cidade”, neste sentido o edifício
em causa não se limita a albergar um qualquer programa litúrgico nem somente a
dar resposta e requisito de ordem funcional, mas pretende “passar” uma mensagem,
que neste caso seria de contemporaneidade, de prosperidade e vanguardismo da
cidade. Para tal, o autor recorre a uma volumetria curvilínea onde a configuração das
massas é espetacular, de grande dimensão, a materialidade (cobre) destaca a
nobreza do edifico, sendo este um recurso plástico de rara beleza.
Mas quando confrontado com esta situação, o arquiteto acrescenta que
nunca foi minha intenção fazer uma igreja para ‘atrair’ pessoas para a
religião, nem nunca me foi pedido por parte da instituição. Mas também não
foi abordado como um projeto civil comum, é evidente que o facto de eu ser
católico me influenciou, mas não me prendi demais. Viana, L. (comunicação
pessoal, 23 de outubro, 2014)
Apesar do autor se distanciar de questões concetuais de cariz teológico, note-se que
o edifico em causa afirma-se no contexto arquitetónico e não, especificamente, no
campo da arquitetura religiosa.
O pároco vê esta obra como “uma verdadeira obra de arte, que pode ser apreciada
de três ângulos diferentes. Vista de cima parece uma árvore, de dentro um útero e
de fora uma nave, nesse sentido, acrescenta, que “esta arquitetura tem uma
influência preponderante, despertando a atenção de quem a vê” Coutinho, A.
(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014). A própria comunidade refere-se à
igreja como “vistosa por fora mas sóbria por dentro” e ainda que transmite
“seriedade, simplicidade e paz, é nela que me sinto bem”, e outros há que dizem “a
grandeza da sua simplicidade torna-a acolhedora”.
O pároco refere que a comunidade se identifica com o templo, e isso constata-se nas
entrevistas, dizendo que “na missa inaugural ouvi coisas das crianças acerca desta
igreja extraordinárias, às tantas alguns adultos nunca pensariam aquilo que elas
pensavam, identificando-se completamente com o edifício. Nessa altura toda a
comunidade gostou do edifício“ (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),
referindo que as classes mais jovens gostam mais da igreja nova que da igreja
velha. É visivelmente um edifício religioso sumptuoso, que conjuga a arquitetura de
volumes curvos, puros e abstratos, com os requisitos litúrgicos e teológicos,
demostrando, desta forma, conhecimento das necessidades eclesiásticas atuais.
Quadro resumo do EC2
A propósito da Igreja Nova, extraímos um texto do livro cujo autor se indica
Arquitetura Religiosa pós Concílio Vaticano II:
Adequação do espaço celebrativo ao rito litúrgico
caso do Alto Minho
Jorge Alexandre Rodrigues Martins
Vila Nova de Cerveira, março de 2015
Estudo de Caso 2
3.1.2 – Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo
Fig. 83: Localização EC2
Fonte: http://www.google.pt/imagens
Fig. 84: Igreja da Sagrada Família – Viana do Castelo
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Apresentação
A Igreja da Sagrada Família localiza-se na Freguesia de Stª Mª Maior, concelho de
Viana do Castelo (41º 42’ 19’’ N, 8º 49’ 30’’ O), e pertence à Fabrica da Igreja de
Nossa Senhora de Fátima. A sua implantação é junto à variante norte da cidade, que
comunica a A28 com o hospital distrital.
Como referia o pároco da igreja, padre Artur Coutinho (ver entrevista completa no
anexo 5.3), “a sua localização no meio da comunidade é importante, aproximando-se
dos fiéis“, tendo em conta que a freguesia tinha expandido para Norte, e a nova zona
em causa não tinha nenhum espaço de culto, e acrescenta que esta “ surge por uma
questão de necessidade de mais espaço e mais conforto“ (comunicação pessoal, 18
de outubro, 2014), visto a igreja existente (N. Sª de Fátima) ter ficado, pequena,
distante e sem comodidades para os tempos atuais.
