A casa dos Brasileiros
Naturalmente poderíamos ir muito longe, nos anos, a
propósito dos de Mazarefes que emigraram para o Brasil. Em 1693, faleceu
Domingos Rodrigues no Brasil, em 1701, faleceu também, no Brasil, João
Rodrigues Junqueiro. Pelo menos, vinte e cinco Mazarefenses morreram, no
Brasil, no século XVIII. Os de Mazarefes emigraram muito para o Brasil, só em
40 anos, de
Uma filha da casa de Gavindos, a Isabel Rodrigues,
casou com Gonçalo Rodrigues do Souto, em 1661, que, entre vários filhos,
tiveram um chamado Matias. Este, por sua vez casou com Andreza Rodrigues da
casa dos brasileiros. Este casal teve muitos filhos: Manuel (1706), Matias
(1712), Maria (1708), António (1710), Jerónimo (1711), Francisco (1715), Teresa
(1721), Joana (1727). O Matias faleceu em 1744, enquanto a Andreza em
A filha, a Maria, casou com João Francisco da Rocha, em 1724, de Alvarães, e faleceu a 1755.
Estamos em meados do
século XVIII.
Este casal teve 4
filhos: a Maria Rodrigues da Rocha, o Manuel, o António, e a Joana. A Maria R.
da Rocha casou, em 1759, com o António Francisco dos Reis, os quais tiveram 6
filhos: Manuel Francisco dos Reis, a Maria, nascida a 1764 e casada em 1781 com
António de Araújo, a Joana, nascida a
O António Francisco
dos Reis faleceu em 1816. Deixou bens de alma pela mulher, Maria Rodrigues,
falecida dois anos antes, em 1814, pela sogra, Maria Rodrigues, pela cunhada
Joana, entre outros. O terço dos bens ficou para o Manuel que vivia na casa com
uma demente.
O Manuel Francisco da
Rocha, irmão da mãe, deixou aos sobrinhos todos os seus bens à excepção do
José, ausente na Galiza, por ser rebelde, à mulher de José Afonso Forte 50.000
reis de esmola; à Maria Miranda, mulher de João Ribeiro Gomes, 30.000 reis; à
criada Maria Gomes 70.000 reis e uma leira da “Virinha”, no lugar de Ferrais,
com a obrigação de dar 1.200 réis à Senhora do Terço da Capela do Espírito
Santo, em Barcelos. À criada Senhorinha Rodrigues, à conta da soldada, 130.000
réis.
O Manuel Francisco
dos Reis, o primogénito deste matrimónio, casou com Maria Rodrigues dos Reis,
filha de João Gonçalves Rato e Maria Rodrigues dos Reis, prima, filha de uma
irmã do pai. Este Manuel esteve no Brasil e, aí, arranjou algum dinheiro para
abrir novos horizontes à sua vida, e fazer algumas compras de terrenos.
Deste matrimónio
houve 7 filhos, a saber: Manuel (1819), Jerónimo (1826) que foi padre e morreu
novo, o António (1824) que casou a 1º vez com Maria Fernandes. Do 1º casamento
foi pai de Teresa e Maria... depois de
ter enviuvado, casou com Maria Parente da Costa Lima, de Vila Fria, de quem
teve 2 filhos, (o José e a Albina), a Maria (1814) que casou para Vila de Punhe
com o José F. Silva Quintas, o João (1814) que casou para Viana com Maria das
Dores Araújo, a Rosa (1821) que casou com Manuel Francisco de Carvalho e outra
Rosa (1816) que tinha falecido criança.
Manuel Francisco dos
Reis herdou da sua mãe, Maria Rodrigues, o lugar e casas, torres, terras,
lagar, espigueiro do lado norte partindo da Nascente e Sul com outro lugar
deste casal, no valor de 340.520 reis, uma Cortinha lavradia e vinha do lado
Sul da vivenda a partir com um bico que se separou para o co-herdeiro António,
uma leira de lavradio dentro da Quinta dos herdeiros, metade dum Campo lavradio
com água de rega e um moinho, chamado Muro do Regueiro, que parte do nascente,
com a co-herdeira Maria, uma terra de lavradio no sítio do Vermoim, chamada
Carreira e uma leira de lavradio no sítio da Morada, tudo no valor de 892.420
reis.
À morte deixou os
filhos: João, de 29 anos, casado em Viana; a Maria, de 28 anos, casada em Vila
de Punhe; o Manuel com 24 anos, o António com 19 e o Jerónimo com 17 anos.
Ficou tutor do menor, o João. Deixou em role duas propriedades nas Borras, uma
na Ponta da Veiga, duas nos Boldrões, uma no Chouso, uma no Vermoim e uma no
Calvete. Contraiu alguns empréstimos que totalizaram 72.123 reis.
O valor do seu formal
no testamento foi de 370.617 réis, à sua parte.
Trouxe uma grande
questão com o vizinho Manuel Rodrigues Carvalho, (seu cunhado) que tinha uma
oliveira, sua propriedade, e sobre a Cortinha pelo que houve uma conciliação e
recebeu de idemnização 6.600 reis, em 1838.
Hipotecou algumas propriedades
para poder ter crédito em alguns empréstimos, como a Bouça de Lamas e o
Pereiro.
Foram credores
Belchior Almeida, Simão Barbosa de Almeida e Manuel Francisco da Rocha. À sua
morte eram devedores à família o António Rodrigues Vaz, Manuel Pereira Viana,
Teresa Pereira e Manuel Rodrigues Barbosa.
A viúva, Maria
Rodrigues, faleceu a 1863 deixando 4 filhos. O Manuel estava casado com Rosa
Ribeiro da Silva, em sua companhia, a quem fazia o terço. O Pe. Jerónimo, seu
filho já tinha morrido. O filho Manuel tinha um filho no Seminário, o Jerónimo,
e deixou-lhe mais bens destinados para constituição do património do neto ao
receber ordens sacras. À criada, chamada Ana, que era filha de José Rodrigues
Barbosa, deixou uma cama aparelhada e, por não saber ler, nem escrever, assinou
a rogo dela o senhor Domingos Rodrigues Vaz, em 20/10/1873.
O Manuel casou com a
Rosa Ribeiro da Silva, filha de Manuel Fernandes (dos Carrapatos) e Maria
Ribeiro da Silva, da qual teve 7 filhos: João, nascido em 1852 e falecido em 1876;
o Jerónimo, nascido em 1856, casado para Vila Franca com Teresa Ribeiro da
Silva e falecido a 1940. Andou no Seminário e a avó paterna deixou em
testamento um campo para o património, se ele fosse padre. Ficou órfão de pai
aos 17 anos e foi o irmão João, casado em Viana, o seu tutor; o Manuel Júnior,
nascido a 1856, casado com Rosa Pitta Bezerra,
de Darque de quem teve o José Pitta Reis que, por sua vez, casou com
Rosa Sá Freitas Lima de quem teve os seguintes filhos: Maria, António, Maria
Luísa, Rosa, José, Manuel e o Augusto; o José (1861), a Maria (1850), o Miguel
(1853) e a Ana, nascida em 1866, casou com António Rodrigues de Araújo
Coutinho, da Casa dos Cordoeiros, das Boas Novas. A Ana e o António tiveram 7 filhos: o António
(1903), o José (1898), o Alexandre (1905), a Maria (1891), a Ana (1907), a Rosa
(1897) e a Laura (1909).
O apelido
“brasileiro” dado à Casa dos Brasileiros começou com o irmão de Maria Rodrigues
da Rocha, Manuel Francisco da Rocha que morreu solteiro e esteve no Brasil a
fazer fortuna.
Consta que de lá
trouxe um preto escravo chegando até aos nossos dias alguns instrumentos
utilizados nessa altura pelo escravo... O Manuel Francisco dos Reis terá ido
também ao Brasil, mas morreu novo, em 1842, pelo que o filho que ficou nesta casa
Manuel Francisco dos Reis seguiu as pisadas do tio e do pai indo ele também à
terra das patacas. Recebeu diplomas
humanitários que ainda possuímos, o que mostra ter sido pessoa que por lá
esteve tempo razoável para mostrar o que
valia e criar relações sociais capazes de arrancar a admiração da população do
Rio de Janeiro. Sabemos que teve passaporte para se ausentar para o Brasil
passado aos 16 anos e aos 25 anos, pelo menos.
Estamos em pleno
século XIX.
O Manuel fez inúmeras
compras, mais de 200 mil reis com dinheiro ganho no Brasil. Parece que a sua
ideia era comprar Mazarefes inteira e, do formal de partilhas em 1898, constava
o seguinte:
VIÚVA:1.Casas, altas
e baixas, espigueiro, eira, poço, terra lavradia, árvores de fruto, vinha;
2.Cortinha; 3. Muro; 4.Moínho; 5.Mial; 6. Cabreiras de Sabariz; 7.Estacada da
Ponta do Veiga; 8.Estacada na Veiga de S.Simão; 9. Leira na Cachada de Cima;
10. No Prado; 11.Estacada de rosso no Veiga; 12. Leira de Mato e Pinheiros em
Stº Amaro; 13.Leira lavradia no Mial pequeno; 14. Outra Leira de Mato e
Pinheiros em Stº Amaro; 15. Leira de Junco na Veiga de S.Simão; JERÓNIMO:
16.Bouça de mato e pinheiros na Espinhosa; 17. Leira de Mato e Pinheiros no
Fontão; 18. Um campo de terra lavradia; 19. O campo do Estivada; 20.Terra
lavradia na Morada de Cima; 21.outra na morada de Baixo; 22. Campo da Quinta de
Melo; 23. Leira de Mato e Pinheiros nos Raindos de Baixo; 24. Leira de Paúl e
Madeira no sítio da Bordonesa ; 25. Leira de lavradio e Mato na Areia Cega da
outra banda da freguesia de Mazarefes; MANUEL:26. Leira no Termo; 27. Leira no
Vermoim do Matias; 28. Terreno lavradio e vinha no Vermoim da Carreira; 29.
Lugar de Casas dos Vermoins; 30. Casas altas e baixas, poço, árvores de fruto e
vinha, terra lavradia; 31. Bouça de Mato e Pinheiros no sítio dos Borras; 32.
Leira de mato e Pinheiros no sítio das Corgas; 33. Leira de Mato e Pinheiros no
sítio da Sarrubada; JOSÉ: 34. Leira de Mato e Pinheiros na Bouça da (Curta?);
35. Leira de Mato e Pinheiros em Stº
Amaro; 36. Outra de Mato e Pinheiros em Stº Amaro, Bouça da Quinta do Borralho;
37. Leira de lavradia e vinha na Saloa; 38. O Campo do Vermoim da Velha; 39.
Leira de Mato, Pinheiros e Carvalhos no sítio do Pelote; 40.Leira de lavradio e
algumas videiras no Safrão; 41. Terra de lavradio e vinha na Cachada de Baixo;
42. Estacada Pequena na Ponta do Veiga; 43. Campo de lavradio e vinha no sítio
da Foutela; MIGUEL:44. Moinho; 45. Bouça de Mato e Pinheiros na Cabreiras de
Baixo; 46. Terra de lavradio no sítio da Junqueirinha; 47. Leira de Paul e
Madeira na Junqueirinha; 48. Terra de lavradio e madeira nos Bordones; ANA:49.
Bouça de Mato e Pinheiros na Bouça da
Terra; 50. Outra Bouça de Mato e Pinheiros na Bouça de Curta; 51. Bouça de Mato
e Pinheiros no Monte de Stº Amaro; 52.Leira de Terra lavradia e vinha nos
Chousos; 53. Leira lavradia e vinhas nos Raindos; 54. Leira de Mato e Pinheiros
no sítio da Couchada do Meio; 55.Leira de terra e lavradia no Mial de Baixo;
56. Paul, Madeira e Carvalhos nos
Bordones; 57. Estacada de lavradio e madeira denominada Polaina na Ponta da
Veiga; 58. Estacada de Junco no Roncal.
Era um total de
3.095.285 reis que repartido por 5 filhos, pois os outros já tinham morrido,
foi de 619.057 reis.
À morte do Manuel, o
filho Miguel, homem alto, forte, nariz comprido sobre um bigode farfalhudo em
rosto redondo e avermelhado, não moreno, estava solteiro e ficou na Casa . Veio
a casar aos 52 anos com Maria Pereira da Cunha, mas por pouco tempo, pois a
mulher deitou-se a afogar no poço da água do consumo da casa. Um dos motivos de
afogamento foi, e não o menos importante, o facto de ter sofrimentos no
cérebro. Ela era sobrinha dum Padre ( O Padre Calisto), que morreu canceroso da
cabeça e três sobrinhos também tinham morrido da mesma doença.Ela, ao que
parece, também estava a sofrer do mesmo, com fortes dores...pelo que resolveu
acabar com a vida... O Miguel enviuvou e queria agora, não uma mulher, mas um
sobrinho
O Miguel, não
conformado com a sua solidão, e talvez a querer outra coisa, novos namoros fez
à sobrinha para casar com o António, sobrinho também da irmã Ana e mãe da
Maria, filho do Alexandre, eram primos, e conseguir que viessem para o pé dele.
Assim foi. O António, filho do Alexandre intervém, deita a mão à Maria e casa
com ela. O casamento realizou-se, mas o Miguel morreu em 1922, um ano depois de
ter nascido o primeiro bissobrinho, filho dos sobrinhos herdeiros, o Manuel,
que casou em 1946 com Deolinda Rodrigues de Araújo Amorim, filha mais nova de
José Rodrigues de Araújo Amorim e Antónia Rodrigues de Araújo, da Casa do Zé do
Monte, Lugar do Monte.
Na casa dos
Brasileiros nasci eu em 7 de Janeiro de 1947. Pelo que a minha mãe conta, não
lhe ofereci uma vida muito fácil.
A gestação foi
complicada e...assistência, nessa altura, também não era fácil. Sobretudo, na
altura do parto, a situação complicou-se ainda mais, mas com a ajuda da
parteira da terra, a D. Inácia do Franco, vim a este mundo numa Terça-feira, em
dia de lua nova, pelas 17h30. Fui bem acolhido. Gostava de ter presente na
memória todos os carinhos que aí recebi, mas pelo que também a mãe me diz, eu
era chorão.
Chorava porque era
nervoso ou chorava porque queria mais carinhos do que aqueles que me davam?
Seria eu tão exigente?
É pena que ao nascer
não tenhamos logo a percepção completa das coisas, porque sentiria hoje outra
afeição pela falecida Maria que me viu nascer e que a vi morrer em 1996 e o meu
pai, nem imagino, ao sentir-se, pela primeira vez, um homem criador e
continuado no mundo. Que teria dito ele à mãe? Ambos enlevados e a rebentar de
alegria, à beira duma explosão de alegria afirmando a todos que eram mais
poderosos...
E os avós? O primeiro
neto...Estatutos que permaneceram: o Nel do Lexandre e a Linda do Zé do Monte
são pais, o Tone Lexandre e a Maria Grijeta, o Zé do Monte e a Tónia Catrina
são avós.
Chega o dia 12 de
Janeiro, levaram-me à Pia Baptismal...fui mouro, vim cristão e os responsáveis
foram o Artur e a Maria, o cunhado dos pais e a irmã da mãe. Era assim. Lá foi
a madrinha com o Artur mouro e lá trouxeram o Artur cristão, depois do Pe.
António Quesado, Pároco de Vila Franca, ter feito as honras da Igreja Católica,
à porta da igreja e depois, na Pia Baptismal de Mazarefes, ter declarado: Artur,
eu te baptizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Os paninhos que me
embrulharam ainda existem. Serão?...
Regresso a casa
levado pelos padrinhos como cristão.
De brasileiro só
tinha do meu trisavô paterno-materno, era o Manuel Francisco dos Reis, pai de
Ana do Cordoeiro, avô da minha avó paterna Maria Ribeiro da Silva Coutinho e
bisavô de meu pai e trisavô meu e de meus irmãos.
Um dia nesta casa
onde vivi alguns meses depois de ter nascido e depois de ter ido para o
Seminário, aí pelos 13 anos, descobri todos os documentos que tenho entre mãos.
A cabeça de S. Bruno em pau preto, naturalmente, vindo do Brasil, assim como
algumas moedas de prata antigas da monarquia, o Cónego Luciano Afonso dos
Santos, Reitor do Seminário de Santiago, Director-Fundador do Museu Pio XII
ficou com as referidas peças para enriquecimento do património museológico.
Encontrei ainda um livro manuscrito cheio de poesias ricas em sátira, humorismo e temas religiosos não faltavam.
Esse livro mostrei-o
ao meu professor de filosofia, Dr. Raúl Teixeira, e ficou-me com ele até nunca
mais o ver. Dele transcrevo estas que ainda possuo. Tinha outras, mas não sei
delas...
Versos de improviso a
um sujeito que estava com a boca aberta
Ao pé de Sta. Teresa
Trepada numa taboca
Estava uma muriçoca
Tocando num realejo
A contradança francesa
E juntamente a cantar
Nisto ia por lá passando
Um taludo mariola
Que em lugar d’ir para a escola
Espantado pôs-se a ver
A muriçoca tocando
Que o fazia admirar
Mas um cagalhão q’andava
Naqueles sítios voando
Foi-lhe pela boca entrando
E o Tone que sem dar fé
Mui lampeiro o foi chuchando
Mesmo até sem o mastigar
Portanto meu caro amigo
Evite andar com a boca aberta
(.................)
Quem foi o autor?
Ou eram poemas do Manuel Francisco dos Reis
quando ausente no Brasil ou de Jerónimo Francisco dos Reis, seu tio Padre que
aqui viveu no princípio do século XIX.
A
CASA DOS CATRINOS
=
OS ARAÚJOS=
Quem deu grande ser à Casa dos
Catrinos foi o Manuel Araújo, carpinteiro, casado com a Maria (Forte), dos
Funfuns, Maria Rodrigues, filha de José Afonso Forte e Maria Rodrigues, também
conhecidos pelos cabanos, avós do Alípio Forte.
Eram conhecidos pelos cabanos porque
tinham as orelhas grandes e à semelhança do Boi Cabano - cornos baixos e
levantados nas pontas, ou o Boi Pereiro - cornos para o ar. Os Funfuns foram os
primeiros da freguesia a viver mais a sul de S. Simão, onde viviam as Capotas,
junto dos “Muros”.
Os Catrinos aparecem em Mazarefes na
Casa que depois tomou o nome de “Casa do Zé do Monte” junto à passagem de nível
do comboio e que hoje é da Maria do Céu.
Esta casa era de António Araújo, pedreiro,
oriundo de Vila Fria. Vieram, por isso, os Catrinos de Vila Fria, gente simples
e humilde que vivia do seu trabalho. Era uma família muito unida e todos os
Domingos, desde tempos antigos, de tarde, os irmãos se reuniam na casa paterna,
todos tinham de entrar ao Domingo na casa, onde tinham nascido, ainda que os
seus progenitores já fossem falecidos.
Por causa desse costume, por
exemplo, o Manuel, o José e a Antónia faziam no tempo da chuva bailes na sala
da casa. O Manuel Catrino do Cruzeiro tocava concertina, a Antónia e o Zé da
Regadia, o cunhado e as cunhadas dançavam...Um dia, o senhor abade António
Francisco de Matos passou e ouviu os acordes da concertina, os pulos, os ritmos
de dança, o bater do tacão e comentou: "lá estão os Catrinos no
catruca-catruca, a catrucar na sala". Como carpinteiro, o Manuel, foi
trabalhar para Lisboa, para o restauro da cidade depois do terramoto, deixando
naquela casa a mulher, meia dúzia de ovelhas e uma tourinha na corte. Ela
dedicava-se à salga de sardinha em casa e a vendê-la a todos os que lá iam
comprá-la. Fazia bom negócio, a ponto de quando o marido veio de Lisboa em visita,
ela já tinha comprado uns bois e um carro para, depois do primeiro abraço à
chegada, lhe mostrar o fruto do seu trabalho e lhe mostrar que, se ele foi
trabalhar, ela também não ficou parada e fez pela vida.
Quanto à casa dos Capareiros que
ficava dentro do mesmo quintal e conhecida pela “Casinha” até 1985 mais ou
menos, hoje está reduzida pela obra da casa que a Maria do Céu e o marido
fizeram nova, foi comprada pelo Manuel Araújo. O canto do lado poente confinava
com o Abade Matos e, para aumentar ao seu património, pediu ao Manuel Araújo
para lho vender, mas a resposta ao Abade Matos foi negativa e bastante
irreverente.
Voltando às origens, António Araújo
casou com Maria Rodrigues em 1781 e foi pai de 8 filhos, a saber: o António, o
Manuel, a Maria, a Teresa, a Joana, o Francisco, a Rosa e a Luísa. A Luísa
casou com o primo José. O José era filho de Manuel Araújo e Catarina A. Peixoto
(de Vila Fria). Foi o José, filho deste casal, que casou com a prima Luísa e
foi pai de 3 filhos, a saber: o Manuel (1831), o António (1835) e
a Rosa (1837), falecida a 1840. O Manuel Araújo casou com Maria
Rodrigues, filha de José Afonso Forte e de Maria Rodrigues, e foram o José e a
Maria, pais de 4 filhos: o Manuel (1879), a Maria (1882), o José (1885) e a
Antónia (1877). Esta Antónia casou com José Rodrigues de Araújo Amorim,
da Casa das Claras e foi mãe da Maria, José, Domingos e Deolinda. O Domingos
morreu queimado na lareira no dia de Páscoa, ao meio dia, quando a mãe
preparava a sala da casa para receber o compasso pascal. Curiosamente uma
sobrinha neta ficou, em dia de Páscoa, à noite, na mesma cozinha sem uma mão. O
José casou para Vila Fria com Conceição Lima, de Anha e sobrinha do tio José do
Couto e, deste casamento, houve 5 homens (o Manuel Artur, o Joaquim, o José, o
Martinho e o Agostinho. A Conceição morreu cedo, de doença cancerosa e o José
voltou a casar com Alice das Marinhas de quem teve duas filhas: a Renata
e a Sandra. A Maria casou com Artur Augusto Matos, de Vila Franca, familiar do
Pe. João Matos de Vila Franca, a Deolinda casou com Manuel Ribeiro Coutinho, da
Casa dos Brasileiros e é mãe do Pe. Artur, do Eng.º Abel e da Maria do Céu. O
Abel casou com uma sobrinha de Mons. Sebastião, a Isabel Joana L. Pires, e a
Maria do Céu com José Gonçalves Barreto, da Regadia.
ANTÓNIO ALVES DE
CARVALHO
António Alves de Carvalho, nascido
em Mazarefes, em 1913, veio para Viana depois do mês de Julho, porque a 25 de
Julho ardeu a casa de seu avô e, de seguida, foi vendida ao António Coelho de
Viana por 1.000.00 e veio para Viana viver numa casa alugada. Ora ele tinha
apenas uns meses, nasceu
Trabalhou 39 anos e meio em
drogarias e desses 38 anos, trabalhou na Drogaria do Afonso de Monção com os
irmãos João e o Augusto Palma da Silva. Dedicava-se nos tempos livres à pesca,
à linha, no rio. O António Carvalho tirou o Curso Comercial e foi o último com
mais 10 colegas que tirou esse curso apenas de 4 anos. A partir daí começou a
ser de 5 anos. Era filho da Cândida e
neto de António Alves de Carvalho Júnior, de Alvarães, casado em Mazarefes, era
professor e a filha Cândida era sua auxiliar e foi credenciada oficialmente
como professora, depois de ter sido costureira. A Cândida tinha nascido a
30.05.1874 e faleceu a 02.05.1969. O seu
avô teve outros filhos: a Justina casou em 1956 e viveu no Caminho de Latoeiro
por trás do Comércio dos Pittas, no Ribeiro, teve dois filhos. O marido da
Justina, chamado Manuel Alfredo Fernando Lima, foi para o Brasil e nunca mais
quis saber da família. Dois filhos foram então para lá: o Evaristo e o Luciano.
O Luciano morreu no Brasil e o Evaristo regressou doente a Portugal e veio para
a rua, onde está a tabacaria do Ciso.
