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Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

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sexta-feira, 15 de março de 2024

APONTAMENTOS DE MAZAREFES

 

A casa dos Brasileiros

 

Naturalmente poderíamos ir muito longe, nos anos, a propósito dos de Mazarefes que emigraram para o Brasil. Em 1693, faleceu Domingos Rodrigues no Brasil, em 1701, faleceu também, no Brasil, João Rodrigues Junqueiro. Pelo menos, vinte e cinco Mazarefenses morreram, no Brasil, no século XVIII. Os de Mazarefes emigraram muito para o Brasil, só em 40 anos, de 1861 a 1900, foram 110 os que saíram, ou pediram passaportes para emigrarem para a terra das patacas.

Uma filha da casa de Gavindos, a Isabel Rodrigues, casou com Gonçalo Rodrigues do Souto, em 1661, que, entre vários filhos, tiveram um chamado Matias. Este, por sua vez casou com Andreza Rodrigues da casa dos brasileiros. Este casal teve muitos filhos: Manuel (1706), Matias (1712), Maria (1708), António (1710), Jerónimo (1711), Francisco (1715), Teresa (1721), Joana (1727). O Matias faleceu em 1744, enquanto a Andreza em 1770. A Teresa casou em 1759 com António Alves Ribeiro.

A filha, a  Maria, casou com João Francisco da Rocha, em 1724,  de Alvarães, e faleceu a 1755.

Estamos em meados do século XVIII.

Este casal teve 4 filhos: a Maria Rodrigues da Rocha, o Manuel, o António, e a Joana. A Maria R. da Rocha casou, em 1759, com o António Francisco dos Reis, os quais tiveram 6 filhos: Manuel Francisco dos Reis, a Maria, nascida a 1764 e casada em 1781 com António de Araújo, a Joana, nascida a 1769, a Teresa, nascida a 1772, a Rosa, nascida  a 1774 e casada com Manuel Francisco de Carvalho, em 1794, o António e a Luísa, nascida a 1783 e casada com João de Freitas, de Darque, em 1803, e moradores na Broeira.

O António Francisco dos Reis faleceu em 1816. Deixou bens de alma pela mulher, Maria Rodrigues, falecida dois anos antes, em 1814, pela sogra, Maria Rodrigues, pela cunhada Joana, entre outros. O terço dos bens ficou para o Manuel que vivia na casa com uma demente.

O Manuel Francisco da Rocha, irmão da mãe, deixou aos sobrinhos todos os seus bens à excepção do José, ausente na Galiza, por ser rebelde, à mulher de José Afonso Forte 50.000 reis de esmola; à Maria Miranda, mulher de João Ribeiro Gomes, 30.000 reis; à criada Maria Gomes 70.000 reis e uma leira da “Virinha”, no lugar de Ferrais, com a obrigação de dar 1.200 réis à Senhora do Terço da Capela do Espírito Santo, em Barcelos. À criada Senhorinha Rodrigues, à conta da soldada, 130.000 réis.

O Manuel Francisco dos Reis, o primogénito deste matrimónio, casou com Maria Rodrigues dos Reis, filha de João Gonçalves Rato e Maria Rodrigues dos Reis, prima, filha de uma irmã do pai. Este Manuel esteve no Brasil e, aí, arranjou algum dinheiro para abrir novos horizontes à sua vida, e fazer algumas compras de terrenos.

Deste matrimónio houve 7 filhos, a saber: Manuel (1819), Jerónimo (1826) que foi padre e morreu novo, o António (1824) que casou a 1º vez com Maria Fernandes. Do 1º casamento foi pai de Teresa e Maria...  depois de ter enviuvado, casou com Maria Parente da Costa Lima, de Vila Fria, de quem teve 2 filhos, (o José e a Albina), a Maria (1814) que casou para Vila de Punhe com o José F. Silva Quintas, o João (1814) que casou para Viana com Maria das Dores Araújo, a Rosa (1821) que casou com Manuel Francisco de Carvalho e outra Rosa (1816) que tinha falecido criança.

Manuel Francisco dos Reis herdou da sua mãe, Maria Rodrigues, o lugar e casas, torres, terras, lagar, espigueiro do lado norte partindo da Nascente e Sul com outro lugar deste casal, no valor de 340.520 reis, uma Cortinha lavradia e vinha do lado Sul da vivenda a partir com um bico que se separou para o co-herdeiro António, uma leira de lavradio dentro da Quinta dos herdeiros, metade dum Campo lavradio com água de rega e um moinho, chamado Muro do Regueiro, que parte do nascente, com a co-herdeira Maria, uma terra de lavradio no sítio do Vermoim, chamada Carreira e uma leira de lavradio no sítio da Morada, tudo no valor de 892.420 reis.  

À morte deixou os filhos: João, de 29 anos, casado em Viana; a Maria, de 28 anos, casada em Vila de Punhe; o Manuel com 24 anos, o António com 19 e o Jerónimo com 17 anos. Ficou tutor do menor, o João. Deixou em role duas propriedades nas Borras, uma na Ponta da Veiga, duas nos Boldrões, uma no Chouso, uma no Vermoim e uma no Calvete. Contraiu alguns empréstimos que totalizaram 72.123 reis.

O valor do seu formal no testamento foi de 370.617 réis, à sua parte.

Trouxe uma grande questão com o vizinho Manuel Rodrigues Carvalho, (seu cunhado) que tinha uma oliveira, sua propriedade, e sobre a Cortinha pelo que houve uma conciliação e recebeu de idemnização 6.600 reis, em 1838.

Hipotecou algumas propriedades para poder ter crédito em alguns empréstimos, como a Bouça de Lamas e o Pereiro.

Foram credores Belchior Almeida, Simão Barbosa de Almeida e Manuel Francisco da Rocha. À sua morte eram devedores à família o António Rodrigues Vaz, Manuel Pereira Viana, Teresa Pereira e Manuel Rodrigues Barbosa.

A viúva, Maria Rodrigues, faleceu a 1863 deixando 4 filhos. O Manuel estava casado com Rosa Ribeiro da Silva, em sua companhia, a quem fazia o terço. O Pe. Jerónimo, seu filho já tinha morrido. O filho Manuel tinha um filho no Seminário, o Jerónimo, e deixou-lhe mais bens destinados para constituição do património do neto ao receber ordens sacras. À criada, chamada Ana, que era filha de José Rodrigues Barbosa, deixou uma cama aparelhada e, por não saber ler, nem escrever, assinou a rogo dela o senhor Domingos Rodrigues Vaz, em 20/10/1873.

O Manuel casou com a Rosa Ribeiro da Silva, filha de Manuel Fernandes (dos Carrapatos) e Maria Ribeiro da Silva, da qual teve 7 filhos: João, nascido em 1852 e falecido em 1876; o Jerónimo, nascido em 1856, casado para Vila Franca com Teresa Ribeiro da Silva e falecido a 1940. Andou no Seminário e a avó paterna deixou em testamento um campo para o património, se ele fosse padre. Ficou órfão de pai aos 17 anos e foi o irmão João, casado em Viana, o seu tutor; o Manuel Júnior, nascido a 1856, casado com Rosa Pitta Bezerra,  de Darque de quem teve o José Pitta Reis que, por sua vez, casou com Rosa Sá Freitas Lima de quem teve os seguintes filhos: Maria, António, Maria Luísa, Rosa, José, Manuel e o Augusto; o José (1861), a Maria (1850), o Miguel (1853) e a Ana, nascida em 1866, casou com António Rodrigues de Araújo Coutinho, da Casa dos Cordoeiros, das Boas Novas.  A Ana e o António tiveram 7 filhos: o António (1903), o José (1898), o Alexandre (1905), a Maria (1891), a Ana (1907), a Rosa (1897) e a Laura (1909).

O apelido “brasileiro” dado à Casa dos Brasileiros começou com o irmão de Maria Rodrigues da Rocha, Manuel Francisco da Rocha que morreu solteiro e esteve no Brasil a fazer fortuna.

Consta que de lá trouxe um preto escravo chegando até aos nossos dias alguns instrumentos utilizados nessa altura pelo escravo... O Manuel Francisco dos Reis terá ido também ao Brasil, mas morreu novo, em 1842, pelo que o filho que ficou nesta casa Manuel Francisco dos Reis seguiu as pisadas do tio e do pai indo ele também à terra das patacas.  Recebeu diplomas humanitários que ainda possuímos, o que mostra ter sido pessoa que por lá esteve tempo razoável  para mostrar o que valia e criar relações sociais capazes de arrancar a admiração da população do Rio de Janeiro. Sabemos que teve passaporte para se ausentar para o Brasil passado aos 16 anos e aos 25 anos, pelo menos.

Estamos em pleno século XIX.

O Manuel fez inúmeras compras, mais de 200 mil reis com dinheiro ganho no Brasil. Parece que a sua ideia era comprar Mazarefes inteira e, do formal de partilhas em 1898, constava o seguinte:

VIÚVA:1.Casas, altas e baixas, espigueiro, eira, poço, terra lavradia, árvores de fruto, vinha; 2.Cortinha; 3. Muro; 4.Moínho; 5.Mial; 6. Cabreiras de Sabariz; 7.Estacada da Ponta do Veiga; 8.Estacada na Veiga de S.Simão; 9. Leira na Cachada de Cima; 10. No Prado; 11.Estacada de rosso no Veiga; 12. Leira de Mato e Pinheiros em Stº Amaro; 13.Leira lavradia no Mial pequeno; 14. Outra Leira de Mato e Pinheiros em Stº Amaro; 15. Leira de Junco na Veiga de S.Simão; JERÓNIMO: 16.Bouça de mato e pinheiros na Espinhosa; 17. Leira de Mato e Pinheiros no Fontão; 18. Um campo de terra lavradia; 19. O campo do Estivada; 20.Terra lavradia na Morada de Cima; 21.outra na morada de Baixo; 22. Campo da Quinta de Melo; 23. Leira de Mato e Pinheiros nos Raindos de Baixo; 24. Leira de Paúl e Madeira no sítio da Bordonesa ; 25. Leira de lavradio e Mato na Areia Cega da outra banda da freguesia de Mazarefes; MANUEL:26. Leira no Termo; 27. Leira no Vermoim do Matias; 28. Terreno lavradio e vinha no Vermoim da Carreira; 29. Lugar de Casas dos Vermoins; 30. Casas altas e baixas, poço, árvores de fruto e vinha, terra lavradia; 31. Bouça de Mato e Pinheiros no sítio dos Borras; 32. Leira de mato e Pinheiros no sítio das Corgas; 33. Leira de Mato e Pinheiros no sítio da Sarrubada; JOSÉ: 34. Leira de Mato e Pinheiros na Bouça da (Curta?); 35. Leira  de Mato e Pinheiros em Stº Amaro; 36. Outra de Mato e Pinheiros em Stº Amaro, Bouça da Quinta do Borralho; 37. Leira de lavradia e vinha na Saloa; 38. O Campo do Vermoim da Velha; 39. Leira de Mato, Pinheiros e Carvalhos no sítio do Pelote; 40.Leira de lavradio e algumas videiras no Safrão; 41. Terra de lavradio e vinha na Cachada de Baixo; 42. Estacada Pequena na Ponta do Veiga; 43. Campo de lavradio e vinha no sítio da Foutela; MIGUEL:44. Moinho; 45. Bouça de Mato e Pinheiros na Cabreiras de Baixo; 46. Terra de lavradio no sítio da Junqueirinha; 47. Leira de Paul e Madeira na Junqueirinha; 48. Terra de lavradio e madeira nos Bordones; ANA:49. Bouça de Mato e Pinheiros  na Bouça da Terra; 50. Outra Bouça de Mato e Pinheiros na Bouça de Curta; 51. Bouça de Mato e Pinheiros no Monte de Stº Amaro; 52.Leira de Terra lavradia e vinha nos Chousos; 53. Leira lavradia e vinhas nos Raindos; 54. Leira de Mato e Pinheiros no sítio da Couchada do Meio; 55.Leira de terra e lavradia no Mial de Baixo; 56.  Paul, Madeira e Carvalhos nos Bordones; 57. Estacada de lavradio e madeira denominada Polaina na Ponta da Veiga; 58. Estacada de Junco no Roncal.

Era um total de 3.095.285 reis que repartido por 5 filhos, pois os outros já tinham morrido, foi de 619.057 reis.

À morte do Manuel, o filho Miguel, homem alto, forte, nariz comprido sobre um bigode farfalhudo em rosto redondo e avermelhado, não moreno, estava solteiro e ficou na Casa . Veio a casar aos 52 anos com Maria Pereira da Cunha, mas por pouco tempo, pois a mulher deitou-se a afogar no poço da água do consumo da casa. Um dos motivos de afogamento foi, e não o menos importante, o facto de ter sofrimentos no cérebro. Ela era sobrinha dum Padre ( O Padre Calisto), que morreu canceroso da cabeça e três sobrinhos também tinham morrido da mesma doença.Ela, ao que parece, também estava a sofrer do mesmo, com fortes dores...pelo que resolveu acabar com a vida... O Miguel enviuvou e queria agora, não uma mulher, mas um sobrinho em casa. Aí esteve um filho de Manuel Júnior, o José Pitta Reis, de quem era tutor, pois era órfão, ainda solteiro a quem concerteza tudo prometeu para casar com a sobrinha Maria, filha da irmã Ana, casada para a Casa do Cordoeiro. Isso não aconteceu porque o José não aceitava esse casamento e chegou ao ponto de, também ele, sair zangado da casa do tio e ir até ao Brasil para casar depois com Rosa Freitas Lima, de Darque. Entretanto, o “José do Cordoeiro” e o seu irmão António estavam apostados em fazer casar o João do Cordoeiro com a referida Maria...mas as opiniões divergiam-se. 

O Miguel, não conformado com a sua solidão, e talvez a querer outra coisa, novos namoros fez à sobrinha para casar com o António, sobrinho também da irmã Ana e mãe da Maria, filho do Alexandre, eram primos, e conseguir que viessem para o pé dele. Assim foi. O António, filho do Alexandre intervém, deita a mão à Maria e casa com ela. O casamento realizou-se, mas o Miguel morreu em 1922, um ano depois de ter nascido o primeiro bissobrinho, filho dos sobrinhos herdeiros, o Manuel, que casou em 1946 com Deolinda Rodrigues de Araújo Amorim, filha mais nova de José Rodrigues de Araújo Amorim e Antónia Rodrigues de Araújo, da Casa do Zé do Monte, Lugar do Monte.

Na casa dos Brasileiros nasci eu em 7 de Janeiro de 1947. Pelo que a minha mãe conta, não lhe ofereci uma vida muito fácil.

A gestação foi complicada e...assistência, nessa altura, também não era fácil. Sobretudo, na altura do parto, a situação complicou-se ainda mais, mas com a ajuda da parteira da terra, a D. Inácia do Franco, vim a este mundo numa Terça-feira, em dia de lua nova, pelas 17h30. Fui bem acolhido. Gostava de ter presente na memória todos os carinhos que aí recebi, mas pelo que também a mãe me diz, eu era chorão.

Chorava porque era nervoso ou chorava porque queria mais carinhos do que aqueles que me davam? Seria eu tão exigente?

É pena que ao nascer não tenhamos logo a percepção completa das coisas, porque sentiria hoje outra afeição pela falecida Maria que me viu nascer e que a vi morrer em 1996 e o meu pai, nem imagino, ao sentir-se, pela primeira vez, um homem criador e continuado no mundo. Que teria dito ele à mãe? Ambos enlevados e a rebentar de alegria, à beira duma explosão de alegria afirmando a todos que eram mais poderosos...

E os avós? O primeiro neto...Estatutos que permaneceram: o Nel do Lexandre e a Linda do Zé do Monte são pais, o Tone Lexandre e a Maria Grijeta, o Zé do Monte e a Tónia Catrina são avós.

Chega o dia 12 de Janeiro, levaram-me à Pia Baptismal...fui mouro, vim cristão e os responsáveis foram o Artur e a Maria, o cunhado dos pais e a irmã da mãe. Era assim. Lá foi a madrinha com o Artur mouro e lá trouxeram o Artur cristão, depois do Pe. António Quesado, Pároco de Vila Franca, ter feito as honras da Igreja Católica, à porta da igreja e depois, na Pia Baptismal de Mazarefes, ter declarado: Artur, eu te baptizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Os paninhos que me embrulharam ainda existem. Serão?...

Regresso a casa levado pelos padrinhos como cristão.