Segundo o pároco, aquando da sua nomeação em 1978, já se falava numa nova
igreja e, desde então, “andamos para a frente” com o projeto, dando assim
cumprimento a um desejo comunitário há muito requerido. Neste sentido refere que
as igrejas antigas são frias (e não é por uma questão térmica). Os homens
de hoje não podem ser parasitas, toda a vida, de um estilo (tipologia) do
passado, tem que haver evolução, e as pessoas têm de se adaptar aos
tempos de hoje. Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)
Daí que, na sua opinião, este novo edifício, tendo em conta a sua arquitetura, foi
perfeitamente aceite pela comunidade e entidades oficiais, que o viram como um
elemento dinamizador de toda uma localidade, transmitindo uma imagem de
modernidade e sendo uma marca da cidade (Fig. 84).
Análise descritivo
O autor do projeto foi o arq. Luís Faro Viana em 2004 (ver entrevista completa no
anexo 5.2) tendo a obra prolongado por cerca de oito anos, foi inaugurada em 8 de
setembro de 2012. Neste momento, o edifício encontra-se inacabado, faltam salas,
serviços administrativos, entre outras, mas o espaço de celebração está concluído,
sendo o seu funcionamento diário e normal.
Antecede a esta proposta um projeto licenciado pela Câmara Municipal em 2000
(PO-217/00) que previa a fusão de igreja com o centro paroquial e social.
Posteriormente houve uma reavaliação das pretensões, tendo os dois espaços sido
concebidos por separado, e a igreja em causa entregue ao arquiteto supra referido.
Esta divisão deve-se, essencialmente, a questões logísticas e jurídicas de
financiamento da obra, que neste âmbito da pesquisa não importa aprofundar.
A nova proposta contemplava a ocupação do lote nº28 (processo de loteamento
974/98), na zona da cidade densamente urbanizada da Abelheira, junto à base do
Monte de Stª Luzia. Neste sentido, o autor considerava este lote, e todos os
elementos que o caracterizam como ”terreno fértil à imaginação”, tendo este espaço,
administrativamente (PDM) ficado reservado para equipamentos.
O programa previa a instalação de uma igreja com capacidade de 800 pessoas,
salas de catequese e atividades socioeducativas, bar e sede dos escuteiros.
Não é alheio a este programa o facto da freguesia em causa ser muito dinâmica e
interventiva em ações sociais, considerando o autor esta zona como “um ambiente
ideologicamente aberto” (2004) requerendo um ‘perfeccionismo e apuro’ das formas
na conceção do edifício em causa. O conceito da mesma foi: a Árvore da Vida.
(Teologicamente, a Árvore da Vida era uma das duas árvores que Deus colocou no
centro do jardim de Éden.)
Fig. 85: Enquadramento urbano EC2
Fonte: http://www.imprensaregional.com.pt
Na conceção inicial da proposta da nova igreja, o autor referia que a arquitetura “tem
que ter sentimento” Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014), e tem que
ser fruto das incidências e de uma leitura da envolvente. Neste sentido, o que mais
prevalecia no entorno eram os círculos, na opinião do autor, daí a ‘curva’ ser a tónica
dominante de toda a morfologia do espaço, de salientar que a curvatura das paredes
exteriores é fruto de circunferências de igual raio.
O autor refere-se à proposta apresentada como querendo criar
um elemento que fosse destinto do resto, e para enfatizar esse objectivo, a
própria Câmara Municipal alterou a materialidade da envolvente para melhor
enquadrar esta proposta. Pronunciando-se o presidente da Câmara na
época, o Defensor de Moura, com a frase ‘gosto, gosto!’ em relação à
proposta da nova igreja, agilizando desta forma o licenciamento da mesma.
Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
E termina por dizer que quando chegou a esta forma, tudo isto foi feito com muita
seriedade e com muito critério.