A Adelaide que viveu na
regadia, casou com o Francisco Moreira de Matos, serralheiro, da regadia, teve
dois filhos casados para Vila Franca, onde também morreu. Eugénio morreu
em Caminha, o Luciano, que que foi o que lhe sucedeu na regência da
Banda, casou
Depois dos 38 anos de serviço na
drogaria, o Carvalho foi trabalhar na contabilidade do Eugénio Pinheiro mais 22
anos. Era filho de mãe solteira e tinha um irmão, ambos filhos do Padre
Marinheira, antes de ser padre... O Padre Marinheira ordenou-se muito tarde até
por causa disso e depois a mãe, com ele já ordenado, pôs uma questão no
tribunal que foi defendida pelo advogado Dr. A. Ribeiro da Silva. Uma das testemunhas foi o “António Alexandre”. A questão ficou mal
resolvida, houve muita pressão de eclesiásticos, inclusive, do Arcebispo de
Braga. O pai era de nome Manuel Barbosa Meira que nasceu a 21.01.1868 e morreu
a 30.05.1939, com 71 anos. O filho António tinha 26 anos.
A Aurora do Coco, por
ter casado com o Coco, e também utente do Centro de Dia, moradora na Rua da
Bandeira, era filha da Justina.
Não há filho nenhum
em Anha?
Casa do Necas Reis
A casa de Gavindos,
também conhecida pela Casa de Coibindos, a poente de Vermoim de Baixo foi uma
casa dos Capelos, no séc. XVI.
Era a penúltima casa da freguesia de
Mazarefes quando o centro urbano desta freguesia se localizava na Veiga de S.
Simão.
De onde eram os
Capelos, ou como eles apareceram em Mazarefes, desde quando e como dos Capelos
chegou até agora, não sabemos. A ordem dos nomes que se prenderam com esta casa
aqui ficam, mas... como esta casa seria no seu início não se sabe. Talvez como
muitas outras da ocasião. Pedra solta, sobreposta e coberta com colmo, mais como
um barraco de pedra.
Em 1804 aparecem
registos de duas ou três casas existentes nos Raindos, de difícil localização.
Os primeiros
proprietários da casa localizada no lugar de Gavindos ou Coibindos, junto do
Vermoim de Baixo foram Cristovão Rodrigues e Maria Rodrigues, casados em 1661.
O Cristovão faleceu em
Este casal teve um
bisneto que saiu da Casa dos brasileiros, o Manuel Júnior que lhe tocou esta
casa dos Gavindos, mas morreu novo,
assim como a mulher, da febre pneumónica. O único filho, José Pitta Reis, orfão
aos 15 anos, enquanto menor ficou a viver com o tio Miguel Francisco dos Reis,
casa dos avós paternos, portanto na casa dos brasileiros. Casou com Rosa
Freitas Lima, de Darque e, em Darque, viveu, como viveu a maior parte da sua
vida nesta casa agora
O Necas é agora o seu
proprietário e que dela tem cuidado com desvelo.
Primeiramente ela
começou por ser uma casa térrea e subida depois, funcionou nos baixos da casa,
alugada ao José da Cunha, uma venda e um armazém do sal.
Nela viveu o tio-avô
do Necas, logo que casou, o José Francisco dos Reis, irmão mais velho do Manuel
Francisco dos Reis Júnior, até à compra duma casa própria. Depois viveu uma
família da “Recoca” até os pais do Necas irem tomar conta da casa herdada,
deixando a da família de Darque.
Trata-se pois duma
casa bem antiga quanto à localização, pois levou várias transformações como é
possível testar com algum espírito de observação.
O José Pitta Reis,
pai do “Necas Reis” teve de sua mulher Rosa de Sá Freitas Lima, de Darque, 7
filhos, a saber: a Maria que casou com o Amândio e é mãe de 4 filhos, a Maria
Luísa que casou com o José Carneiro e tem 3 filhos, a Rosa que casou com o
Alcino Ferreira e tem 3 filhos, o José que casou com a Catarina e tem 3 filhos,
o Manuel que casou com Maria Augusta Pimenta e é pai de uma filha e o Augusto
casado com a Beatriz Silva, com 10 filhos.
Casa do Zé Brasileiro
Manuel Francisco dos
Reis, casado com Rosa Ribeiro da Silva, moradores no lugar da Namorada,
conhecido também por lugar do Souto, tiveram um filho chamado José Francisco
dos Reis, em 1861. Veio a casar com Maria Rodrigues Leite da família “dos
Piscos”, filha de José Rodrigues Vaz e Teresa Joaquina Leite, em 1892. Foram
residir na casa do irmão já falecido, o Manuel Júnior, no lugar de Gavindos,
onde hoje é a Casa do Necas Reis.
Depois comprou a casa
onde hoje residem os herdeiros do Zé brasileiro, aos “Vieiras” que eram
cesteiros, por 400.000 réis.
Deste casamento
nasceram 7 filhos: a Maria, a Rosa, o Manuel, a Emília, o Avelino, a Ana e o
José. A Maria casou com o José Rodrigues de Araújo (dos Catrinos) e foi mãe
de 3 filhos: a Conceição, a Maria e o
Manuel. O Manuel ficou em casa e casou com Rosa Coutinho (da Tia
Deolinda do Cruzeiro) e é pai de 5 filhos para além de uma menina Olívia que
morreu. O Artur casado com Maria Helena Rocha e pai de Filipa; o Abel casado
com Maria de Fátima Pinto e pai de Abel Filipe; a Maria da Conceição casada com Manuel Costa e mãe de Paulo Jorge
e Diogo José; o José casado com Rosalina Maltez e pai de Ricardo e Patrícia; e
o Manuel casado com Rosa e pai de Bruno Miguel e Catarina. A Maria casou
para Anha com José Lopes Novo e não tem filhos. A Conceição veio para
esta casa e casou com um primo. A Rosa faleceu muito jovem, vítima de
pneumónica, o Manuel casou com a Ana Barbosa (do Xico Ferreiro) e foi pai de 3
filhos: o José, a Maria e o Manuel, O José casou com a Conceição Valada
e tem uma filha, a Maria casou com um Manuel Pereira e tem 3 filhos, uma
filha é deficiente. O Manuel é solteiro. A Emília ficou solteira, o
Avelino emigrou para o Brasil e morreu lá, solteiro. Consta que se juntou com
uma brasileira. A Ana casou com o João Gonçalves Barreto e é mãe de 5 filhos: o
Manuel, a Maria, o José, a Conceição e o Narciso. O Manuel casou com
Maria Coutinho de Alvarães, sobrinha do Joaquim Coutinho (o fidalgo, marido da
Marta do Alexandre) e é pai de 3 filhos; o Pedro Avelino, morreu afogado no rio
Lima com cerca de 14 anos, a Maria
casou com Manuel Alves Pereira e não tem filhos, o José casou com Maria
do Céu Rodrigues Coutinho e é pai de 2 filhos, a Conceição casou com
António Alberto Borlido e é mãe de 3 filhos e o Narciso casou com Albina
Vaz (dos Piscos) e é pai de duas filhas. O José ficou em casa e casou com a
Beatriz do Cunha. O José ficou conhecido pelo José brasileiro sem ter ido ao
Brasil, mas herdou a alcunha “brasileiro” do pai que saiu da casa dos
brasileiros.
O Zé brasileiro que
tinha casado com a referida Beatriz
mandou a mulher grávida embora para a casa dos pais. Ficou só. Mais tarde levou
para casa a sobrinha, filha da Maria e de José Rodrigues de Araújo, chamada
Maria da Conceição Vaz de Araújo que casou com o Manuel Rodrigues Coutinho,
filho do José Cordoeiro e da Deolinda do Alexandre, da casa junto ao Cruzeiro.
Que também não deixaram descendentes.
A CASA DOS CORDOEIROS
A Casa dos Cordoeiros foi sempre
conhecida por uma grande casa da terra. Os Cordoeiros eram muito conhecidos,
uma casa forte, casa rica.
Dizem que tinha a ver com uma
cordoaria, mas consta que o nome de Cordoeiros o recebeu esta família por se
dedicar ao contrabando de cordas espanholas que vinham de barco pelo mar,
subindo o Rio Lima até ao poço Tranquinho, onde recebiam a mercadoria e depois
a negociavam...
O Cordoeiro deveria ter nascido na
casa onde hoje vive o Francisco do Cordoeiro e em 1699, aí viveu o Manuel Alves
Cordas e só em fins do séc. XVIII, os Coutinhos chegaram a Mazarefes. Seria
alcunha? Deixando a alcunha “Cordoeiros”, naturalmente ligada ao negócio de
cordas, vindas ou não de Espanha, de contrabando ou não, o que é certo é que
esta casa é a Casa dos Coutinhos e os Coutinhos para Mazarefes vieram de
Alvarães, de Vila de Punhe, de Vila Fria e de Darque. No entanto, os actuais
Coutinhos são todos Cordoeiros na sua origem de Vila de Punhe e de Darque e
deviam ter nascido aí. A Casa dos Cordoeiros da Capela veio depois ou porque
desenvolveram o negócio e se fizeram mais ricos ou por outro motivo que se
desconhece.
O negócio das cordas foi anterior e
veio de outras famílias, inclusivamente. Já referi o Manuel Alves Cordas, e
outro, é o Manuel Luís Gandra, o Cordoeiro, que casou em Mazarefes, em 1838 com
Rosa, filha de José de Araújo Coutinho.
Os Coutinhos que hoje existem vão
todos entroncar no casamento de Domingos de Araújo Coutinho, de Vila de Punhe,
com Josefa Soares, de Darque. O filho deste casal José de Araújo Coutinho foi o
“Cordoeiro” por excelência, pois possuía em Viana uma Cordoaria, tendo grande
sucesso neste negócio. Casou com Maria Rodrigues, em 1802, filha de Francisco
Rodrigues de Carvalho e Teresa Rodrigues, das Boas Novas, em 1806. Deste
matrimónio nasceram 9 filhos, a Maria (1804), o Manuel (1807), o Francisco
(1810), Alexandre (1813), a Ana (1815), Rosa (1816), Ana (1820), Inês (1822) e
José Rodrigues de Araújo Coutinho (1826).
O Francisco casou com Teresa
Rodrigues, filha de Francisco António de Matos e Teresa Rodrigues e foram os
pais do Padre José de Araújo Coutinho; este padre foi ao Brasil, celebrava na
Capela das Boas Novas, foi autor da reconstrução da Capela de S. Simão, no
Lugar da antiga igreja paroquial e foi Pároco de Mazarefes; nasceu em 1835 e
faleceu em 1892. O Francisco foi pai de 6 filhos: O Manuel (1835), a Maria, a
Ana (1840), a Inês (1842), a Teresa (1844) e a Rosa (1847).
O José ficou na casa e casou com
Maria Rodrigues do Rego (de Anha). Este José Rodrigues de Araújo Coutinho não
era negociante de cordas, nem fabricante delas. Era negociante de milho e
fornecia Viana. Os negócios fazia-os nos Concelhos de Arcos de Valdevez, Ponte
da Barca e Ponte de Lima. O transporte era feito
A Inês casou com Manuel Maciel de
Forjães, filho de Manuel Maciel e de Joana Rodrigues Lima, em 1851. Foi mãe de dois filhos, tendo sido um deles
padre (deixou geração!).
1. O ALEXANDRE era lavrador e teve
de sua mulher, Maria Rodrigues da Torre, a Morgada, muito rica, (dos Piscos do
Monte, primos dos da Regadia, daí o apelido “Vaz”) 10 filhos: o José (1886) que
casou com a irmã do Zé da Vila, prima carnal e foi pai de 7 filhos: o Manuel
- Padre com a dignidade de Monsenhor, a Madalena que casou com o primo,
filho da Casa da Vila e deixou um filho, a Emília que casou com Casimiro
Araújo e mãe de duas filhas, a Maria que casou com António Alves
Pereira, mãe de uma filha Rosa, conhecida pela “Rosinha”, a Deolinda que
casou com o José Pitta e morreu nova sem filhos, a Rosa que casou com o
José Pitta, viúvo e cunhado, e mãe de um filho, o José casado com
Eulália, de Sta. Marta e pai de uma filha e Alexandre que estudou
medicina no Brasil e morreu esmagado no Brasil, quando de moto ultrapassou um
carro no Recife, o Manuel (1888) que casou, no Brasil, com uma alemã e morreram
sem filhos. O Primo (1891) morreu criança, a Deolinda (1893) que casou com o
primo carnal José de Araújo Coutinho, tio do actual Francisco do Cordoeiro e
mãe da Rosinda que casou com um Sampaio de Anha e mãe de duas filhas, a Rosa
que casou com o Manuel Coutinho de Araújo (Catrino) da Regadia, mãe de 5
filhos; o José, casado no Brasil e pai duma filha, a Rossana, a Maria,
casada com José Vaz e mãe de 2 filhos, o António casado com a Conceição
de Anha e com 5 filhos; o Abel, casado com Olívia de Sta. Marta e a
morar
2. O ANTÓNIO era lavrador, ficou na
casa e teve também 10 filhos, depois de ter casado com Ana Ribeiro da Silva, da
Casa dos Brasileiros: A Maria (1891), que casou com o primo carnal António e
foi para a casa do tio Miguel, da Casa dos Brasileiros, a Rosa (1896), que
ficou na casa até à morte da mãe e casou com António Correia e foi mãe da
Elvira (casada com Floriano de Vila Franca e mãe de 3 filhos: a Maria,
casada com Constantino Liquito e mãe de 3 filhos, tendo já falecido o Carlos,
de acidente em
de uma filha Maria
casada e com dois filhos. Vivem no Barreiro, em Lisboa.
3. O MANUEL, casou com Rosa Ribeiro
em 1871 e teve o Francisco que casou com Teresa Maciel de Matos, de Castelo de
Neiva, filha de Francisco António de Matos e de Antónia da Piedade de Passos
Pereira Maciel e madrinha da Antónia Rodrigues de Araújo (Catrina), vindo para
Casa da Castela de Baixo, o José que foi Padre e Prior de Anha, imprimindo ao
seu trabalho tal carácter e dignidade que ainda hoje se fala do velho Prior
d’Anha, com saudade. Se se fala com saudade e admiração deste prior, consta que
na República celebrava missa com a pistola sobre o altar!... Em 1950 celebrou
as Bodas de Ouro Sacerdotais, pois tinha sido ordenado em 25.03.1900. A Rosa
(1885)* casou em 1910 com um irmão do Abade Francisco António de Matos e ficou
na Casa da Castela da Estrada, chamava-se, o marido, António Francisco de Matos
e foram pais de 4 filhas: a Maria, casada com António Cunha e mãe de 4
filhos, a Cecília, casada com Cândido Carriço e sem filhos, a Emília,
casada com o Pitta da Ponte Seca e mãe de 4 filhos e a Ermelinda que
morreu solteira. O Domingos, conhecido por Domingos do Pinto (da Igreja),
irmão, por isso, do Prior d’Anha e era “Pinto” porque era neto do José P. Pinto
e casou com uma irmã do Pe. João Matos, de Vila Franca, a Emília. Era ainda
irmã do Dr. João de Matos, o homem do Estádio Vianense.
4. O JOSÉ, Louvado, Juíz de Paz e
escrivão de direito, casado com Maria das Dores Araújo (irmã do Manuel da Vila,
pai do Zé da Vila, avô do Avelino da Vila), de Viana, filha de João F. dos Reis
e Maria das Dores Araújo. Do casamento resultaram os seguintes filhos: a Maria
(1881), a Rosa (1883), o João e o José (1888), o João (1890), a Ana (1893), a
Emília (1897), o Manuel (1901).
O filho José casou com a prima
Deolinda, filha do tio Alexandre da Conchada e viveram na casa conhecida pela
“Casa da Tia Deolinda” por a ter recebido do pai que a tinha comprado ao irmão
Francisco, falecido na Maia. A Emília casou com o primo João Rodrigues de
Carvalho (conhecido por João Deira, para onde foi viver), a Rosa casou com
Manuel Rodrigues de Araújo (Catrino) e foi viver para a casa junto do Cruzeiro
e foi mãe de 3 filhos: a Maria, o Manuel e o José, a Ana
casou para Deão com João Alves Pedra. Deste casamento para Deão surgiram 6
filhos: o Manuel, a Maria que casou com um oficial do exército e
teve 5 filhos, a Emília que casou com Adriano Carvalho, também com 5
filhos, o Francisco casado para Vila Flor com Maria do Céu Ramos e teve 2
filhos, a Ana casada com José Rocha de Deão e com 5 filhos e a Lurdes
casada com o primo João e a viver
O João morreu de Doença.
A Rosa casada com o Manuel (dos
Catrinos) foi mãe de Manuel que ficou solteiro, o José que casou
na Argentina com Helena, uma Portuguesa e teve dois filhos, um falecido e o
Sérgio, a Maria, conhecida pela Quinhas dos Catrinos que morreu
cancerosa e relativamente nova, casada com um primo, o Francisco Coutinho de
Carvalho e mãe do Manuel, Avelino, Sara, Fernanda e António. A Fernanda casou
com José Manuel Gonçalves e é mãe de Bruno João e Hugo Filipe; o Avelino casado
com Olívia Coutinho e pai de Raquel e Ana; António Alberto, solteiro; a Sara
casada com ___ e mãe de___; Manuel António casado com Rosa Maria.
A Emília casou com o primo João
Rodrigues de Carvalho e foi mãe de Francisco, João, António, Luzia. O Francisco
vai para os Catrinos, o António para os Cordoeiros e casa com a Idalina,
neta de Ana Ribeiro da Silva, da Casa dos Brasileiros e a Luzia casa com
um Reis da Casa dos Brasileiros. Só o João casou para fora...
5. O FRANCISCO, foi conhecido por “O
estudante” porque estudou para Padre. Não acabou os estudos e fez-se escrivão
de direito. Casou com Rosa Cândida Alpuim da Silva Menezes, de Vila Fria, em
23/11/1882. Faleceu
Os Cordoeiros nunca tiveram entre os
irmãos as melhores relações. O José, Louvado, casou com uma irmã do Manuel da
Vila, o António casou com uma irmã do Tio Miguel Brasileiro, o Alexandre casou
com a “Pisquinha”, Maria Rodrigues da Torre, filha do Zé do Pisco do Monte,
José Rodrigues Vaz, era a Morgada...para não haver “colheres a partir” ficava
tudo na casa.
Assim já tinha sido com os seus
antepassados e assim continuava...e os Cordoeiros recolhidos no seu orgulho de
serem quem eram, ricos...o Alexandre, por ter casado com a Morgada, a mais
poderosa em teres e haveres, nunca “passou cartão” aos outros irmãos. Tudo bem,
mas...havia sempre um senão...que alguns percebiam como “não passar cartão”,
por isso nem os irmãos, nem os primos se davam lá muito bem...
As coisas agravaram-se com o
casamento do António, filho do Alexandre com a Maria, filha do António
Cordoeiro porque o pai da Maria e o irmão José procuravam outro casamento para
engordar riqueza reunida na casa dos Brasileiros, mas o Alexandre, isolado e
perspicaz, conseguiu que o filho vencesse na conquista da amada, sua prima
carnal, retirando-a ao primo João do Cordoeiro, desfazendo projectos dos Tios José
e António.
O Bisavô António do Cordoeiro não
gostou nada e nunca mais se deram muito bem o tio-sogro e o sobrinho-genro. Aí
as zangas foram mais manifestas e talvez o equilíbrio estivesse na atitude do
Louvado, o José do Cordoeiro, que não ligou grande importância, ou pelo menos,
não o manifestou.
Todos os Cordoeiros sempre foram
homens de dinheiro e o Bisavô António sempre manteve essa hegemonia, mas nunca
deixou a chave por mão alheia e, hoje, a casa já não está na mão da família. É
da viúva do “António da Capela” seu filho, que não deixou geração. Esta casa é
a nova porque para mim os Cordoeiros velhos eram da casa mais acima, a casa
onde hoje vive o Francisco do Cordoeiro, a Casa do Alambique.
* Esta era irmã da
mãe do Zé da Vila.
JOSÉ ALVES FERREIRA
José Alves Ferreira, hoje com 90
anos de idade, pois nasceu a 16.04.1910 e casou para Mazarefes com Rosa
Ferreira Torres, filha do famoso pirotécnico da terra, Manuel Ferreira Torres.
Ao contrário do que possa parecer não eram primos em nenhum dos graus, por
isso, outro ramo “Ferreira” apareceu em Mazarefes.
O José Alves Ferreira sob a mestria
do Mestre Lima começou a sua arte de pedreiro, fazendo-se depressa um hábil
canteiro. Foi, por isso, um dos trabalhadores do Templo de Sta. Luzia, onde
gostou muito de trabalhar e durante muitos anos (46 anos).
Naquela obra só morreu um homem, em
1940, era um canteiro de Vila de Punhe; no momento que fechava a Abóboda caiu,
tendo morrido de imediato.
Recorda o Pe. António Carneiro que
foi o principal obreiro, impulsionador e entusiasta...
Há uma pia baptismal que foi feita
por este canteiro para a igreja de Dem-Caminha, em 1974. O José Ferreira e a
Rosa tiveram 7 filhos, a saber: o Joaquim, a Luzia, a Laura, a Carmo, o José
Maria, o Manuel e o Fernando. O Joaquim, operário fabril e depois
padeiro, casou com Maria das Dores Amorim, natural de Vitorino das Donas e é
pai do João Paulo, casado e pasteleiro no Senhor do Alívio e da Isabel Maria
(casada e em França). A Luzia, doméstica, casou com José “espanhol” com
2 filhos: Carlos e Mari Carmen, solteiros. A Laura, casada com o Mário
Viana, operário fabril, tem 2 filhos: o Vitor Manuel e o Eng. Rui Avelino,
ENVC. A Maria do Carmo casou com António Vicente, da Meadela, separados,
com 5 filhos: o António (professor), o Paulo (empregado fabril), a Anabela
(professora), a Luzia (professora) e o Pedro (estudante). O José Maria,
trabalha na fábrica Citroen, em França, casou com Maria Pinto (do Adolfo da
Pinta) e tem 3 filhos: a Maria Augusta, o Armando e o Carlos. O Manuel é
soldador, casado com Lídia Mendes (Ferreira), no Cais Velho, em Darque, com 2
filhos: o Vitor Manuel e a Carla Sofia (estudante). O Fernando,
solteiro, empregado nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e vive com o pai.
O seu sogro era casado com Joana
Martins de Matos e trabalhava com o sogro, o irmão Joaquim Ferreira Torres e já
eram filhos de fogueteiros.
Sua mulher era sobrinha pelo lado do
pai de: José Ferreira Torres, morreu na guerra, solteiro; Manuel casou com a
Rosa Tamanqueira, da Galinheira, ele ferroviário, com 3 filhos; Francisco casou
com a Adelina Bezerra, fogueteiro e serrador, com 3 filhos; António (6 filhos
entre rapazes e raparigas), casou com a Lurdes da Pinheira, era calceteiro;
João (3 filhos), casado em Anha com Deolinda Brecas, emigrante em França,
morreu com a selicose, foi trabalhador das minas na Panasqueira e na Serra da
Estrela; Joaquim casou com a Maria Areias que morreu com 2 filhos, um casal. O
Adriano que casou com Virgínia Carvalho em Vila de Punhe, o único vivo de
homens, ferroviário, com 7 filhos; Gracinda, solteira; Rosa que casou com o
José A. Ferreira; Maria, com 7 filhos, casou para Tamel com José Leiras; Ana
que casou pela 2ª vez com o José Canela, na Regadia e pela 1ª vez foi esposa de
Adão Saldanha.
Um dia o Joaquim, irmão do sogro e o
sobrinho Joaquim, filho do José e da Rosa foram às enguias para a Veiga de S.
Simão, (era o peixe mais barato e mais fácil para comer em casa) e ouviram uma
explosão, concluindo imediatamente que teria sido a oficina deles e
regressaram, no mesmo instante, para socorrer e constatar que era, de facto,
verdade. Não houve feridos, apesar do Manuel ter ficado a trabalhar. A oficina
sempre se localizou no alto da Bouça dos Catrinos, quem vai para a Bouça da
Terra.
Fabricavam ali foguetes, fogo de
artifício, do ar, aquático e preso, bombas de Carnaval, foguetes de S. João. A
matéria prima vinha de Oleiros - Ponte da Barca. Era material proibitivo por
causa do clorato, aliás como era proibido no tempo da guerra ir a Ponte de Lima
comprar uma rasa de milho. Morria-se à fome! Portugal não entrou na guerra, mas
passou-se muita fome aqui, que foi talvez pior que a guerra e depois a afronta
de “vermos, em Mazarefes, passar os comboios de mercadorias com painéis
escritos “sobras de Portugal” a caminho da Espanha, para os aliados”.
O salitre normalmente iam buscá-lo
para a feitura dos foguetes a Lanhelas ou aos Silvas, a Viana e, às vezes, sob
o título de salitre vinham outras matérias usadas na pirotecnia.