De brasileiro só tinha do meu trisavô paterno-materno, era o Manuel Francisco dos Reis, pai de Ana do Cordoeiro, avô da minha avó paterna Maria Ribeiro da Silva Coutinho e bisavô de meu pai e trisavô meu e de meus irmãos.

Um dia nesta casa onde vivi alguns meses depois de ter nascido e depois de ter ido para o Seminário, aí pelos 13 anos, descobri todos os documentos que tenho entre mãos. A cabeça de S. Bruno em pau preto, naturalmente, vindo do Brasil, assim como algumas moedas de prata antigas da monarquia, o Cónego Luciano Afonso dos Santos, Reitor do Seminário de Santiago, Director-Fundador do Museu Pio XII ficou com as referidas peças para enriquecimento do património museológico. Encontrei ainda um livro manuscrito cheio de poesias ricas em sátira,  humorismo e temas  religiosos não faltavam.

Esse livro mostrei-o ao meu professor de filosofia, Dr. Raúl Teixeira, e ficou-me com ele até nunca mais o ver. Dele transcrevo estas que ainda possuo. Tinha outras, mas não sei delas...

 

 

 

 

Versos de improviso a um sujeito que estava com a boca aberta

 

     Ao pé de Sta. Teresa

     Trepada numa taboca

     Estava uma muriçoca

     Tocando num realejo

     A contradança francesa

     E juntamente a cantar

 

 

     Nisto ia por lá passando

     Um taludo mariola

     Que em lugar d’ir para a escola

     Espantado pôs-se a ver

     A muriçoca tocando

     Que o fazia admirar

 

 

     Mas um cagalhão q’andava  

     Naqueles sítios voando

     Foi-lhe pela boca entrando

     E o Tone que sem dar fé

     Mui lampeiro o foi chuchando          

     Mesmo até sem o mastigar

 

 

  

     Portanto meu caro amigo

     Evite andar com a boca aberta

                 (.................)

 

 

Quem foi o autor?

     Ou eram poemas do Manuel Francisco dos Reis quando ausente no Brasil ou de Jerónimo Francisco dos Reis, seu tio Padre que aqui viveu no princípio do século XIX.

 

 

 

A CASA DOS CATRINOS

= OS ARAÚJOS=

 

            Quem deu grande ser à Casa dos Catrinos foi o Manuel Araújo, carpinteiro, casado com a Maria (Forte), dos Funfuns, Maria Rodrigues, filha de José Afonso Forte e Maria Rodrigues, também conhecidos pelos cabanos, avós do Alípio Forte.

            Eram conhecidos pelos cabanos porque tinham as orelhas grandes e à semelhança do Boi Cabano - cornos baixos e levantados nas pontas, ou o Boi Pereiro - cornos para o ar. Os Funfuns foram os primeiros da freguesia a viver mais a sul de S. Simão, onde viviam as Capotas, junto dos “Muros”.

            Os Catrinos aparecem em Mazarefes na Casa que depois tomou o nome de “Casa do Zé do Monte” junto à passagem de nível do comboio e que hoje é da Maria do Céu.

             Esta casa era de António Araújo, pedreiro, oriundo de Vila Fria. Vieram, por isso, os Catrinos de Vila Fria, gente simples e humilde que vivia do seu trabalho. Era uma família muito unida e todos os Domingos, desde tempos antigos, de tarde, os irmãos se reuniam na casa paterna, todos tinham de entrar ao Domingo na casa, onde tinham nascido, ainda que os seus progenitores já fossem falecidos.

            Por causa desse costume, por exemplo, o Manuel, o José e a Antónia faziam no tempo da chuva bailes na sala da casa. O Manuel Catrino do Cruzeiro tocava concertina, a Antónia e o Zé da Regadia, o cunhado e as cunhadas dançavam...Um dia, o senhor abade António Francisco de Matos passou e ouviu os acordes da concertina, os pulos, os ritmos de dança, o bater do tacão e comentou: "lá estão os Catrinos no catruca-catruca, a catrucar na sala". Como carpinteiro, o Manuel, foi trabalhar para Lisboa, para o restauro da cidade depois do terramoto, deixando naquela casa a mulher, meia dúzia de ovelhas e uma tourinha na corte. Ela dedicava-se à salga de sardinha em casa e a vendê-la a todos os que lá iam comprá-la. Fazia bom negócio, a ponto de quando o marido veio de Lisboa em visita, ela já tinha comprado uns bois e um carro para, depois do primeiro abraço à chegada, lhe mostrar o fruto do seu trabalho e lhe mostrar que, se ele foi trabalhar, ela também não ficou parada e fez pela vida.

            Quanto à casa dos Capareiros que ficava dentro do mesmo quintal e conhecida pela “Casinha” até 1985 mais ou menos, hoje está reduzida pela obra da casa que a Maria do Céu e o marido fizeram nova, foi comprada pelo Manuel Araújo. O canto do lado poente confinava com o Abade Matos e, para aumentar ao seu património, pediu ao Manuel Araújo para lho vender, mas a resposta ao Abade Matos foi negativa e bastante irreverente.

            Voltando às origens, António Araújo casou com Maria Rodrigues em 1781 e foi pai de 8 filhos, a saber: o António, o Manuel, a Maria, a Teresa, a Joana, o Francisco, a Rosa e a Luísa. A Luísa casou com o primo José. O José era filho de Manuel Araújo e Catarina A. Peixoto (de Vila Fria). Foi o José, filho deste casal, que casou com a prima Luísa e foi pai de 3 filhos, a saber: o Manuel (1831), o António (1835) e a Rosa (1837), falecida a 1840. O Manuel Araújo casou com Maria Rodrigues, filha de José Afonso Forte e de Maria Rodrigues, e foram o José e a Maria, pais de 4 filhos: o Manuel (1879), a Maria (1882), o José (1885) e a Antónia (1877). Esta Antónia casou com José Rodrigues de Araújo Amorim, da Casa das Claras e foi mãe da Maria, José, Domingos e Deolinda. O Domingos morreu queimado na lareira no dia de Páscoa, ao meio dia, quando a mãe preparava a sala da casa para receber o compasso pascal. Curiosamente uma sobrinha neta ficou, em dia de Páscoa, à noite, na mesma cozinha sem uma mão. O José casou para Vila Fria com Conceição Lima, de Anha e sobrinha do tio José do Couto e, deste casamento, houve 5 homens (o Manuel Artur, o Joaquim, o José, o Martinho e o Agostinho. A Conceição morreu cedo, de doença cancerosa e o José voltou a casar com Alice das Marinhas de quem teve duas filhas: a Renata e a Sandra. A Maria casou com Artur Augusto Matos, de Vila Franca, familiar do Pe. João Matos de Vila Franca, a Deolinda casou com Manuel Ribeiro Coutinho, da Casa dos Brasileiros e é mãe do Pe. Artur, do Eng.º Abel e da Maria do Céu. O Abel casou com uma sobrinha de Mons. Sebastião, a Isabel Joana L. Pires, e a Maria do Céu com José Gonçalves Barreto, da Regadia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ANTÓNIO ALVES DE CARVALHO

 

 

            António Alves de Carvalho, nascido em Mazarefes, em 1913, veio para Viana depois do mês de Julho, porque a 25 de Julho ardeu a casa de seu avô e, de seguida, foi vendida ao António Coelho de Viana por 1.000.00 e veio para Viana viver numa casa alugada. Ora ele tinha apenas uns meses, nasceu em Abril. Em Viana viveu à Rua dos Manjovos e casou em 21.10.44 com Gracinda Viana Salgado.

            Trabalhou 39 anos e meio em drogarias e desses 38 anos, trabalhou na Drogaria do Afonso de Monção com os irmãos João e o Augusto Palma da Silva. Dedicava-se nos tempos livres à pesca, à linha, no rio. O António Carvalho tirou o Curso Comercial e foi o último com mais 10 colegas que tirou esse curso apenas de 4 anos. A partir daí começou a ser de 5 anos.  Era filho da Cândida e neto de António Alves de Carvalho Júnior, de Alvarães, casado em Mazarefes, era professor e a filha Cândida era sua auxiliar e foi credenciada oficialmente como professora, depois de ter sido costureira. A Cândida tinha nascido a 30.05.1874 e faleceu a 02.05.1969.  O seu avô teve outros filhos: a Justina casou em 1956 e viveu no Caminho de Latoeiro por trás do Comércio dos Pittas, no Ribeiro, teve dois filhos. O marido da Justina, chamado Manuel Alfredo Fernando Lima, foi para o Brasil e nunca mais quis saber da família. Dois filhos foram então para lá: o Evaristo e o Luciano. O Luciano morreu no Brasil e o Evaristo regressou doente a Portugal e veio para a rua, onde está a tabacaria do Ciso.

            A Adelaide que viveu na regadia, casou com o Francisco Moreira de Matos, serralheiro, da regadia, teve dois filhos casados para Vila Franca, onde também morreu. Eugénio morreu em Caminha, o Luciano, que que foi o que lhe sucedeu na regência da Banda, casou em Mazarefes. Sucedeu ao Luciano, o filho Leandro. O Evaristo andou no Seminário e morreu novo.

            Depois dos 38 anos de serviço na drogaria, o Carvalho foi trabalhar na contabilidade do Eugénio Pinheiro mais 22 anos. Era filho de mãe solteira e tinha um irmão, ambos filhos do Padre Marinheira, antes de ser padre... O Padre Marinheira ordenou-se muito tarde até por causa disso e depois a mãe, com ele já ordenado, pôs uma questão no tribunal que foi defendida pelo advogado Dr. A. Ribeiro da Silva.  Uma das testemunhas foi  o “António Alexandre”. A questão ficou mal resolvida, houve muita pressão de eclesiásticos, inclusive, do Arcebispo de Braga. O pai era de nome Manuel Barbosa Meira que nasceu a 21.01.1868 e morreu a 30.05.1939, com 71 anos. O filho António tinha 26 anos.

A Aurora do Coco, por ter casado com o Coco, e também utente do Centro de Dia, moradora na Rua da Bandeira, era filha da Justina.

Não há filho nenhum em Anha?

 

 

Casa do Necas Reis

 

A casa de Gavindos, também conhecida pela Casa de Coibindos, a poente de Vermoim de Baixo foi uma casa dos Capelos, no séc. XVI.

       Era a penúltima casa da freguesia de Mazarefes quando o centro urbano desta freguesia se localizava na Veiga de S. Simão.

De onde eram os Capelos, ou como eles apareceram em Mazarefes, desde quando e como dos Capelos chegou até agora, não sabemos. A ordem dos nomes que se prenderam com esta casa aqui ficam, mas... como esta casa seria no seu início não se sabe. Talvez como muitas outras da ocasião. Pedra solta, sobreposta e coberta com colmo, mais como um barraco de pedra.

Em 1804 aparecem registos de duas ou três casas existentes nos Raindos, de difícil localização.

Os primeiros proprietários da casa localizada no lugar de Gavindos ou Coibindos, junto do Vermoim de Baixo foram Cristovão Rodrigues e Maria Rodrigues, casados em 1661. O Cristovão faleceu em 1684. A filha Isabel Rodrigues casou com Gonçalo Rodrigues do Souto, que, por sua vez, deram ao mundo um varão de nome Matias Rodrigues que casou com Andreza Rodrigues do lugar do Souto, filha de um irmão de Gonçalo Rodrigues. O casal teve uma filha, a Maria Rodrigues, nascida em 1708 que casou com João Francisco da Rocha, em 1740, de Alvarães. O casal teve 5 filhos: Maria, Manuel, Domingos, António e Joana. A Maria Rodrigues da Rocha casou em 1759 com António Francisco dos Reis, também de Alvarães e viveram na casa dos brasileiros. Um dos filhos, o Domingos, morreu em Lisboa, em 1707.

Este casal teve um bisneto que saiu da Casa dos brasileiros, o Manuel Júnior que lhe tocou esta casa  dos Gavindos, mas morreu novo, assim como a mulher, da febre pneumónica. O único filho, José Pitta Reis, orfão aos 15 anos, enquanto menor ficou a viver com o tio Miguel Francisco dos Reis, casa dos avós paternos, portanto na casa dos brasileiros. Casou com Rosa Freitas Lima, de Darque e, em Darque, viveu, como viveu a maior parte da sua vida nesta casa agora em nota. Assim os filhos Manuel e Augusto nasceram em Darque, mas os restantes nasceram nesta casa. O José Pitta Reis esteve 8 anos em Mato Grosso, no Brasil, onde seu pai também tinha estado, o tio Manuel e outros antepassados da casa dos brasileiros.

O Necas é agora o seu proprietário e que dela tem cuidado com desvelo.

Primeiramente ela começou por ser uma casa térrea e subida depois, funcionou nos baixos da casa, alugada ao José da Cunha, uma venda e um armazém do sal.

Nela viveu o tio-avô do Necas, logo que casou, o José Francisco dos Reis, irmão mais velho do Manuel Francisco dos Reis Júnior, até à compra duma casa própria. Depois viveu uma família da “Recoca” até os pais do Necas irem tomar conta da casa herdada, deixando a da família de Darque.

Trata-se pois duma casa bem antiga quanto à localização, pois levou várias transformações como é possível testar com algum espírito de observação.

O José Pitta Reis, pai do “Necas Reis” teve de sua mulher Rosa de Sá Freitas Lima, de Darque, 7 filhos, a saber: a Maria que casou com o Amândio e é mãe de 4 filhos, a Maria Luísa que casou com o José Carneiro e tem 3 filhos, a Rosa que casou com o Alcino Ferreira e tem 3 filhos, o José que casou com a Catarina e tem 3 filhos, o Manuel que casou com Maria Augusta Pimenta e é pai de uma filha e o Augusto casado com a Beatriz Silva, com 10 filhos.

 

 

 

 

Casa do Zé Brasileiro

 

 

 

Manuel Francisco dos Reis, casado com Rosa Ribeiro da Silva, moradores no lugar da Namorada, conhecido também por lugar do Souto, tiveram um filho chamado José Francisco dos Reis, em 1861. Veio a casar com Maria Rodrigues Leite da família “dos Piscos”, filha de José Rodrigues Vaz e Teresa Joaquina Leite, em 1892. Foram residir na casa do irmão já falecido, o Manuel Júnior, no lugar de Gavindos, onde hoje é a Casa do Necas Reis.

Depois comprou a casa onde hoje residem os herdeiros do Zé brasileiro, aos “Vieiras” que eram cesteiros, por 400.000 réis.

Deste casamento nasceram 7 filhos: a Maria, a Rosa, o Manuel, a Emília, o Avelino, a Ana e o José. A Maria casou com o José Rodrigues de Araújo (dos Catrinos) e foi mãe de  3 filhos: a Conceição, a Maria e o Manuel. O Manuel ficou em casa e casou com Rosa Coutinho (da Tia Deolinda do Cruzeiro) e é pai de 5 filhos para além de uma menina Olívia que morreu. O Artur casado com Maria Helena Rocha e pai de Filipa; o Abel casado com Maria de Fátima Pinto e pai de Abel Filipe; a Maria da Conceição  casada com Manuel Costa e mãe de Paulo Jorge e Diogo José; o José casado com Rosalina Maltez e pai de Ricardo e Patrícia; e o Manuel casado com Rosa e pai de Bruno Miguel e Catarina. A Maria casou para Anha com José Lopes Novo e não tem filhos. A Conceição veio para esta casa e casou com um primo. A Rosa faleceu muito jovem, vítima de pneumónica, o Manuel casou com a Ana Barbosa (do Xico Ferreiro) e foi pai de 3 filhos: o José, a Maria e o Manuel, O José casou com a Conceição Valada e tem uma filha, a Maria casou com um Manuel Pereira e tem 3 filhos, uma filha é deficiente. O Manuel é solteiro. A Emília ficou solteira, o Avelino emigrou para o Brasil e morreu lá, solteiro. Consta que se juntou com uma brasileira. A Ana casou com o João Gonçalves Barreto e é mãe de 5 filhos: o Manuel, a Maria, o José, a Conceição e o Narciso. O Manuel casou com Maria Coutinho de Alvarães, sobrinha do Joaquim Coutinho (o fidalgo, marido da Marta do Alexandre) e é pai de 3 filhos; o Pedro Avelino, morreu afogado no rio Lima  com cerca de 14 anos, a Maria casou com Manuel Alves Pereira e não tem filhos, o José casou com Maria do Céu Rodrigues Coutinho e é pai de 2 filhos, a Conceição casou com António Alberto Borlido e é mãe de 3 filhos e o Narciso casou com Albina Vaz (dos Piscos) e é pai de duas filhas. O José ficou em casa e casou com a Beatriz do Cunha. O José ficou conhecido pelo José brasileiro sem ter ido ao Brasil, mas herdou a alcunha “brasileiro” do pai que saiu da casa dos brasileiros.