Em relação ao desenvolvimento do programa, ele distribui-se em duas
espacialidades diferentes, por um lado o corpo principal da igreja ‘visível’ e as salas
de catequese e outras de apoio ‘ocultas’, adaptando-se, desta forma, o edifício à
topografia existente, vencendo o desnível do terreno no sentido N/S.
Enumera-se sucintamente, que o programa era composto por 15 salas de catequese
com paredes amovíveis para melhor gestão do espaço, respetivas instalações
sanitárias e demais espaço de apoio, num total de dois pisos semienterrados que
perfaziam 1547m2 de área construída.
O essencial do programa, que é o espaço de culto – a igreja - é composto por dois
espaços, sendo o principal no piso 0, no piso 1 existe um “tribuna” que se articula
com o anterior através de uma escada (Fig. 86). Este espaço superior é importante
em dias de grande festividade ou até mesmo quando há algum evento musical no
edifício, sendo este tipo de espetáculos frequente neste recinto.
Fig. 86: Piso 1 (tribuna) EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A lotação total da igreja é de 804 pessoas, 626 no piso 0 e 178 no piso 1, de
mencionar que o espaço está habilitado para pessoas com mobilidade condicionada,
e, como tal, no interior há 5 lugres para estas situações.
O piso 0 é o espaço primordial por excelência, e assim as relações quer interiores
quer exteriores são relevantes e serão devidamente analisadas.
O acesso exterior ao arruamento é franco e no espaço sobrante no lote é criado um
estacionamento para 80 lugares, colmatando o fecho do quarteirão.
A entrada no edifico é ‘pausada’ por um pequeno nártex porticado, característico nas
primeiras igrejas cristãs, onde o portal principal, centrado no edifício, abre-se para
norte, sendo ladeado por duas portas de uso diário. De referir um pequeno desnível
entre o estacionamento e a entrada principal.
No interior há dois elementos que ganham destaque de imediato, por um lado a
estrutura construtiva aparente (colunas), de secção circular, orientam o olhar para o
altar e, por outro lado, esse mesmo altar encontra-se à mesma cota (altimétrica) da
entrada (Fig. 87).
No primeiro caso, os pilares foram desde o início assumidos pelo autor, que
considerou a estrutura como muito importante, inicialmente já contemplada no
projeto, evitando-se assim surpresas na execução da obra; o segundo aspeto
referido é simbólico, e nesse sentido o autor refere que
colocar a cota da entrada ao mesmo nível que a cota do altar, foi uma opção
simbólica, assim como a cruz na histerotomia da caixilharia exterior é
propositada e foi, talvez, o único simbolismo religioso presente no edifício.
Viana, L. (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
Fig. 87: Elementos simbólicos EC2
Fonte: Fotografia e montagem de autor (2014)
Ainda no piso 0, a sua área de construção total é de cerca 1130m2, sendo a maior
igreja do Alto Minho. Para além dos equipamentos de apoio, o espaço litúrgico é
composto pelo altar no quadrante Sul, pela nave principal e por duas naves laterais
(Fig. 88). Estas, por seu lado, são delimitadas por fileiras de pilares, que perfazem o
número de catorze, o mesmo número das estações da via-sacra, que é o elemento
que eles contêm - as estações da via-sacra.
Os grandes vitrais laterais orientados, preferencialmente, ao quadrante norte,
permitem uma iluminação constante e difusa do espaço, tendo sido muito cuidada e
ponderada, refere o autor.
Fig. 88: Planta interior EC2
Fonte: Projeto de Licenciamento-CMVC
A assembleia é inclinada no sentido do altar, vencendo um desnível de um metro
desde a entrada. Os bancos são corridos, somente interrompidos pelo corredor
central que relaciona diretamente a entrada com o altar.
O interior assume uma construção nua, num espaço rígido devido aos elementos
maciços e às paredes opacas e lisas. A planta é longitudinal, marcada por um eixo
central, com suportes intermédios (pilares) exibindo relações abstratas entre planta e
fachada.