Na Conchada morreu muita gente nova
com a doença pulmonar arranjada nas minas da Panasqueira e outras. Havia muita
pobreza e o Manuel “Mira” muitas vezes não aceitava encomendas porque não tinha
dinheiro para comprar a matéria prima, às vezes pedia dinheiro aos netos para
comprar material para poder trabalhar...
Vendia para várias terras até
Esposende, Lanhelas, S. Lourenço da Montaria, S. João d’Arga e S. Silvestre,
para o Senhor do Alívio de Chafé, etc.
Quando casou havia muito poucas
casas na Conchada e, se a memória não falha, elas seriam apenas:
A casa onde vive agora o Joaquim
sacristão, no Calvário e que era a casa da sogra do Ângelo, a D. Luísa, a casa
do avô fogueteiro, a casa do Caxinas, o Manuel Gonçalves Pires, que se dedicava
ao contrabando, a casa de António Miranda, o cantoneiro, a casa de Maria Viúva,
a casa do Cruz onde hoje vive o Reis de Vila Franca, a casa do António
Bandeira, a casa da Fragôsa (feirante), a casa do Américo Dias, matador de
porcos, a casa da Clara, a casa do Marosca, a casa do “Barriguinha” (Mesquita),
a casa do António da Quinta, a casa da “Bortinha” (Zé Bortinha), a casa da
Quinta da Malafaia, a Casa do Manuel Rolo, tamanqueiro, a casa do Beduíno, a
casa de “António Bortinha”, a casa da “Tia Bortinha” (a mãe), a casa Tia Maria
da Mata, 2 casas da padaria de Manuel Ferraz Miranda, a casa do Catena, a casa
da Glorinha, do falecido Ângelo, do Zé da Mata, do Alvarães, dos Liquitos de
Anha, a casa onde está agora o Tone da Clara, a Ana Teima, do Ferrador (José
Rego), o Chança, o “Fome-negra” e a Pinheira, o Manuel “Estriconica”.
O LUCIANO ALVES DE
CARVALHO
O Luciano era filho do Chefe e
fundador da Banda de Música, António Alves Carvalho Júnior, vindo de Alvarães e
de Teresa Alves Pereira - Lavradeira. Casaram os seus pais em 23.03.1872, ele
tinha 23 anos e ela 24. Os avós paternos de Alvarães, eram António Alves
Carvalho (alfaiate) e Maria Alves da Silva Ribeiro. Os avós maternos, de
Mazarefes, eram José Pereira Polónia e Maria Rosa Alves.
Era irmão da mãe da Adelina “Troca”,
da Justina e da Cândida, que foram para Viana e do Benjamim que está
O Luciano casou com Antónia da Cunha
Matos e teve os seguintes filhos: Casimiro
(nascido em 1911), que casou para Anha e foi pai de Casimiro, José e
Constantino. O Casimiro casou em Viana com Adelina Sá e é pai de uma filha
chamada Estela que, por sua vez, casou com Armando Sobreiro e é mãe de duas
crianças; o José casou com em Anha com Mariana,pai de José Casimiro, casado e
pai de dois filhos e de Manuela,
solteira e ambos residentes em frança; o Constantino casou com Laura Carvalho
Barreto, de Mazarefes. .A Eufémia, nasceu em 1913, casou com Manuel da
Silva Matos, o Carrapato e é mãe do Mário e da Maria que casaram para Lanhelas,
mas estão
O sogro do Luciano era o José da
Cunha Júnior, casado aos 16 anos com Rosa Rodrigues de Matos, irmã do Francisco
Rodrigues de Carvalho, pai de “João Deira” (João Rodrigues de Carvalho).
As mulheres foram cascalheiras nas
estradas da nossa região e, por isso, conheceram bem a vida dura, através do
contacto com a pedra.
A Casa encostada ao José Araújo
(Catrino) da Regadia era do bisavô de João Rodrigues de Carvalho, com uma
“vendinha” por baixo. O João Carvalho teve 2 filhos: o João Rodrigues de
Carvalho, o Manuel que morreu aos 18 anos e a Rosa que foi a mãe de João Cunha,
Regedor. O João Gonçalves da Cunha Júnior, casado com a referida Rosa era
louvado, avô da Eufémia Deira e pai da Antónia Cunha e mais 10 filhos, deixando
pão e vinho para cada filho comer e beber. O Avô da Eufémia, o Manuel Francisco
Carvalho, foi mestre de Banda e casou com Teresa Cunha (Calista).
A
casa dos da Vila (2)
O José da Vila foi a
pessoa mais antiga que conheci da família do lado que, para além de serem
vizinhos, são ainda familiares. Vamos todos entroncar
O José da Vila, de
nome José Francisco Ferreira dos Reis, casado com Joana Fernandes Oliveira de
Stª Marta, a 29 de Outubro de 1885, era filho de Manuel Francisco Ferreira dos
Reis, natural de Viana do Castelo, de Stª Mª Maior, onde foi baptizado, neto de
João Francisco dos Reis e Maria das Dores, moradores em Viana, ao lado da Doca,
junto ao armazém do Cerqueira, e junto à garagem da SINCA-Cordoeiros. A sua mãe
era Ana Ribeiro que casou para a casa do bisavô
do marido António Francisco Reis e avô, Manuel Francisco Reis. Ela era
natural de Mazarefes e filha de José Pereira Pinto, que veio a falecer em 1900
e de Teresa Ribeiro. A Ana Ribeiro morreu com 37 anos, em 23 de Maio de 1890
depois de ter casado aos 32 anos, em 16 de Julho de 1884, pelo que esteve
casada apenas 5 anos. Morreu ao dar à luz a filha Maria.
O Manuel trouxe o pai
de Viana para Mazarefes e aí nasceu a casa dos da Vila para a distinguir da
casa dos Brasileiros.
Do casamento nasceram
2 filhos: o Zé, conhecido pelo Zé da Vila e a Maria, nascida a 17 de Abril de
1890, conhecida por Maria Russa que casou com José Rodrigues Vaz Coutinho.
O João Francisco dos
Reis era filho de Manuel Francisco dos Reis e Maria Rodrigues dos Reis. O pai
do Zé da Vila era primo do Miguel Francisco dos Reis e bisneto, pelo lado do Pai do António
Francisco dos Reis, dono duma casa Térrea na esquina do lugar, (3) e de Maria
Rodrigues da Rocha (1). Os pais eram primos carnais pelo lado da mãe, era neto
de João Gonçalves Rato e de Maria Rodrigues dos Reis. Tinha um irmão com o
mesmo nome do pai. Era ainda bissobrinho
de Manuel Francisco da Rocha, o Brasileiro, proprietário da casa grande.
O Zé da Vila e a
Maria Russa ficaram orfãos de mãe antes
dos 4 anos, de modo que o tio, pai do Miguel, Manuel Francisco dos Reis que
esteve no Brasil com o tio Manuel Francisco da Rocha, deve ter tomado conta do
sobrinho, pois a sobrinha Maria, foi educada pela Tia Freirinha, ou ajudado o
pai a criar os filhos. As casas tinham ligação interna e ficavam as cozinhas
apenas separadas por uma parede com porta de passagem. O soleiro servia as duas
casas separado apenas por uma fina pedra.
A Maria Russa casou
com o José Rodrigues Vaz Coutinho e o único irmão, o José, casou com Joana
Oliveira, de Stª Marta, enquanto o primo Miguel, da casa do lado norte, estava
solteiro. O Miguel resolveu casar aos 52
anos, com Maria Pereira da Cunha que, pelo que consta, a mulher não
levava boa vida, ou sofria de depressões e deitou-se afogar no poço da casa, um
dia em que havia uma feira
O Miguel teve com ele
o sobrinho José Pitta Reis que era orfão de mãe, filho de Manuel Francisco Reis
Júnior, seu irmão, casado em Darque com Rosa Pitta Bezerra e queria que este
sobrinho casasse com a sobrinha Maria, filha da irmã Ana Ribeiro da Silva e seu
marido António Rodrigues de Araújo Coutinho, o Cordoeiro, da Casa das Boas
Novas. Foram infrutíferos os esforços feitos pelo tio Miguel com esse projecto
e o sobrinho não teve outra solução senão abandonar o tio, para casar com quem
pretendia que era a Rosa Sá Freitas Lima, de Darque.
Por outro lado, o Zé do Cordoeiro, Louvado, estava
interessado em casar o filho João com a referida Maria, sua sobrinha em
continuação com o pai dela e seu irmão, o António, o tio Miguel não estava
muito pelos ajustes e como estava pesado de anos e queria alguém que lhe fizesse companhia procurou então o
casamento da sobrinha Maria com o primo, António Rodrigues Vaz Coutinho, filho
dum irmão do pai, do Alexandre, tio também da referida sobrinha e os dois foram
viver com ele. No entanto, ele morreu pouco depois, em 19 de Agosto de 1922. O
Miguel fez testamento a favor de A. R. V. Coutinho e Maria Ribeiro da Silva
Coutinho. Foram testemunhas o pai do Zé da Vila e o Zé da Vila.
1- O Manuel Francisco
dos Reis faleceu cedo. A mãe , Maria Rodrigues, isto é, a esposa fez testamento, em
O Manuel, casado e em
sua companhia, o António casado nesta freguesia, a Maria casada para Vila de
Punhe com José da Silva Quintas e João Francisco dos Reis, casado para Viana, e
como avó do Jerónimo que foi casar
2- O Manuel Francisco
da Rocha, solteiro, fez testamento a favor dos filhos da irmã, casada com
António Francisco dos Reis, apenas excluindo o sobrinho José, ausente na Galiza,
por ser um sobrinho muito rebelde e ingrato e àqueles sobrinhos que se
opusessem a esta condição. Deixou as casas em que vive e o dinheiro dividido
por todos.
À vizinha Maria
Rodrigues, mulher de José Afonso Forte deixou 50.000 reis de esmola, à Maria Miranda,
mulher de João Ribeiro Gomes, 30.000 reis, à Criada, Senhorinha Rodrigues à
conta da soldada 130.000 reis, à Criada Maria Gomes, 70.000 reis e uma leira da
“Virinha”, no lugar de Ferrais com obrigação de dar 1.200 reis à Senhora do
Terço, da Capela do Espírito Santo, de Barcelos. No testamento exige que lhe
sejam celebradas 615 missas e um ofício de 50 padres (1818).
3- O António
Francisco dos Reis exigiu por testamento 3 ofícios de 7 padres, no funeral, no
30º dia e no ano e 228 missas: por sua alma (150), pela mulher Maria Rodrigues,
sogra Maria Rodrigues, cunhada Joana Rodrigues, tia Joana, e tia Teresa
Rodrigues, os pais - Gaspar Francisco dos Reis e Teresa Lourença e o terço ao
filho Manuel Francisco dos Reis que vivia com uma demente. (1816).
4- O Miguel casou aos
52 anos com Maria Pereira Cunha, em 1912.
A Maria Rodrigues dos
Reis nasceu em 1782, faleceu em 1863, com 81 anos, filha de João Gonçalves Rato
e de Maria Rodrigues dos Reis, moradora no lugar da Namorada, a nossa casa.
O Manuel Francisco
dos Reis compra uma casa pequena a José Barbosa e Joana Alves Correia que
possuía na esquina do lugar por 18.000 reis.
O Miguel comprou o
Souto d’Abade em 1910.
OS BARRETOS
Os Barretos vieram para Mazarefes na
primeira metade do século XIX. Antes de 1843 não se encontram registos de
nascimento, nem de morte, nem de casamento de Barretos. O nascimento mais antigo deste apelido Barreto
é o de Manuel Barreto, filho de Jerónimo Barreto das Boas Novas e de Ana
Pereira de Barros, filha de mãe solteira (Mariana Pereira de Barros), que teve
mais um filho o António que veio a casar com Maria Rosa Maciel, filha de mãe
solteira, Francisca Maciel, e que, em 1878 teve uma filha chamada Maria e, em
1881, um outro chamado Caetano. O mesmo Jerónimo e esposa tiveram também um
outro filho chamado João Barreto que casou com Teresa Cunha, filha de Francisco
Rodrigues Barbosa e Maria da Cunha.
O Jerónimo era filho de Francisco
Velho Barreto casado com Antónia Sampaio.
O João Barreto teve o filho José
(1870), o António (1873), o Manuel em
1877 e o João. O José casou com a Barrola, Rosa Alves Forte filha de Manuel
Afonso Forte e Ana Alves, neta paterna de José Afonso Forte e Maria Rodrigues e
neta materna de António Rocha e Joana Alves. Este José e Rosa tiveram 3 filhos:
A Maria em 1905, o Manuel (o Pimpão) 1907, o António (1909). O José casado com
a Barrola fizeram a casa onde viveu a Isaura conhecida por Isaura Pimpona
falecida talvez em 1999 e a família.
O José Rodrigues
Coutinho, casado com a Deolinda Coutinho, ambos primos, foi o transportador com
o seu carro de bois de toda a pedra para construir a casa em frente ao José
Rodrigues Araújo (O Catrino da Regadia) e não levou dinheiro pelo serviço.
O Barreto
ofereceu-lhe uma libra, que lhe tinha custado 500 escudos, e foi esse o preço
da casa.
Este casal teve 6
filhos: A Conceição que faleceu com 20 anos ou pouco mais e era nora do
Pulcena, de Sabariz; o António casado com a Maria da Vila, morreu novo depois
de cair da “burra” (instrumento de madeira que servia de suporte para serrar os
toros). Era serrador de profissão e deixou 2 filhos. O Manuel que casou com a
Meia Cara, a Isaura Alves Forte, que casou com o José Alves Passos, de Vila
Franca, (O Tristeza), foram os pais da Flávia, da Emília, da Maria e da Eva que
ficou
O Manuel nascido em
1877, saiu para o Brasil com a profissão de fogueteiro, em 1899. O António
casou com Maria Vieira Lopes, filha de Manuel Vieira e Ana Lopes e teve os
seguintes filhos: O João Gonçalves Barreto, nascido em 1907 (Troca), que veio a
casar com Ana Leite
O José Gonçalves Barreto, o Pimpão,
e a Rosa Barrola fizeram a casa onde viveu a Isaura conhecida por Isaura
Pimpona falecida talvez em 1999 e a família.
O José Rodrigues
Coutinho, casado com a Deolinda Coutinho, ambos primos, foi o transportador com
o seu carro de bois de toda a pedra para construir a casa em frente ao José
Rodrigues Araújo (O Catrino da Regadia) e não levou dinheiro pelo serviço.
O Barreto
ofereceu-lhe uma libra, que lhe tinha custado 500 escudos, e foi esse o preço
da casa.
Este casal teve 6
filhos: A Conceição que faleceu com 20 anos ou pouco mais e era nora do
Pulcena, de Sabariz, o António casado com a Maria da Vila, morreu novo depois
de cair da “burra” (instrumento de madeira que servia de suporte para serrar os
toros). Era serrador de profissão e deixou 2 filhos: o Manuel que casou com a
Meia Cara, a Isaura Alves Forte, que casou com o José Alves Passos, de Vila Franca,
(O Tristeza), e são pais da Flávia, da Emília, da Maria e da Eva que ficou
Pelo lado de João
Gonçalves Barreto, casado com Ana Leite da família dos Brasileiros e pelo do
José Barreto, casado com a Barrola, tocava na nossa família. Através da Maria
do Céu Coutinho, de novo, se uniram à mesma família; ela, Maria do Céu, era
afinal prima do marido pelo lado do pai (brasileiros) e pelo lado da mãe
(barrolas).
O
Conde
Não apareceu
Duque, Marquês, nem alguma razão à
primeira vista para haver um Conde. Não teria nada a ver com o “Rei Turco”,
alcunha de João Dias (1833). Por “Conde”
era conhecido o José Dias do Monte. Era o Zé Dias, o “Conde Velho das barbas” e
nasceu na Casa do Conde, assim dizia António da Costa Dias, seu bisneto, e
acrescentou que seu avô trouxe, como
dote da casa do velho conde, apenas uma tesoura de podar. Ora o Zé Dias do Monte era Conde porque
nasceu na Casa do Conde. Pelo vistos o nome veio-lhe da casa. Não faltam por aí
topónimos “Conde”, mas não se sabe a que Conde é referido em “Vila do Conde”.
No nosso caso aqui tratar-se-ia duma alcunha, outra como o “Rei Turco”!...?
O que chegou até nós
é que o Conde era o referido homem, figura
vulgar, avermelhado de cara,de média estatura, gordo, de barbas grandes
pousadas no meio do largo peito, que casou com Rosa Rodrigues, viúva de António
Afonso Forte, pisca ou também xica, rica de lavoura, cheia de campos e de
propriedades. E tinha até uma grande adega de vinho bom, “vinho para paridas “,
assim se dizia porque era usado para dar às mulheres depois de dar à luz para
depressa se robustecerem.
Foi regedor (juiz de
paz). Morreu de uma congestão de congro, na casa da sobrinha Bernarda Dias,
irmã de António Fernandes da Rocha, aonde, viúvo, se tinha encostado.
O seu único filho, José Dias do Monte Júnior,
casou com a Maria “Marinheira” conhecida pela “Paustiça” de quem teve dois
filhos: o Zé do Conde, assim conhecido hoje
Conta-se:
O
Conde andava um dia na feira de Barroselas a prejudicar o negócio de uma junta
de bois em que também estava envolvido o homem da Rosa da Castela, o Francisco
do Castela.
Alguns
que se sentiram prejudicados deram-lhe uma grande coça e veio a pé de
Barroselas indo directamente falar com o Abade António Francisco de Matos,
dizendo-lhe: - olhe, Abade, como os sues amigos me puseram...
-
E tu o que queres agora daqui?
-
Eu queria receber um conselho de
amigos.
-
Olha, então, vai para casa e não te
metas noutra... senão levas mais...
O filho do velho
conde, José Júnior casou com uma marinheira de
Subportela, da família dos Canelas. Recebia só à conta dela, doze carros de pão
de pensões que os caseiros lhe pagavam, era a “Paustiça” que acabou a vida
paupérrima. Foi para o Brasil, em 1925, e vendeu a
fortuna toda ao ponto de reduzir a família à pobreza extrema. E desapareceu no
Brasil. A mulher “abandalhou-se” e teve mais uma filha que morreu afogada, a
Margarida, a outra filha da mulher que já não era de matrimónio, tendo deixado
geração.
Aliás, o José Júnior só acabou com a fortuna
porque seguiu as pisadas do conde velho, seu pai, pois tinha também vendido a
Quinta por 12 contos ao Mandarim de Anha.
Quando foi para o
Brasil, deixou um procurador que se bastou bem, o “o Buxo” de Vila de Punhe.
Levou o dinheiro todo à mulher, Maria Teresa da Silva Barbosa, das
marinheiras,e nunca mais veio do Brasil, nem se soube dele, enquanto o filho
José, agora casado
OS
CUNHAS
Onde hoje vive a Rosa
Xixa nasceram os Cunhas.
José Gonçalves da
Cunha, aos 16 anos já era pai e quando foi à inspecção já tinha 3 filhos, mas
teve ainda mais 8. Louvado, casado com Maria Gonçalves de Matos foi pai de 11
filhos: o João de Matos Gonçalves da Cunha
que foi Regedor da freguesia e viveu um pouco mais abaixo, era o mais
velho dos rapazes, a Antónia (conhecida pela tia Antónia Deira) que foi esposa
de Luciano Rodrigues de Carvalho, da Banda de Música, era a mais velha das
raparigas. Do 11º filho que se chamou Joaquim e, sendo o mais novo, foram
padrinhos o João e a Antónia, o Manuel que casou com a Pericas, tia dos
“fadinhos”, não teve filhos e puseram os bens um ao outro. O último deixaria
tudo aos sobrinhos do seu lado. Foi o que aconteceu; por isso, o Manuel e o
Delfim herdaram os bens da tia que foi a última a morrer, o Francisco, foi o
pai de Manuel que tem o café e a mercearia (o Manuel R. Cunha). No local onde
funciona este comércio, aí era a forja do Ferreiro Joaquim de Matos Gonçalves
da Cunha, casado com Albina do Pequeno, e do irmão José antes de ter casado
para a Meadela e montado outra oficina, ao lado da Igreja da referida terra. O
José morreu sem filhos. A Maria era empregada doméstica em Tregosa e herdou os
bens dos patrões, mas tendo morrido solteira, os bens ficaram para os sobrinhos
(morreu em 1960). A Ana casou já idosa com o António, da freguesia de Outeiro e
morreu sem filhos; e foram herdeiros a Maria de Oliveira Reis, filha de Laura
d’Eira e do marido. A Teresa, solteira,
deixou os bens aos sobrinhos Rosa e Francisco, filhos da irmã Rosa de
Matos Gonçalves da Cunha, onde hoje vive o José Catena e a Rosa Xixa e, na
outra parte da casa, vive a viúva do Francisco que é a Teresa Pericas, sobrinha
da Maria e Manuel.
O Louvado José da Cunha tinha entre
A Laura Deira foi casada com o
Manuel de Oliveira Reis, filho de José Oliveira, o Guloso, que por sua vez era
casado com a Sarronca.?
Um episódio do tempo da traulitana,
disputa entre a Monarquia e a República, o João de Matos Gonçalves da Cunha, o
Francisco Rodrigues de Carvalho e o João de Araújo Coutinho (do Cordoeiro)
cortaram pinheiros e atravessaram-nos no “Bate-Estacas”, tendo sido presos
pelos republicanos. Estiveram presos
OS
PISCOS
O primeiro Pisco que aparece como
apelido é o de João Rodrigues Pisco que casa em 1728 com Maria Vaz (Souto).
Deste casamento nasceram: Manuel(1737), João(1740), Maria(1743), António(1747)
e Francisco (1750). Aparece um irmão Francisco Rodrigues Pisco casado com uma
irmã Joana Vaz e, em 1743 são pais de
uma filha chamada Maria.
O Manuel Rodrigues Pisco casou com
Teresa Alves Calheiros em 1770 e tiveram Maria, Joana, Manuel, José e Maria. O
Manuel casou com Joana Ribeiro e foi pai de 6 filhos.
A casa de origem dos “Piscos” foi a
casa de Manuel Ribeiro, o das Penas. Aí tinha nascido muito antes esta família
que se expandiu e se dividiu em Piscos do Monte e Piscos da Regadia. Eram todos
a mesma família, mas distinguiram-se uns dos outros por serem de lugares
diferentes. Assim, há Piscos na Casa da Capela, na Casa do Zé Dias, na casa do
falecido António Dias, na Casa do Francisco Sousa, na Conchada, na casa onde
vive hoje a Rosa Coutinho, viúva do Zé Pita, na Casa do Manuel Coutinho e da
Conceição, na Regadia, junto à casa dos herdeiros de Manuel Ribeiro e na Casa
do Alexandre Pisco, junto à porta da Meira. Esta é a última casa mandada fazer
pelo avô de José Joaquim Vaz, hoje é do Alexandre, da G.N.R. Como casou com uma
mulher de longe e dela teve duas filhas que estão formadas e vivem no Porto e
Coimbra, a casa está praticamente abandonada e acabará, em Mazarefes, esta
família dos “Piscos”, restando um irmão
Quanto aos Piscos da Capela, o
Joaquim era primo carnal de Manuel Pisco, pai do Alexandre Rodrigues Vaz e de
José Joaquim Vaz. O Joaquim era filho único de rapazes no meio de algumas
irmãs. Uma delas casou para Subportela, outra com o Francisco da Costa Dias,
pai do António Dias, recentemente falecido e dos Padres Costa Dias.
O José Joaquim Vaz, residente
O meu avô, continua, o José do
Pisco, o que ainda hoje luta pela hegemonia da família, mas a dar-se por
vencido...
O Francisco era casado com Margarida
Rodrigues, de Carapeços. O avô de Carapeços era irmão de 9 rapazes e 9
raparigas. Foram todos os rapazes para o Brasil e as filhas ficaram cá. O avô
foi carreteiro antes do casamento porque, ao casar, fez-se caseiro dum rico
brasileiro, o Caroça de Vila Fria do qual herdou a metade da fortuna.
A casa do avô de Vila Fria serviu de
Berço também a António Pereira casado com a Clara do Monte.
O avô de Mazarefes, o José Rodrigues
Vaz, o das Penas, casado com Teresa Joaquina Leite, era lavadror e dedicava-se
também a rachar lenha de carvalho, vendendo-a com facilidade
Esta é uma das famílias mais antigas
de Mazarefes, mas que, de facto, está muito diluída socialmente pela freguesia
e vamos vê-la desaparecida...