O Zé brasileiro que tinha casado com a referida  Beatriz mandou a mulher grávida embora para a casa dos pais. Ficou só. Mais tarde levou para casa a sobrinha, filha da Maria e de José Rodrigues de Araújo, chamada Maria da Conceição Vaz de Araújo que casou com o Manuel Rodrigues Coutinho, filho do José Cordoeiro e da Deolinda do Alexandre, da casa junto ao Cruzeiro. Que também não deixaram descendentes. 

 

 

 

A CASA DOS CORDOEIROS

 

            A Casa dos Cordoeiros foi sempre conhecida por uma grande casa da terra. Os Cordoeiros eram muito conhecidos, uma casa forte, casa rica.

            Dizem que tinha a ver com uma cordoaria, mas consta que o nome de Cordoeiros o recebeu esta família por se dedicar ao contrabando de cordas espanholas que vinham de barco pelo mar, subindo o Rio Lima até ao poço Tranquinho, onde recebiam a mercadoria e depois a negociavam...

            O Cordoeiro deveria ter nascido na casa onde hoje vive o Francisco do Cordoeiro e em 1699, aí viveu o Manuel Alves Cordas e só em fins do séc. XVIII, os Coutinhos chegaram a Mazarefes. Seria alcunha? Deixando a alcunha “Cordoeiros”, naturalmente ligada ao negócio de cordas, vindas ou não de Espanha, de contrabando ou não, o que é certo é que esta casa é a Casa dos Coutinhos e os Coutinhos para Mazarefes vieram de Alvarães, de Vila de Punhe, de Vila Fria e de Darque. No entanto, os actuais Coutinhos são todos Cordoeiros na sua origem de Vila de Punhe e de Darque e deviam ter nascido aí. A Casa dos Cordoeiros da Capela veio depois ou porque desenvolveram o negócio e se fizeram mais ricos ou por outro motivo que se desconhece.

            O negócio das cordas foi anterior e veio de outras famílias, inclusivamente. Já referi o Manuel Alves Cordas, e outro, é o Manuel Luís Gandra, o Cordoeiro, que casou em Mazarefes, em 1838 com Rosa, filha de José de Araújo Coutinho.

            Os Coutinhos que hoje existem vão todos entroncar no casamento de Domingos de Araújo Coutinho, de Vila de Punhe, com Josefa Soares, de Darque. O filho deste casal José de Araújo Coutinho foi o “Cordoeiro” por excelência, pois possuía em Viana uma Cordoaria, tendo grande sucesso neste negócio. Casou com Maria Rodrigues, em 1802, filha de Francisco Rodrigues de Carvalho e Teresa Rodrigues, das Boas Novas, em 1806. Deste matrimónio nasceram 9 filhos, a Maria (1804), o Manuel (1807), o Francisco (1810), Alexandre (1813), a Ana (1815), Rosa (1816), Ana (1820), Inês (1822) e José Rodrigues de Araújo Coutinho (1826).

            O Francisco casou com Teresa Rodrigues, filha de Francisco António de Matos e Teresa Rodrigues e foram os pais do Padre José de Araújo Coutinho; este padre foi ao Brasil, celebrava na Capela das Boas Novas, foi autor da reconstrução da Capela de S. Simão, no Lugar da antiga igreja paroquial e foi Pároco de Mazarefes; nasceu em 1835 e faleceu em 1892. O Francisco foi pai de 6 filhos: O Manuel (1835), a Maria, a Ana (1840), a Inês (1842), a Teresa (1844) e a Rosa (1847).

            O José ficou na casa e casou com Maria Rodrigues do Rego (de Anha). Este José Rodrigues de Araújo Coutinho não era negociante de cordas, nem fabricante delas. Era negociante de milho e fornecia Viana. Os negócios fazia-os nos Concelhos de Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Ponte de Lima. O transporte era feito em barco. Morreu muito novo, aos 35 anos, depois de uma coça que lhe deram nos Arcos. Morreu em casa, em Mazarefes e deixou viúva a Maria Pinta, de Anha (Maria Rodrigues do Rego). Esta viúva foi madrinha do padre José Gonçalves Damião, seu bissobrinho, neto  materno de Rosa que casou para Darque com José Alves de Araújo e filho de uma Ana. O José e a “Maria Pinta” tiveram 5 filhos: o António (1866) que casou com Ana Ribeiro da Silva, da Casa dos Brasileiros e que ficou em casa, o Alexandre (1855) que casou para a Conchada com Maria Rodrigues da Torre, o José (1856), escrivão de direito, que casou com Maria das Dores, em 1880, filha de João Francisco dos Reis e Maria das Dores Araújo, de Viana, o Manuel (1849) era lavrador e casou com Rosa Ribeiro, filha de José Pereira Pinto e Teresa Ribeiro, em 8 de Dezembro de 1871, para a Casa da Castela de Cima ou Castela da Estrada e o Francisco (1852).

            A Inês casou com Manuel Maciel de Forjães, filho de Manuel Maciel e de Joana Rodrigues Lima, em 1851.  Foi mãe de dois filhos, tendo sido um deles padre (deixou geração!).

            1. O ALEXANDRE era lavrador e teve de sua mulher, Maria Rodrigues da Torre, a Morgada, muito rica, (dos Piscos do Monte, primos dos da Regadia, daí o apelido “Vaz”) 10 filhos: o José (1886) que casou com a irmã do Zé da Vila, prima carnal e foi pai de 7 filhos: o Manuel - Padre com a dignidade de Monsenhor, a Madalena que casou com o primo, filho da Casa da Vila e deixou um filho, a Emília que casou com Casimiro Araújo e mãe de duas filhas, a Maria que casou com António Alves Pereira, mãe de uma filha Rosa, conhecida pela “Rosinha”, a Deolinda que casou com o José Pitta e morreu nova sem filhos, a Rosa que casou com o José Pitta, viúvo e cunhado, e mãe de um filho, o José casado com Eulália, de Sta. Marta e pai de uma filha e Alexandre que estudou medicina no Brasil e morreu esmagado no Brasil, quando de moto ultrapassou um carro no Recife, o Manuel (1888) que casou, no Brasil, com uma alemã e morreram sem filhos. O Primo (1891) morreu criança, a Deolinda (1893) que casou com o primo carnal José de Araújo Coutinho, tio do actual Francisco do Cordoeiro e mãe da Rosinda que casou com um Sampaio de Anha e mãe de duas filhas, a Rosa que casou com o Manuel Coutinho de Araújo (Catrino) da Regadia, mãe de 5 filhos; o José, casado no Brasil e pai duma filha, a Rossana, a Maria, casada com José Vaz e mãe de 2 filhos, o António casado com a Conceição de Anha e com 5 filhos; o Abel, casado com Olívia de Sta. Marta e a morar em Vila Franca, com 2 filhos. (Alberto, solteiro e Maria de Fátima casada com Filipe Pires e mãe de Pedro e Sara); (José Alberto casado com Laura, de Braga; Hernani Manuel casado com Olga, de Vila Franca; Maria Emília, solteira; Maria do Sameiro casada com José Carlos Taborda de V. Franca);  o Manuel que casou com Conceição Araújo, da Regadia e sem filhos. O António (1896) que casou com a prima carnal Maria Ribeiro da Silva, que foram para a Casa dos Brasileiros herdar os bens do tio Miguel Francisco dos Reis, irmão da mãe da Maria e foi pai de 2 filhos: o Manuel e a Maria. A Maria casou com 18 anos para Barroselas com Abel Sá Portela, mas não tiveram filhos; o Manuel casou com a Deolinda do Monte e foi pai de 3 filhos: o Artur que é padre, o Abel que é engenheiro mecânico ramo gestão da produção e casado com Joana Isabel Lourenço, prima carnal de Monsenhor Sebastião Ferreira e pai de duas filhas, a Maria do Céu, doméstica e casada com José Barreto, oriundo também da Casa dos Brasileiros pelo lado da mãe e ambos têm 2 filhos. O Abel (1898), que morreu jovem depois de ter lido a Bíblia e com perturbações por não compreender alguns textos, a Maria (1902), que casou para Anha e morreu sem filhos, a Rosa (1904), que morreu solteira e sem filhos, a Marta (1906), que casou com Joaquim Alves Coutinho, de Alvarães, tio do Pe. Dr. Jorge Peixoto Coutinho. A casa onde viveu era do chefe e fundador da Banda do Carvalho. Quando na festa de S. Silvestre, em 25 de Julho, Cardielos, regia a banda acabou por ver a sua casa em Mazarefes a arder pelo que desanimou, vendendo-a a alguém a quem o Alexandre a comprou e depois foi para a Marta que foi mãe de 5 filhos: a Deolinda casada com o Joaquim Araújo de Anha e com 2 filhas, o Manuel casado com Rosa Rocha Alves, de Deão, a viver em Vila Franca e com 8 filhos,(Elsa casada com o Manuel Cruz de Sulportela; Maria da Conceição casada com Manuel Lima, de Antas; Ana Margarida casada com Anselmo Judas de V. Fria; Duarte casado com Ilídia, de Castelo de Neiva; José Alberto casado com Laura, de Braga; Hernani Manuel casado com Olga, de Vila Franca; Maria Emília solteira; Maria do Sameiro casada com José Carlos Taborda, de Vila Franca); a Maria casada para Alvarães e mãe de 3 filhos, a Cândida casada com Manuel Rodrigues, de Durrães e sem filhos e a Augusta casada com Joaquim Lourenço e com dois filhos. A Conceição (1909), que casou para Vila Fria com Alfredo Lima, dos Caroças e a última dos irmãos a falecer em 1999, foi mãe de 4 filhos: o Alexandre, Coronel de Cavalaria, casado com Isabel e com 2 filhos, a Augusta, casada com António Rego e com 2 filhos, a Cecília, casada para Vila Franca e com 1 filho, o Rui e formado em medicina,  e o Manuel, casado e com 4 filhos.

            2. O ANTÓNIO era lavrador, ficou na casa e teve também 10 filhos, depois de ter casado com Ana Ribeiro da Silva, da Casa dos Brasileiros: A Maria (1891), que casou com o primo carnal António e foi para a casa do tio Miguel, da Casa dos Brasileiros, a Rosa (1896), que ficou na casa até à morte da mãe e casou com António Correia e foi mãe da Elvira (casada com Floriano de Vila Franca e mãe de 3 filhos: a Maria, casada com Constantino Liquito e mãe de 3 filhos, tendo já falecido o Carlos, de acidente em 1985, a Idalina, casada com o António Coutinho de Carvalho e mãe de 3 filhos). O António que morreu criança, o José (1898), ficou inicialmente em casa, mas morreu muito novo, com uma pneumonia, talvez provocada por excessos de zelo e trabalho com o moinho que foi do Santa Marinha e hoje é da viúva de José da Silva de Oliveira Reis, D. Albina Carvalho, o Moinho conhecido pelo da “Fonte dos Anjinhos”. A viúva deste José, Emília Barbosa, das Marinheiras, casou novamente para Vila Franca, com o Manuel Pequeno, pai dos actuais “Pequenos” de Vila Franca. O José morreu cedo, mas ainda foi pai de 4 filhos: o António casado com Olívia, não teve filhos e acabou por ficar com a Casa de Origem, o Manuel, casado e com 2 filhos (o filho José morreu fulminado por uma faísca) e ele falecido em 2000 na África do Sul, onde morreu o filho José, a Laurinda, casada com Bernardino Jácome, de Vila Franca e com 2 filhas: a Elvira e a Albertina. A Elvira casou com o Agostinho Manso e tem 2 filhos: o Fábio e o Adolfo. A Maria Albertina casou com Adolfo Azevedo e é mãe de 2 filhas (a Sílvia, jovem estudante que morreu de um acidente de carro e deixou um testemunho religioso muito forte e a Ariana) e a Elvira casada com Bernardino Pequeno e com 3 filhos. A viúva Emília teve ainda do Manuel Pequeno mais 4 filhos. A Antónia (1894), que morreu jovem, a Laura (1902), que casou para Anha com António Silva e teve 5 filhos: A Rosa, que casou com o Manuel Faria em 1941, mãe de 2 filhos, o Manuel, que casou a primeira vez com Maria Pintado em 1943 e morreu em 1964 e pai da Isabel e do Filipe e casou a segunda vez com Anie uma francesa, a Maria, o António (casou e tem filhos para além de uma filha fora do casamento) e a Lucinda, casada com José Marinho em 1931 e mãe de 3 filhas. A Antónia (1903), que morreu criança, a Albina (1904), que morreu cedo, o Alexandre (1905), que morreu cedo, a Ana (1907), que casou com Alfredo Correia, irmão do cunhado, mãe

de uma filha Maria casada e com dois filhos. Vivem no Barreiro, em Lisboa.

            3. O MANUEL, casou com Rosa Ribeiro em 1871 e teve o Francisco que casou com Teresa Maciel de Matos, de Castelo de Neiva, filha de Francisco António de Matos e de Antónia da Piedade de Passos Pereira Maciel e madrinha da Antónia Rodrigues de Araújo (Catrina), vindo para Casa da Castela de Baixo, o José que foi Padre e Prior de Anha, imprimindo ao seu trabalho tal carácter e dignidade que ainda hoje se fala do velho Prior d’Anha, com saudade. Se se fala com saudade e admiração deste prior, consta que na República celebrava missa com a pistola sobre o altar!... Em 1950 celebrou as Bodas de Ouro Sacerdotais, pois tinha sido ordenado em 25.03.1900. A Rosa (1885)* casou em 1910 com um irmão do Abade Francisco António de Matos e ficou na Casa da Castela da Estrada, chamava-se, o marido, António Francisco de Matos e foram pais de 4 filhas: a Maria, casada com António Cunha e mãe de 4 filhos, a Cecília, casada com Cândido Carriço e sem filhos, a Emília, casada com o Pitta da Ponte Seca e mãe de 4 filhos e a Ermelinda que morreu solteira. O Domingos, conhecido por Domingos do Pinto (da Igreja), irmão, por isso, do Prior d’Anha e era “Pinto” porque era neto do José P. Pinto e casou com uma irmã do Pe. João Matos, de Vila Franca, a Emília. Era ainda irmã do Dr. João de Matos, o homem do Estádio Vianense.

            4. O JOSÉ, Louvado, Juíz de Paz e escrivão de direito, casado com Maria das Dores Araújo (irmã do Manuel da Vila, pai do Zé da Vila, avô do Avelino da Vila), de Viana, filha de João F. dos Reis e Maria das Dores Araújo. Do casamento resultaram os seguintes filhos: a Maria (1881), a Rosa (1883), o João e o José (1888), o João (1890), a Ana (1893), a Emília (1897), o Manuel (1901).

            O filho José casou com a prima Deolinda, filha do tio Alexandre da Conchada e viveram na casa conhecida pela “Casa da Tia Deolinda” por a ter recebido do pai que a tinha comprado ao irmão Francisco, falecido na Maia. A Emília casou com o primo João Rodrigues de Carvalho (conhecido por João Deira, para onde foi viver), a Rosa casou com Manuel Rodrigues de Araújo (Catrino) e foi viver para a casa junto do Cruzeiro e foi mãe de 3 filhos: a Maria, o Manuel e o José, a Ana casou para Deão com João Alves Pedra. Deste casamento para Deão surgiram 6 filhos: o Manuel, a Maria que casou com um oficial do exército e teve 5 filhos, a Emília que casou com Adriano Carvalho, também com 5 filhos, o Francisco casado para Vila Flor com Maria do Céu Ramos e teve 2 filhos, a Ana casada com José Rocha de Deão e com 5 filhos e a Lurdes casada com o primo João e a viver em Vila Fria e com 3 filhos. O Manuel foi para a França, a Maria casou para Vila Franca e não teve filhos, o João casou com a Emília das Deiras, irmã de João Rodrigues Carvalho, aliás com uma cunhada da irmã Emília, também chamada Emília. Do casamento do João com a Emília houve o Francisco que ficou em casa, casando com uma Alice Taborda Jácome de Vila Franca (João, Albertina, Maria das Dores, Maria de Lurdes e Fernanda); a Dores que casou com Manuel Rocha (Avelino e José Jorge); o João que casou para Vila Fria com a prima Lurdes de Deão (Nazaré, Maria, José João); a Emília que casou para Vila Franca, a Ana que casou com José Liquito (Isabel e José); a Gracinda que casou com Graciano Forte (Manuel e Maria Cecília) e a Maria que morreu sem filhos depois de ter casado com Luís Viana de Sabariz (Judas), o José com Deolinda do Rego de Anha para onde foi viver (José, António, Maria Luísa, Maria Olívia).