O recinto interior é único, definido por uma alternância entre paramento-pilar-vitral,
onde o altar, graças a esta composição, obtém uma importância extra no conjunto. O
paramento aproxima o exterior e interior, através do efeito lumínico produzido pela
entrada de luz nos panos verticais dos grandes vitrais.
Todos os elementos construtivos foram manipulados para enfatizar o máximo
protagonismo do altar na sequência entrada-presbitério, seguindo as
recomendações teológicas da Igreja
Quanto ao exterior, o revestimento é em cobre com o embasamento em granito
bojardado. A materialidade do cobre é algo que personaliza e identifica a nobreza do
edifico, é algo marcante e, como tal, referência assumida por todos os intervenientes,
com um “significado especial” diz o autor. Sobre esta matéria o pároco refere que
o cobre do revestimento foi muito caro (daria para pintar duas vezes a igreja),
mas o arquiteto justificou a opção com a tonalidade que adquiria no futuro
(esverdeada) e com o impacto que teria junto ao Monte de Stª Luzia.
Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014)
Fig. 89: Revestimento exterior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A volumetria do edifício é definida por panos de paredes curvos que encerram o
espaço litúrgico, simétricos e o desfasamento dos mesmos é preenchido pelos vitrais
que se desenvolvem desde o pavimento até à cobertura. Por seu lado, a cobertura é
plana, de uma só água e com inclinação descendente no sentido entrada-altar (Fig.
90), acompanhando a topografia existente e que segundo o autor permite “uma
leitura variável que se acentua no pórtico da entrada” (comunicação pessoal, 23 de
outubro, 2014)
Fig. 89: Revestimento exterior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Fig. 90: Alçado nascente EC2
Fonte: Projeto de Licenciamento – CMVC
Análise dos indicadores – EC2
Espaço Litúrgico (geral)
Participação ativa
A participação ativa poderá ser enfocada de vários prismas, é importante referir,
neste caso, a mais-valia da definição de um programa concreto que vá ao encontro
das necessidades da comunidade. Neste contexto, o edifico em causa é portador de
uma valência que fomenta grandemente essa mesma participação que é o facto de
possuir um serviço de ‘babysitting’, como referia o padre Coutinho “as crianças mais
novas, que ainda não assistem às celebrações, poderão ficar ali a brincar, em
segurança, para comodidade dos pais” (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),
que desta forma poderão acompanhar a celebração de forma proveitosa.
O edifício adapta-se, assim, à contemporaneidade e às exigências do tempo atual,
dando um sinal inequívoco de adequabilidade à comunidade eclesiástica,
fomentando o dever pastoral da Igreja.
A participação ativa é tão mais eficaz, quanto mais a comunidade interagir e se
envolver nos atos litúrgicos. O edifício terá de proporcionar condições de mobilidade,
acessibilidade e outras, aos fiéis, mas per si não é suficiente para o sucesso desta
vontade pós-conciliar.
Neste aspeto, a igreja em causa, sendo a maior da Diocese de Viana, não apresenta
uma monumentalidade (interior) que intimide e iniba as fiéis, devido entre outros
fatores à fragmentação do espaço pelos pilares enfatizando o modelo axial que a
caracteriza. O altar surge, então, elevado, num ambiente puro, simples e sem
distrações.
A assembleia inclinada é uma opção válida, onde o corredor central, largo e
generoso (Fig. 92), faz a comunicação desta com os degraus que elevam ao
presbitério. Como nota, referir a ausência que qualquer apoio e/ou guarda de auxilio
na transição desses mesmos degraus, facto sempre delicado.
Fig. 92: Corredor central EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
O espaço da assembleia, que se localiza no piso 1 (tribuna), tem dificuldade numa
comunicação mais direta com as ações litúrgicas, mas a utilização do mesmo é
pontual. Por exemplo, aquando da comunhão, neste espaço é o próprio pároco que
se desloca ao local em causa.