Este registo ajudará a perpectuar a
memória duma das famílias mais antigas da Terra.
MAZAREFES NAS
INQUIRIÇÕES
Esta freguesia é designada nas inquirições
de D. Afonso II e D. Afonso III por S. Simão da Junqueira de Mazarefes.
Estas terras não eram do Rei como podemos
verificar nas inquirições de D. Afonso II. Não eram terras do padroado real e,
por isso, não era o Rei que nomeava o abade pois eram terras da Igreja. Tinham
carta de couto cedida em 1063, na Vila dos Arcos, por D. Fernando. Uma vez que
era couto, tinha os privilégios especialmente inerentes a este título.
Eram
proibidos os funcionários do Rei entrarem nestas terras e os foradores estavam
libertos de alguns encargos para com a coroa. O senhorio tinha o poder de
administrar a justiça, de exigir serviços e lançar impostos aos moradores das
referidas terras. Todavia, quer os das terras reais, quer os das terras do
domínio senhorial, eram obrigados a pagar o foro ao rei.
No tempo de D. Afonso II, os de Mazarefes
davam ao Rei, de foro, 10 morabitinos; se traduzíssemos em dinheiro actual
(1944), dar-lhe-íamos o valor de 247$98 segundo os estudos monetários de J.
Preto. Davam também dois carneiros que, segundo o Pe.
Oliveira corresponderiam a 0,5 morabitino (ou maravedi velho) no tempo de D.
Afonso III correspondia 421$20, e consequentemente, a metade era de 210$60.
Todavia, o valor do meio morabitino de D. Afonso II era menor e traduzia em
dinheiro actual (1944), equivaleria a 12$39.
E iam ao castelo para defesa em caso
ataque, para reparar ou guarnecer. Refere-se ao Castelo do Neiva. Além desses
foros ainda tinham mais uma dádiva para a defesa de Gonduffi (couto de Gondufe,
em Ponte de Lima), a qual constava de 1 modio de milho alvo, (parecido com
painço) por medida de Ponte. Isto para se libertarem de serem chamados a
defender o referido castelo. Diz-se «por medida de Ponte», pois as medidas
deferiam de terra para terra ou de região para região, como ainda hoje acontece
com algumas. Em Mazarefes as medidas usadas para pagamento dos foros seriam,
portanto, as de Ponte de Lima.
Pagavam todos estes foros além das quatro
penas referentes aos principais crimes: furto, rapto, incesto e homicídio.
Eram terras da igreja 6 «searas» e meio
casal, isto é, 6 propriedades e metade de uma casa pertenciam à igreja. Ainda
hoje existe na freguesia o topónimo «senras» que veio precisamente destas
«searas».
Eram propriedades de S. Paio de
Antealtares, nesta freguesia: 12 casais (12 casas) e uma Quinta, além da
igreja.
Nas Inquirições de D. Afonso III também
encontramos quais os foros que davam os de Mazarefes ao Rei.
Davam todos os anos ao Rei 9 maravedis.
Podiam ser novos ou velhos: Os novos eram aqueles que o Rei quis cunhar; mas
como não tivesse chegado a isso, usou o maravedi de seu irmão e antecessor a
que chamou maravedi velho. Este corresponderia a 412$20, segundo o estudo
monetário do Pe.
Oliveira (1964-66). Pagariam, então, cerca de 3.790$80 cada ano. Davam dois
carneiros (210$60) e 1 módio de milho por medida de Ponte para a fossadeira de
Gonduffi e vão ao Castelo. A fossadeira era a multa aplicada àqueles que não
participavam nas expedições militares quando a isso estivessem obrigados.
O
Pe.
Carvalho da Costa na sua «Corografia Portuguesa» - vol. 1.º, págs. 307 (1.ª
ed., 1706) diz o seguinte de Mazarefes:
«S. Nicolao de Mazarefes he Abbadia que
antigamente foy do mosteiro de Ante-Altares em Galliza de Monges Bentos; assi
este Padroado & Couto, como o de Paradella & S. João da Ribeira em
Ponte de Lima, comprou Diogo Pereira, que alguns dizem foy Alcaydemór de
Villa-Nova-le Cerveira, & pela mesma via he senhor de ambos, & de sua
grande Casa, que aqui tem, seu descendente Gaspar Pereira, Cavalleiro da Ordem
de Cristo, & fidalgo da Casa de Sua Majestade, que leva os quartos de todos
os frutos; rende a Abbadia quatrocentos mil réis, tem duzentos & sessenta
& quatro vizinhos».
OBRIGAÇÕES DO PÁROCO
*Primeiramente,
tem obrigação de ir com processão, duas vezes no ano, a Nossa Senhora das
arcas, em Março e outra em Agosto, e em uma destas lhe devem dar seis vinteis
de esmola de missa. Março e Abril.
*É mais obrigação
dos fregueses NOTAS SOBRE MAZAREFES
Capítulo das obrigações que o pároco tem em seu
benefício e dos bens d’alma e direitos paroquiais.
ir com processão à dita capela outra vez no ano; à
qual o pároco não é obrigado a ir salvo quiser ou lhe pagar. E esta foi
comutada pelo Sr, Arcebispo de nossa diocese (?) do despacho para Nossa Senhora
das Areias que não tem dia determinado.
*Tem mais
obrigação de ir a St.ª Marinha em... com procissão e dizer missa pelos
fregueses, dando-lhe esmola competente a 8 de Julho.
*Tem mais
obr
*Tem mais
obrigação de ir em dia de Santa Maria Madalena em procissão à Igreja de São
Miguel de Alvarães a 22 de (Julho ?).
*Tem mais
obrigação de ir com procissão a S. Brás em seu dia na freguesia de Darque, a 3
de Fevereiro.
*Tem mais
obrigação de ir com procissão a São Bento da deveza e dizer lá missa em o seu
dia, dando-lhe os fregueses as suas ofertas e sendo esmola competente.
*Tem mais
as obrigações que têm todos os párocos.
Nota: Esta obrigação de São Bento da deveza como se
disse! À dita capela da deveza se lhe faz a procissão hoje na igreja desta
freguesia onde está a imagem de S. Bento no altar de Nossa Senhora do Rosário,
donde se lhe diz missa no dia do santo, como também os clamores à alma ditos,
os comutou, S. ª R. o Sr. D. Gaspar DG. A igreja desta freguesia.
15 de Janeiro
- S. Amaro
3 de Fevereiro
- S. Brás
3 de Março
- Sr.ª das Areias
15 de Março
- S. Bento
24 de Junho
- S. Amaro
18 de Julho
- Stª Marinha
22 de Julho
- S. Maria Magda
25 de Julho
- Santiago/ Anha
5 de Agosto
- Neves
25 de Agosto
- Sra das Areias
11 de Novembro - S. Martinho Vila-Fria
UM ESTUDANTE DE
MAZAREFES FEZ EMBASBACAR A POPULAÇÃO DE BRAGA!
Isto deve ter sucedido aí pelo ano
de 1885. Frequentava, então, o Seminário Conciliar um estudante, natural desta
freguesia, chamado António Francisco de Matos. Era um aluno distinto e dotado
de espírito de muita iniciativa.
Lembrou-se de construir uma
bicicleta de pau, com duas cordas, sendo a da frente grande e a de trás,
pequena. E, se bem o pensou, bem o fez, como diz o nosso povo.
Quando apareceu em público a dar ao
pedal, fixado à roda grande da frente, os seus conterrâneos deliraram com a
novidade, ficando todos de boca aberta perante os malabarismos do António
Matos.
Como se tratava duma
novidade sensacional, o nosso Estudante levou para Braga a Bicicleta da sua
autoria. Pois não queiram saber, foi um acontecimento!
Despovoou-se a cidade para ver
equilibrado em cima de duas rodas um estudante, ficando os bracarenses
verdadeiramente embasbacados diante «daquele mafarrico» que não caía de cima
das duas rodas! Naquele tempo ainda era desconhecida do público «que a força do
movimento é superior à força da gravidade».
Concluídos os seus
estudos recebeu Ordens Sacras e paroquiou esta freguesia durante 45 anos, vindo
a falecer em 7 de Maio de 1947, deixando uma memória abençoada, o nosso querido
Padre Matos.
Quantas vezes lhe ouvimos contar
esta extraordinária proeza, que hoje recordamos, com acrisolado bairrismo.
Foi, portanto, o nosso saudoso Abade
(que Deus tenha) o pioneiro do ciclismo aqui no Minho!!!
Só anos mais tarde, em 1903, é que
apareceram as primeiras 6 bicicletas no acampamento das célebres manobras
militares dos Feitos ou da Figueiró, aparecendo também o primeiro automóvel que
o Rei D. Carlos trouxe de Lisboa no comboio até Viana. E de Viana ao local das
manobras gastou 1,30 minutos a percorrer
Há menos de um século, que
progressos se não têm assinalado nos meios de comunicação e nas velocidades com
que são vencidas as distâncias?!
16 de Julho de 1970
CASA DO POVO DE
MAZAREFES
COMEMORAÇÃO DOS 30
ANOS E HOMENAGEM AO SR. DR. LAGES
No passado dia 21, conforme
noticiámos, a direcção da Casa do Povo de Mazarefes comemorou os seus 30 anos
de serviço decorrido sobre a sua fundação e prestou uma simples, mas
significativa homenagem ao clínico daquele organismo que fez os seus 25 anos de
assíduo serviço naquela casa.
Pelas 16 horas, começou a chegar ao
adro das Boas-Novas a população local para apresentar cumprimentos ao Sr. Dr.
Álvaro Lages e assistir à missa de Acção de Graças, celebrada pelo digníssimo
pároco, Pe. Sebastião Ferreira
que à homilia enalteceu a festa relacionando-o com a doutrina do Evangelho.
À mesma hora chegavam ao local as
autoridades concelhias e o Sr. presidente da Câmara, representava o Sr.
governador Civil que se encontrava ausente.
Depois da Missa celebrada na capela
da Senhora das Boas-Novas, houve uma sessão solene na Casa do Povo com a sala
apinhada de gente e de portas abertas, presidida pelo Sr. Presidente da Câmara,
ladeado pelo Sr. Dr. Álvaro Lages, homenageado, Delegado e Subdelegado do INTP,
vice-presidente da Caixa de Previdência e A. F. do Distrito de Viana,
Presidente da Federação das Casas do Povo, Chefe da Missão de Acção Social,
presidentes das Juntas de Mazarefes e Vila Fria, Presidente da Assembleia Geral
da Casa do Povo e Presidente da Direcção.
Depois de aberta a sessão discursou
o Presidente da Direcção Sr. Paulino, referindo-se à efeméride dos 30 anos da
Casa do Povo e dos 25 anos do Sr. Dr. Álvaro Lages, terminando: «Para que ao
longo dos futuros anos de V. Ex.ª e amável família, fique a lembrança destas
gentes de Mazarefes e Vila Fria, peço que tenha a honra de aceitar das mãos do
Presidente da Junta de Freguesia, uma modesta recordação que os habitantes
destas terras muito sinceramente oferecem como prova da maior gratidão a V.
Ex.ª.»
Falou seguidamente o Presidente da
Federação que depois de saudar a todos e em especial o Sr. Dr. Álvaro Lages
falou da Casa do Povo nos seus diversos campos de acção: Cooperação Social,
Representação Profissional dos Trabalhadores Agrícolas por conta de outrem,
Previdência e assistência. Ao terminar louvou estas gentes e disse: «Parabéns
queridos amigos de Mazarefes!
Tendes bons
dirigentes!
Tendes um médico
exemplar!
Sabei, pois,
estimá-los.»
Falou em termos elogiosos o Delegado
do INTP sobre a efeméride e referiu-se à acção conjunta entre a Casa do Povo e
o pároco e vice-versa.
Levantou-se o homenageado e
agradeceu a todos.
Encerrou a sessão o Sr. Eng.º Reis
Faria que se referiu em termos elogiosos à acção da Casa do Povo e dos muitos
serviços prestados pelo Sr. Dr. Lages.
Está de parabéns a Direcção da Casa
do Povo, presidida pelo Sr. Agostinho Manuel Paulino, de quem se ouviu também
grandes elogios, como disse o Presidente da Federação, Sr. Meira: «É pessoa que
também tem sabido continuar a obra iniciada há 30 anos acrescentando-lhe algo
de muito valioso – a sua nova sede e também a sua nova alma». E ainda o Sr. Dr.
Lages: Quer fazer da Casa do Povo que dirige a Casa piloto do Distrito.
Está de parabéns a população porque
também ela acatou a ideia cumprindo um dever – o dever da gratidão com muita
simplicidade mas com grande significado.
OS PADROEIROS DE
MAZAREFES
O actual padroeiro da freguesia de
Mazarefes é S. Nicolau, mas até ao séc. XVI foi S. Simão. Trata-se de S.
Nicolau, bispo de Myra, no séc. IV, padroeiro dos meninos e o grande patrono da
Rússia, e de S. Simão o Apóstolo.
É incontestável o nome «S. Simão da
Junqueira de Mazarefes» no Séc. XI, como verificamos em documentos do tempo do
bispo D. Pedro. Era, portanto, o padroeiro da freguesia nessa ocasião. Foi
terra do Julgado de Neiva.
Há vários documentos além dos do
tempo de D. Pedro, que designam a freguesia por « S. Simão da Junqueira de
Mazarefes». Tais documentos são de 1220, de 1258, de 1290, de 1320, de 1528.
O primeiro documento que nos diz
haver certa mudança de orago, é de 1551: «S. Simão da Junqueira que às vezes
também se chama S. Nicolau de Mazarefes». Isto não quer dizer que se trata de
duas freguesias distintas, mas sim de uma freguesia que tinha a sua primitiva
igreja paroquial, vindo a possuir outra com novo padroeiro devido a
circunstâncias diversas. Uma delas seria o assoreamento do Rio Lima. As águas
invadiam a parte baixa da freguesia onde hoje se chama «Veiga de S. Simão»,
obrigando os habitantes a viverem mais para o sul, parte mais alta. A igreja de
S. Simão lá ficou abandonada, longe da povoação e de Inverno cercada de água.
Portanto tornava-se mais fácil para
os fiéis frequentar os actos litúrgicos na igreja sob a invocação de S.
Nicolau, pertença do antigo convento beneditino. Isto mesmo foi facilitado
pelos possuidores do domínio útil do mosteiro.
Em 1551, o mosteiro e todos os bens
vieram a pertencer aos fidalgos «Pereiras» os quais fizeram obras na igreja.
Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores completando as obras que os
«Pereiras» tinham começado.
Entretanto a igreja de S. Simão
foi-se arruinando e até que se extinguiu.
A igreja de S. Nicolau passou a ser
paroquial e, segundo diz o abade António Francisco de Matos, daqui natural e
pároco durante 50 anos numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes, foi em
1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja.
12 de Junho de 1972.
NOTAS SOBRE MAZAREFES
ALGUNS PADRES
NATURAIS DE MAZAREFES DESDE 1689
Nota: Entre parêntesis indico o
século em que nasceu.
Pe. Brás Dias – do habito de S. Pedro. (séc. XVII)
Pe. António
de Novais – (séc. XVII)
Pe. André de Barros – (séc. XVII)
Pe. Cristóvão Gonçalves Ribeiro – do lugar do
Monte. (séc. XVII)
Pe. Manuel
Fernandes – faleceu em Braga e foi sepultado nos claustros da Sé. (séc. XVII)
Pe. Tomás
Barbosa de Almeida – foi abade de Vilar Sêco da Lomba, bispado de Bragança. (séc. XVIII)
Pe. Manuel
Rodrigues de Carvalho – (séc. XVIII)
Pe. João Alves Calheiros – Foi pároco
Pe. Manuel
Martins Carvalho – viveu na casa que mais tarde foi do Pe. Ant. Francisco de Matos e, agora, actual
residência. Esteve no Brasil e em 1805, quando voltou, ampliou a capela das
Boas-Novas. (séc. XVIII)
Pe. Manuel
de Araújo Coutinho – foi abade de Tenões e presidente da Confraria do Bom-Jesus
do Monte. Distribuiu a sua fortuna pela confraria, pelo Asilo de Velhos de N.ª
Sr.ª da Caridade de Viana e
Pe. Jerónimo
Francisco dos Reis – viveu com a Família numa casa muito pobre e que hoje é
propriedade de António Rodrigues Vaz Coutinho. (séc. XIX)
Pe. José
de Araújo Coutinho – pastoreou a terra natal durante duas épocas. Foi o
principal impulsionador da obra da capela de S. Simão da Junqueira, sobre os
escombros da antiga igreja paroquial, em 1860. Morreu em Braga na rua de S.
Victor. (séx.XIX)
Pe. António
Francisco de Matos – foi pároco de Mazarefes durante 54 anos. Nasceu a 9 de
Junho de 1860. Seus pais eram lavradores e chamavam-se: Francisco António de
Matos e Antónia da Piedade de Passos Pereira Maciel, natural de Castelo do
Neiva.
Frequentou, já tarde,
os estudos eclesiásticos e ordenou-se no dia de S. Félix de Valois- 20 de
Novembro de 1887 – com 27 anos. (refere-se-lhe o Serão n.º 100).
Recebeu as ordens
sacras do D. António José de Freitas Honorato, arcebispo de Braga. Era poeta e
historiador. Pessoa muito culta a apelidada pelo povo de «sábio». Organizou uma
monografia sobre Mazarefes. Foi um padre de vida sacerdotal fecunda. Comemorou
as bodas de ouro sacerdotais em 20 de Novembro de 1937.
Em testamento deixou à freguesia a
actual residência e cerca de 20.000m2 de terreno que faz parte do passal.
Morreu em 7 de Março de 1947.
Pe. Manuel Fernandes Barbosa – paroquiou Darque
(séc. XIX)
Pe. Manuel Pereira Polónia – Conhecido por Pe. Boavista. Nunca paroquiou e viveu na casa e
Quinta da Boavista. (séc. XIX)
Pe. José
Pereira Polónia – Pastoreou S. Romão do Neiva. (séc. XIX)
Pe. José
Pereira da Silva Pinto – Foi pároco de Vila Fria. (séc. XIX)
Pe. José
Rodrigues de Araújo Coutinho – Foi pároco em Anha. (séc. XIX)
Pe. Manuel
António da Cunha – Pastoreou Vila Fria. (séc. XIX)
Pe. José
Martins – Foi pároco de Castelo do Neiva (séc. XIX)
Pe. Francisco da Costa Dias – Foi pároco de
Carreço. (séc. XIX)
Pe. Manuel
da Costa Dias – paroquiou Verdoejo e Sanfins. (séc, XX)
Pe. Albino
Maciel de Miranda, sobrinho do abade Ant. F. de Matos. Ordenou-se em 1928. Foi
prefeito no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, Seminário Conciliar,
Vice-Reitor do Seminário de Cucujães, pároco de Barbudo, Mazarefes, Meadela,
Capelão da Caridade e faleceu em 1970.
Também descende de família natural e
residente em Mazarefes o Monsenhor Manuel Vaz Coutinho, actual encarregado da
administração dos Seminários de Braga.
O autor destas linhas foi ordenado
em 1971. É de Mazarefes.
PÁROCOS DE MAZAREFES
DE 1596
Assinam os assentos
de registo do baptismo, casamento e de óbito os seguintes sacerdotes:
1596 – Abbe. António Gonçalves.
1602 – Pe. Alvares.
1606 - ...«e como
cura desta freguesia por apresentação do abbe.
Ant. Gonçalves, Pe. João
Afonso Carneiro».
1608 – Pe. Álvares.
1616 – Pe. F. Marques (... «eu coadjutor desta igreja
»).
1617 – Pe. Álvares.
1622 – Pe João
de Sá (coadjutor).
1524 – Pe
Baltazar da Rocha Branco, abbe.
1626 – Pe
Amador Antunes.
1628 – Baltazar da
Rocha Branco.
1645 – Pe João
de Barros (abbe.).
1669 – Enc. do Manuel
João do Rego.
1687 – Enc. do João
Ant. de Araújo.
1687 – Pe Francisco
Gomes Rebello (Abbe.).
1688 – Pe José
da Costa (encomendado).
1688 – Enc. do João
de Barros.
1707 – Pe João
Pereira Sibrão (capelão).
1711 – Pe
Francisco Martins Ribeiro (capelão).
1728 – Pe
Calixto da Cunha Valadares.
1728 – Pe. Sebastião Rodrigues Ribeiro, cura e
encomendado.
1736 – Abbe .
Manuel Azevedo Portugal.
1776 – Enc. do João
Fernandes Ribeiro.
1781 – Enc. do João
Alves Fiúza.
1798 – Enc. do
António Duarte Vieira.
1806 – Enc. do
Jerónimo José da Costa.
1812 – Abbe António José de Sousa Palhão.
1836 – Enc. do João
Rodrigues de Carvalho
1843 – Abbe. Manuel Rodrigues Lima.
1861 – Pe José
de Araújo Coutinho.
1862 – Abbe. José Martins da Silva.
1882 – Pe. José de Araújo Coutinho
1882 – Abbe. José Martins da Silva.
1892 – Pe. António Francisco de Matos.
1945 – Pe. Albino Maciel de Miranda (como coadjutor do
tio).
1947 – Pe António Quesado (freguesia anexa a Vila
Franca).
1948 – Pe. Albino M. de Miranda.
1948 – (desde
Outubro, assina o P.e Delfim de Sá. Freguesia anexa a Darque).
1952 – Pe José
de Jesus Soares Ribeiro.
1963 – Pe Eusébio Esteves Baptista.
1970 – Pe Sebastião Pires Ferreira (o actual pároco).
(Em registos de
baptismo, casamento e óbitos nos «livros mistos» existentes na B. P. de Braga e
no Cartório Paroquial.
6 de Janeiro de 1975
RESIDÊNCIA PAROQUIAL DE MAZAREFES
A
freguesia, como comunidade paroquial, nasceu junto ao rio com S. Simão por
padroeiro, onde actualmente se ergue a capela sob a invocação deste santo a
perpectuar o local da primitiva igreja paroquial arruinada através dos séculos.
Todavia a freguesia nem sempre se conservou aí, mudando-se mais para o sul
devido ao assoreamento do rio Lima.
Desde 1592
encontram-se os livros paroquiais assinados com o designativo de: pároco, cura,
abade e encomendado. Não sabemos, porém, se havia um pároco propriamente dito.
Sabe-se
que a freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes já existia nos primórdios
da nacionalidade e antes da formação da nossa comunidade portuguesa já aqui
havia um convento beneditino. Mais tarde as terras do referido convento e o
próprio convento passaram por emprazamento às mãos dos fidalgos «Pereiras» e
«Azevedos» os quais ficaram com o direito de apresentação do abade, que seria o
pároco vivendo numa casa cedida pelos fidalgos.
No livro
das visitas que se encontra no cartório paroquial, verificamos certas
referências feitas pelo Pe.
Manuel Meira da Rocha, abade de Deão, quando visitou a freguesia em 11 de
Outubro de 1847, das quais deduzimos: esta freguesia não tinha nessa ocasião
casa de residência; os párocos tinham vivido em casas que por obséquio lhes
davam os fidalgos, pois tinham ficado com o direito de apresentação desta
igreja, o que deixaram de fazer logo que perderam o referido direito; vivendo
depois em casas de aluguer que nem sempre pareciam decentes e próprias para um
pároco, nem próximas à igreja como convinha.
O referido
abade de Deão não deixou de lançar um apelo a que o pároco com a Junta e homens
de probidade procurassem com toda a prudência e meios suaves arranjar uma
residência junto da igreja para mais facilmente o pároco provir no espiritual e
em tudo com mais facilidade.
Em 1863 já
a freguesia tinha comprado uma casa e um quintal junto à capela das Boas-Novas.
Ainda a conheci em muito mau estado pois hoje está transformada em salão paroquial.
Consta que nesta casa viveu o padre «Brincas» natural de Fragoso. Não sabemos
quantos mais teriam vivido nela, pois muitos dos párocos eram daqui naturais e
viveriam em casa da família como aconteceu com o abade Matos.
Em 1947, o
Pe. António Francisco de Matos
legou à freguesia metade da sua casa para residência paroquial. A freguesia,
porém, veio a comprar a outra metade e ficou o todo a servir a freguesia.