            O João morreu de Doença.

            A Rosa casada com o Manuel (dos Catrinos) foi mãe de Manuel que ficou solteiro, o José que casou na Argentina com Helena, uma Portuguesa e teve dois filhos, um falecido e o Sérgio, a Maria, conhecida pela Quinhas dos Catrinos que morreu cancerosa e relativamente nova, casada com um primo, o Francisco Coutinho de Carvalho e mãe do Manuel, Avelino, Sara, Fernanda e António. A Fernanda casou com José Manuel Gonçalves e é mãe de Bruno João e Hugo Filipe; o Avelino casado com Olívia Coutinho e pai de Raquel e Ana; António Alberto, solteiro; a Sara casada com ___ e mãe de___; Manuel António casado com Rosa Maria.

            A Emília casou com o primo João Rodrigues de Carvalho e foi mãe de Francisco, João, António, Luzia. O Francisco vai para os Catrinos, o António para os Cordoeiros e casa com a Idalina, neta de Ana Ribeiro da Silva, da Casa dos Brasileiros e a Luzia casa com um Reis da Casa dos Brasileiros. Só o João casou para fora...

            5. O FRANCISCO, foi conhecido por “O estudante” porque estudou para Padre. Não acabou os estudos e fez-se escrivão de direito. Casou com Rosa Cândida Alpuim da Silva Menezes, de Vila Fria, em 23/11/1882. Faleceu em Rio Tinto em 1906 com filhos, na Vila de Barreiros da Maia. Era, na altura, Chefe da Repartição de Finanças e tão bem conceituado, que todo o comércio da Vila fechou na hora do funeral. Uma filha, casou em Londres com um neto do Rei D. Carlos. Foi ele que construiu a casa onde habitaram depois os sobrinhos, casados, o filho de um irmão José, que também era “José do Cordoeiro” e a Deolinda filha do irmão Alexandre que tinha casado para a Conchada. Foi o irmão Alexandre que comprou a casa para a dar à filha. Hoje habita nela a Fátima. Nesta casa a que me refiro, funcionou uma escola primária. Foi pai do António em 1884.

            Os Cordoeiros nunca tiveram entre os irmãos as melhores relações. O José, Louvado, casou com uma irmã do Manuel da Vila, o António casou com uma irmã do Tio Miguel Brasileiro, o Alexandre casou com a “Pisquinha”, Maria Rodrigues da Torre, filha do Zé do Pisco do Monte, José Rodrigues Vaz, era a Morgada...para não haver “colheres a partir” ficava tudo na casa.

            Assim já tinha sido com os seus antepassados e assim continuava...e os Cordoeiros recolhidos no seu orgulho de serem quem eram, ricos...o Alexandre, por ter casado com a Morgada, a mais poderosa em teres e haveres, nunca “passou cartão” aos outros irmãos. Tudo bem, mas...havia sempre um senão...que alguns percebiam como “não passar cartão”, por isso nem os irmãos, nem os primos se davam lá muito bem...

            As coisas agravaram-se com o casamento do António, filho do Alexandre com a Maria, filha do António Cordoeiro porque o pai da Maria e o irmão José procuravam outro casamento para engordar riqueza reunida na casa dos Brasileiros, mas o Alexandre, isolado e perspicaz, conseguiu que o filho vencesse na conquista da amada, sua prima carnal, retirando-a ao primo João do Cordoeiro, desfazendo projectos dos Tios José e António.

            O Bisavô António do Cordoeiro não gostou nada e nunca mais se deram muito bem o tio-sogro e o sobrinho-genro. Aí as zangas foram mais manifestas e talvez o equilíbrio estivesse na atitude do Louvado, o José do Cordoeiro, que não ligou grande importância, ou pelo menos, não o manifestou.

            Todos os Cordoeiros sempre foram homens de dinheiro e o Bisavô António sempre manteve essa hegemonia, mas nunca deixou a chave por mão alheia e, hoje, a casa já não está na mão da família. É da viúva do “António da Capela” seu filho, que não deixou geração. Esta casa é a nova porque para mim os Cordoeiros velhos eram da casa mais acima, a casa onde hoje vive o Francisco do Cordoeiro, a Casa do Alambique. 

 

 

* Esta era irmã da mãe do Zé da Vila.

 

 

 

 

JOSÉ ALVES FERREIRA

 

            José Alves Ferreira, hoje com 90 anos de idade, pois nasceu a 16.04.1910 e casou para Mazarefes com Rosa Ferreira Torres, filha do famoso pirotécnico da terra, Manuel Ferreira Torres. Ao contrário do que possa parecer não eram primos em nenhum dos graus, por isso, outro ramo “Ferreira” apareceu em Mazarefes.

            O José Alves Ferreira sob a mestria do Mestre Lima começou a sua arte de pedreiro, fazendo-se depressa um hábil canteiro. Foi, por isso, um dos trabalhadores do Templo de Sta. Luzia, onde gostou muito de trabalhar e durante muitos anos (46 anos).

            Naquela obra só morreu um homem, em 1940, era um canteiro de Vila de Punhe; no momento que fechava a Abóboda caiu, tendo morrido de imediato.

            Recorda o Pe. António Carneiro que foi o principal obreiro, impulsionador e entusiasta...

            Há uma pia baptismal que foi feita por este canteiro para a igreja de Dem-Caminha, em 1974. O José Ferreira e a Rosa tiveram 7 filhos, a saber: o Joaquim, a Luzia, a Laura, a Carmo, o José Maria, o Manuel e o Fernando. O Joaquim, operário fabril e depois padeiro, casou com Maria das Dores Amorim, natural de Vitorino das Donas e é pai do João Paulo, casado e pasteleiro no Senhor do Alívio e da Isabel Maria (casada e em França). A Luzia, doméstica, casou com José “espanhol” com 2 filhos: Carlos e Mari Carmen, solteiros. A Laura, casada com o Mário Viana, operário fabril, tem 2 filhos: o Vitor Manuel e o Eng. Rui Avelino, ENVC. A Maria do Carmo casou com António Vicente, da Meadela, separados, com 5 filhos: o António (professor), o Paulo (empregado fabril), a Anabela (professora), a Luzia (professora) e o Pedro (estudante). O José Maria, trabalha na fábrica Citroen, em França, casou com Maria Pinto (do Adolfo da Pinta) e tem 3 filhos: a Maria Augusta, o Armando e o Carlos. O Manuel é soldador, casado com Lídia Mendes (Ferreira), no Cais Velho, em Darque, com 2 filhos: o Vitor Manuel e a Carla Sofia (estudante). O Fernando, solteiro, empregado nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e vive com o pai.

            O seu sogro era casado com Joana Martins de Matos e trabalhava com o sogro, o irmão Joaquim Ferreira Torres e já eram filhos de fogueteiros.

            Sua mulher era sobrinha pelo lado do pai de: José Ferreira Torres, morreu na guerra, solteiro; Manuel casou com a Rosa Tamanqueira, da Galinheira, ele ferroviário, com 3 filhos; Francisco casou com a Adelina Bezerra, fogueteiro e serrador, com 3 filhos; António (6 filhos entre rapazes e raparigas), casou com a Lurdes da Pinheira, era calceteiro; João (3 filhos), casado em Anha com Deolinda Brecas, emigrante em França, morreu com a selicose, foi trabalhador das minas na Panasqueira e na Serra da Estrela; Joaquim casou com a Maria Areias que morreu com 2 filhos, um casal. O Adriano que casou com Virgínia Carvalho em Vila de Punhe, o único vivo de homens, ferroviário, com 7 filhos; Gracinda, solteira; Rosa que casou com o José A. Ferreira; Maria, com 7 filhos, casou para Tamel com José Leiras; Ana que casou pela 2ª vez com o José Canela, na Regadia e pela 1ª vez foi esposa de Adão Saldanha.

            Um dia o Joaquim, irmão do sogro e o sobrinho Joaquim, filho do José e da Rosa foram às enguias para a Veiga de S. Simão, (era o peixe mais barato e mais fácil para comer em casa) e ouviram uma explosão, concluindo imediatamente que teria sido a oficina deles e regressaram, no mesmo instante, para socorrer e constatar que era, de facto, verdade. Não houve feridos, apesar do Manuel ter ficado a trabalhar. A oficina sempre se localizou no alto da Bouça dos Catrinos, quem vai para a Bouça da Terra.

            Fabricavam ali foguetes, fogo de artifício, do ar, aquático e preso, bombas de Carnaval, foguetes de S. João. A matéria prima vinha de Oleiros - Ponte da Barca. Era material proibitivo por causa do clorato, aliás como era proibido no tempo da guerra ir a Ponte de Lima comprar uma rasa de milho. Morria-se à fome! Portugal não entrou na guerra, mas passou-se muita fome aqui, que foi talvez pior que a guerra e depois a afronta de “vermos, em Mazarefes, passar os comboios de mercadorias com painéis escritos “sobras de Portugal” a caminho da Espanha, para os aliados”.

            O salitre normalmente iam buscá-lo para a feitura dos foguetes a Lanhelas ou aos Silvas, a Viana e, às vezes, sob o título de salitre vinham outras matérias usadas na pirotecnia.

            Na Conchada morreu muita gente nova com a doença pulmonar arranjada nas minas da Panasqueira e outras. Havia muita pobreza e o Manuel “Mira” muitas vezes não aceitava encomendas porque não tinha dinheiro para comprar a matéria prima, às vezes pedia dinheiro aos netos para comprar material para poder trabalhar...

            Vendia para várias terras até Esposende, Lanhelas, S. Lourenço da Montaria, S. João d’Arga e S. Silvestre, para o Senhor do Alívio de Chafé, etc.

            Quando casou havia muito poucas casas na Conchada e, se a memória não falha, elas seriam apenas:

            A casa onde vive agora o Joaquim sacristão, no Calvário e que era a casa da sogra do Ângelo, a D. Luísa, a casa do avô fogueteiro, a casa do Caxinas, o Manuel Gonçalves Pires, que se dedicava ao contrabando, a casa de António Miranda, o cantoneiro, a casa de Maria Viúva, a casa do Cruz onde hoje vive o Reis de Vila Franca, a casa do António Bandeira, a casa da Fragôsa (feirante), a casa do Américo Dias, matador de porcos, a casa da Clara, a casa do Marosca, a casa do “Barriguinha” (Mesquita), a casa do António da Quinta, a casa da “Bortinha” (Zé Bortinha), a casa da Quinta da Malafaia, a Casa do Manuel Rolo, tamanqueiro, a casa do Beduíno, a casa de “António Bortinha”, a casa da “Tia Bortinha” (a mãe), a casa Tia Maria da Mata, 2 casas da padaria de Manuel Ferraz Miranda, a casa do Catena, a casa da Glorinha, do falecido Ângelo, do Zé da Mata, do Alvarães, dos Liquitos de Anha, a casa onde está agora o Tone da Clara, a Ana Teima, do Ferrador (José Rego), o Chança, o “Fome-negra” e a Pinheira, o Manuel “Estriconica”.

 

 

 

O LUCIANO ALVES DE CARVALHO

            O Luciano era filho do Chefe e fundador da Banda de Música, António Alves Carvalho Júnior, vindo de Alvarães e de Teresa Alves Pereira - Lavradeira. Casaram os seus pais em 23.03.1872, ele tinha 23 anos e ela 24. Os avós paternos de Alvarães, eram António Alves Carvalho (alfaiate) e Maria Alves da Silva Ribeiro. Os avós maternos, de Mazarefes, eram José Pereira Polónia e Maria Rosa Alves.

            Era irmão da mãe da Adelina “Troca”, da Justina e da Cândida, que foram para Viana e do Benjamim que está em Esposende. A Cândida era costureira, professora e morreu solteira. Consta que teve um filho do Pe. Marinheira, pároco de Darque.

            O Luciano casou com Antónia da Cunha Matos e teve os seguintes filhos:  Casimiro (nascido em 1911), que casou para Anha e foi pai de Casimiro, José e Constantino. O Casimiro casou em Viana com Adelina Sá e é pai de uma filha chamada Estela que, por sua vez, casou com Armando Sobreiro e é mãe de duas crianças; o José casou com em Anha com Mariana,pai de José Casimiro, casado e pai de dois filhos  e de Manuela, solteira e ambos residentes em frança; o Constantino casou com Laura Carvalho Barreto, de Mazarefes. .A Eufémia, nasceu em 1913, casou com Manuel da Silva Matos, o Carrapato e é mãe do Mário e da Maria que casaram para Lanhelas, mas estão em França.  A Irene que é mãe do Luciano (solteiro) e da Madalena, casada no Porto, nasceu em 1914. A Amélia que é solteira, nasceu em 1917. O Francisco, que já morreu, nascido em 1920. O Eva que é solteira, nascida a 1922. A Laura que vive na Meadela, nasceu a 1924. A Flávia nasceu em 1925, está viúva e casou para a Ribeira, para Viana e é mãe de 2 filhos: a Luzia e o Rafael. A Madalena, nascida em 1929 e é mãe do Francisco que está em Braga, a Eva, a Irene e a Rosa que estão em França, todos os filhos casados. E a Luzia casou com Manuel Pitta, que já morreu e é mãe de 8 filhos: o Francisco, solteiro, a Maria, solteira, o José casado para Castelo de Neiva e os outros 5 morreram novos.       

            O sogro do Luciano era o José da Cunha Júnior, casado aos 16 anos com Rosa Rodrigues de Matos, irmã do Francisco Rodrigues de Carvalho, pai de “João Deira” (João Rodrigues de Carvalho).

            As mulheres foram cascalheiras nas estradas da nossa região e, por isso, conheceram bem a vida dura, através do contacto com a pedra.

            A Casa encostada ao José Araújo (Catrino) da Regadia era do bisavô de João Rodrigues de Carvalho, com uma “vendinha” por baixo. O João Carvalho teve 2 filhos: o João Rodrigues de Carvalho, o Manuel que morreu aos 18 anos e a Rosa que foi a mãe de João Cunha, Regedor. O João Gonçalves da Cunha Júnior, casado com a referida Rosa era louvado, avô da Eufémia Deira e pai da Antónia Cunha e mais 10 filhos, deixando pão e vinho para cada filho comer e beber. O Avô da Eufémia, o Manuel Francisco Carvalho, foi mestre de Banda e casou com Teresa Cunha (Calista).

 

 

 

A casa dos da Vila (2)

 

O José da Vila foi a pessoa mais antiga que conheci da família do lado que, para além de serem vizinhos, são ainda familiares. Vamos todos entroncar  em António Francisco dos Reis, casado em 1756, vindo de Alvarães casar em Mazarefes com Maria Rodrigues, de Gavindos, junto do Vermoim de Baixo e Coibindos.

O José da Vila, de nome José Francisco Ferreira dos Reis, casado com Joana Fernandes Oliveira de Stª Marta, a 29 de Outubro de 1885, era filho de Manuel Francisco Ferreira dos Reis, natural de Viana do Castelo, de Stª Mª Maior, onde foi baptizado, neto de João Francisco dos Reis e Maria das Dores, moradores em Viana, ao lado da Doca, junto ao armazém do Cerqueira, e junto à garagem da SINCA-Cordoeiros. A sua mãe era Ana Ribeiro que casou para a casa do bisavô  do marido António Francisco Reis e avô, Manuel Francisco Reis. Ela era natural de Mazarefes e filha de José Pereira Pinto, que veio a falecer em 1900 e de Teresa Ribeiro. A Ana Ribeiro morreu com 37 anos, em 23 de Maio de 1890 depois de ter casado aos 32 anos, em 16 de Julho de 1884, pelo que esteve casada apenas 5 anos. Morreu ao dar à luz a filha Maria.

O Manuel trouxe o pai de Viana para Mazarefes e aí nasceu a casa dos da Vila para a distinguir da casa dos Brasileiros.

Do casamento nasceram 2 filhos: o Zé, conhecido pelo Zé da Vila e a Maria, nascida a 17 de Abril de 1890, conhecida por Maria Russa que casou com José Rodrigues Vaz Coutinho.