O pároco refere que a igreja “no sábado às 16h00 e no domingo às 11h00 enche por
completo e funciona bem. Com muita ou pouca gente, o edifício é completamente
funcional” Coutinho, A. (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), e relembra-se
que a capacidade é de 800 pessoas sentadas podendo em ocasiões especiais
receber 1200, contando-as de pé.
Esta participação, para ser efetiva, terá de ser assumida e vivenciada pela
comunidade, neste sentido, esta quando interrogada sobre o assunto (ver
entrevistas completas no anexo 5.4) refere que “sim, esta igreja fomenta a
participação. As antigas não deixam as pessoas tão à-vontade”, outro testemunho
diz que “parece-me bastante funcional e prático, para além disso também é seguro”
(comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Estes são alguns exemplos das
opiniões daqueles que de facto sentem e manipulam o espaço litúrgico citado, onde
no cômputo geral o parecer da comunidade é satisfatório quanto à adequabilidade
do espaço a uma participação ativa.
Fig. 93: Distribuição geral EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
A Igreja da Sagrada Família de Viana é o fiel reflexo de um espaço aglutinador das
premissas do Concilio Vaticano II quanto à participação. É um espaço luminoso,
desafogado, simples, onde a elevação do presbitério tem uma duplicidade funcional
e simbólica, democratizando a proposta.
O espaço único envolve o altar em ampla curva interior, que o pároco designou de
‘útero’, aproximando o presbitério da assembleia em gesto de simplicidade
organizativa e de inspiradora força simbólica.
Espaço Litúrgico (geral)
Comodidade
Em 1 de setembro de 2012, o Jornal de Notícias, em artigo referente à inauguração
da igreja escrevia: “de linhas contemporâneas, gigante, com chão radiante para que
os fiéis possam orar de pés quentes”, não sendo indiferente ao repórter o facto de
este edifício estar dotado de um aquecimento, que acompanha as necessidades
atuais das populações.
Neste sentido, a comodidade quer térmica, quer acústica estão garantidas neste
novo espaço, referindo o pároco que até ao momento não foi comunicado qualquer
desconformidade neste aspeto, relembra-se que o edifício é recente.
Os bancos corridos de madeira tratada são os adequados a estes espaços,
permitindo o genuflexório. O conforto visual é garantido e melhorado pelo facto de a
assembleia ser inclinada, apesar de nas naves laterais e “tribuna” superior a
visibilidade do presbitério ficar parcialmente comprometida pela existência dos
pilares (Fig. 94).
O sistema de som é moderno e eficaz em todo o espaço.
Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo
sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também
bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os
genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)
de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade
contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço
para os atos litúrgicos.
Fig. 94:
Fig. 94: Pilares estruturais EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Sobre este aspeto a comunidade pronuncia-se da seguinte forma “com o novo
sistema de som é possível ouvi-lo bem, e como o espaço é amplo vê-se também
bem o padre. É muito confortável e cómodo”, outro fiel refere somente que “os
genuflexórios não são muito funcionais” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014)
de resto não referem dificuldades, sendo a opinião generalizada da comunidade
contactada, de normalidade e conformidade das condições de conforto do espaço
para os atos litúrgicos.
Esta igreja aposta no aproveitamento da energia solar, através de painéis
fotovoltaicos, que permitirão reduzir os consumos elétricos e, devido à grande
luminosidade interior, as celebrações serão feitas apenas com a luz natural.
O pároco referia que “temos de pensar nos fiéis e nas condições que oferecemos”
(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014), justificando, assim, toda a tecnologia
aplicada ao edifício, fazendo parte da igreja transmitir esta modernidade.
A comodidade do coro em participar nas celebrações é total, isto porque está
localizado junto ao presbitério numa nave lateral (Fig. 95), onde a sua presença é
discreta, limitando-se unicamente ao acompanhamento musical, neste sentido o
autor da obra referia que “em relação à acústica, sempre pressenti que funcionaria
bem pela experiência que tinha em assistir a concertos em espaços com a mesma
forma.” (comunicação pessoal, 23 de outubro, 2014)
Fig. 95: Local do coro EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Espaço Litúrgico (presbitério)
Centralidade
Os alinhamentos definidos pelos pilares, simples e harmónicos, onde o volume
decresce de altura à medida que se aproxima do altar, numa organização evoluída
da planta basilical, geram uma perspetiva pura e direta, para onde converge toda a
iluminação natural.