Esta casa
foi construída no séc. XVIII por José Alves Calheiros, no lugar da Formiga, e
ampliada, mais tarde, pelo sobrinho Pe. Manuel Rodrigues Martins que a tinha recebido em herança. Depois
veio a pertencer aos pais e ao abade Matos de saudosa memória.
É esta a
casa que ainda hoje se conserva em muito bom estado, embora com algumas modificações
como é de supor.
5 de Maio de 1972
A CASA DO CIRURGIÃO
DE MAZAREFES
Ouve-se chamar «casa do cirurgião» a um
casario situado no lugar da Regadia e, como o nome me fazia lembrar um
desconhecido João Semana, além da casa merecer certo reparo pelo seu aspecto
antigo, dei-me ao cuidado de saber algo sobre a sua origem.
Foi um trabalho difícil. Não consegui tudo
o que queria mas, com aturado estudo e um pouco de paciência, ainda descobri
alguns pormenores da história desta velha habitação.
É uma casa das mais antigas do lugar da
Regadia. Apresenta um estilo de casa de lavoura com todas as características de
ter sido casa abastada,
Na padieira do portal de entrada
encontra-se a data de 1765, além de outros caracteres. A casa, todavia, é
anterior àquela data que apenas deve assinalar a obra de portal.
Ao lugar onde se encontra erecta nem sempre
se chamou Regadia, mas sim Ermígio, há alguns anos atrás. Actualmente ora lhe
chamam uma coisa, ora lhe chamam outra.
Por 1739 pertencia esta casa a Catarina
Rodrigues, casada com António Francisco, sendo depois herdada por Maria
Rodrigues, filha daquele casal e esposa de João Rodrigues Ribeiro. À morte
destes, herdou-a a filha única, chamada Maria Rodrigues Viana que veio a casar
com o tenente José António de Matos, filho de José António de Matos e de Maria
Gomes, de Chafé, Anha.
É o primeiro apelido «Matos» que aparece
Este matrimónio da morgada foi coroado com sete
filhos.
Seguidamente sucedeu nos domínios desta
casa o filho José António de Matos, casado com Maria Barbosa de Almeida e,
depois, seu filho Francisco António de Matos casado com Rosa do Espírito Santo
Moreira, de Darque. Foi este homem, o Francisco, que deu o nome à casa.
Nasceu em 1838. Formou-se em cirurgia na
escola do Porto, já com mais de 30 anos, casando-se em 1877. Faleceu no ano de
1922.
A casa actualmente está dividida em duas
partes; a parte norte pertence a uma filha do cirurgião, Maria Moreira de
Matos, e a parte sul é propriedade do Sr. Manuel Almeida da Riba e de Ana Alves
da Cunha.
Existe uma tradição familiar a respeito da
sua antiguidade. Dizem que foi uma casa opulenta, à qual pertenciam muitos dos
terrenos dos lugares do Ermígio, das Penas e da Regadia. Viveu aqui uma morgada
riquíssima.
Foi nesse tempo assaltada por uma quadrilha
de ladrões vindos de Ponte de Lima. Estes conseguiram entrar em casa através de
um jinelo que possui a cozinha. Ainda agora mostra o jinelo serrado como prova
do roubo. Os ladrões carregaram 12 mulas com géneros e libras
Dizem também que a morgada possuía albergue
para os pobres, gastando bastantes rasas de milho por mês e muitos litros de
vinho. Albergava os pobres numa casa ao lado, onde conservavam ainda hoje um
grande forno a que chamam – o forno dos pobres. Por isso mesmo os pobres tinham
grande estima por esta mulher a quem começaram a chamar santa após a sua morte
e, movidos até por certa crendice, diziam ter vindo a este mundo e aparecido à
família a reclamar justiça e caridade para com eles. Ninguém sabe o nome da
morgada, mas pelo que encontrei através da árvore genealógica, não resta
dúvidas em afirmar que tal mulher se chamava Maria Rodrigues Viana, nascida a
23 de Novembro de 1767, casada em 1784 com supra dito de Chafé e falecida em 11
de Junho de 1856. O apelido «Viana» deve ter vindo do padrinho de baptismo.
24
de Abril de 1972
A IGREJA PAROQUIAL DE
MAZAREFES
Esta igreja, nos primeiros tempos da sua
edificação constituía o mosteiro do convento beneditino, aqui fundado pelos
monges de Santiago de Compostela.
Quanto à sua actual posição topográfica,
fica situada a 2km da capela de S. Simão, para o lado sul, num local onde se
torna vista e admirada desde Santa Luzia a S. Silvestre, sem, todavia,
acontecer o mesmo do lado sul, nascente e poente. Destes dois últimos pontos
cardeais duas perspectivas maravilhosas se desfrutam mas só podem ser focadas a
menos de 500m.
Pela retirada dos monges e passagem destas
terras para os Pereiras, começou a ser utilizada pelos fidalgos como capela da
sua casa, sob a invocação de S. Nicolau.
Foram várias as transformações por que
passou até aos nossos dias, como indica a diversidade de estilos.
Vejamos: A capela-mor apresenta-nos do lado
norte e nascente uma parede românica, actualmente coberta com cal. A cornija do
norte é diferente da cornija do lado sul e do lado nascente (em papo de rola).
A cornija do lado sul é igual à cornija do corpo da igreja.
As duas cruzes que encimam a capela-mor são
diferentes da que está na parte frontal da igreja. São duas cruzes estreadas e
de pequenas dimensões. A que se encontra sobre a frente é uma cruz latina
trevada e de maiores proporções.
Portanto, não há dúvida em afirmar que é a
capela-mor a parte mais antiga, talvez uma das partes primitivas do convento.
O corpo da igreja, bem como a ampliação da
capela-mor com a sua tão artística tribuna e os dois altares laterais em talha
de estilo barroco-renascentista, foi obra dos Pereiras, continuada depois pelos
Azevedos, vendo-se a águia (brasão dos Azevedos) sobre os referidos altares.
Por cima da porta de travessa, na parte
exterior, encontra-se um brasão com as armas dos fidalgos «Pereiras» e
«Pessanhas» (?).
Também a ornamentar a porta principal
existe em cantaria um frontal aberto simples com uma concha na abertura e mais
acima uma rosácia e um nicho com a imagem, em pedra, do padroeiro. A frente deve
ser dos fins do séc. XVIII.
Há ainda várias obras, como a construção do
passadiço, da casa para o coro, a construção da torre, a ampliação do coro e
das escadas que para ele dão entrada.
Diz
o Pe.
Matos que sobre o levantamento da torre é um facto ainda bem vivo na tradição.
Sabe-se, diz ele, que antes desta obra os sinos se encontravam pendurados nos
troncos de castanheiros a pequena distância da igreja. A torre é obra dos
princípios do séc. XIX.
É recente a construção e ampliação do coro,
bem como os dois últimos altares laterais, (fins do séc. XVIII ?) feitos em
estilo bastante diferente do que já existia e o sanefão adquirido na igreja de
Caminho em estilo barroco tardio (D. João V) e aqui adaptado.
O guarda-vento existente na porta principal
também foi construído neste século em 1903.
A tribuna do estilo barroco-renascentista
está deveras bem centrada, com um grande altar na base. A talha é admirável. Os
arcos reais e as colunas salmónicas com o fuste retorcido imitando os pámpanos
de ramos e parra com cachos de uvas a serem comidos pelas aves estão bem
delineados. Os arcos reais estão unidos por um grande laço ao centro. Aqui e
acolá encontram-se repolhudos, ora mostrando só o rosto, ora mostrando todo o
corpo suspenso do conjunto das colunas com as suas bases áticas de pequena
dimensão e com capitéis de ordem composita e folhas de acanto. Todo um conjunto
é de uma beleza incomparável embora de tom um tanto pesado.
Os degraus do trono apresentam
características de um estilo posterior (D. João V) e sobre eles existe um
resplendor com uma dezena de rostos de anjos em adoração.
Em alguns retábulos vê-se com frequência
folhagem serpeante e algumas grinaldas.
É também interessante a configuração do
sacrário: Tem em forma de espelho, por baixo da porta, um dístico com as
palavras da consagração; a porta tem o livro dos evangelhos e sobre ele
descansa o cordeiro pascal; ao centro da porta vê-se uma bandeira formando o
monograma de Cristo; em toda a volta encontra-se um floreado ou arabescos com
dois grandes anjos sustentam e por cima dela uma cornija com umas palmetas ou
volutas amplas formando um pequeno frontal com uma flor ao centro,
característica da renascença.
O altar-mor é muito posterior e talvez do
séc. XIX. Do lado esquerdo da capela-mor há um grande jazigo do séc. XVI,
metido na parede com uma armação em madeira e uma bela pintura da época.
Vendo-se ao centro o brasão de fidalgo e cavaleiro. Na parte superior tem a
seguinte legenda: «Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira senhor dos
Coutos de Mazarefes e Paradella cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo da casa
de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor Chanceler da Casa de
Suplicação. 1579.»
Os dois altares laterais são posteriores
mas de estilo semelhante ao da tribuna.
Os arcos reais dos referidos altares são
entremeados por uma espécie de cairel. Os meninos geralmente apresentam-se com
uma faixa azul e branca ou vermelha e branca, conforme o altar. Sobre a cornija
do altar encontram-se dois meninos enfaixados, de pé, com uma palma da mão
direita. Ainda sobre a cornija vê-se uma espécie de frontão triangular feito de
folhas de acanto e anjos, com um espelho ao centro e uma águia sobre o vórtice
superior, símbolo heráldico dos Azevedos.
O
púlpito é da mesma ocasião, com base em pedra, pintada com motivos da época e
gradeamento em madeira torneada e pintada.
São de bela e variada escultura as imagens.
De entre elas distinguem-se pelo seu valor histórico a de S. Simão e a de S.
Bento; a primeira com todas as características da sua antiguidade, de escultura
bastante tosca, popular, mas feita numa das madeiras mais preciosas do tempo e
a segunda é ainda a da antiga ermida desta invocação e de talha bastante
perfeita. Outras se distinguem pela sua talha artística modelar e escultura
antiga de grande perfeição. São elas a
dos padroeiros S. Nicolau e S. Paulo que se erguem na tribuna.
A mais bela, pelo seu valor artístico, é a
da Sr.ª do Rosário, uma grande imagem de escultura e pintura muito perfeita.
As cancelas em ferro do adro foram
colocadas pela junta em 1883, quando os enterros começaram a ser feitos no
adro. Fica mais ou menos descrita a igreja paroquial, modesta mas rica no
confronto dos seus tons arquitectónicos e na beleza do seu ambiente
perfeitamente religioso.
-
Em 1882 foi estucado todo o tecto. A obra esteve a cargo de um mestre de Vila
de Pune que a faria de Agosto a Outubro por 165.480 réis.
-
Em 1887 o trono e a tribuna estavam em muito mau estado.
15
de Agosto de 1971.
Esta igreja entrou há bem pouco tempo em obras
de restauro e ampliação que lhe vão dar mais formosura dentro do mesmo estilo.
NOTAS SOBRE O PASSAL
DE MAZAREFES
O
Passal de Mazarefes foi arrematado em hasta pública na administração do
concelho de Viana, por 23$000 reis, no dia 5 de Maio de 1912 por Francisco
Fernandes Facha, sendo fiador Boaventura de Lima Fernandes.
A arrematação tinha sido anunciada por
edital, datado do 23 de Abril de 1912, assinado por João Loureiro da Rocha
Barbosa e Vasconcelos, presidente da comissão concelhia de administração dos
Bens Eclesiásticos,
Francisco Fernandes Facha arrematou, na
mesma data, no passal de Lanheses e a residência, e foi fiador da compra dos
passais de Freixieiro de Soutelo e de S. Pedro de Soutela.
Boaventura de Lima Fernandes, que foi
também fiador da compra do passal de Lanheses foi um dos que acompanhou, em 25
de Março de 1916, um Sábado, o Administrador do Concelho Adriano Peixoto, para
proceder ao arrombamento da porta da igreja de Monserrate e iniciar sua
demolição.
(Notas coligidas por José Luís Branco da
“Folha de Viana” de Maio de 1912, h-3, e de 29 de Março de 1916, h-3).
– O CEMITÉRIO –
A
tradição reza que o primitivo cemitério paroquial foi junto à igreja de S.
Simão da Junqueira. Já neste século se
encontraram junto da capela, situada no sítio da primitiva igreja paroquial,
vestígios de cemitério, do lado nascente da capela (de S. Simão).
Quando a igreja paroquial começou a
ser de S. Nicolau, os enterros eram feitos dentro da igreja e, a respeito
disso, em 1847, o abade de Deão, Pe
Manuel Meira da Rocha, numa visita oficial sugeriu que deviam ser
endireitadas as campas da igreja e concertados os taburnos.
Quando as leis do governo proibiram
os enterros nas igrejas, começaram estes a serem feitos no adro, até 1886, ano
em que se inaugurou o cemitério actual. Não era de grandes dimensões, pois
passados poucos anos, em 1914,
a junta deliberou aumentar ao cimitério para o lado
nascente e poente mais 500 m2 .
Para isso teria de adquirir terreno de dois proprietários: 347 m2 do Dr. José Maria
d’Abreu Freire e 153 m2
de Francisco Manuel de Menezes Pinheiro de Azevedo.
Não foi fácil executar as suas
deliberações como se verifica na resposta a uma carta que a Junta e o Pároco
escreveu a Francisco Manuel: não gostou que o cemitério se tivesse construído
naquele local e insurgia-se que a lei não permitia a construção destas coisas
junto das fontes nem de casas por motivos higiénicos. Ao mesmo tempo oferecia
terreno para ser construído de novo noutro local. Dizia também ter havido erro
na administração, preços baixos e terreno mal aproveitado. Caso contrário, o
que estava chegava muito bem.
Não consegui descobrir se a Junta
chegou a realizar o seu plano ou não.
Em 1957, quando era presidente da
Junta o Sr. José de Oliveira da Silva Reis, o cemitério foi alargado para o lado
norte.
1843
– Abbe.
Manuel Rodrigues Lima.
1861
– Pe José de Araújo Coutinho.
1862
– Abbe.
José Martins da Silva.
1882
– Pe.
José de Araújo Coutinho
1882
– Abbe.
José Martins da Silva.
1892
– Pe.
António Francisco de Matos.
1945
– Pe.
Albino Maciel de Miranda (como coadjutor do tio).
1947
– Pe António Quesado (freguesia anexa a Vila
Franca).
1948
– Pe.
Albino M. de Miranda.
1948
– (desde Outubro, assina o P.e Delfim de Sá. Freguesia anexa a Darque).
1952
– Pe José de Jesus Soares Ribeiro.
1963
– Pe Eusébio Esteves Baptista.
1970
– Pe Sebastião Pires Ferreira (o actual pároco).
(Em
registos de baptismo, casamento e óbitos nos «livros mistos» existentes na B.
P. de Braga e no Cartório Paroquial.
6
de Janeiro de 1975
A CAPELA DA SENHORA
DAS BOAS-NOVAS EM MAZAREFES
Está situada esta capela no centro
da freguesia passando-lhe junto a estrada municipal do mesmo nome e que liga as
estradas nacionais n.º 213 e n.º 308.
Trata-se de uma capela bastante
ampla, cujas proporções se confundem com uma igreja paroquial levando até ao
engano muitos dos que transitam pela primeira vez pela referida estrada. É uma
grande capela com uma linda torre de relógio.
Não se sabe de quando data a sua
fundação. Uma vaga tradição atesta-nos que, a princípio, seria uma pequenina
capela escondida entre oliveirais como acontecia naquele tempo com muitas
outras. Também é vulgar ouvir-se dizer a pessoas idosas que a princípio era uma
capela sob a invocação da Senhora dos Prazeres, a quem o povo designava somente
pelo nome de «Senhora».
O nome «Senhora das
Boas-Novas», dizem, foi inspirado pela devoção do povo quando viu abandonar os
lares os seus entes queridos à procura de uma vida melhor em terras do Brasil.
É evidente que a gente de Mazarefes mergulhava na saudade e na incerteza ia
ajoelhar-se aos pés da «Senhora» a pedir as «boas novas» e, como testemunho de
gratidão ou inconscientemente através do tempo lhe teriam mudado o nome, vindo
o novo título de glória - «A Senhora das Boas-Novas» que ainda hoje vigora e
vigorará.
A sua fundação deve remontar a
alguns séculos atrás, talvez ao século XV ou XVI.
Na sua forma actual, diz o P.e Matos
na monografia manuscrita, foi construída em 1805 com muita pedra aproveitada da
antiga igreja paroquial em ruínas «S. Simão da Junqueira», trazida para ali em
carros de bois.
Foi, portanto, em 1805 ampliada em
reconstruída à expensas do P.e Manuel Martins de Carvalho, filho desta terra
que, por essa ocasião, havia regressado do Brasil.
Depois, a expensas de um devoto,
lavrador Manuel Augusto Fernandes Barbosa, desta freguesia e de quem já falei
no artigo sobre a «Casa das Marinheiras», foi erecta a torre, em 1901 (1).
Em 1911 foi colocado o relógio que
ainda hoje admiramos, adquirido com uma subscrição feita entre a gente da terra
a trabalhar no Brasil.
É nesta capela que se
realiza, no Domingo de Pascoela, a maior das festas desta freguesia, chamada a
Romaria da Nossa Senhora das Boas-Novas, à qual acorrem inúmeros forasteiros
das freguesias circunvizinhas e até de Viana, em especial, da Ribeira. As
famílias dos pescadores não só no dia da festa, mas durante todo o ano vão ali
agradecer à Virgem as boas novas dos seus ausentes, daqueles que sobre as águas
do mar, em horas difíceis, imploram a sua protecção.
Em 1960 surgiu a cruz luminosa que
se encontra sobre o vértice superior da torre, devendo-se essa iniciativa à
Comissão de Festas desse ano.
Fizeram obras no tecto em 1960.
Em 1964 substituíram o pavimento de
pedra por taco de madeira e foram colocados os azulejos.
Também é recente a construção dos
coretos que se vêm no adro.
Mais obras se fizeram em 1971, sendo
reduzida a sacristia nas suas dimensões e aproveitando-se o resto para ficar
aberto à capela-mor com altar voltado para o povo.
13 de Maio de 1974
(1) –Serão,
nº139.
A CASA DAS MARINHEIRAS EM MAZAREFES
Ergue-se
numa Quinta um pouco acima da capela das Boas Novas, em Mazarefes, e contígua à
estrada camarária que atravessa o centro da freguesia, fazendo a ligação entre
a Estrada Nacional n.º 203 e a n.º 308, em grande casario, sem dúvida, em todas
as suas dimensões, a maior desta aldeia. Está ladeado por dois grandes portões
de ferro, ambos aformoseados com boa cantaria. Nas bases de cada uma das
«pirâmbulas» sobre o portão do lado norte encontram-se as seguintes inscrições
respectivamente:
BEME/LD SEJA/O S.SAC. e P. N. A/A AS/M EAL//MAS.
No portão
do lado sul estão cravadas a ferro as iniciais (M. A. F. B.) do nome do
primeiro proprietário e o ano (1895) em que foi feito.
É
actualmente pertença de José de Oliveira da Silva Reis e de Albina da Silva
Carvalho, casados em1940.
O
proprietário foi o Senhor Manuel Augusto Fernandes Barbosa, filho de Manuel
Fernandes Barbosa e de Maria Cândida da Rocha, falecido em Agosto de 1920.
Havia casado em 20 de Novembro de 1864 com Antónia da Silva Meira, filha de
Manuel Rodrigues de Carvalho e Maria da Silva, por sua vez falecido em 1913.
Este casal era muito rico, mas vivia, na mesma Quinta, numa casa bastante mais
modesta. Veio a ser herdeiro, por falecimento do Sr. Manuel Pereira da Rocha
Viana, em 16 de Abril de 1892, com 77 anos, solteiro, irmão de Maria Cândida da
Rocha, consequentemente, tio em primeiro grau de Manuel Augusto Fernandes
Barbosa.
Então a
sua riqueza atingiu maiores proporções.
Conta-se
que o Senhor Rocha Viana, da marinha mercante e natural de Viana, era pessoa de
grandes haveres. Pelo testamento que tive o prazer de consultar por especial
deferência da Secretaria da Santa Casa da Misericórdia de Viana verifiquei isso
mesmo.
Deixou
grandes somas a diversas instituições, parentes, empregados e os bens
remanescentes foram divididos em partes iguais por 4 sobrinhos. Da mesma
maneira a família Barbosa tornou-se a família mais rica da freguesia e mandou
construir esta casa que, na ocasião, 1894, ficou por cerca de 5 000$00.
Esta foi a
razão que mais tarde lhe chamaram a «casa da riquíssima.»
Todavia
esta riqueza fazia bem falta, pois rodeava este casal uma numerosa geração...
nada menos de 11 pérolas nesta aliança matrimonial como: A Maria, que casou com
António Afonso da Silva, de Subportela; o Manuel, que se ordenou de sacerdote
em Beja, vindo mais tarde a ser capelão da capela da Senhora das Boas Novas e
pároco de Darque; a Rosa, que faleceu aos 4 anos de idade; o José, que casou
para S. Lourenço do Mato; o João, que casou para Serreleis; a Ana, que casou
com Joaquim Alves de Araújo, de Darque; a Joaquina, que casou com Francisco da
Silva Carvalho, de Mazarefes; a outra filha de nome Rosa, que casou para
Subportela, a Antónia, que casou com José de Oliveira Reis, de Mazarefes; a
Teresa, que casou com José António de Oliveira Reis, também de Mazarefes, pais
do actual proprietário; e a Emília, que casou para Galegos, Barcelos.
Como,
porém, esta riqueza recebida da herança do tio viesse melhorar ainda muito mais
as condições económicas da família, os devotados pais de tão numerosa família
mandaram construir esta casa mais condigna, ficando, desde aí, a ser conhecida
por Casa das Marinheiras, devido talvez ao facto da herança recebida do tio que
era marinheiro e, possivelmente, ao número de filhas casadoiras existentes
neste lar. Assim se explica que, para onde elas casaram, se implantasse a
alcunha marinheira.
Também não
faltou brio e bairrismo e, sobretudo, devoção à Senhora das Boas Novas para, à
semelhança de uma casa enorme em que gastaram muito dinheiro, mandarem fazer
aquela grande torre, que hoje vemos e admiramos, na capela da «Senhora dos
Emigrantes» e, sobretudo, dos emigrantes que se encontravam, naquele tempo, no
Brasil.
Nessa
torre gastou a família Barbosa para cima de 600$000 mil reis só para a mão de
obra que dizia respeito a pedreiro. O construtor que erigiu a torre era de
Santa Marta de Portuzelo – o Rocha. A pedra veio do alto de Mazarefes, mas
alguma também veio de Anha.
A família Barbosa, (Manuel A. Fernandes Barbosa e
esposa), custeou todas as despesas, à excepção do relógio oferecido 10 anos
mais tarde, em 1911, pelos emigrantes no Brasil, através de uma subscrição. A
inauguração desta torre foi em 1901, como muito bem assinala a lápide em pedra já
existente.
Uma moça
de 18 anos subiu as escadas da torre com o bronze de um sino enfuado na cabeça
que pesava cerca de 115 quilos!
É um facto
curioso que ilustra a história da torre e da família Barbosa ou por alcunha,
Marinheira. Foi a filha Emília, a mais nova, nascida em Setembro de 1883. Dizem
que era moça muito forte, aliás como as outras irmãs, que se aventurou a subir
os degraus da torre com cerca de 115
Kg à cabeça. Bravo!
Esta
Emília casou para Barcelos, mas veio a morrer muito nova e sem geração.
À morte do
senhor Manuel Augusto Fernandes Barbosa, esta casa coube em herança à filha
Joaquina, nascida em Fevereiro de 1889 e falecida em 1928, casada. Porque do
matrimónio apenas se vingou uma filha de nome Albina da Silva Carvalho, foi a
única filha, e marido desta, que a recebeu à morte de seus pais. São hoje os
actuais proprietários, sempre muito conservadores e zelosos por aquilo que os
seus antepassados deixaram, procurando também melhorar e actualizar aquilo que
é susceptível de perfeição.
Este casal
a exemplo de seus pais e avós continua a ser um dos casais mais beneméritos da
freguesia e tem só uma filha, professora Maria Eugénia da Silva Reis Lima,
casada.
10.10.1971. Artur
Coutinho
Escola de Mazarefes
Em 1932 o Manuel
Rodrigues Coutinho foi para a Escola que funcionava onde mora está a Ermelinda
Oliveira, na altura era uma casa da cunhada do Abade Matos que tomou depois a
Maria, esposa do Manuel Gonçalves Dias, o capador, por herança.