O João Francisco dos Reis era filho de Manuel Francisco dos Reis e Maria Rodrigues dos Reis. O pai do Zé da Vila era primo do Miguel Francisco dos Reis  e bisneto, pelo lado do Pai do António Francisco dos Reis, dono duma casa Térrea na esquina do lugar, (3) e de Maria Rodrigues da Rocha (1). Os pais eram primos carnais pelo lado da mãe, era neto de João Gonçalves Rato e de Maria Rodrigues dos Reis. Tinha um irmão com o mesmo nome do pai. Era ainda bissobrinho  de Manuel Francisco da Rocha, o Brasileiro, proprietário da casa grande.

O Zé da Vila e a Maria  Russa ficaram orfãos de mãe antes dos 4 anos, de modo que o tio, pai do Miguel, Manuel Francisco dos Reis que esteve no Brasil com o tio Manuel Francisco da Rocha, deve ter tomado conta do sobrinho, pois a sobrinha Maria, foi educada pela Tia Freirinha, ou ajudado o pai a criar os filhos. As casas tinham ligação interna e ficavam as cozinhas apenas separadas por uma parede com porta de passagem. O soleiro servia as duas casas separado apenas por uma fina pedra.

A Maria Russa casou com o José Rodrigues Vaz Coutinho e o único irmão, o José, casou com Joana Oliveira, de Stª Marta, enquanto o primo Miguel, da casa do lado norte, estava solteiro. O Miguel resolveu casar aos 52  anos, com Maria Pereira da Cunha que, pelo que consta, a mulher não levava boa vida, ou sofria de depressões e deitou-se afogar no poço da casa, um dia em que havia uma feira em Vila Verde para onde estava o primo Zé da Vila e o marido, Miguel Francisco dos Reis, de bicicleta. A notícia do seu afogamento deu-se no fim da missa de Domingo. Toda a gente soube, pois era Domingo e havia muita gente na igreja.

O Miguel teve com ele o sobrinho José Pitta Reis que era orfão de mãe, filho de Manuel Francisco Reis Júnior, seu irmão, casado em Darque com Rosa Pitta Bezerra e queria que este sobrinho casasse com a sobrinha Maria, filha da irmã Ana Ribeiro da Silva e seu marido António Rodrigues de Araújo Coutinho, o Cordoeiro, da Casa das Boas Novas. Foram infrutíferos os esforços feitos pelo tio Miguel com esse projecto e o sobrinho não teve outra solução senão abandonar o tio, para casar com quem pretendia que era a Rosa Sá Freitas Lima, de Darque.

Por outro lado, o Zé do Cordoeiro, Louvado, estava interessado em casar o filho João com a referida Maria, sua sobrinha em continuação com o pai dela e seu irmão, o António, o tio Miguel não estava muito pelos ajustes e como estava pesado de anos e queria alguém  que lhe fizesse companhia procurou então o casamento da sobrinha Maria com o primo, António Rodrigues Vaz Coutinho, filho dum irmão do pai, do Alexandre, tio também da referida sobrinha e os dois foram viver com ele. No entanto, ele morreu pouco depois, em 19 de Agosto de 1922. O Miguel fez testamento a favor de A. R. V. Coutinho e Maria Ribeiro da Silva Coutinho. Foram testemunhas o pai do Zé da Vila e o Zé da Vila.

1- O Manuel Francisco dos Reis faleceu cedo. A mãe , Maria Rodrigues, isto é, a esposa fez  testamento, em 1856, a favor dos 4 filhos ainda vivos o Manuel, o António, a Maria e o João. Ficaram 50 missas pelo filho Pe. Jerónimo e 10 missas pelo tio Manuel Francisco da Rocha.

O Manuel, casado e em sua companhia, o António casado nesta freguesia, a Maria casada para Vila de Punhe com José da Silva Quintas e João Francisco dos Reis, casado para Viana, e como avó do Jerónimo que foi casar em Vila Franca e andava a estudar para Padre, deixou-lhe um campo para o património. Faleceu a 29 de Outubro em 1863, neste lugar da Namorada, com 81 anos. O João ficou tutor do irmão Jerónimo (o que foi para Vila Franca) quando morreu o pai, pois tinha apenas 17 anos.

2- O Manuel Francisco da Rocha, solteiro, fez testamento a favor dos filhos da irmã, casada com António Francisco dos Reis, apenas excluindo o sobrinho José, ausente na Galiza, por ser um sobrinho muito rebelde e ingrato e àqueles sobrinhos que se opusessem a esta condição. Deixou as casas em que vive e o dinheiro dividido por todos.

À vizinha Maria Rodrigues, mulher de José Afonso Forte deixou 50.000 reis de esmola, à Maria Miranda, mulher de João Ribeiro Gomes, 30.000 reis, à Criada, Senhorinha Rodrigues à conta da soldada 130.000 reis, à Criada Maria Gomes, 70.000 reis e uma leira da “Virinha”, no lugar de Ferrais com obrigação de dar 1.200 reis à Senhora do Terço, da Capela do Espírito Santo, de Barcelos. No testamento exige que lhe sejam celebradas 615 missas e um ofício de 50 padres (1818).

3- O António Francisco dos Reis exigiu por testamento 3 ofícios de 7 padres, no funeral, no 30º dia e no ano e 228 missas: por sua alma (150), pela mulher Maria Rodrigues, sogra Maria Rodrigues, cunhada Joana Rodrigues, tia Joana, e tia Teresa Rodrigues, os pais - Gaspar Francisco dos Reis e Teresa Lourença e o terço ao filho Manuel Francisco dos Reis que vivia com uma demente. (1816).

4- O Miguel casou aos 52 anos com Maria Pereira Cunha, em 1912.

A Maria Rodrigues dos Reis nasceu em 1782, faleceu em 1863, com 81 anos, filha de João Gonçalves Rato e de Maria Rodrigues dos Reis, moradora no lugar da Namorada, a nossa casa.

O Manuel Francisco dos Reis compra uma casa pequena a José Barbosa e Joana Alves Correia que possuía na esquina do lugar por 18.000 reis.

O Miguel comprou o Souto d’Abade em 1910.   

 

 

 

OS BARRETOS

           

            Os Barretos vieram para Mazarefes na primeira metade do século XIX. Antes de 1843 não se encontram registos de nascimento, nem de morte, nem de casamento de Barretos. O  nascimento mais antigo deste apelido Barreto é o de Manuel Barreto, filho de Jerónimo Barreto das Boas Novas e de Ana Pereira de Barros, filha de mãe solteira (Mariana Pereira de Barros), que teve mais um filho o António que veio a casar com Maria Rosa Maciel, filha de mãe solteira, Francisca Maciel, e que, em 1878 teve uma filha chamada Maria e, em 1881, um outro chamado Caetano. O mesmo Jerónimo e esposa tiveram também um outro filho chamado João Barreto que casou com Teresa Cunha, filha de Francisco Rodrigues Barbosa e Maria da Cunha.

            O Jerónimo era filho de Francisco Velho Barreto casado com Antónia Sampaio.

            O João Barreto teve o filho José (1870), o António  (1873), o Manuel em 1877 e o João. O José casou com a Barrola, Rosa Alves Forte filha de Manuel Afonso Forte e Ana Alves, neta paterna de José Afonso Forte e Maria Rodrigues e neta materna de António Rocha e Joana Alves. Este José e Rosa tiveram 3 filhos: A Maria em 1905, o Manuel (o Pimpão) 1907, o António (1909). O José casado com a Barrola fizeram a casa onde viveu a Isaura conhecida por Isaura Pimpona falecida talvez em 1999 e a família.

O José Rodrigues Coutinho, casado com a Deolinda Coutinho, ambos primos, foi o transportador com o seu carro de bois de toda a pedra para construir a casa em frente ao José Rodrigues Araújo (O Catrino da Regadia) e não levou dinheiro pelo serviço.

O Barreto ofereceu-lhe uma libra, que lhe tinha custado 500 escudos, e foi esse o preço da casa.

Este casal teve 6 filhos: A Conceição que faleceu com 20 anos ou pouco mais e era nora do Pulcena, de Sabariz; o António casado com a Maria da Vila, morreu novo depois de cair da “burra” (instrumento de madeira que servia de suporte para serrar os toros). Era serrador de profissão e deixou 2 filhos. O Manuel que casou com a Meia Cara, a Isaura Alves Forte, que casou com o José Alves Passos, de Vila Franca, (O Tristeza), foram os pais da Flávia, da Emília, da Maria e da Eva que ficou em casa. A Maria casou tarde com um de Sabariz e o Joaquim casou para Vila Franca e morreu novo.

O Manuel nascido em 1877, saiu para o Brasil com a profissão de fogueteiro, em 1899. O António casou com Maria Vieira Lopes, filha de Manuel Vieira e Ana Lopes e teve os seguintes filhos: O João Gonçalves Barreto, nascido em 1907 (Troca), que veio a casar com Ana Leite

 

 

            O José Gonçalves Barreto, o Pimpão, e a Rosa Barrola fizeram a casa onde viveu a Isaura conhecida por Isaura Pimpona falecida talvez em 1999 e a família.

O José Rodrigues Coutinho, casado com a Deolinda Coutinho, ambos primos, foi o transportador com o seu carro de bois de toda a pedra para construir a casa em frente ao José Rodrigues Araújo (O Catrino da Regadia) e não levou dinheiro pelo serviço.

O Barreto ofereceu-lhe uma libra, que lhe tinha custado 500 escudos, e foi esse o preço da casa.

Este casal teve 6 filhos: A Conceição que faleceu com 20 anos ou pouco mais e era nora do Pulcena, de Sabariz, o António casado com a Maria da Vila, morreu novo depois de cair da “burra” (instrumento de madeira que servia de suporte para serrar os toros). Era serrador de profissão e deixou 2 filhos: o Manuel que casou com a Meia Cara, a Isaura Alves Forte, que casou com o José Alves Passos, de Vila Franca, (O Tristeza), e são pais da Flávia, da Emília, da Maria e da Eva que ficou em casa. A Maria casou tarde com um de Sabariz e o Joaquim casou para Vila Franca e morreu novo.

Pelo lado de João Gonçalves Barreto, casado com Ana Leite da família dos Brasileiros e pelo do José Barreto, casado com a Barrola, tocava na nossa família. Através da Maria do Céu Coutinho, de novo, se uniram à mesma família; ela, Maria do Céu, era afinal prima do marido pelo lado do pai (brasileiros) e pelo lado da mãe (barrolas).  

 

 

 

O Conde

 

Não apareceu Duque,  Marquês, nem alguma razão à primeira vista para haver um Conde. Não teria nada a ver com o “Rei Turco”, alcunha de João Dias (1833).  Por “Conde” era conhecido o José Dias do Monte. Era o Zé Dias, o “Conde Velho das barbas” e nasceu na Casa do Conde, assim dizia António da Costa Dias, seu bisneto, e acrescentou que seu avô trouxe,  como dote da casa do velho conde, apenas uma tesoura de podar.  Ora o Zé Dias do Monte era Conde porque nasceu na Casa do Conde. Pelo vistos o nome veio-lhe da casa. Não faltam por aí topónimos “Conde”, mas não se sabe a que Conde é referido em “Vila do Conde”. No nosso caso aqui tratar-se-ia duma alcunha, outra como o “Rei Turco”!...?

O que chegou até nós é que  o Conde era o referido homem, figura vulgar, avermelhado de cara,de média estatura, gordo, de barbas grandes pousadas no meio do largo peito, que casou com Rosa Rodrigues, viúva de António Afonso Forte, pisca ou também xica, rica de lavoura, cheia de campos e de propriedades. E tinha até uma grande adega de vinho bom, “vinho para paridas “, assim se dizia porque era usado para dar às mulheres depois de dar à luz para depressa se robustecerem.

Foi regedor (juiz de paz). Morreu de uma congestão de congro, na casa da sobrinha Bernarda Dias, irmã de António Fernandes da Rocha, aonde, viúvo, se tinha encostado.

 O seu único filho, José Dias do Monte Júnior, casou com a Maria “Marinheira” conhecida pela “Paustiça” de quem teve dois filhos: o Zé do Conde, assim conhecido hoje em Vila Franca, o José Barbosa Dias do Monte, para onde casou, e Maria Teresa que casou para Darque, onde morreu.

Conta-se:

O Conde andava um dia na feira de Barroselas a prejudicar o negócio de uma junta de bois em que também estava envolvido o homem da Rosa da Castela, o Francisco do Castela.

Alguns que se sentiram prejudicados deram-lhe uma grande coça e veio a pé de Barroselas indo directamente falar com o Abade António Francisco de Matos, dizendo-lhe: - olhe, Abade, como os sues amigos me puseram...

-          E tu o que queres agora daqui?

-          Eu queria receber um conselho de amigos.

-          Olha, então, vai para casa e não te metas noutra... senão levas mais...

O filho do velho conde, José Júnior casou com uma marinheira de Subportela, da família dos Canelas. Recebia só à conta dela, doze carros de pão de pensões que os caseiros lhe pagavam, era a “Paustiça” que acabou a vida paupérrima.  Foi para o Brasil, em 1925, e vendeu a fortuna toda ao ponto de reduzir a família à pobreza extrema. E desapareceu no Brasil. A mulher “abandalhou-se” e teve mais uma filha que morreu afogada, a Margarida, a outra filha da mulher que já não era de matrimónio, tendo deixado geração.

 Aliás, o José Júnior só acabou com a fortuna porque seguiu as pisadas do conde velho, seu pai, pois tinha também vendido a Quinta por 12 contos ao Mandarim de Anha.

Quando foi para o Brasil, deixou um procurador que se bastou bem, o “o Buxo” de Vila de Punhe. Levou o dinheiro todo à mulher, Maria Teresa da Silva Barbosa, das marinheiras,e nunca mais veio do Brasil, nem se soube dele, enquanto o filho José, agora casado em Vila Franca, “bateu o  fado” pela tropa  e andou a servir, passando os pecados da vida e o “sobe e desce” de sachola na mão.

 

 

 

 

 

OS CUNHAS

 

 

Onde hoje vive a Rosa Xixa nasceram os Cunhas.

José Gonçalves da Cunha, aos 16 anos já era pai e quando foi à inspecção já tinha 3 filhos, mas teve ainda mais 8. Louvado, casado com Maria Gonçalves de Matos foi pai de 11 filhos: o João de Matos Gonçalves da Cunha  que foi Regedor da freguesia e viveu um pouco mais abaixo, era o mais velho dos rapazes, a Antónia (conhecida pela tia Antónia Deira) que foi esposa de Luciano Rodrigues de Carvalho, da Banda de Música, era a mais velha das raparigas. Do 11º filho que se chamou Joaquim e, sendo o mais novo, foram padrinhos o João e a Antónia, o Manuel que casou com a Pericas, tia dos “fadinhos”, não teve filhos e puseram os bens um ao outro. O último deixaria tudo aos sobrinhos do seu lado. Foi o que aconteceu; por isso, o Manuel e o Delfim herdaram os bens da tia que foi a última a morrer, o Francisco, foi o pai de Manuel que tem o café e a mercearia (o Manuel R. Cunha). No local onde funciona este comércio, aí era a forja do Ferreiro Joaquim de Matos Gonçalves da Cunha, casado com Albina do Pequeno, e do irmão José antes de ter casado para a Meadela e montado outra oficina, ao lado da Igreja da referida terra. O José morreu sem filhos. A Maria era empregada doméstica em Tregosa e herdou os bens dos patrões, mas tendo morrido solteira, os bens ficaram para os sobrinhos (morreu em 1960). A Ana casou já idosa com o António, da freguesia de Outeiro e morreu sem filhos; e foram herdeiros a Maria de Oliveira Reis, filha de Laura d’Eira e do marido. A Teresa, solteira,  deixou os bens aos sobrinhos Rosa e Francisco, filhos da irmã Rosa de Matos Gonçalves da Cunha, onde hoje vive o José Catena e a Rosa Xixa e, na outra parte da casa, vive a viúva do Francisco que é a Teresa Pericas, sobrinha da Maria e Manuel.

            O Louvado José da Cunha tinha entre 5 a 6 juntas de gado para lavrar as terras de todos os que a ele recorressem e punha os filhos a tratar desse trabalho.

            A Laura Deira foi casada com o Manuel de Oliveira Reis, filho de José Oliveira, o Guloso, que por sua vez era casado  com a Sarronca.?