A planta montada num eixo longitudinal enfatiza o caminho desde a entrada sombria,
até ao presbitério inundado de brilho e magnificência lumínica (Fig. 96), presidido por
uma bela representação artística da sagrada família, que personaliza o espaço, cuja
autoria são artistas locais.
A subtileza extrema dos elementos construtivos, sem cor ou outra decoração que
não a proporcionada pelos materiais, gera uma curiosa volumetria, onde o teto
fragmentado é o limite do olhar, produzindo um lugar calmo e solene.
Fig. 96: Espaço interior EC2
Fonte: Fotografia de autor (2014)
Note-se que a iluminação nunca incide diretamente no espaço, mas é potenciadora
de uma atmosfera simbólica, obtida através da conjugação desta com a
materialidade e o cromatismo dos elementos existentes (bancos, pavimento, entre
outros), definindo claramente a linha do horizonte que separa a zona da ‘luz’, no
campo ascendente, da zona da ‘sombra’, campo descendente, num gesto carregado
de transcendência simbólica, onde o olhar procura o altar.
O espaço interior é carregado de sensações e incidências, pela organização e
conjugação das partes, num claro apelo à simplicidade, onde a luz é a grande
dominadora de todo o ambiente cénico e litúrgico.
Colabora nesta centralidade a localização do batistério no presbitério, havendo um
equilíbrio litúrgico dos sacramentos, demostrando desta forma as mudanças do rumo
teológico da Igreja e a justa interpretação do projetista.
A boa visibilidade dada ao altar resulta, também, da proporção ocupada por este na
composição interior do espaço, correspondendo ao preenchimento da totalidade da
largura do edifício (Fig. 97), sendo por sua vez este dominado pela própria largura
em relação ao comprimento, conduzindo, deste modo, toda a assembleia ao coração
da liturgia - o altar.
Fig. 97: Presbitério EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Os elementos da assembleia quando interrogados sobre este assunto – a
centralidade do presbitério manifestaram-se da seguinte forma; “parece-me
adequado, é um convite à interioridade”, outro refere que “sim, agrada-me. É amplo e
tem muita luz natural”, sendo a “simplicidade” (comunicação pessoal, 25 de outubro,
2014) a referência concetual do presbitério para os fiéis. Por seu lado, o pároco
considera o altar ”nobre e espacialmente converge a visão para lá” (comunicação
pessoal, 18 de outubro, 2014), e termina por dizer que quando assim é “a arquitetura
‘apela’ e é acolhedora, e isso é o mais importante”, num edifício que tem como
missão a congregação de toda a comunidade em torno do altar, neste caso repleto
de luz.
A luz e a ausência dela, tem um papel fundamental na definição desta centralidade,
onde o autor a manipula, no sentido da sua incidência sobre os corpos realçando as
formas dos elementos deixados propositadamente no campo visual, potenciando a
perceção do espaço central por excelência – o altar.
Espaço Litúrgico (simbólico)
Reunião
A arquitetura deve favorecer o conceito de assembleia e não de grupos separados,
como era frequente acontecer nas igrejas pré-conciliares, havendo nesses casos a
separação por género, estrato social, raça, entre outras.
Nesta igreja comprova-se a fracionamento do espaço litúrgico em três naves, a
central de maior dimensão e duas laterias. Nas igrejas antigas, a existência de naves
laterais era justificada pela relação direta com os altares laterias, atualmente esses
altares desapareceram e estes elementos (colunas) impedem a comunicação e
visibilidade de toda a assembleia. O teólogo Jorge Barbosa referia na entrevista que
um dos maiores problemas para a adaptação das igrejas antigas à nova liturgia é
precisamente a existência de colunas no espaço litúrgico.