No entanto, ele sabe
que a Escola funcionava antes na Casa
conhecida pela Casa da “Marta do Lexandre”, isto é, filha do Alexandre Rodrigues de Araújo
Coutinho. Esta casa ficava no Ribeiro ou no Montinho, quase no limite com Vila
Fria, e ficava dentro da Quinta do Carvalho velho, pai do Luciano, o chefe da
Banda. O Carvalho era professor de primeira. Depois vendeu e foi para Viana.
Tinha funcionado
ainda a Escola na Casa do Zé da tia Deolinda, onde nasceu o professor Magalhães
que vivia na casa onde está a Rosa do Manão, Rosa Gomes Viana, junto ao sítio
conhecido por Augusto da Castela. Os filhos do Magalhães foram viver para
Viana, onde eram professores, e depois foram todos para a África, talvez
Lourenço Marques. Uma filha, chamada Alzira, veio cá depois de casada, mas
parece já terem morrido todos, em África.
A casa da Ermelinda ficou nessa altura a
ser a Escola só para Raparigas. Aí leccionou a D. Isabel Ferreira.
Os Rapazes não tinham Escola. Conseguiram
que a casa conhecida por casa do Piroco
que tomou o Pedra fosse aberta para
Escola dos Rapazes. A Casa era do José do Cordoeiro, José de Araújo
Coutinho, o avô paterno de Manuel Rodrigues Coutinho. Aqui, nesta casa,
leccionou um Professor, Manuel António, de Mogadouro. Este viveu na Casa do
João Cordoeiro, o Brilhante, pai do actual Francisco do Cordoeiro.
Seguiu-se a este
professor, a professora Emília Fernandes, do Porto que o levou a exame porque o
Manuel passou pela transição entre a Escola que funcionava na Casa da Ermelinda
e a Escola que funcionava na Casa do Piroco.
O professor Coelho que
vivia em Subportela, onde tinha casado, foi o que se seguiu...
As aulas que
funcionaram na Casa do Pe. Zé Pinto, hoje da Nadir, eram aulas a pagar e
levavam o exame através de um professor oficial.
Apareceu a construção
da Escola no conjuntos das Escolas do Estado e em 1934 estava a obra em fase de
acabamento.
Agora abandonado o
edifício do Estado Novo funciona numa outra construção moderna que se localiza
no Bairro Novo da Celnorte. A do Estado Novo vai ser a Sede da Junta de
Freguesia.
FILHOS DE MÃES
SOLTEIRAS
Entre os anos 1803 e
1854, pelo menos 49 indivíduos, entre masculinos e femininos, foram filhos
naturais, espalhados por todos os lugares actuais da freguesia e incluindo o da
Namorada, Souto, Penas, Gavinhos, Boas-Novas, Possa, Formiga, Senhora,
Repeidade, Redondelo e Forca.
Apresentamos só os nomes e os
lugares que registei:1803 - Maria Gomes, Namorada; 1803 - Maria Rodrigues,
Monte; 1803 - João Gonçalves Capota, Souto; 1803 - António Ribeiro Dias,
Regadia; 1804 - Mariana
Gonçalves, Regadia; 1804 - Rosa (Violante); 1805 - José Gonçalves (Capota);
1806 - Jerónimo Gonçalves, Monte; 1807
-António Alvares, Monte; 1808 - Rosa Morais, Monte; 1812 -Ana; 1816 - José
Gonçalves, Monte; 1820 - Caetano
Lourenço, Penas; 1822 -Maria de Castro, Monte;1823 - António Gonçalves, Monte;
1825 - Teresa Pinto, Monte; 1825 - Teresa Rodrigues, Boas Novas; 1828 - Maria
Antónia, Monte; 1828 - Caetano
Rodrigues, Monte; 1832 - José Violante, Ferrais; 1833 - Ana Ribeiro, Ferrais;
1835 - Manuel Violante, Ferrais;
1835 - Maria Rodrigues Novo, Ferrais; 1837- Teresa Rodrigues, Ferrais;1838
-João Ribeiro Taborda, Boas Novas; 1840 - Maria
Fernandes, Conchada; 1842 - Manuel Afonso Forte, Ferrais;1842 - Caetano Silva,
Serreleis; 1842 - Joaquim Alves Ferreira, Conchada; 1843 - José Oliveira, Monte; 1843 - Manuel Ferreira, Monte;
1843 - Rosa Alves, Monte; 1843 - Maria Martins Rodrigues, Monte; 1845 -Teresa Ferreira, Monte; 1845 -
José Francisco Dias; 1845 - Maria das Dores Franco; 1846 - Maria Lima; 1848
- Luisa
Ferreira; Ana Rodrigues Leite; 1848 - Miguel Correias, Penas; 1848 - José
Ferreira Polónia; 1850 - Manuel Lima; 1850 - Domingos Ferreira; 1851 - Maria
Gonçalves; 1852 - Maria Ferreira, Ermijo; 1852 - Maria Bernardina Pinto;
1852 - Maria Granja; 1852 - Ana Correia;
1854 - Francisco Ribeiro.
Expostos
Entre o ano de 1746 e 1755 foram
expostos 14 indivíduos do sexo masculino e feminino.
Aqui apenas expomos os nomes dados
no Baptismo e os anos, assim como alguns locais onde foram achados estes
humanos. Bento, à porta da igreja, em 1746; Bento, à porta de Brízida, em 1759;
Catarina, em 1737; Domingos José, à porta da Catarina, em 1746; Francisco em
1723; Inácia, à porta de Manuel Pereira, viúvo, em 1744; Jacinta, em 1738;
Joana, à casa de Jorge Pessanha Pereira, em 1714; José António, à porta de
Jerónimo Rodrigues, em 1759; Luzia à porta de Manuel Moreno, 1756 ; Maria, à
porta de Jerónimo Rodrigues, em 1756; Maria, em 1728; Rosa, em 1774; Teresa, à porta de Cristóvão Gonç, Ribeiro, em 1755.
Alcunhas
Algumas alcunhas e os anos em que
foram registados: A
Caguelha -1775; A Paraca -1786; A
Pisca - 1789; A Rata - 166; Alfatorra - 1711;
Camelo- 1771; Capota; Caramuja; Carnaquo - 1670; Carnoto - 1746;
Carrega - 1710; Cordas - 1699; Curto - 1771; Gaio - 1710; Galante - 1764;
Galega - 1719; Guingão - 1692;
Homem - 1772; O Barrolo - 1651; O Bolha - 1761; O Carniceiro - 1617; O
Carnoto 1779; O Carraxel - 1789; O Cavalo - 1720; O Frade - 1715; O Fura
Mundo - 1756; O Galego -1759; O Ganhão - 1755; O Grande - 1724;O Maganão - 1590; O
Maldisposto - 1711; O Manso - 1713; O Rendilha - 1781;O Tagarela - 1617;
O Torto - 1707; O Toureiro - 1725; O Troiano - 1751; O Velho - 1788; O Velho -
1745; Piza Barro -1774;Salta - 1693;
Terra Velha - 1709; Terra Velhaca - 1762; Troino - 1734.
Lugares
De igual modo lugares ou sítios
registados que foram descobertos entre 1696 e 1753
O CRISTIANISMO E
OS PADROEIROS DE MAZAREFES
S. Paulo teve
intenção de vir à Península (Rom. 15,24-28), mas ninguém sabe se chegou a
concretizar ou não a viagem. S. Tiago é o que se sabe. Não vamos falar dos
caminhos de Santiago. (No entanto, um
testamento do séc. XVII, suponho que da família de A . Forte, meus vizinhos e
que li quando andava no Seminário dizia que deixava bens a quem fosse por si a
Santiago após a sua morte, uma vez que não o pôde fazer em vida).
Por ocasião das
perseguições de Décio, no Séc III havia várias dioceses na Península Ibérica.
Em princípios do século IV houve um Concílio peninsular e no séc V o bispo de
Braga esteve presente no Concílio de Toledo (ano 400). É, por isso, muito
provável que no século V houvesse já numerosos cristãos nesta zona da Península,
inclusivé em Mazarefes.
Nessa altura já
tinham passado muitas gerações sobre a quebra do mito a propósito do Rio Lima
que o corajoso Décimo J. Bruto ultrapassou. A invasão da Península, em 411, não
veio alterar muito os hábitos romanizados...
No século VI, vindo
do Oriente, S. Martinho, bispo de Dume, ajudou com zelo apostólico, firmeza e
dedicação a conversão dos suevos e a purificação das superstições ainda
conservadas do paganismo nesta zona. Também, em meados deste século, realizou o
1º Concílio de Braga.
S. Simão teria sido o
primeiro padroeiro da freguesia, pois os castrejos, habitantes pré-romanos,
teriam já deixado, a alguns séculos, os altos dos Montes e o vale do Lima teria
sido procurado não só para a agricultura colectiva, como também zona habitacional
e o rio para a pesca. S. Simão era o apóstolo, advogado das tempestades e dos
afogamentos e não o S. Simão estilita, aliás, como é natural porque os cristãos
de Mazarefes dedicavam-se também nessa altura, a actividades aquáticas (à
pesca, à extracção do sal e ao transporte pelo rio...).
A existência da
actual Capela e documentos antigos, um deles de 985 (um dos poucos, anterior à
nacionalidade), 1220, 1258, 1290, 1320, 1402, 1528 e 1551 mostram-nos que S.
Simão de Junqueira era de tempos imemoriais: foi vila, foi couto, freguesia e a
existência de dois padroeiros: “Sam Simam de Junqueira que se ora chama Sam
Nicolau de Mazarefes.”
Não se trata de duas
freguesias, mas uma única freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes ou S.
Nicolau de Mazarefes. Os seus limites, em 1063, seriam com Sabariz, Vila Fria,
Darque e Anha.
O documento mais antigo existente e
anterior à nacionalidade, é de 985, século X, segundo consta de alguns autores
de incontestável mérito. Este documento é uma doação das terras da vila de
Mazarefes aos frades beneditinos de Ante Altares de Santiago de Compostela.
“985, doação do conde Telo Alvites
«in hora maris villa vocitata Mazarefes cum domibus (...) et cum suas salinas»,
a que, em 1603, Fernando Magno deu carta de couto: «in villa Mazarefes
incipimus terminis id sunt (...) inter Gundulfe et Mazarefes (...) dividet
inter Savariz et Villa Fria et Mazarefes (...) dividit inter Agnea et Mazarefes
(...) Rio Covo (...) illa Junqueyra et inde in derecto at Limia recto estariz
de Foz Maiore» («Arq. Port.» XXVII, ps150-154). D. Fernando deu carta
de Couto, na vila dos Arcos de Valdevez, a Mazarefes.
A presença dos Monges
beneditinos é incontestável, e não
haverá dúvida que os monges deveriam ter propagado a devoção a S. Bento. Alguns
achados, disso nos dão conta. Mas a Vila de Mazarefes já existia há mais tempo,
e já se tinha perdido na memória dos “avoengos”.
A subida das águas do
rio, a inundação das suas margens devido ao assoreamento obrigaram os
habitantes a refugiarem-se mais para sul, em zona mais alta e longe das águas.
É tradição viva ainda
falar-se do cemitério junto a S. Simão. A calçada romana entre S. Simão e o
antigo Passal onde acaba a Veiga e começam as bouças, ainda a conheci. Fala-se
da última casa de Mazarefes quando a população se distribuía à volta da Capela
de S. Simão como sendo no local onde hoje é a casa do “Necas Reis” e a primeira
depois de toda a freguesia passar para cima. A primeira casa a construir-se
mais a sul da casa do “Necas Reis” teria sido a casa das “Capotas”. É vulgar na
Veiga, nos esteiros e nos muros encontrarmos pedras trabalhadas, antigos
tranqueiros de portadas de quintais ou de casas. Como foram lá parar... não é
difícil, apenas lá foram abandonadas e, caídas em ruínas, serviram, mais tarde,
para parede umas, e outras estão, ou encontram-se, enterradas nos esteiros.
Assim, observei na minha infância quando andava lá com o gado, e na minha
juventude, quando comecei a interessar-me por estes assuntos.
Depois dos habitantes
terem abandonado a zona baixa e terem ao lado a Capela da Senhora dos Prazeres,
no lugar da Senhora, que depois lhe deram o nome de Nª Sra. das Boas Novas,
após a imigração para o Brasil, não admira que a igreja do ex-convento
começasse a servir a população.
Esta freguesia teve
por isso dois padroeiros, talvez mais tempo usufruiu do patrono S. Simão desde
o século X, se não remontar ao século IV
ou V, até ao século XVI, altura em que passou a existir alguma dúvida entre S.
Simão e S. Nicolau. Esta dúvida deveria manter-se até ao séc. XVIII, segundo
podemos deduzir de escritos do abade Matos.
O uso como igreja
paroquial foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro, os
fidalgos Pereiras e os Azevedos que tinham o direito de apresentação do abade.
Em 1551, o mosteiro e todos os bens
vieram a pertencer aos Fidalgos «Pereiras», os quais fizeram obras na Igreja.
Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores, completando as obras que os
«Pereiras» tinham começado, sobretudo de talhas de altares.
A igreja de S. Nicolau
passou a ser a paroquial e, segundo diz o Abade António Francisco de Matos,
daqui natural e pároco durante 50 anos, numa monografia que ele escreveu sobre
Mazarefes, foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja, à
freguesia.
Artur Coutinho
OS PEQUENOS
José Gonçalves Pequeno, lavrador filho de
João Gonçalves e Teresa Rodrigues, casado em 1895 com Maria da Silva Meira,
lavradeira, filha de Caetano Fernandes Pitta e de Teresa da Silva, eram pais do Zé Gonçalves Pequeno,
nascido em 1902, falecido em 03.07.1957, altura em que eu me encontrava de cama
com anginas. A filha mais nova era a Albina Gonçalves da Silva e
conhecida por"Albina do Pequeno" que casou com Joaquim de Matos
Gonçalves da Cunha, o ferreiro, e moradora em frente à Casa dos Cordoeiros da
Capela.
Maria da Silva Matos da
Cunha, casada com Manuel Inácio Ribeiro Correia, de Vila Franca é mãe de 6 filhos, o José da Silva Matos
da Cunha, casou com uma senhora de Celorico da Beira, com dois filhos e
esteve em Inglaterra, 28 anos, em Londres, onde deixou a família (esposa e dois
filhos), o João casado com Maria Amélia Ribeiro Dias da Cunha, de Vila
Franca, foi pai de 7 filhos, tendo morrido um menino, ficaram 5 raparigas e um
rapaz, o Joaquim casou com Deolinda Rodrigues, de Vila Franca, dos da
Talaia, pai de 4 filhos, Maria José casada com Joaquim Lourenço
de S. João da Ribeira, Ponte de Lima, ausente, em França, com 2 filhos. O ainda
famoso José Pequeno faleceu novo com doença grave no fígado, foi
o autor da firma Garagem José Pequeno ou Auto-Vianense, casado com Jovita
Taveira e só teve uma filha a Maria José, falecida em 15.04.2000,
deixando um neto. A Maria, casada com o José Gonçalves (Vergas),
carteiro, foi mãe de: Raolinda que casou com o José Augusto Machado, de
Vila Franca e mãe de 3 filhos: o José Augusto, o Manuel e o António; a Augusta
casou com Manuel Moreira, da Conchada e teve um filho; a Lucinda casou
com um senhor de Anha e é mãe de um casal; o José casou para
Trás-os-Montes, teve um filho deficiente, o Manuel casou com uma senhora
de Vila Fria, e foi pai de 2 rapazes e 2 raparigas, faleceu na França, num
acidente de trabalho; o Francisco casou com uma senhora de Chaves e
esteve no estrangeiro e o António casado
A Banda do Carvalho
Na década de 1940 extinguiu-se uma
banda de música com o nome de “BANDA DO CARVALHO”. Esta banda teria uma longa
história, e se houvesse documentos escritos para seguir a par e passo o seu dia
a dia, dificilmente seriam as páginas do “Serão” o seu livro de oiro.
Com os poucos dados que consegui
recolher de diversas pessoas que a conheceram ou que dela chegaram a fazer
parte, poderei reconstituir alguns aspectos da sua história nas poucas linhas
que se seguem.
O professor António Alves de
Carvalho, nascido em 2 de Janeiro de 1849 em Alvarães, formou-se na escola
normal de Lisboa e contraiu matrimónio pelos 23 anos com uma senhora de
Mazarefes - Teresa Alves Pereira.
Por força das circunstâncias veio a
ser professor primário de Mazarefes e a viver no lugar de Ribeiro, na casa e
quinta que hoje é de Marta Coutinho.
O Sr. Carvalho, de grandes dotes
musicais, e outros apaixonados pela “Arte dos Sons” tiveram a belíssima ideia
de formar uma banda. Entre os 27 elementos que arranjaram, encontravam-se
músicos de Mazarefes, Alvarães e de outras terras limítrofes.
Depois de interrogar várias pessoas
conceituadas sobre a data da sua fundação não cheguei a saber nada de concreto.
Apenas pude verificar que seria fundada imediatamente depois do casamento acima
referido. Sendo assim, deve Ter sido na década de 1870. Como não soube da data
da fundação, do mesmo modo apenas consegui informar-me de que se extinguiu no
ano de 1940 (talvez em 1942). Portanto, 60 ou 70 anos que ela existisse, já é
motivo de grande júbilo e honra para o seu fundador, homem activo, energético e
bom. Além de professor primário exerceu a
magistério musical. A sua casa era a escola da música, era a casa da
banda. Lá se davam os ensaios com rigor e disciplina e ensinavam-se os
adolescentes a tocar as escalas.
Filho de peixe sabe nadar” -
Poderíamos aplicar este ditado à família do Sr. Carvalho. Todos os seus filhos
sabiam música. Muitas vezes foi substituído pelo seu filho Casimiro, ex -
seminarista, que dizimado por doença que não perdoa faleceu aos 27 anos. O
primeiro sucessor na regência foi o Luciano que nasceu em 1890.
Alguns músicos, devido à sua
preparação e ao saber vieram a ingressar noutras bandas de maior nível. Quando
o Sr. Carvalho deixou a regência, o seu filho, Eugénio Alves de Carvalho,
também veio a alistar-se na dos B. V. de Viana.
Este Sr. Eugénio é o
único filho vivo com 76 anos e residente em Seixas.
O fundador era severo mas muito
delicado. Daí a muita estima e consideração que lhe dispensavam os elementos da
banda e grande aceitação e influência no povo de Mazarefes.
Contudo, os estatutos eram para se
cumprir.
Seria expulso aquele
músico que se apresentasse numa festa com a roupa em desalinho e menos fresca.
O bairrismo, como é natural, sempre
dominou o Sr. Carvalho, por isso, a festa das Boas-Novas era o palco das
estreias de algumas novas peças de música, novos instrumentos e novas fardas de
2 em 2 anos. Tudo se inaugurava no palco maravilhoso do adro das Boas-Novas,
tendo como cenário o arvoredo que então ali existia e ao longe o recorte no céu
azul dos montes e do alto de S. Silvestre.
Dizem-nos que era uma boa banda. È
certo que actuou em diversos meios como: Monção, Maia, Santo Tirso, Ponte da
Barca, Arcos, Ribeira da Pena, Alijó do Douro, Vila Nova de Cerveira, Barcelos,
Famalicão, Fão, Ponte de Lima, Esposende, Vila do Conde, Azurara, Apúlia,
Viana, e durante 15 anos consecutivos actuaram em Âncora na festa da Bonança.
Andava pelos 12$50 (12$5000 reis)
por cada dia de actuação. Fazia as deslocações no carro de cavalos do falecido
Cura quando iam para longe.
Era constituída de
De dois anos havia farda nova com
certa modificação no feitio ou na cor. Dizem-nos todavia, que se manteve sempre
no seu tom característico em que havia nascido.
Chegaram a usar calça amarela
afestoada a princípio, e mais tarde com vivo. Usavam casaco azul escuro, de
gola alta, com alamares em branco guarnecidos de fitas douradas e largas, e com
3 filas verticais de botões ovados, dourados, onde (abotoavam) apertavam o
casaco e prendiam os alamares. Nos ombros usavam dragonas em metal dourado com
muitas franjas também douradas.
O boné era de cor azul por cima e
vermelho à volta com pala preta e horizontal à estilo francês e com um penacho
ao, encarnado.
Como dissemos, no princípio os
instrumentos eram em metal amarelo. Podemos enumerara os seguintes ao tempo do
seu fundador: 4 cornetins, 2 trompas, 3 trombones, 2 bombardinos, 4 clarinetes,
3 saxofones, 1 flautim, 2 clarins, 2 contra-baixos, 1 caixa,2 bombos, pratos e
uma miniatura de carrilhão.
A maior parte dos elementos sabiam
música. O Sr. Carvalho chegou a fazer composição orientado pelo capitão Torres,
chefe da Infantaria 3 de Viana do Castelo.
Em 1918 quando actuavam na festa de
S. Silvestre - Cardielos - receberam a notícia de que a casa do Sr. Carvalho
tinha ardido. Desgostoso com o que aconteceu veio vender a casa e Quinta, em
7-5-1919, ao Sr. António Coelho, de Viana do Castelo, por 1.900 reis. Comprou
com esta soma duas casas em Viana: uma, na rua dos Manjovos e, outra na rua da
Gramática onde morreu em 1930.
Foi com mágoa que a banda vira
partir para Viana o seu fundador já com a idade dos 70 anos, cansado e
desgostoso. Abandonou, então, as suas actividades de músico e professor primário.
Sucedeu-lhe na regência o seu filho
Luciano Alves de carvalho que faleceu em Mazarefes aos 54 anos. Pouco antes da
sua morte, ocorrida em 1944, sucedeu a este na regência o seu filho e
consequentemente neto do fundador, Casimiro Alves de Carvalho, que tendo casado
em Anha, em 1942 (?) pela ocasião da festa da SENHORA DO ROSÁRIO, depois de
atrevida zaragata, a levou para esta terra.
Veio a extinguir-se por completo em
1961, com o nome de “ Banda da Casa do Povo de Anha”.
Os monges nas terras
de Mazarefes
Pertenciam estas terras, no século
X, ao reino de Leão.
Elas foram pertença de D. Telo,
fidalgo do reino e vassalo do rei, durante a sua vida. Não tendo
este fidalgo geração que viesse a herdar estas terras, resolveu, no ano de 985,
fazer uma doação das mesmas à Congregação de S. Paio de Ante-Altar, constituída
pelos monges beneditinos de S. Tiago de Compostela. Foi esta doação feita na
presença de alguns altos signatários da Igreja e da corte de Leão. O rei, D.
Bermudo II, confirmou aquela doação por estes termos: “ Em nome do Senhor, eu,
Bermudo, por Graça Divina Rei confirmo o voto de holocausto do meu dux”.
Senhores destas terras, em breve,
começaram os monges a exercer aqui o seu domínio, edificando um convento de que
apenas restam vestígios, como uma extensa muralha, um paredão que formava um
dos lados do referido convento, vários tijolos, pedras lavradas e algumas das
inscrições que hoje se encontram no Paço, devem ser dessa época. È possível que
o templo do convento fosse edificado no local onde hoje se encontra a igreja
paroquial, sob a invocação de S. Nicolau, segundo documentos antigos. Contudo
não existem documentos que comprovem a invocação de S. Nicolau para o primitivo
templo.
Durante a sua permanência nestas
terras de Mazarefes, os monges ocuparam-se no cultivo das mesmas, pelo menos as
mais férteis, e até no arroteamento das bravias.
Assim, este centro se
foi tornado cada vez povoado, mas os monges tiveram-no de deixar aquando das
guerras com Castela, retirando-o para a Galiza; depois de terem obtido para
isso licença pontifícia, fizeram emprazamento dos bens que aqui possuíam aos
parentes mais próximos dos fidalgos D. Telo e, sua esposa, D. Muma que lhas
haviam doado.
A testemunhar, ainda, a passagem
destes monges por aqui, ainda hoje é conhecida com o nome de S. Bento toda a
região do lado norte da igreja paroquial até à estrada Darque-Ponte de Lima.
A tradição diz Ter havido uma capela
de S. Bento naquela região, mas tal não é localizada. Mas também a mesma
tradição dizia ter havido um fontenário de S. Bento, junto da igreja paroquial
e, o que é certo, é que há anos quando se abria um poço a cerca de trinta
metros daquela, numa propriedade que confina com o adro do lado nascente,
apareceram ainda os vestígios d adita fonte e mais abaixo um cano em pedra para
condução de água.