            Um episódio do tempo da traulitana, disputa entre a Monarquia e a República, o João de Matos Gonçalves da Cunha, o Francisco Rodrigues de Carvalho e o João de Araújo Coutinho (do Cordoeiro) cortaram pinheiros e atravessaram-nos no “Bate-Estacas”, tendo sido presos pelos republicanos. Estiveram presos em Braga. Ao Francisco Rodrigues de Carvalho, pai da Albina Deira, foi a ambulância buscá-lo sob prisão ao melancial, onde se encontrava com o irmão João Rodrigues de Carvalho, pai do António Coutinho de Carvalho. O Avelino Sousa era também monárquico, mas fugiu para Espanha, para não ser preso. O Francisco Matos, de Vila Franca, fugiu também e deixou o criado em casa...

 

 

 

OS PISCOS

 

 

           

            O primeiro Pisco que aparece como apelido é o de João Rodrigues Pisco que casa em 1728 com Maria Vaz (Souto). Deste casamento nasceram: Manuel(1737), João(1740), Maria(1743), António(1747) e Francisco (1750). Aparece um irmão Francisco Rodrigues Pisco casado com uma irmã Joana Vaz  e, em 1743 são pais de uma filha chamada Maria.

            O Manuel Rodrigues Pisco casou com Teresa Alves Calheiros em 1770 e tiveram Maria, Joana, Manuel, José e Maria. O Manuel casou com Joana Ribeiro e foi pai de 6 filhos.

            A casa de origem dos “Piscos” foi a casa de Manuel Ribeiro, o das Penas. Aí tinha nascido muito antes esta família que se expandiu e se dividiu em Piscos do Monte e Piscos da Regadia. Eram todos a mesma família, mas distinguiram-se uns dos outros por serem de lugares diferentes. Assim, há Piscos na Casa da Capela, na Casa do Zé Dias, na casa do falecido António Dias, na Casa do Francisco Sousa, na Conchada, na casa onde vive hoje a Rosa Coutinho, viúva do Zé Pita, na Casa do Manuel Coutinho e da Conceição, na Regadia, junto à casa dos herdeiros de Manuel Ribeiro e na Casa do Alexandre Pisco, junto à porta da Meira. Esta é a última casa mandada fazer pelo avô de José Joaquim Vaz, hoje é do Alexandre, da G.N.R. Como casou com uma mulher de longe e dela teve duas filhas que estão formadas e vivem no Porto e Coimbra, a casa está praticamente abandonada e acabará, em Mazarefes, esta família dos “Piscos”, restando um irmão em Vila Franca o José Joaquim Vaz.

            Quanto aos Piscos da Capela, o Joaquim era primo carnal de Manuel Pisco, pai do Alexandre Rodrigues Vaz e de José Joaquim Vaz. O Joaquim era filho único de rapazes no meio de algumas irmãs. Uma delas casou para Subportela, outra com o Francisco da Costa Dias, pai do António Dias, recentemente falecido e dos Padres Costa Dias.

            O José Joaquim Vaz, residente em Vila Franca, octagenário avançado, diz que o seu avô era carreteiro por caminhos velhos, com carros de bois. Fazia o transporte para o comércio entre Barcelos e Viana e vice-versa. O pai do seu avô tinha deixado dois filhos pequenos e órfãos, pois morreu numa mina muito novo. Trabalhava ao sarilho e este pegou-lhe na roupa e mandou-o ao fundo da mina, tendo morte imediata.

            O meu avô, continua, o José do Pisco, o que ainda hoje luta pela hegemonia da família, mas a dar-se por vencido... em Vila Franca, foi criado com um tio chamado Alexandre e o meu avô era, por isso, conhecido por o “Francisco do Alexandre”. Trata-se do meu avô de Vila Fria, era Francisco e morreu em 1920, a 20 de Novembro.

            O Francisco era casado com Margarida Rodrigues, de Carapeços. O avô de Carapeços era irmão de 9 rapazes e 9 raparigas. Foram todos os rapazes para o Brasil e as filhas ficaram cá. O avô foi carreteiro antes do casamento porque, ao casar, fez-se caseiro dum rico brasileiro, o Caroça de Vila Fria do qual herdou a metade da fortuna.

            A casa do avô de Vila Fria serviu de Berço também a António Pereira casado com a Clara do Monte.

            O avô de Mazarefes, o José Rodrigues Vaz, o das Penas, casado com Teresa Joaquina Leite, era lavadror e dedicava-se também a rachar lenha de carvalho, vendendo-a com facilidade em Darque. Foi assim que fez muita nota. Assim como a erguer vinhas de arame, com o cunhado Pereira...

            Esta é uma das famílias mais antigas de Mazarefes, mas que, de facto, está muito diluída socialmente pela freguesia e vamos vê-la desaparecida...

            Este registo ajudará a perpectuar a memória duma das famílias mais antigas da Terra.

 

MAZAREFES NAS INQUIRIÇÕES

 

 

     Esta freguesia é designada nas inquirições de D. Afonso II e D. Afonso III por S. Simão da Junqueira de Mazarefes.

     Estas terras não eram do Rei como podemos verificar nas inquirições de D. Afonso II. Não eram terras do padroado real e, por isso, não era o Rei que nomeava o abade pois eram terras da Igreja. Tinham carta de couto cedida em 1063, na Vila dos Arcos, por D. Fernando. Uma vez que era couto, tinha os privilégios especialmente inerentes a este título.

Eram proibidos os funcionários do Rei entrarem nestas terras e os foradores estavam libertos de alguns encargos para com a coroa. O senhorio tinha o poder de administrar a justiça, de exigir serviços e lançar impostos aos moradores das referidas terras. Todavia, quer os das terras reais, quer os das terras do domínio senhorial, eram obrigados a pagar o foro ao rei.

     No tempo de D. Afonso II, os de Mazarefes davam ao Rei, de foro, 10 morabitinos; se traduzíssemos em dinheiro actual (1944), dar-lhe-íamos o valor de 247$98 segundo os estudos monetários de J. Preto. Davam também dois carneiros que, segundo o Pe. Oliveira corresponderiam a 0,5 morabitino (ou maravedi velho) no tempo de D. Afonso III correspondia 421$20, e consequentemente, a metade era de 210$60. Todavia, o valor do meio morabitino de D. Afonso II era menor e traduzia em dinheiro actual (1944), equivaleria a 12$39.

     E iam ao castelo para defesa em caso ataque, para reparar ou guarnecer. Refere-se ao Castelo do Neiva. Além desses foros ainda tinham mais uma dádiva para a defesa de Gonduffi (couto de Gondufe, em Ponte de Lima), a qual constava de 1 modio de milho alvo, (parecido com painço) por medida de Ponte. Isto para se libertarem de serem chamados a defender o referido castelo. Diz-se «por medida de Ponte», pois as medidas deferiam de terra para terra ou de região para região, como ainda hoje acontece com algumas. Em Mazarefes as medidas usadas para pagamento dos foros seriam, portanto, as de Ponte de Lima.

     Pagavam todos estes foros além das quatro penas referentes aos principais crimes: furto, rapto, incesto e homicídio.

     Eram terras da igreja 6 «searas» e meio casal, isto é, 6 propriedades e metade de uma casa pertenciam à igreja. Ainda hoje existe na freguesia o topónimo «senras» que veio precisamente destas «searas».

     Eram propriedades de S. Paio de Antealtares, nesta freguesia: 12 casais (12 casas) e uma Quinta, além da igreja.

     Nas Inquirições de D. Afonso III também encontramos quais os foros que davam os de Mazarefes ao Rei.

     Davam todos os anos ao Rei 9 maravedis. Podiam ser novos ou velhos: Os novos eram aqueles que o Rei quis cunhar; mas como não tivesse chegado a isso, usou o maravedi de seu irmão e antecessor a que chamou maravedi velho. Este corresponderia a 412$20, segundo o estudo monetário do Pe. Oliveira (1964-66). Pagariam, então, cerca de 3.790$80 cada ano. Davam dois carneiros (210$60) e 1 módio de milho por medida de Ponte para a fossadeira de Gonduffi e vão ao Castelo. A fossadeira era a multa aplicada àqueles que não participavam nas expedições militares quando a isso estivessem obrigados.

O Pe. Carvalho da Costa na sua «Corografia Portuguesa» - vol. 1.º, págs. 307 (1.ª ed., 1706) diz o seguinte de Mazarefes:

     «S. Nicolao de Mazarefes he Abbadia que antigamente foy do mosteiro de Ante-Altares em Galliza de Monges Bentos; assi este Padroado & Couto, como o de Paradella & S. João da Ribeira em Ponte de Lima, comprou Diogo Pereira, que alguns dizem foy Alcaydemór de Villa-Nova-le Cerveira, & pela mesma via he senhor de ambos, & de sua grande Casa, que aqui tem, seu descendente Gaspar Pereira, Cavalleiro da Ordem de Cristo, & fidalgo da Casa de Sua Majestade, que leva os quartos de todos os frutos; rende a Abbadia quatrocentos mil réis, tem duzentos & sessenta & quatro vizinhos».

 

 

 

 

 

 

OBRIGAÇÕES DO PÁROCO

 

*Primeiramente, tem obrigação de ir com processão, duas vezes no ano, a Nossa Senhora das arcas, em Março e outra em Agosto, e em uma destas lhe devem dar seis vinteis de esmola de missa. Março e Abril.

 

       *É mais obrigação dos fregueses NOTAS SOBRE MAZAREFES

 

 

Capítulo das obrigações que o pároco tem em seu benefício e dos bens d’alma e direitos paroquiais.

 

ir com processão à dita capela outra vez no ano; à qual o pároco não é obrigado a ir salvo quiser ou lhe pagar. E esta foi comutada pelo Sr, Arcebispo de nossa diocese (?) do despacho para Nossa Senhora das Areias que não tem dia determinado.

 

       *Tem mais obrigação de ir a St.ª Marinha em... com procissão e dizer missa pelos fregueses, dando-lhe esmola competente a 8 de Julho.

 

       *Tem mais obr

 

 

       *Tem mais obrigação de ir em dia de Santa Maria Madalena em procissão à Igreja de São Miguel de Alvarães a 22 de (Julho ?).

 

       *Tem mais obrigação de ir com procissão a S. Brás em seu dia na freguesia de Darque, a 3 de Fevereiro.

 

       *Tem mais obrigação de ir com procissão a São Bento da deveza e dizer lá missa em o seu dia, dando-lhe os fregueses as suas ofertas e sendo esmola competente.

 

       *Tem mais as obrigações que têm todos os párocos.

 

Nota: Esta obrigação de São Bento da deveza como se disse! À dita capela da deveza se lhe faz a procissão hoje na igreja desta freguesia onde está a imagem de S. Bento no altar de Nossa Senhora do Rosário, donde se lhe diz missa no dia do santo, como também os clamores à alma ditos, os comutou, S. ª R. o Sr. D. Gaspar DG. A igreja desta freguesia.

 

 

15 de Janeiro         - S. Amaro

3 de Fevereiro       - S. Brás

3 de Março            - Sr.ª das Areias

15 de Março          - S. Bento

24 de Junho           - S. Amaro

18 de Julho            - Stª Marinha

22 de Julho            - S. Maria Magda

25 de Julho            - Santiago/ Anha

5 de Agosto           - Neves

25 de Agosto         - Sra das Areias

11 de Novembro   - S. Martinho Vila-Fria

 

 

UM ESTUDANTE DE MAZAREFES FEZ EMBASBACAR A POPULAÇÃO DE BRAGA!

 

            Isto deve ter sucedido aí pelo ano de 1885. Frequentava, então, o Seminário Conciliar um estudante, natural desta freguesia, chamado António Francisco de Matos. Era um aluno distinto e dotado de espírito de muita iniciativa.

            Lembrou-se de construir uma bicicleta de pau, com duas cordas, sendo a da frente grande e a de trás, pequena. E, se bem o pensou, bem o fez, como diz o nosso povo.

            Quando apareceu em público a dar ao pedal, fixado à roda grande da frente, os seus conterrâneos deliraram com a novidade, ficando todos de boca aberta perante os malabarismos do António Matos.

Como se tratava duma novidade sensacional, o nosso Estudante levou para Braga a Bicicleta da sua autoria. Pois não queiram saber, foi um acontecimento!

            Despovoou-se a cidade para ver equilibrado em cima de duas rodas um estudante, ficando os bracarenses verdadeiramente embasbacados diante «daquele mafarrico» que não caía de cima das duas rodas! Naquele tempo ainda era desconhecida do público «que a força do movimento é superior à força da gravidade».

Concluídos os seus estudos recebeu Ordens Sacras e paroquiou esta freguesia durante 45 anos, vindo a falecer em 7 de Maio de 1947, deixando uma memória abençoada, o nosso querido Padre Matos.

            Quantas vezes lhe ouvimos contar esta extraordinária proeza, que hoje recordamos, com acrisolado bairrismo.

            Foi, portanto, o nosso saudoso Abade (que Deus tenha) o pioneiro do ciclismo aqui no Minho!!!

            Só anos mais tarde, em 1903, é que apareceram as primeiras 6 bicicletas no acampamento das célebres manobras militares dos Feitos ou da Figueiró, aparecendo também o primeiro automóvel que o Rei D. Carlos trouxe de Lisboa no comboio até Viana. E de Viana ao local das manobras gastou 1,30 minutos a percorrer 17 quilómetros. Fez também maior sucesso a presença do automóvel do que a do Rei.

            Há menos de um século, que progressos se não têm assinalado nos meios de comunicação e nas velocidades com que são vencidas as distâncias?!

 

16 de Julho de 1970

 

 

 

 

CASA DO POVO DE MAZAREFES

 

 

COMEMORAÇÃO DOS 30 ANOS E HOMENAGEM AO SR. DR. LAGES

 

 

            No passado dia 21, conforme noticiámos, a direcção da Casa do Povo de Mazarefes comemorou os seus 30 anos de serviço decorrido sobre a sua fundação e prestou uma simples, mas significativa homenagem ao clínico daquele organismo que fez os seus 25 anos de assíduo serviço naquela casa.

            Pelas 16 horas, começou a chegar ao adro das Boas-Novas a população local para apresentar cumprimentos ao Sr. Dr. Álvaro Lages e assistir à missa de Acção de Graças, celebrada pelo digníssimo pároco, Pe. Sebastião Ferreira que à homilia enalteceu a festa relacionando-o com a doutrina do Evangelho.

            À mesma hora chegavam ao local as autoridades concelhias e o Sr. presidente da Câmara, representava o Sr. governador Civil que se encontrava ausente.

            Depois da Missa celebrada na capela da Senhora das Boas-Novas, houve uma sessão solene na Casa do Povo com a sala apinhada de gente e de portas abertas, presidida pelo Sr. Presidente da Câmara, ladeado pelo Sr. Dr. Álvaro Lages, homenageado, Delegado e Subdelegado do INTP, vice-presidente da Caixa de Previdência e A. F. do Distrito de Viana, Presidente da Federação das Casas do Povo, Chefe da Missão de Acção Social, presidentes das Juntas de Mazarefes e Vila Fria, Presidente da Assembleia Geral da Casa do Povo e Presidente da Direcção.

            Depois de aberta a sessão discursou o Presidente da Direcção Sr. Paulino, referindo-se à efeméride dos 30 anos da Casa do Povo e dos 25 anos do Sr. Dr. Álvaro Lages, terminando: «Para que ao longo dos futuros anos de V. Ex.ª e amável família, fique a lembrança destas gentes de Mazarefes e Vila Fria, peço que tenha a honra de aceitar das mãos do Presidente da Junta de Freguesia, uma modesta recordação que os habitantes destas terras muito sinceramente oferecem como prova da maior gratidão a V. Ex.ª.»

            Falou seguidamente o Presidente da Federação que depois de saudar a todos e em especial o Sr. Dr. Álvaro Lages falou da Casa do Povo nos seus diversos campos de acção: Cooperação Social, Representação Profissional dos Trabalhadores Agrícolas por conta de outrem, Previdência e assistência. Ao terminar louvou estas gentes e disse: «Parabéns queridos amigos de Mazarefes!

Tendes bons dirigentes!

Tendes um médico exemplar!

Sabei, pois, estimá-los.»

            Falou em termos elogiosos o Delegado do INTP sobre a efeméride e referiu-se à acção conjunta entre a Casa do Povo e o pároco e vice-versa.

            Levantou-se o homenageado e agradeceu a todos.