Note-se neste contexto, a “tribuna” existente no piso 1 (Fig. 98) também se encontrar
em franca desconexão com a “unidade” pretendida.
A comunidade eclesiástica quando questionada sobre esta matéria referia que “a
própria distribuição dos bancos contribui a essa reunião” ou que “o conceito de
circularidade une o povo” (comunicação pessoal, 25 de outubro, 2014). Apesar de a
espacialidade não fomentar que todos se sintam membros de um único corpo, a
perceção da comunidade é diferente, sendo que todos se sentem reunidos nas
celebrações, e isso é o principal.
Mais importante do que os elementos construídos possam indicar numa primeira
análise, é a opinião dos fiéis que utilizam o espaço que importa e as sensações que
o espaço lhes transmite, onde, por vezes, a relação entre espaço e perceção vai
mais além do inteligível.
Fig. 98: Piso 1 (tribuna) EC2
Fonte: Montagem de autor (2014)
Espaço Litúrgico (simbólico)
“Chamamento”
O projetista da obra referia na memória descrita constante no processo de
licenciamento (anexo 5.1) que a mesma era “ uma janela privilegiada para o exterior
que se conjuga com a envolvente próxima, para em conjunto traçar o perfil da rua,
configurando a malha urbana e criar uma marca na cidade”, neste sentido o edifício
em causa não se limita a albergar um qualquer programa litúrgico nem somente a
dar resposta e requisito de ordem funcional, mas pretende “passar” uma mensagem,
que neste caso seria de contemporaneidade, de prosperidade e vanguardismo da
cidade. Para tal, o autor recorre a uma volumetria curvilínea onde a configuração das
massas é espetacular, de grande dimensão, a materialidade (cobre) destaca a
nobreza do edifico, sendo este um recurso plástico de rara beleza.
Mas quando confrontado com esta situação, o arquiteto acrescenta que
nunca foi minha intenção fazer uma igreja para ‘atrair’ pessoas para a
religião, nem nunca me foi pedido por parte da instituição. Mas também não
foi abordado como um projeto civil comum, é evidente que o facto de eu ser
católico me influenciou, mas não me prendi demais. Viana, L. (comunicação
pessoal, 23 de outubro, 2014)
Apesar do autor se distanciar de questões concetuais de cariz teológico, note-se que
o edifico em causa afirma-se no contexto arquitetónico e não, especificamente, no
campo da arquitetura religiosa.
O pároco vê esta obra como “uma verdadeira obra de arte, que pode ser apreciada
de três ângulos diferentes. Vista de cima parece uma árvore, de dentro um útero e
de fora uma nave, nesse sentido, acrescenta, que “esta arquitetura tem uma
influência preponderante, despertando a atenção de quem a vê” Coutinho, A.
(comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014). A própria comunidade refere-se à
igreja como “vistosa por fora mas sóbria por dentro” e ainda que transmite
“seriedade, simplicidade e paz, é nela que me sinto bem”, e outros há que dizem “a
grandeza da sua simplicidade torna-a acolhedora”.
O pároco refere que a comunidade se identifica com o templo, e isso constata-se nas
entrevistas, dizendo que “na missa inaugural ouvi coisas das crianças acerca desta
igreja extraordinárias, às tantas alguns adultos nunca pensariam aquilo que elas
pensavam, identificando-se completamente com o edifício. Nessa altura toda a
comunidade gostou do edifício“ (comunicação pessoal, 18 de outubro, 2014),
referindo que as classes mais jovens gostam mais da igreja nova que da igreja
velha. É visivelmente um edifício religioso sumptuoso, que conjuga a arquitetura de
volumes curvos, puros e abstratos, com os requisitos litúrgicos e teológicos,
demostrando, desta forma, conhecimento das necessidades eclesiásticas atuais.
Quadro resumo do EC2
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