Ainda existe um facto muito
interessante na acção dos monges, foi terem pedido a D. Fernando Magno a
constituição destas terras em couto, o
que aconteceu em 1063 com as seguintes terras limítrofes: Sabariz, Vila
Fria, Anha, Rio Corvo, Rio Lima, Darque e Gondufe.
Os PEREIRAS de
Mazarefes
Em 1451, passou o domínio útil
destas terras para a filha de Rui Pereira, D. Messia Pereira, mulher de Martins
Mendes de Berredo. Como tivesse enviuvado e resolvesse fundar um convento, em
Aveiro, esta senhora como não lhe sobejasse o dinheiro, pediu licença aos
monges para vender o domínio útil a seu parente Diogo Pereira, Cavaleiro na
casa de El-Rei e almoxarife, um dos cargos mais elevados do reino.
Resolveram os monges, em 1494,
vender o domínio directo a um filho de Diogo Pereira, chamado Rui Pereira, e
foi o filho deste, Gaspar Pereira, que fundou o morgado de Mazarefes com
permissão do Rei D. João III, em 1579.
Por esta altura já os monges tinham
perdido todo o interesse nas terras de Mazarefes, pois davam-lhes prejuízo.
Foi talvez Gaspar Pereira o fidalgo
mais ilustre e relacionado com a história desta terra. Dele se conserva ainda hoje um jazigo na
capela-mor da igreja paroquial com a seguinte legenda pintada na parte
superior: “ Este jazigo mandou fazer o Dr. Gaspar Pereira, Senhor dos Coutos
de Mazarefes e Paradela, cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo-mor de El-Rei
Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor, Chanceler da Casa da Suplicação.
Ano de
Sucedeu-lhe no domínio destas terras
seu filho Rui Pereira, homem de grande cultura, mas de Temperamento despótico
que muito lhe valeram os grandes serviços prestados ao Reino, pois não
conservou sempre elevada a honra que devia merecer e que o seu pai tinha
conquistado.
Era tirano, exigente para com os
seus caseiros, não lhes permitindo levantar casa sobrada ou lagar sem sua
licença, obrigando-os a pagar anualmente os quartos da sua renda.
Cometeu vários crimes e, se não
fossem os grandes serviços prestados ao reino não teria alcançado perdão. Não
lhe aconteceu assim com o caso de Vila Fria porque embora tivesse cometido
várias tropelias e fugindo à responsabilidade, desta vez nunca mais voltou a
Mazarefes e foi morrer às mãos dos cafres, no Cabo da Boa Esperança quando pela
3ª vez, regressava da Índia para onde se evadira quando a justiça o condenou.
Foi de grande importância a acção
dos Pereiras as terras de Mazarefes. Ainda nos resta destes fidalgos um casarão
antigo de que mais adiante se tratará.
Sucederam a Rui Pereira seu irmão
Nuno Pereira e, à morte deste, o seu filho Gaspar Pereira que casou com
Bernarda Coutinho, e Jorge Pessanha. Foi, mais tarde, legítima sucessora a
filha do último fidalgo, que não deixou geração e por isso, sofreu violenta
questão da qual sairam vencedores os Azevedos como parentes mais próximos e
herdeiros dos bens.
Os Gandras em Mazarefes
Em 1838 veio para
Mazarefes Manuel Luís Gandra, com 28 anos de idade, da freguesia de S. Tiago de
Aldreu, Barcelos, por casamento com Rosa Rodrigues, a Cordoeira,do Ermijo.
Do casamento resultou
uma prole de 9 filhos, 5 varões e 4 mulheres.
Manuel Luís
Gandra enviuvou em
O António reemigrou
em 1896 e em 1899, sinal de que andou lá e cá, assim como o José em 1890 e em
1892.
Não sei nada do que
terá acontecido às mulheres, a mais velha, a Maria Rosa faleceu em 1869, aí com
31 anos de idade, em Mazarefes, quanto à Maria Cândida, nascida em 1848, morreu
bébé, e a Maria Teresa casou com Luciano Paulo, de Caria, Sermancelhe concelho
de Moimenta da Beira, de Guarda Fiscal de profissão. Casou em Monserrate e
baptizou uma menina, Eduwiges, na mesma igreja, em 1884. Há, portanto, motivos
para o que ouvi dizer “ terá ido para os lados da Serra da
Estrela”.
O filho João, depois de ter comprado a casa e
ido ao Brasil, casou com 60 anos em 1914, com uma mulher de Refóios do Lima,
mas ficou viúvo e sem filhos, tendo voltado a casar com uma sobrinha da mulher,
que se chamava Maria de Jesus Gonçalves e de quem teve 3 filhos, o Manuel Luís,
o José (morreu crança) e a Rosa Guilhermina. O João para adquirir o passaporte
apresentou a sua residência, aos 38 anos, na freguesia da Meadela e, de facto,
constava que tinha primos na Meadela, os mata sete, e que por ocasião da
revolução da Traulitânia que rebentou lá para os campos da Agonia, fugiu com
duas crianças que estavam com ele para a Meadela. Ao Ao passar pela Capela de N.ª Sr.ª das
Candeias, levou consigo (também uma criança mais) António Costa, irmão do Severino Costa para a
salvar de alguma situação desagradável pela revolução rebentada, isto teria
acontecido por volta de 1919, no tempo da Monarquia do Norte que durou apenas
25 dias. Isto já depois de ter vindo do Brasil. A propósito, uma criança morreu
no Campo da Agonia por causa deste conflito traulitano em Viana.
Do 2º casamento do
velho Manuel Luís Gandra, o Cordoeiro de Mazarefes, nasceram mais duas meninas,
a Ana, que foi tecedeira e casou em 1883 com Manuel Afonso Forte e morreu com
50 anos, em 1909 e a Maria Rosa que morreu bébé..
Quanto às duas senhoras
que foram para a região da Serra da Estrela ou Viseu, trata-se de uma hipótese,
pois, certo dia, entrando uns turistas dessa zona no Banco Nacional
Ultramarino, logo um deles que era Gandra disse para o outro: “Olha ali está um
Gandra” referindo-se a um empregado bancário que de facto até era Gandra.
Travaram diálogo e chegou-se à conclusão que talvez fosse família, pois o
Gandra de Coimbra dizia que a sua família foi do norte e o Gandra de Viana
achava que antepassados houve que não sabia deles. O Gandra a trabalhar no
Banco era muito parecido com um outro familiar de que passava por Viana. Esta
coincidência levou a concluirem que seriam família e que a Maria Teresa, filha
do primeiro casamento do Manuel Luís Gandra teria ido para a zona da Serra da Estrela.
A
Capela de N.ª Sra. das Boas Novas
Não se conhece a origem desta
capela. Localiza-se do lado nascente da
estrada que corta Mazarefes no sentido norte-sul, ligando a estrada nacional nº
203, de ligação entre Darque e Ponte de Lima e a nacional nº 201, de ligação
entre Darque a Vila Verde.
No entanto, pela tradição que o
Abade António Matos confirma na sua monografia, ela teria sido inicialmente uma
capela sob a invocação de Nª Sra. dos Prazeres e que corresponderá, nesse caso,
à imagem que se venera ainda hoje no nicho da frontaria da mesma capela.
A mudança de nome de Nª Sra. dos
Prazeres para Nª Sra. das Boas Novas terá sido depois da descoberta do Brasil,
por ocasião da imigração das suas gentes para a terra das patacas.
Por um acentuado número de
mazarefenses falecidos, no Brasil, se pode constatar que teria sido forte a
evasão para lá. Não é dificil, por isso, de antever uma devoção acrescida à
Senhora dos Prazeres, pedindo-lhe boas novas dos seus entes queridos, ausentes
em terras de Stª Cruz, ao ponto de lhe terem
começado a chamar-lhe, com carinho e devoção, a Senhora das boas
notícias,a Senhora das Boas Novas.
O certo é que a influência da
Senhora dos Prazeres ou das Boas Novas foi tão grande que à região onde estava
implantada a sua capela começou a chamar-se apenas pelo sítio da Senhora, nem
sequer era da capela, naturalmente mais vistosa, mais sensível ao comum dos
mortais, mas simplesmente o lugar da Senhora; nem era a Senhora dos Prazeres,
nem a Senhora das Boas Novas, simplesmente Senhora.
Antes dos meados do século XVIII já
este nome da Senhora das Boas Novas era
conhecido porque, em
Esta devoção também foi grande entre
os pescadores, e as gentes do mar. Ainda conheci romeiros vindos da Ribeira de
Viana e de Darque que aqui afluiam com frequência, durante todo o ano, para
agradecer graças, bençãos ou implorar a sua protecção cuja necessidade a hora
do infortúnio trouxe.
Esta capela passou por várias
transformações. Inicialmente teria sido uma pequena capela no meio de um
oliveiral. Com as proporções que hoje se conhecem, deve vir do princípio do
século XVIII. Sabe-se duma intervenção animada e proporcionada pelo Pe. Manuel
Martins de Carvalho, depois de regressar
do Brasil, na capela e no adro, em 1805. Nessa altura fez-se a grande
ampliação e, na obra foi utilizada pedra da antiga igreja paroquial em ruinas
(S. Simão).
As ofertas dos romeiros que aqui
chegavam eram feitas em dinheiro, tranças de cabelo, azeite, cera e também
frequente o uso da mortalha. Em 1881 o rendimento foi o seguinte:
Juros 5.390 - réis; 0,5 almude de
azeite - 2880 réis; Azeite das Oliveiras - 2400 réis; Aluguer de uma mortalha -
160 réis; uma mortalha - 360 réis; uma trança de cabelo - 500 réis; Caixa -
1230 réis; Total: 12.920 réis
A Sacristia da capela
foi feita em 1883 e custou 50.000 réis. A Torre foi construida em 1901, por iniciativa de Manuel Augusto
Fernandes Barbosa, da casa das Marinheiras, e o Relógio da Torre que ainda hoje
funciona, em 1911, pelos ausentes no Brasil. . Sempre nestas transformações
esteve presente a contribuição dos emigrados no Brasil e seus familiares que,
aos pés da Senhora, mergulhados pela saudade e incertezas pediam as boas novas
ou agradeciam graças recebidas.
As transformações continuaram por aí
fora, quer no adro, quer na capela, ou na sacristia, porque, afinal, a Senhora
apesar de nome mudado, Ela na realidade é a mesma, a Mãe de Jesus e continua a
ser sempre a mesma e única Senhora de Mazarefes. N’Ela todos os mazarefenses
têm os olhos e para ela todos se voltam, por isso lhe fazem festa grande no
Domingo de Pascoela, a famosa romaria da
Senhora das Boas Novas..
A devoção tão enraizada à Senhora
das Boas Novas, Senhora de Mazarefes, faz com que a capela, onde se venera,
esteja sempre muito limpa e asseada. Há poucos anos o pároco, Pe. Manuel
Parente Pereira, fundou uma Confraria para institucionalizar este asseio e
culto.
As sucessivas comissões de festas
sempre têm trabalhado com brio e entusiasmo para fazer a melhor festa e a
melhor obra. A deste ano, formada por José Maria Ribeiro Cunha, Armindo
Magalhães, José Maria Pinto Bouças e Américo Afonso da Balinha, já repete por
quatro vezes esta façanha e começou com restos de festas e outros apoios a levar
a efeito grandes melhoramentos no adro da Capela, no seu traçado, novas
aberturas, sobretudo, para norte com chão empedrado, canteiros, e bom
embelezamento da zona circundante fazendo um conjunto bem soberbo! Para além diso, aproveitou sob o adro espaços
para criar estruturas de apoio às actividades da festa e a da paróquia. Boa iniciativa!
De parabéns está a referida Comissão,
assim como a Paróquia pelo brio das suas gentes e pela Senhora a quem prestam culto. Prepara-se ainda para fazer 2
coretos desmontáveis para as Bandas de Música.
Lá continua a Senhora
e, sempre esta Senhora, a ser o símbolo da unidade da nossa terra!
.
Artur Coutinho
Casa dos Araújos
Amorins
A Casa do Monte
começou por ser a Casa dos Araújos e surgiu por 1789 com António Gonçalves
Araújo (de Amorim?) que nesse ano, casava com Maria Rodrigues, filha de
Custódia Rodrigues, solteira, para a casa que se situava na Conchada.
O António Araújo veio de Chafé, filho de
Manuel Gonçalves Rego e de Fernanda Araújo da Silva.
Do casal houve sete
filhos, a Maria (1790), o José (1791), o António (1792), o José (1794), a
Teresa (1795), o João (1798), a Rosa (1802). O João casou com a Maria Teresa de
Jesus e apenas teve 2 filhos, a Maria Rosa de Jesus (1838) e o António (1836) e
foi o que ficou em casa.
A Maria Rosa casou
com Manuel de Matos, filho natural de
Violante, solteira, a zabumba, e foi pai de Manuel Amorim de Matos que,
por sua vez, casado com Maria Rodrigues Calheiros, foi o pai de Rosária,
nascida em 1909, e ainda de boa saúde, e de mais quatro homens. O Albino, o
António, o Artur e o Manuel.
O António casou com
Maria Alves, filha de Manuel José Barbosa e Maria Alves, (de Vila Fria) e foram
os pais de Manuel, António (1878), Maria
(1872), José (1876), Domingos (1880), Clara (1982), e de Ana (1987).
Deste casamento, a
Maria foi para a casa dos avós maternos,
O José casou com a
Antónia Rodrigues Araújo, dos Catrinos. Ficou em Mazarefes e teve da sua mulher
4 filhos. O Domingos morreu com 2 anos queimado por lhe ter o fogo da lareira
chegado à roupa, no dia de Páscoa, pouco antes de chegar o compasso pascal.
Curiosamente, em 1965, uma filha de uma sobrinha, na mesma lareira, e em dia de
Páscoa, à noite, ficou sem a mão esquerda por rebentamento de uma bomba de
foguete. Eram 10 horas da noite. O José foi para a casa da tia casada com o
Couto,
O António casou para
o Ribeiro com uma irmã do Dr. Ferreira de Vila Fria; Maria Rosa Fernandes, da
família Caroças, do lugar da Cavagem e teve 4 filhos: Maria, Maria Deolinda,
Conceição e Manuel. A Maria Rodrigues Amorim casou com José Augusto, carteiro,
vivia no Ribeiro ao lado da Quinta e Casa que foi da Marta do Alexandre e teve
1 filho,o Anselmo, que foi para o Brasil onde casou com uma brasileira Maria
Estela ou Maristela, o Manuel que casou no Brasil com uma senhora Estela da
qual teve dois filhos (o Maurício e a Estela), a Conceição que casou com José
Rodrigues, de Darque e foi mãe de 5 filhos: a Maria, o Manuel, António, a Maria
de Lurdes e o Mário. A MARIA casou com Augusto Marques e é mãe da Elisabete,
casada com Valdemar e com 2 filhos: Filipe e a Patrícia o Manuel R. Amorim que
casou com Lucinda Mesquita, de Sta. Marta, e foi mãe de 3 filhos (o Rui, o
Paulo e a Anabela); o António casado com Ana Lopes e pai de Eric; a Maria de
Lurdes que casou com o cunhado do irmão, o Manuel Mesquita de Sta. Marta e foi
mãe de 4 filhos (o Ricardo, o Vitor (casado com Isabel e pai de Sara e Laura),
o Sérgio e a Paula (casada com Artur Pinto e mãe de Cristianao e Joana). Uma
história trágica e misteriosa neste ramo, foi que a Maria de Lurdes, o Manuel
Mesquita e o filho dos dois, o Sérgio, foram barbaramente mortos à machadada num
dia após o almoço em sua casa de Vila Fria, no Ribeiro, onde estavam a passar
férias vindos da Alemanha, onde eram emigrantes. O autor da mortandade foi um
sobrinho, o Rui, filho do Manuel e da Lucinda.. A Maria Deolinda casou com José
Ferreira Silva, de Anha, e teve 8 filhos e vivia ao lado da casa dos pais, no
Ribeiro. Dos filhos da Deolinda, o Valentim, casado com Palmira e pai de 4
filhos (Fernando casado com Fátima Pereira e pai de Sanbrine e Laetitia,
Augusta casada José Manuel Pereira e mãe de David, Fátima casada com Alberto
Martins e mãe de Carla casada com Paulo Queirós e de Cédric e Carlos casado com
Maria José Guerreiro e pai de Miguel e Cátia casada com Albino Gomes); o Jorge,
casado com Irene Ferreira de Mujães e pai de 4 filhos (Jorge casado com Emília
Jácome e pai de Karina, Manuela, Fernando
casado com Rosa Pinto e pai de Tatiana, Maeva e Irina e Isabel casada
com Phillipe Nourry); a Fátima, casada com Fernando Miranda e mãe de 4 filhos
(Paulo Jorge, Carlos Miguel casado com Ana Lopes e pai de Laura, Alberto Filipe
e Fernanda); o José, casado com Margarida de Sta. Marta e pai de 2 filhos (o
Nuno e o José Carlos); o Manuel, casado com Lurdes Morais, de Outeiro e pai de
2 filhos; o Carlos casado com a Sílvia e o Frederico, o Carlos, casado com Cândida
de Sta. Marta e pai de 2 filhos Sara casada com Roberto e mãe de Rafael; o
António casado com Natália e pai de um filho e o Augusto casado com uma
francesa, a Patricie e pai de 3 filhos: da Christielle Jean e mãe da Marine e
Lou-Anne, da Virginie e de Marybelle.
O Domingos casou para Vila Fria com Ana Lima,
de Anha.
A Clara casou com
Manuel Pereira, de Vila Fria, e ficou na casa. Do casamento resultaram 3 filhos
e uma filha. O José que morreu solteiro. Fazia vinhas de arame e morreu de
acidente ao cair duma meda de palha. O António que casou com Maria Coutinho e
foram os pais da Rosa que casou com Vasco Bandeira e é mãe de 2 filhos: António
Alberto e José Rui. O Manuel que casou com Maria Barreto e não têm filhos. A
Maria que casou com José Forte e foram pais de Deolinda que casou com um jovem
de Alvarães.
A Ana casou com Manuel Forte (o Barrolo). Foi
mãe de 5 filhos. A Maria que morreu solteira e viveu sempre
O Manuel morreu de
paixão por uma namorada que a deixou depois de tudo preparado para o casamento.
CESTARIA DE
MAZAREFES
Ainda não há muitos anos, havia, no concelho
de Viana, cesteiros em quase todas as aldeias.
Cremos que alguns destes centros de
tal artesanato se encontrem hoje extintos.
Em Mazarefes existe uma grande
família de afamados cesteiros que pratica arte desde tempos imemoriais: os
Galhofas. De pais a filhos todos são cesteiros e bem exímios, diga-se sem
lisonja, a tal ponto que os seus produtos figuraram já em diferentes exposições
em Lisboa e já vieram à sua oficina as câmaras
da televisão Portuguesa que filmaram várias fases da conecção dos
cestos.
Antigamente, como todos os
cesteiros, os Galhofas apareciam nas feiras para vender cestos que para tal lhe
apareciam. Andavam também por casa dos lavradores que lhe solicitavam o trabalho.
Hoje, porém, os dois irmãos Galhofas
trabalham em casa, numa melhor organização de trabalho.
Têm a oficina num desvão do coberto.
Trabalham sentados no chão sobre uma espessa camada de fitas de madeira e com o
canivete entre as pernas.
O canivete é uma prancha de madeira
de que apoiam no chão e encostam superiormente a uma mesa velha. Os seguintes
apontamentos foram-me enviados pelo amigo Artur Coutinho,
Ferramenta:
Cutelo – para lavrar a
madeira. Pudinha – para limpar fitas e talas. Furador – para
bordar o cesto. Navalha de tessumo – para fazer o tessumo, isto é, fitas
com cerca de dois milímetros de largura para tecer os cestos finos ou também
chamados «de noivas». Achassó – para acamar as talas do fundo, fundar o
cesto. Foice – para rachar a madeira. Mascoto – para a achassó.
Usam também o cavalete composto de unha e cunha.
Material:
Castanho, salgueiro,
loureiro, mimosa e austrália.
Dicionário do
Cesteiro:
Tala – é cada uma da
peças que forma o fundo cesto e a altura antes de tecer.
Fitas de tecer – é
cada uma daquelas fitas que se entrelaçam na altura do cesto.
Fita de cozer – é
aquela que cose o bordo do cesto.
Fita de bordar – é
aquela fita que passa em volta do bordo.
Cinta – é a primeira
fita a contar do fundo do cesto.
Tomadeira – é a fita
que segue por cima da cinta.
Cápia – é um caveiro
que se coloca por fora do bordo propriamente dito para que seja mais fácil
bordar.
Bordo – é uma peça
redonda colocada por dentro e junto à cápia.
Tala – dão
principalmente este nome à que está ao centro e que costuma ser mais larga.
Parelhas – Costumam
dar este nome às outras talas porque são
colocadas aos pares no fundo do cesto.
Caveiro – é a parte
de fora da madeira isto é, uma tala que só foi rachada por um lado.
Cruzeira – é uma das
talas centrais rachada em toda a altura do cesto e onde as fitas de tecer se
cruzam. Está aqui o segredo do cesto.
Asas – semi-arcos
para pegar no cesto.
Arqueira – Arco de
uma cesta.
Asa redonda – Costuma
ser a do cesto rústico.
Asa redonda – costuma
ser a do cesto.
Asa enxadrezada ou
repassada – aplica-se no cesto de noiva.
Medidas do fundo:
Estas medem-se de
canto acanto em quadrado.
Medidas da altura:
Medem-se do canto ao
bordo.
Qualidade M/fundo M/altura Preço
Cesto de 3 alq.
Cesto de 2 alq.
Cesto da vila
Cesto de noiva
Cesto de páscoa
Cesto de lav.
Estes apontamentos foram tirados na
cestaria Zé Galhofa de Mazarefes.
Como se faz um cesto?
Em Janeiro e Dezembro
corta-se a madeira: castanho ou salgueiro. Corta-se nestes meses porque a
madeira, neste tempo, perde o vício. Traça-se a madeira e aquece-se ao lume.
Depois racha-se com uma foice no mês de Março. Tem de ser rachada com sol para
que a madeira fique branca. Antes de fazer o cesto demolha-se a madeira durante
12 horas. Na ocasião lavram-se as telas
do fundo com o cutelo no cavalete. É limpa a madeira com a achassó e mascoto.
Urde-se o cesto da
seguinte maneira:
Em cima de um estrado
2 parelhas centrais ladeadas por mais duas (uma de cada lado). Colocam-se mais
suas talas: uma de cada lado e a seguir 2 caveiros, um de cada lado e a seguir
2 caveiros, um de cada lado também. Entrelaça-se horizontalmente: uma tala
central, a mais larga de todas; 3 talas
de cada lado desta, sendo uma mais larga e as outras duas menos largas; e um
caveiro de cada lado.
Levantam-se as talas com uma corda.
Começa-se a tecer o cesto com uma fita que se chama cinta e é a primeira a contar
do fundo do cesto. A seguir a esta
leva a tomadeira. E finalmente a
restantes fitas de tecer.
Depois de tecido é parelhado com a
cápia e o bordo. Esta parelha é bordada com fitas de cozer e com o furador.
Colocam-se as asas,
limpa-se, lixa-se e prega-se.
O «BICHO» DE
MAZAREFES
Será uma história?
Será um conto dos antigos serões à lareira?! Não, respondem as pessoas idosas.
Todos os velhos aldeões da terra contam a história do Bicho assim:
Aquela casa da Quinta do Sr. Artur Matos, onde vivem agora dois inquilinos,
pertencia em tempos a um tio Bicho e à sua mulher. Viviam ali apenas os
dois. Não eram do nosso tempo, mas do tempo dos nossos avós.
O Bicho era
muitíssimo rico e em certa ocasião teve um criado. Por motivos que se
desconhecem este deixou os patrões e afastou-se para lugar incerto.
Numa noite de Verão
arrombaram a porta da casa para roubarem as libras do Bicho. Quando este
acordou, sobressaltado, já não teve tempo nem meios de defesa e os ladrões
trouxeram-no para a cozinha prendendo-o, em cima de um banco, de pés e mãos.
A mulher estava
entrevada.
Obrigaram-no a dizer
onde tinha as libras ameaçando-o de faca
No dia seguinte, já
perto do meio dia, o tio Santa Marinha, que vivia numa casa relativamente perto
– conhecida hoje pela casa dos cirurgiões de que brevemente se tratará nesta
página – admirou-se por não Ter visto ainda o Bicho pois era costume
encontrá-lo todos os dias pela manhã.