            Encerrou a sessão o Sr. Eng.º Reis Faria que se referiu em termos elogiosos à acção da Casa do Povo e dos muitos serviços prestados pelo Sr. Dr. Lages.

            Está de parabéns a Direcção da Casa do Povo, presidida pelo Sr. Agostinho Manuel Paulino, de quem se ouviu também grandes elogios, como disse o Presidente da Federação, Sr. Meira: «É pessoa que também tem sabido continuar a obra iniciada há 30 anos acrescentando-lhe algo de muito valioso – a sua nova sede e também a sua nova alma». E ainda o Sr. Dr. Lages: Quer fazer da Casa do Povo que dirige a Casa piloto do Distrito.

            Está de parabéns a população porque também ela acatou a ideia cumprindo um dever – o dever da gratidão com muita simplicidade mas com grande significado.

 

 

 

 

OS PADROEIROS DE MAZAREFES

 

 

            O actual padroeiro da freguesia de Mazarefes é S. Nicolau, mas até ao séc. XVI foi S. Simão. Trata-se de S. Nicolau, bispo de Myra, no séc. IV, padroeiro dos meninos e o grande patrono da Rússia, e de S. Simão o Apóstolo.

            É incontestável o nome «S. Simão da Junqueira de Mazarefes» no Séc. XI, como verificamos em documentos do tempo do bispo D. Pedro. Era, portanto, o padroeiro da freguesia nessa ocasião. Foi terra do Julgado de Neiva.

            Há vários documentos além dos do tempo de D. Pedro, que designam a freguesia por « S. Simão da Junqueira de Mazarefes». Tais documentos são de 1220, de 1258, de 1290, de 1320, de 1528.

            O primeiro documento que nos diz haver certa mudança de orago, é de 1551: «S. Simão da Junqueira que às vezes também se chama S. Nicolau de Mazarefes». Isto não quer dizer que se trata de duas freguesias distintas, mas sim de uma freguesia que tinha a sua primitiva igreja paroquial, vindo a possuir outra com novo padroeiro devido a circunstâncias diversas. Uma delas seria o assoreamento do Rio Lima. As águas invadiam a parte baixa da freguesia onde hoje se chama «Veiga de S. Simão», obrigando os habitantes a viverem mais para o sul, parte mais alta. A igreja de S. Simão lá ficou abandonada, longe da povoação e de Inverno cercada de água.

            Portanto tornava-se mais fácil para os fiéis frequentar os actos litúrgicos na igreja sob a invocação de S. Nicolau, pertença do antigo convento beneditino. Isto mesmo foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro.

            Em 1551, o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos fidalgos «Pereiras» os quais fizeram obras na igreja. Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores completando as obras que os «Pereiras» tinham começado.

            Entretanto a igreja de S. Simão foi-se arruinando e até que se extinguiu.

            A igreja de S. Nicolau passou a ser paroquial e, segundo diz o abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes, foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja.

 

 

12 de Junho de 1972.

 

 

 

 

NOTAS SOBRE MAZAREFES

 

ALGUNS PADRES NATURAIS DE MAZAREFES DESDE 1689

 

            Nota: Entre parêntesis indico o século em que nasceu.

 

Pe. Brás Dias – do habito de S. Pedro. (séc. XVII)

Pe. António de Novais – (séc. XVII)

Pe. André de Barros – (séc. XVII)

Pe. Cristóvão Gonçalves Ribeiro – do lugar do Monte. (séc. XVII)

Pe. Manuel Fernandes – faleceu em Braga e foi sepultado nos claustros da Sé. (séc. XVII)

Pe. Tomás Barbosa de Almeida – foi abade de Vilar Sêco da Lomba, bispado de Bragança. (séc. XVIII)

Pe. Manuel Rodrigues de Carvalho – (séc. XVIII)

Pe. João Alves Calheiros – Foi pároco em S. Salvador da Torre e morreu afogado em Cardielos no rio Lima. (séc. XVIII)

Pe. Manuel Martins Carvalho – viveu na casa que mais tarde foi do Pe. Ant. Francisco de Matos e, agora, actual residência. Esteve no Brasil e em 1805, quando voltou, ampliou a capela das Boas-Novas. (séc. XVIII)

Pe. Manuel de Araújo Coutinho – foi abade de Tenões e presidente da Confraria do Bom-Jesus do Monte. Distribuiu a sua fortuna pela confraria, pelo Asilo de Velhos de N.ª Sr.ª da Caridade de Viana e em St.ª Luzia (Viana). (Séc. XVIII)

Pe. Jerónimo Francisco dos Reis – viveu com a Família numa casa muito pobre e que hoje é propriedade de António Rodrigues Vaz Coutinho. (séc. XIX)

Pe. José de Araújo Coutinho – pastoreou a terra natal durante duas épocas. Foi o principal impulsionador da obra da capela de S. Simão da Junqueira, sobre os escombros da antiga igreja paroquial, em 1860. Morreu em Braga na rua de S. Victor. (séx.XIX)

Pe. António Francisco de Matos – foi pároco de Mazarefes durante 54 anos. Nasceu a 9 de Junho de 1860. Seus pais eram lavradores e chamavam-se: Francisco António de Matos e Antónia da Piedade de Passos Pereira Maciel, natural de Castelo do Neiva.

Frequentou, já tarde, os estudos eclesiásticos e ordenou-se no dia de S. Félix de Valois- 20 de Novembro de 1887 – com 27 anos. (refere-se-lhe o Serão n.º 100).

Recebeu as ordens sacras do D. António José de Freitas Honorato, arcebispo de Braga. Era poeta e historiador. Pessoa muito culta a apelidada pelo povo de «sábio». Organizou uma monografia sobre Mazarefes. Foi um padre de vida sacerdotal fecunda. Comemorou as bodas de ouro sacerdotais em 20 de Novembro de 1937.

            Em testamento deixou à freguesia a actual residência e cerca de 20.000m2 de terreno que faz parte do passal. Morreu em 7 de Março de 1947.

Pe. Manuel Fernandes Barbosa – paroquiou Darque (séc. XIX)

Pe. Manuel Pereira Polónia – Conhecido por Pe. Boavista. Nunca paroquiou e viveu na casa e Quinta da Boavista. (séc. XIX)

Pe. José Pereira Polónia – Pastoreou S. Romão do Neiva. (séc. XIX)

Pe. José Pereira da Silva Pinto – Foi pároco de Vila Fria. (séc. XIX)

Pe. José Rodrigues de Araújo Coutinho – Foi pároco em Anha. (séc. XIX)

Pe. Manuel António da Cunha – Pastoreou Vila Fria. (séc. XIX)

Pe. José Martins – Foi pároco de Castelo do Neiva (séc. XIX)

Pe. Francisco da Costa Dias – Foi pároco de Carreço. (séc. XIX)

Pe. Manuel da Costa Dias – paroquiou Verdoejo e Sanfins. (séc, XX)

Pe. Albino Maciel de Miranda, sobrinho do abade Ant. F. de Matos. Ordenou-se em 1928. Foi prefeito no Seminário de Nossa Senhora da Conceição, Seminário Conciliar, Vice-Reitor do Seminário de Cucujães, pároco de Barbudo, Mazarefes, Meadela, Capelão da Caridade e faleceu em 1970.

            Também descende de família natural e residente em Mazarefes o Monsenhor Manuel Vaz Coutinho, actual encarregado da administração dos Seminários de Braga.

            O autor destas linhas foi ordenado em 1971. É de Mazarefes.

 

 

PÁROCOS DE MAZAREFES DE 1596

 

Assinam os assentos de registo do baptismo, casamento e de óbito os seguintes sacerdotes:

 

1596 – Abbe. António Gonçalves.

1602 – Pe. Alvares.

1606 - ...«e como cura desta freguesia por apresentação do abbe. Ant. Gonçalves, Pe. João Afonso Carneiro».

1608 – Pe. Álvares.

1616 – Pe. F. Marques (... «eu coadjutor desta igreja »).

1617 – Pe. Álvares.

1622 – Pe  João de Sá (coadjutor).

1524 – Pe  Baltazar da Rocha Branco, abbe.

1626 – Pe  Amador Antunes.

1628 – Baltazar da Rocha Branco.

1645 – Pe  João de Barros (abbe.).

1669 – Enc. do Manuel João do Rego.

1687 – Enc. do João Ant. de Araújo.

1687 – Pe Francisco Gomes Rebello (Abbe.).

1688 – Pe  José da Costa (encomendado).

1688 – Enc. do João de Barros.

1707 – Pe  João Pereira Sibrão (capelão).

1711 – Pe  Francisco Martins Ribeiro (capelão).

1728 – Pe  Calixto da Cunha Valadares.

1728 – Pe. Sebastião Rodrigues Ribeiro, cura e encomendado.

1736 – Abbe . Manuel Azevedo Portugal.

1776 – Enc. do João Fernandes Ribeiro.

1781 – Enc. do João Alves Fiúza.

1798 – Enc. do António Duarte Vieira.

1806 – Enc. do Jerónimo José da Costa.

1812 – Abbe António José de Sousa Palhão.

1836 – Enc. do João Rodrigues de Carvalho

1843 – Abbe. Manuel Rodrigues Lima.

1861 – Pe José de Araújo Coutinho.

1862 – Abbe. José Martins da Silva.

1882 – Pe. José de Araújo Coutinho

1882 – Abbe. José Martins da Silva.

1892 – Pe. António Francisco de Matos.

1945 – Pe. Albino Maciel de Miranda (como coadjutor do tio).

1947 – Pe António Quesado (freguesia anexa a Vila Franca).

1948 – Pe. Albino M. de Miranda.

1948 – (desde Outubro, assina o P.e Delfim de Sá. Freguesia anexa a Darque).

1952 – Pe José de Jesus Soares Ribeiro.

1963 – Pe Eusébio Esteves Baptista.

1970 – Pe Sebastião Pires Ferreira (o actual pároco).

(Em registos de baptismo, casamento e óbitos nos «livros mistos» existentes na B. P. de Braga e no Cartório Paroquial.

6 de Janeiro de 1975

 

 

 

RESIDÊNCIA PAROQUIAL DE MAZAREFES

 

 

       A freguesia, como comunidade paroquial, nasceu junto ao rio com S. Simão por padroeiro, onde actualmente se ergue a capela sob a invocação deste santo a perpectuar o local da primitiva igreja paroquial arruinada através dos séculos. Todavia a freguesia nem sempre se conservou aí, mudando-se mais para o sul devido ao assoreamento do rio Lima.

       Desde 1592 encontram-se os livros paroquiais assinados com o designativo de: pároco, cura, abade e encomendado. Não sabemos, porém, se havia um pároco propriamente dito.

       Sabe-se que a freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes já existia nos primórdios da nacionalidade e antes da formação da nossa comunidade portuguesa já aqui havia um convento beneditino. Mais tarde as terras do referido convento e o próprio convento passaram por emprazamento às mãos dos fidalgos «Pereiras» e «Azevedos» os quais ficaram com o direito de apresentação do abade, que seria o pároco vivendo numa casa cedida pelos fidalgos.

       No livro das visitas que se encontra no cartório paroquial, verificamos certas referências feitas pelo Pe. Manuel Meira da Rocha, abade de Deão, quando visitou a freguesia em 11 de Outubro de 1847, das quais deduzimos: esta freguesia não tinha nessa ocasião casa de residência; os párocos tinham vivido em casas que por obséquio lhes davam os fidalgos, pois tinham ficado com o direito de apresentação desta igreja, o que deixaram de fazer logo que perderam o referido direito; vivendo depois em casas de aluguer que nem sempre pareciam decentes e próprias para um pároco, nem próximas à igreja como convinha.

       O referido abade de Deão não deixou de lançar um apelo a que o pároco com a Junta e homens de probidade procurassem com toda a prudência e meios suaves arranjar uma residência junto da igreja para mais facilmente o pároco provir no espiritual e em tudo com mais facilidade.

       Em 1863 já a freguesia tinha comprado uma casa e um quintal junto à capela das Boas-Novas. Ainda a conheci em muito mau estado pois hoje está transformada em salão paroquial. Consta que nesta casa viveu o padre «Brincas» natural de Fragoso. Não sabemos quantos mais teriam vivido nela, pois muitos dos párocos eram daqui naturais e viveriam em casa da família como aconteceu com o abade Matos.

       Em 1947, o Pe. António Francisco de Matos legou à freguesia metade da sua casa para residência paroquial. A freguesia, porém, veio a comprar a outra metade e ficou o todo a servir a freguesia.

       Esta casa foi construída no séc. XVIII por José Alves Calheiros, no lugar da Formiga, e ampliada, mais tarde, pelo sobrinho Pe. Manuel Rodrigues Martins que a tinha recebido em herança. Depois veio a pertencer aos pais e ao abade Matos de saudosa memória.

       É esta a casa que ainda hoje se conserva em muito bom estado, embora com algumas modificações como é de supor.

5 de Maio de 1972

 

 

 

 

A CASA DO CIRURGIÃO DE MAZAREFES

 

 

     Ouve-se chamar «casa do cirurgião» a um casario situado no lugar da Regadia e, como o nome me fazia lembrar um desconhecido João Semana, além da casa merecer certo reparo pelo seu aspecto antigo, dei-me ao cuidado de saber algo sobre a sua origem.

     Foi um trabalho difícil. Não consegui tudo o que queria mas, com aturado estudo e um pouco de paciência, ainda descobri alguns pormenores da história desta velha habitação.

     É uma casa das mais antigas do lugar da Regadia. Apresenta um estilo de casa de lavoura com todas as características de ter sido casa abastada,

     Na padieira do portal de entrada encontra-se a data de 1765, além de outros caracteres. A casa, todavia, é anterior àquela data que apenas deve assinalar a obra de portal.

     Ao lugar onde se encontra erecta nem sempre se chamou Regadia, mas sim Ermígio, há alguns anos atrás. Actualmente ora lhe chamam uma coisa, ora lhe chamam outra.

     Por 1739 pertencia esta casa a Catarina Rodrigues, casada com António Francisco, sendo depois herdada por Maria Rodrigues, filha daquele casal e esposa de João Rodrigues Ribeiro. À morte destes, herdou-a a filha única, chamada Maria Rodrigues Viana que veio a casar com o tenente José António de Matos, filho de José António de Matos e de Maria Gomes, de Chafé, Anha.

     É o primeiro apelido «Matos» que aparece em Mazarefes. Dizem que os «Matos» vieram de Chafé para Mazarefes e, daqui, para Vila Franca.

     Este matrimónio da morgada foi coroado com sete filhos.

     Seguidamente sucedeu nos domínios desta casa o filho José António de Matos, casado com Maria Barbosa de Almeida e, depois, seu filho Francisco António de Matos casado com Rosa do Espírito Santo Moreira, de Darque. Foi este homem, o Francisco, que deu o nome à casa.

     Nasceu em 1838. Formou-se em cirurgia na escola do Porto, já com mais de 30 anos, casando-se em 1877. Faleceu no ano de 1922.

     A casa actualmente está dividida em duas partes; a parte norte pertence a uma filha do cirurgião, Maria Moreira de Matos, e a parte sul é propriedade do Sr. Manuel Almeida da Riba e de Ana Alves da Cunha.

     Existe uma tradição familiar a respeito da sua antiguidade. Dizem que foi uma casa opulenta, à qual pertenciam muitos dos terrenos dos lugares do Ermígio, das Penas e da Regadia. Viveu aqui uma morgada riquíssima.

     Foi nesse tempo assaltada por uma quadrilha de ladrões vindos de Ponte de Lima. Estes conseguiram entrar em casa através de um jinelo que possui a cozinha. Ainda agora mostra o jinelo serrado como prova do roubo. Os ladrões carregaram 12 mulas com géneros e libras em ouro. Não levaram o cordão de ouro da criada porque esta o atirou à lareira, ficando escondido na borralha.

     Dizem também que a morgada possuía albergue para os pobres, gastando bastantes rasas de milho por mês e muitos litros de vinho. Albergava os pobres numa casa ao lado, onde conservavam ainda hoje um grande forno a que chamam – o forno dos pobres. Por isso mesmo os pobres tinham grande estima por esta mulher a quem começaram a chamar santa após a sua morte e, movidos até por certa crendice, diziam ter vindo a este mundo e aparecido à família a reclamar justiça e caridade para com eles. Ninguém sabe o nome da morgada, mas pelo que encontrei através da árvore genealógica, não resta dúvidas em afirmar que tal mulher se chamava Maria Rodrigues Viana, nascida a 23 de Novembro de 1767, casada em 1784 com supra dito de Chafé e falecida em 11 de Junho de 1856. O apelido «Viana» deve ter vindo do padrinho de baptismo.