Como a mulher estava entrevada e o homem era já pessoa
de velhas cãs lembrou-se que até estivesse doente. Resolveu ir a casa dele. Ao
aproximar-se ouve gemidos e, entrando na cozinha, com espanto, vê o homenzinho no estado em que o deixaram os
malvados gatunos: preso de pés e mãos, alguidar, sal, cebola e faca à beira.
Claro, o homem estava já sem forças e meio morto.
- O que
foi? Perguntou o Santa Marinha.
- Foi
tudo. Roubaram-me esta noite. Levaram-me uma ceira com libras e andaram-me pela
loja. Era uma quadrilha de ladrões.
Depois de desprender o homem do banco andaram a ver os
delitos cometidos e seguiram os rastos até ao Rio Lima, junto a S. Simão. Os
ladrões tinham passado no rio para o lado de Santa Marta.
Mais tarde vieram a
descobrir que o roubo tinha sido cometido por uma quadrilha de gatunos
espanhóis chefiados pelo antigo criado que tinha emigrado para Espanha e que
para ajudar a malta algumas muares.
Quem conta a história
só fala no tio Bicho e não sabe o nome dele nem da mulher. Era o Bicho
e pronto
Na história apenas
nos aparece mais o nome do Santa Marinha, aliás, ao contrário do que se
deu com o bicho, esta personagem está quase identificada. Era um senhor
que veio de Anha (?) casar com uma mulher dos Matos, da casa dos cirurgiões.
Viveu no século passado, como pude verificar numa escritura de doação, e não
levará muito tempo a dar mais pormenores sobre este homem ao falar da casa dos
cirurgiões.
Todavia, uma ou outra
pessoa diz que o Bicho era um grande ladrão e chefiava uma quadrilha.
É tudo verdade?!
Artur Coutinho
Terrenos que pertenceram à Paróquia de Mazarefes em
1765
Em
Também fazia parte do património
paroquial a «Bouça do Tojo» que dava de centeio 15 alqueires. Esta propriedade
é hoje de José Rodrigues de Araújo Coutinho o qual deu em troca a propriedade
das Boas-Novas, que corre pelo pé da casa que a freguesia comprou para
residência, ficando mais a sul a que deu João Dias Novo. O decreto, a aprovação
e escritura foi junto com a antecedente.
Também era da freguesia uma
propriedade conhecida por «Devesa» e dava de rendimento 40 alqueires de
centeio. Confinava com uma terra da confraria das almas. «Este terreno, excepto
o campo do nascente, é hoje do referido João Dias Novo por emprazamento
perpétuo, sendo ele obrigado a pagar a esta igreja sete mil réis por ano».
Além disso, fazia também parte do
tesouro paroquial uma terra chamada «Campo» que rendia anualmente cerca de 10
alqueires de centeio e a vinha de nome «muro» que rendia 6 alqueires de
centeio.
Algumas terras como se deduz do
tombo da freguesia localizavam na Veiga, Uma nota quase ilegível nos livros
paroquiais diz: «Estas terras já existiam como sendo da freguesia no tempo do
P.e João de Barros (1644-1688).
Outras propriedades teriam existido,
mas não encontrei qualquer referência mais a este respeito.
A maior parte destas propriedades já
não existem com património paroquial.
É sugestivo o nome que se dá de
«passal» a certas terras juntas à Veiga de S. Simão e que, de facto, não
pertencem agora ao património da freguesia, mas a pessoas particulares.
Alguns destes apontamentos foram
encontrados à margem, em livros velhos do
P.e Matos.
Histórias antigas
Vai
longe o tempo em que a família se juntava, normalmente, ao domingo de tarde em
casa, em convívio, como que se catando uns aos outros, carpindo mágoas,
exaltando êxitos ou confessando alguns fracassos, enfim, falando das coisas da
vida. Criavam-se momentos oportunos para o desabafo, para uma comunhão cada vez
maior entre irmãos, entre pais e filhos e primos.
Isto
para não falar dos longos serões à lareira que reuniam a gente da casa ou
juntavam ainda algum vizinho ou vizinhos. Para passar o tempo, exclusivamente,
ou para servir de fundo a um trabalho artesanal lá vinham as histórias, os
contos, as anedotas, as cantigas, as cantilenas, as lengalengas, a música e a
dança... Muitas destas coisas eram criações da hora a par de outras tantas que
andavam de boca em boca.
Algumas dessa histórias
registaram-se no Centro. Aquilo que se ouviu, aqui vai como uma pitada para
aguçar o apetite...
Meus
senhores,
Eu
tinha uma galinha, já me davam pela galinha a tapada da meirinha e já me davam
pelo papo uma onça de tabaco, já me davam pelas penas trinta barras de renda,
já me davam pelas pernas umas meias amarelas e já me davam pelo cu, cucu mama-o
tu.
Meus
senhores,
Eu
tinha um gatinho que conservava com amor. Todos os dias, esse gatinho me trazia
seu ratinho, mas houve um certo vizinho que me matou o gatinho. Quando eu vou à
janela chamar por ele e quando não o ouço miar, logo me desconsolo: que há-de
ser de mim que estou cercada de ratos que me sobem pelos cabides e me roem os
novos fatos...
Um
dia, fui pé ante pé, fui dar com uma data de ratazanas sentadas à chaminé.
Os
ratos são o diabo
Fazem
barulho a quem dorme
Quem
acode à ratazana
Que
dá cabo do meu homem?
Deolinda
Amorim (03.02.1997)
Havia um homem que tinha uma figueira que
dava figos muito bons e uns senhores amigos disseram-lhe: Você tem uns figos
tão bons... não tem medo que os roubem?
Não,
que eu costumo vir ter conta de noite. Mais tarde, os amigos resolveram
vestir-se de branco e foram para cima da figueira e começaram a cantar assim:
“Quando nós éramos vivos, comíamos destes figos. Agora que somos mortos vamos
aos dos pés tortos.” O homem apanhou um susto para a vida... Ele assustado a
fugir para casa até cheirava mal e dizia a mulher: “Ó homem mete-te aqui”...
debaixo da roupa vinha todo borrado...
Havia
um sogro que esperava todos os dias pelo genro quando este chegava do trabalho.
Acontece que, sempre que o genro chegava, ele dizia a mesma coisa: “Graças a
Deus para sempre assim como eu estou, esteja toda a minha gente.”
Um
dia, atrás de outro dia e sempre a mesma coisa... Até que num outro dia, o
genro que tanto se foi enchendo do que todos os dias ouvia, decidiu desafiar o
sogro que já tinha comido e ele não. Passou então a responder-lhe: “ Se você já
tem comido, eu ainda não comi...”
O
sogro tinha entretanto no borralho um bolo de lar para mais comer...Mas o genro
começava a gozá-lo batendo o pé...
Havia um casal em que a mulher era coxa e ficava em
casa e o homem ia sempre para o trabalho. Um dia, meteram na cabeça ao homem
que a mulher se portava mal com um determinado fulano que era padre.
Quando este chegou
a casa, ralhou-lhe e ela, como era coxa, disse-lhe: “Se lá me levasses, eu
arrasava-o” E ele levou-a... Chegou lá e disse ela:
“Manga larga do meu
linho
Beiça
untada do meu toucinho
Chamaste
ao meu homem Zé da Gouveia,
Melhor lhe chamasses o maior corno
desta aldeia.”
“Basta mulher que tu já o arrasaste.”, disse
o marido.
E, ao
regressar, disse ela para o marido: “Se te abaixasses e apanhasses aquelas
lousas...” e ele abaixou-se e ela, segurando nas lousas e a fazer festa, disse:
“Rindo,
cantando
Se
contam as coisas
Corno
me levas
A
mais as loisas!”
Deolinda Amorim
Nome: Deolinda Rodrigues de Araújo Amorim
IIade: 79 anos
Deolinda nasceu em Mazarefes, no Lugar
do Monte, a 20 de Julho de 1920, filha de José Amorim e de Antónia Araújo,
lavradores de profissão. Para além disso, a sua mãe era tecedeira nas horas
vagas e o seu pai negociante de gado.
“Gostei de tecer e de fazer crochet,
mas já há mais de quarenta anos que me deixei disso. A minha vida foi passada
mais no campo e na feira. No mercado vendi muitos milhares de molhadas de
grelos a 1.00.
Muita gente da cidade conhece-me da
praça, onde tinha sempre clientes certos à terça e à sexta-feira.
Quando era nova vivi a minha juventude
à moda da época e o mais que pude. Não me faltavam namorados! Sempre soube
tirar o melhor partido e, como o meu falecido, não arranjava outro.
Até de longe vinham às desfolhadas na
nossa casa, pois os meus pais eram pessoas de muitos “teres”.
Ai como nós cantávamos no sacho do
milho, nas desfolhadas, nas vindimas...
O meu pai tinha muitas terras
Minha caixinha de prata
forrada de pa..., forrada de pa...
forrada de papelão.
Eu dei-a a cheirar, cheirar,
cheirai-me no co...,
cheirai-me no co..., cheirai-me no coração.”
Nome: Deolinda Fernandes Dias Barbosa
Idade: 77 anos
Deolinda Barbosa é natural de
Mazarefes. Eram sete irmãos e o pai morreu quando tinha apenas sete anos, por
isso mesmo só andou dois anos a estudar pois tinha de ajudar no trabalho do
campo. Apesar disso, mais tarde, quando os irmãos estavam na guerra (Ultramar)
começou a escrever-lhes e com muita força de vontade lá conseguia fazê-lo. No
entanto, demorava muito tempo a redigir um aerograma (tipo de carta autorizada
no tempo da guerra colonial que não necessitava selo). Para além de tudo isto,
ainda foi vendedora de leite para “arranjar uns tostões” tendo que fazer as
contas...mas sempre deu conta do recado! Como ela própria afirma.
“A minha mãe andava a vender pelas
feiras para nos poder sustentar e, na nossa casa, não faltava que comer.
No tempo da guerra, havia falta de
muitas coisas, mas nós tínhamos lavoura, tínhamos tudo, desde o feijão às
hortaliças e à carne de porco. Na nossa casa, cozia-se o pão todas as semanas.
Um dia, o presidente da Junta de Freguesia
veio pedir à minha mãe para ela repartir alguma coisa com aqueles que quase não
tinham nada para comer. A minha mãe disse-lhe que não podia assumir esse
compromisso, não ia dar o sustento da minha família. Nós éramos muitos lá em
casa, sendo, com uma tia e os filhos que também lá moravam, treze pessoas à
mesa.
Mas a minha mãe sempre que podia fazia
bem aos pobres. Recordo-me de um dia ao chegar da feira de Ponte de Lima,
mandou-nos a mim e a uma minha irmã encher umas sacas com várias coisas e levar
a uma pobre que tinha sido apanhada pelos fiscais na camioneta quando
regressava da feira e tinha ficado sem nada. E como foi dessa vez aconteceram
muitas mais.
Nesse tempo, o tempo da guerra, quem
plantava e semeava tinha que comer ou então tinha que ter muito dinheiro para
poder comprar.
Ainda me lembro de parte da “lição do
cuco” do livro da Segunda Classe. Lembro-me melhor das coisas que se passaram
há muito tempo do que das coisas que se passam agora:
‘-Ó cuco em que mês estamos?
- Estamos em Abril, meu menino.
-Ó cuco preguiçoso, que fazes tu a não
chocar os teus ovos?
O cuco envergonhado continuou a cantar,
cuco, cuco...’
Quando era nova não tínhamos tempo para
namorar pois trabalhávamos muito. Até ao Domingo se trabalhava! Mesmo assim
“falei” para muitos rapazes e como se costuma dizer...Quem muito escolhe, pouco
acerta. Depois de casada, o meu marido foi para África e lá apanhou o maldito
vício do vinho (O vinho e a aguardente não tinham espinhas!). Morreu muito
cedo, com apenas 56 anos de idade. Agora vivo com a minha filha, o meu genro e
duas netas. Como a minha filha vai trabalhar para a fábrica da madeira e o meu
genro para os Estaleiros, propuseram-me que viesse para aqui (Centro de Dia)
para não estar sozinha durante o dia. E já venho para cá há três anos e gosto
muito de cá estar. ”
Lengalengas
Como as histórias, as lengalengas faziam parte
desses passatempos dos nossos antepassados. Estes não usavam apenas cantilenas
para os tempos lúdicos. Às vezes, faziam também verdadeiras narrativas monótonas
e enfadonhas que, de tão grandes, faziam adormecer. Conheci algumas dessas
grandes narrativas, mas aqui no centro não as ouvi. Uma ou outra cantilena foi
registada que encerra uma máxima como os adágios ou algo que ninguém percebe e
também já não é para perceber, pois ou é um enigma ou uma verdade "la
palisse".
O
machado racha o pau
O
machado racha o nó
Sou
filho da minha mãe
E
neto da minha avó.
Quando
Deus queria
Do
Norte ventava
E
do Sul chovia.
Uma
meia feita
Outra
meia por fazer
Quantas
meias vêm a ser?
Com
licença...
Canta
o pisco
Seu
papinho quer encher,
Onde
anda galo de fama
Que
vem o pitinho fazer?
Era,
era, não era
Andava
a lavrar,
O
arado às costas
E
os bois a pastar.
O
canário canta na gaiola,
Canta
tão bem
Que
até consola.
Quem
cria dá leite,
Quem
mama que se ajeite.
Que
contas? Linhas quebradas, tudo são pontas...
Assim
se amassa
Assim
se peneira
Assim
se dá a volta
Ao
pão da maceira.
Mas,
Quem
manda?
Quem
manda é Miranda.
Quem
governa é o Perna
O
Perna morreu
Quem
manda sou eu!
Como
é que vai?
Como
é que vai?!...
Da
forma do costume
Com
os joelhos queimados
De
assar batatas ao lume.
Numa
casa onde havia muitos filhos...
Minha
mãe faz um bolo de la(r)
Toma
tu, toma lá
Minha
mãe fica a apita(r).
Uma
meia feita
Outra
meia por fazer
Quantas
meias vêm a ser?
Boca
grande
Um
só dente
E
chama por muita gente.
O
que é?
Queres
mais?
Vai
buscar ao cais.
A
roca da fiandeira
Fia.
Fia, fia bem
Sentada
ao lume à lareira
Fia,
fia, fia, bem.
Ó
que linda maçaroca
Do
linho da minha roca
Fia,
fia, fia bem
Fia,
fia, fia bem
Deolinda Amorim
TROVOADA
Quando troveja, além de acenderem
uma vela de cera em frente de um crucifixo ou oratório, costumavam rezar a
seguinte oração:
Santa Bárbara Virge
se vestiu e calçou
Para
o céu abrandar a trovoada.
O Senhor lhe perguntou:
- Bárbara onde vais?
Senhor, ao céu vou
Abrandar a trovoada
Que em cima de nós está
armada.
E o Senhor lhe
respondeu:
- Vai, Bárbara.
Leva-a para o monte
maninho
Onde não haja pão nem
vinho
Nem bafinhos de menino
Nem coisas de
cristandade.
PORCO
Quando se compra um porco, este, ao
entrar pela primeira vez no portal do quinteiro, tem de o fazer ao recuo. De
contrário, fica tolhido e não cresce.
FOLARES
Os padrinhos costumavam (ainda há
pouco tempo) dar aos afilhados pela Páscoa um ou dois «petins» conforme a idade
deles.
Quando atingiam os dez anos, então o
folar passava a ser dado em prendas de maior valor ou mesmo em dinheiro.
PÃO
Depois
do pão enfornado e ao tapar a porta do forno, diz-se: «Deus te acrescente
dentro do forno e cá fora, para te distribuir pelos pobres.»
SAUDAÇÃO
A caminho da igreja, seja de noite
ou de dia, ao passar uns pelos outros, dizem:
- Ora
vamos lá!
E respondem:
- Vamos
lá, vamos...
SANGUE
Quando a alguém se solta o sangue
pelo nariz, é costume fazer, qualquer outra pessoa, uma cruz pequenina (por
exemplo com dois pauzinhos) e colocá-la na testa do padecente, inclinando este
a cabeça para traz. A epistaxis pára.
OBRADAS
No primeiro Domingo, depois do
funeral, é costume «obradar-se».
Vão obradar todos os amigos
do falecido e oferecem um escudo. Antigamente a oferta da obrada era de um
tostão ($10) e daí para cima o que cada um entendesse.
FUNERAL
Quando os amigos vão apresentar
pêsames à família dorida, ao entrarem na sala onde o defunto está depositado,
esteja muita ou pouca gente, dizem sempre:
- Louvado
seja N. S. Jesus Cristo!
E todos respondem com
a fórmula usual.
CEMITÉRIO
Ao Domingo, o cemitério apresenta-se
muito asseado com novas flores em todas as sepulturas e todas elas muito bem
alinhadas. Este trabalho é executado nos Sábados, de tarde.
Aos Domingos, antes e depois da
missa quase toda a gente, principalmente as mulheres passam pelo cemitério para
rezar ao pé desta ou daquela sepultura, onde repousam familiares ou amigos.
Ao cemitério chamam «Campo Santo».
4 de Março de 1968
PROCISSÃO DOS
DEFUNTOS
Qual a atitude que se
deve tomar quando se topa com a temível «procissão de defuntos»?
Em MAZAREFES havia um
homem que se deitava imediatamente de barriga no chão, apertando a areia ou a
terra com as mãos e enchendo a boca com ervas, terra ou areia...
Este homem via a
procissão, dentro de uma urna, aquela pessoa que estava próxima a morrer...
3 de Outubro de 1968
GALINHAS
A dona de casa costuma deixar no
ninho onde as galinhas põem os ovos um ovo.
A esse ovo costumam dar muitos
nomes.
Eis alguns: inês, indês, endês,
endes, aninhadouro, ninhadouro, chamadouro e chôco.
29 de Setembro de
1969
ORAÇÃO PARA DEPOIS DA
SEMENTEIRA
Deus te ponha a Sua santa virtude,
Que eu cá de mim fiz o que pude.
COISA MÁ
Quando de repente, se vê a coisa
má, deve-se fechar as mãos e dizer:
Credo em cruz,
Santo nome de Jesus,
Eu cá bou... eu cá
bou...
FORNO NOVO
A primeira cozedura de um forno tem privilégios
especiais, um deles é livrar de maleitas a quem comer desse pão.
VIUVEZ
Ainda por 1920 era geral o costume
de as viúvas não saírem de casa ao Domingo, para ir à missa, sem deitarem uma
saia pela cabeça.
Os viúvos deixavam crescer
excessivamente a barba.
Essa costumeira hoje está quase
banida; dela resta apenas o costume de os viúvos andarem com a barba sem fazer
durante os primeiros quinze dias.
CRIANÇAS
A luz da lamparina que assistiu ao
nascimento de uma criança só se apaga depois do respectivo baptizado.
ORAÇÕES
MARTÍRIOS DO SENHOR
(Estes versos eram cantados e,
ainda, hoje algumas pessoas de idade os dizem em casa).
Ó meu Senhor do Cruzeiro
Vossa Cruz é de oliveira
Foi o mais bonito ramo
Que apareceu entre a rozeira.
Que o vosso é
Meu Jesus de Nazaré
Eu protesto de morrer
Pela nossa santa fé.
Vosso Santíssimo cabelo
Mais fino que o mesmo ouro,
Minh’alminha, entrai por ele
No vosso santo tesouro.
Vossa Santíssima cabeça
Besbotar uma coroa de espinhos
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tantos martírios.
Vossa Santíssima testa
Cheia de mil suores
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tantas dores.
Vossos Santíssimos olhos
Inclinados pelo chão
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tanta paixão.
Vosso Santíssimo rosto
Cheio de escarros enojentos
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tantos tormentos.
Vossa Santíssima boca
Vos deram fel amargoso
Por via dos meus pecados
Senhor Deus todo poderoso.
Vossos Santíssimos lábios
Mais roxos do que os mesmos lírios
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tantos martírios.
Vosso Santíssimo pescoço
Vos ataram uma corda
Por via dos meus pecados
Senhor Deus, misericórdia.
Vossos Santíssimos ombros
Besbotaram o madeiro
Por via dos meus pecados
Jesus Cristo verdadeiro.
Vossos Santíssimos braços
Vos abriram numa cruz
Por via dos meus pecados
Ó meu amado Jesus.
Vosso Santíssimo peito
Vos abriram com uma lança
Minh’alminha entrai por Ele
Senhor dai-lhe a confiança.
Vossa Santíssima cinta
Vos ataram uma toalha
Na hora da minha morte
Ela me sirva de mortalha.
Vossos Santíssimos joelhos
Arrastinhos pelo chão
Por via dos meus pecados
Sofreu Deus tanto paixão.
Vossos Santíssimos pés
Mais frios que a neve pura
Eles vão vertendo sangue
Pela rua d’amargura.
Estas quinze partições
Meu Senhor vo-las entrego
Na hora da minha morte
Me tenhais o Céu aberto.
Quem as sabe não as diz (1)
Quem as ouve não as aprende
Lá no dia do juízo
Verão como se arrependem.
(1) Vid.
Serão nº 57, pág.
NO DIA DA SENHORA DA
CONCEIÇÃO
Depois da seguinte oração conta-se o
terço 3 vezes, dizendo: Senhora da Conceição.
Senhora da Conceição
Vós dissestes
Quem no Vosso Santíssimo
Dia
Disser 150 vezes Senhora
da Conceição
Que librarias da morte
Repentina e sem
confissão
(1).
(1) Vid. «Superstição» in Serão nº
68, pág.2. Esta está implicitamente incluída na espécie «NUMEROS».
AO DEITAR
Nesta cama me deito
Com esta roupa me cubro
Se a morte me perseguir
Anjinhos do Céu me acudam.
Ou:
Nesta cama me deitei
7 anjinhos nela achei
3 para os pés, 4 para a cabeceira
E Jesus Cristo na dianteira.
AO LEVANTAR
Ó Anjo da Guarda
Ó Santo do meu nome,
Santo ou Santa deste dia
Interceda a Deus Nosso Senhor
Por mim e me guarde de todos os
males
E perigos que me possam acontecer
nesta vida.
Ou:
Ó Anjo da minha guarda
Semelhança do Senhor
Que do Céu vieste mandado
Para ser o meu guardador.
Peço-vos Anjo Bendito
Pelo vosso divino poder
Que dos laços do demónio
Me ajudeis a defender
AO ENTRAR NA IGREJA
Aqui me ajoelho, meu Jesus
Tão triste e afligida
Vós como divino Pastor
E eu como ovelha perdida
Aqui vos venho pedir
Salvação
E remédio para a minha vida.
Obrigado meu Jesus pelos benefícios
Que me tendes feito
Durante a minha vida
E me tendes de fazer
Até à minha morte.
P. N. Avé Maria, Estação e Terço.
7 de Setembro de 1970
ORAÇÃO PARA AS
TROVOADAS
São Jerónimo
Santa Bárbara Virge!
Santos Deus,
Santos fortes,
Santos imortais,
Miserere nobis!...
ORAÇÃO PARA ANTES DA
COMUNHÃO
Salvé Rainha,
Rosa divina,
Cravo de amor,
Mãe do Senhor,
Daí-me juízo
E entendimento
P’ra receber o Santíssimo
Sacramento.
ORAÇÃO PARA DEPOIS DA
COMUNHÃO
Senhor:
Pela minha boca entraste.
Dela fizeste porta,
Da minha língua altar,
Do meu coração assento.
Bendito e louvado seja
O Santíssimo Sacramento.
ORAÇÃO PARA O DEITAR
Ó meu Senhor Jesus Cristo,
Amor do meu coração,
Aos vossos divinos pés
Faço a minha confissão.
Perdoai-me os pecados,
Sabeis quantos eles são.
Dai-me neste mundo paz,
E no outro salvação.
Pelas vossas cinco chagas,
Dai-me a vossa salvação!
REMÉDIO AO CAIR UM
DENTE (infantil)
Dente fora,
C... na cova.
Torne a vir outro,
P’rá casinha nova.
REMÉDIO PARA OS
SOLUÇOS
Primeiramente, deve-se estar uns momentos
sem respirar. Depois, bebe-se sete golinhos de água. E os soluços
desaparecem...
TESOUROS ENTERRADOS
Diziam os antigos que junto da
ermida de S. Simão da Junqueira (MAZAREFES) havia um grande tesouro enterrado.
E afirmavam isto apoiando-se numas luzinhas que viam nascer nas imediações do
local.