 

24 de Abril de 1972

 

 

 

 

A IGREJA PAROQUIAL DE MAZAREFES

 

 

     Esta igreja, nos primeiros tempos da sua edificação constituía o mosteiro do convento beneditino, aqui fundado pelos monges de Santiago de Compostela.

     Quanto à sua actual posição topográfica, fica situada a 2km da capela de S. Simão, para o lado sul, num local onde se torna vista e admirada desde Santa Luzia a S. Silvestre, sem, todavia, acontecer o mesmo do lado sul, nascente e poente. Destes dois últimos pontos cardeais duas perspectivas maravilhosas se desfrutam mas só podem ser focadas a menos de 500m.

     Pela retirada dos monges e passagem destas terras para os Pereiras, começou a ser utilizada pelos fidalgos como capela da sua casa, sob a invocação de S. Nicolau.

     Foram várias as transformações por que passou até aos nossos dias, como indica a diversidade de estilos.

     Vejamos: A capela-mor apresenta-nos do lado norte e nascente uma parede românica, actualmente coberta com cal. A cornija do norte é diferente da cornija do lado sul e do lado nascente (em papo de rola). A cornija do lado sul é igual à cornija do corpo da igreja.

     As duas cruzes que encimam a capela-mor são diferentes da que está na parte frontal da igreja. São duas cruzes estreadas e de pequenas dimensões. A que se encontra sobre a frente é uma cruz latina trevada e de maiores proporções.

     Portanto, não há dúvida em afirmar que é a capela-mor a parte mais antiga, talvez uma das partes primitivas do convento.

     O corpo da igreja, bem como a ampliação da capela-mor com a sua tão artística tribuna e os dois altares laterais em talha de estilo barroco-renascentista, foi obra dos Pereiras, continuada depois pelos Azevedos, vendo-se a águia (brasão dos Azevedos) sobre os referidos altares.

     Por cima da porta de travessa, na parte exterior, encontra-se um brasão com as armas dos fidalgos «Pereiras» e «Pessanhas» (?).

     Também a ornamentar a porta principal existe em cantaria um frontal aberto simples com uma concha na abertura e mais acima uma rosácia e um nicho com a imagem, em pedra, do padroeiro. A frente deve ser dos fins do séc. XVIII.

     Há ainda várias obras, como a construção do passadiço, da casa para o coro, a construção da torre, a ampliação do coro e das escadas que para ele dão entrada.

Diz o Pe. Matos que sobre o levantamento da torre é um facto ainda bem vivo na tradição. Sabe-se, diz ele, que antes desta obra os sinos se encontravam pendurados nos troncos de castanheiros a pequena distância da igreja. A torre é obra dos princípios do séc. XIX.

     É recente a construção e ampliação do coro, bem como os dois últimos altares laterais, (fins do séc. XVIII ?) feitos em estilo bastante diferente do que já existia e o sanefão adquirido na igreja de Caminho em estilo barroco tardio (D. João V) e aqui adaptado.

     O guarda-vento existente na porta principal também foi construído neste século em 1903.

     A tribuna do estilo barroco-renascentista está deveras bem centrada, com um grande altar na base. A talha é admirável. Os arcos reais e as colunas salmónicas com o fuste retorcido imitando os pámpanos de ramos e parra com cachos de uvas a serem comidos pelas aves estão bem delineados. Os arcos reais estão unidos por um grande laço ao centro. Aqui e acolá encontram-se repolhudos, ora mostrando só o rosto, ora mostrando todo o corpo suspenso do conjunto das colunas com as suas bases áticas de pequena dimensão e com capitéis de ordem composita e folhas de acanto. Todo um conjunto é de uma beleza incomparável embora de tom um tanto pesado.

     Os degraus do trono apresentam características de um estilo posterior (D. João V) e sobre eles existe um resplendor com uma dezena de rostos de anjos em adoração.

     Em alguns retábulos vê-se com frequência folhagem serpeante e algumas grinaldas.

     É também interessante a configuração do sacrário: Tem em forma de espelho, por baixo da porta, um dístico com as palavras da consagração; a porta tem o livro dos evangelhos e sobre ele descansa o cordeiro pascal; ao centro da porta vê-se uma bandeira formando o monograma de Cristo; em toda a volta encontra-se um floreado ou arabescos com dois grandes anjos sustentam e por cima dela uma cornija com umas palmetas ou volutas amplas formando um pequeno frontal com uma flor ao centro, característica da renascença.

     O altar-mor é muito posterior e talvez do séc. XIX. Do lado esquerdo da capela-mor há um grande jazigo do séc. XVI, metido na parede com uma armação em madeira e uma bela pintura da época. Vendo-se ao centro o brasão de fidalgo e cavaleiro. Na parte superior tem a seguinte legenda: «Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira senhor dos Coutos de Mazarefes e Paradella cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor Chanceler da Casa de Suplicação. 1579.»

     Os dois altares laterais são posteriores mas de estilo semelhante ao da tribuna.

     Os arcos reais dos referidos altares são entremeados por uma espécie de cairel. Os meninos geralmente apresentam-se com uma faixa azul e branca ou vermelha e branca, conforme o altar. Sobre a cornija do altar encontram-se dois meninos enfaixados, de pé, com uma palma da mão direita. Ainda sobre a cornija vê-se uma espécie de frontão triangular feito de folhas de acanto e anjos, com um espelho ao centro e uma águia sobre o vórtice superior, símbolo heráldico dos Azevedos.

O púlpito é da mesma ocasião, com base em pedra, pintada com motivos da época e gradeamento em madeira torneada e pintada.

     São de bela e variada escultura as imagens. De entre elas distinguem-se pelo seu valor histórico a de S. Simão e a de S. Bento; a primeira com todas as características da sua antiguidade, de escultura bastante tosca, popular, mas feita numa das madeiras mais preciosas do tempo e a segunda é ainda a da antiga ermida desta invocação e de talha bastante perfeita. Outras se distinguem pela sua talha artística modelar e escultura antiga de grande  perfeição. São elas a dos padroeiros S. Nicolau e S. Paulo que se erguem na tribuna.

     A mais bela, pelo seu valor artístico, é a da Sr.ª do Rosário, uma grande imagem de escultura e pintura muito perfeita.

     As cancelas em ferro do adro foram colocadas pela junta em 1883, quando os enterros começaram a ser feitos no adro. Fica mais ou menos descrita a igreja paroquial, modesta mas rica no confronto dos seus tons arquitectónicos e na beleza do seu ambiente perfeitamente religioso.

- Em 1882 foi estucado todo o tecto. A obra esteve a cargo de um mestre de Vila de Pune que a faria de Agosto a Outubro por 165.480 réis.

- Em 1887 o trono e a tribuna estavam em muito mau estado.

 

15 de Agosto de 1971.

 

     Esta igreja entrou há bem pouco tempo em obras de restauro e ampliação que lhe vão dar mais formosura dentro do mesmo estilo.

 

 

 

NOTAS SOBRE O PASSAL DE MAZAREFES

 

 

O Passal de Mazarefes foi arrematado em hasta pública na administração do concelho de Viana, por 23$000 reis, no dia 5 de Maio de 1912 por Francisco Fernandes Facha, sendo fiador Boaventura de Lima Fernandes.

     A arrematação tinha sido anunciada por edital, datado do 23 de Abril de 1912, assinado por João Loureiro da Rocha Barbosa e Vasconcelos, presidente da comissão concelhia de administração dos Bens Eclesiásticos, em Viana. O secretário era Alberto Meira. Nesta arrematação dos passais entravam também as casas de despejos, as cortes de  gado e os terrenos contíguos, mas não entravam as residências (excepto a de Lanheses).

     Francisco Fernandes Facha arrematou, na mesma data, no passal de Lanheses e a residência, e foi fiador da compra dos passais de Freixieiro de Soutelo e de S. Pedro de Soutela.

     Boaventura de Lima Fernandes, que foi também fiador da compra do passal de Lanheses foi um dos que acompanhou, em 25 de Março de 1916, um Sábado, o Administrador do Concelho Adriano Peixoto, para proceder ao arrombamento da porta da igreja de Monserrate e iniciar sua demolição.

 

     (Notas coligidas por José Luís Branco da “Folha de Viana” de Maio de 1912, h-3, e de 29 de Março de 1916, h-3).

 

 

 

 

 

 

 

– O CEMITÉRIO –

 

 

            A tradição reza que o primitivo cemitério paroquial foi junto à igreja de S. Simão da Junqueira. Já neste  século se encontraram junto da capela, situada no sítio da primitiva igreja paroquial, vestígios de cemitério, do lado nascente da capela (de S. Simão).

            Quando a igreja paroquial começou a ser de S. Nicolau, os enterros eram feitos dentro da igreja e, a respeito disso, em 1847, o abade de Deão, Pe  Manuel Meira da Rocha, numa visita oficial sugeriu que deviam ser endireitadas as campas da igreja e concertados os taburnos.

            Quando as leis do governo proibiram os enterros nas igrejas, começaram estes a serem feitos no adro, até 1886, ano em que se inaugurou o cemitério actual. Não era de grandes dimensões, pois passados poucos anos, em 1914, a junta deliberou aumentar ao cimitério para o lado nascente e poente mais 500 m2. Para isso teria de adquirir terreno de dois proprietários: 347 m2 do Dr. José Maria d’Abreu Freire e 153 m2 de Francisco Manuel de Menezes Pinheiro de Azevedo.

            Não foi fácil executar as suas deliberações como se verifica na resposta a uma carta que a Junta e o Pároco escreveu a Francisco Manuel: não gostou que o cemitério se tivesse construído naquele local e insurgia-se que a lei não permitia a construção destas coisas junto das fontes nem de casas por motivos higiénicos. Ao mesmo tempo oferecia terreno para ser construído de novo noutro local. Dizia também ter havido erro na administração, preços baixos e terreno mal aproveitado. Caso contrário, o que estava chegava muito bem.

            Não consegui descobrir se a Junta chegou a realizar o seu plano ou não.

            Em 1957, quando era presidente da Junta o Sr. José de Oliveira da Silva Reis, o cemitério foi alargado para o lado norte.

 

 

 

 

 

 

1843 – Abbe. Manuel Rodrigues Lima.

1861 – Pe José de Araújo Coutinho.

1862 – Abbe. José Martins da Silva.

1882 – Pe. José de Araújo Coutinho

1882 – Abbe. José Martins da Silva.

1892 – Pe. António Francisco de Matos.

1945 – Pe. Albino Maciel de Miranda (como coadjutor do tio).

1947 – Pe António Quesado (freguesia anexa a Vila Franca).

1948 – Pe. Albino M. de Miranda.

1948 – (desde Outubro, assina o P.e Delfim de Sá. Freguesia anexa a Darque).

1952 – Pe José de Jesus Soares Ribeiro.

1963 – Pe Eusébio Esteves Baptista.

1970 – Pe Sebastião Pires Ferreira (o actual pároco).

(Em registos de baptismo, casamento e óbitos nos «livros mistos» existentes na B. P. de Braga e no Cartório Paroquial.

6 de Janeiro de 1975

 

 

 

 

 

 

 

A CAPELA DA SENHORA DAS BOAS-NOVAS EM MAZAREFES

 

 

            Está situada esta capela no centro da freguesia passando-lhe junto a estrada municipal do mesmo nome e que liga as estradas nacionais n.º 213 e n.º 308.

            Trata-se de uma capela bastante ampla, cujas proporções se confundem com uma igreja paroquial levando até ao engano muitos dos que transitam pela primeira vez pela referida estrada. É uma grande capela com uma linda torre de relógio.

            Não se sabe de quando data a sua fundação. Uma vaga tradição atesta-nos que, a princípio, seria uma pequenina capela escondida entre oliveirais como acontecia naquele tempo com muitas outras. Também é vulgar ouvir-se dizer a pessoas idosas que a princípio era uma capela sob a invocação da Senhora dos Prazeres, a quem o povo designava somente pelo nome de «Senhora».

O nome «Senhora das Boas-Novas», dizem, foi inspirado pela devoção do povo quando viu abandonar os lares os seus entes queridos à procura de uma vida melhor em terras do Brasil. É evidente que a gente de Mazarefes mergulhava na saudade e na incerteza ia ajoelhar-se aos pés da «Senhora» a pedir as «boas novas» e, como testemunho de gratidão ou inconscientemente através do tempo lhe teriam mudado o nome, vindo o novo título de glória - «A Senhora das Boas-Novas» que ainda hoje vigora e vigorará.

            A sua fundação deve remontar a alguns séculos atrás, talvez ao século XV ou XVI.

            Na sua forma actual, diz o P.e Matos na monografia manuscrita, foi construída em 1805 com muita pedra aproveitada da antiga igreja paroquial em ruínas «S. Simão da Junqueira», trazida para ali em carros de bois.

            Foi, portanto, em 1805 ampliada em reconstruída à expensas do P.e Manuel Martins de Carvalho, filho desta terra que, por essa ocasião, havia regressado do Brasil.

            Depois, a expensas de um devoto, lavrador Manuel Augusto Fernandes Barbosa, desta freguesia e de quem já falei no artigo sobre a «Casa das Marinheiras», foi erecta a torre, em 1901 (1).

            Em 1911 foi colocado o relógio que ainda hoje admiramos, adquirido com uma subscrição feita entre a gente da terra a trabalhar no Brasil.

É nesta capela que se realiza, no Domingo de Pascoela, a maior das festas desta freguesia, chamada a Romaria da Nossa Senhora das Boas-Novas, à qual acorrem inúmeros forasteiros das freguesias circunvizinhas e até de Viana, em especial, da Ribeira. As famílias dos pescadores não só no dia da festa, mas durante todo o ano vão ali agradecer à Virgem as boas novas dos seus ausentes, daqueles que sobre as águas do mar, em horas difíceis, imploram a sua protecção.

            Em 1960 surgiu a cruz luminosa que se encontra sobre o vértice superior da torre, devendo-se essa iniciativa à Comissão de Festas desse ano.

            Fizeram obras no tecto em 1960.

            Em 1964 substituíram o pavimento de pedra por taco de madeira e foram colocados os azulejos.

            Também é recente a construção dos coretos que se vêm no adro.

            Mais obras se fizeram em 1971, sendo reduzida a sacristia nas suas dimensões e aproveitando-se o resto para ficar aberto à capela-mor com altar voltado para o povo.

 

13 de Maio de 1974

(1)  –Serão, nº139.

 

 

 

 

A CASA DAS MARINHEIRAS EM MAZAREFES

 

 

       Ergue-se numa Quinta um pouco acima da capela das Boas Novas, em Mazarefes, e contígua à estrada camarária que atravessa o centro da freguesia, fazendo a ligação entre a Estrada Nacional n.º 203 e a n.º 308, em grande casario, sem dúvida, em todas as suas dimensões, a maior desta aldeia. Está ladeado por dois grandes portões de ferro, ambos aformoseados com boa cantaria. Nas bases de cada uma das «pirâmbulas» sobre o portão do lado norte encontram-se as seguintes inscrições respectivamente:

BEME/LD SEJA/O S.SAC. e P. N. A/A AS/M EAL//MAS.

       No portão do lado sul estão cravadas a ferro as iniciais (M. A. F. B.) do nome do primeiro proprietário e o ano (1895) em que foi feito.

       É actualmente pertença de José de Oliveira da Silva Reis e de Albina da Silva Carvalho, casados em1940.

       O proprietário foi o Senhor Manuel Augusto Fernandes Barbosa, filho de Manuel Fernandes Barbosa e de Maria Cândida da Rocha, falecido em Agosto de 1920. Havia casado em 20 de Novembro de 1864 com Antónia da Silva Meira, filha de Manuel Rodrigues de Carvalho e Maria da Silva, por sua vez falecido em 1913. Este casal era muito rico, mas vivia, na mesma Quinta, numa casa bastante mais modesta. Veio a ser herdeiro, por falecimento do Sr. Manuel Pereira da Rocha Viana, em 16 de Abril de 1892, com 77 anos, solteiro, irmão de Maria Cândida da Rocha, consequentemente, tio em primeiro grau de Manuel Augusto Fernandes Barbosa.

       Então a sua riqueza atingiu maiores proporções.

       Conta-se que o Senhor Rocha Viana, da marinha mercante e natural de Viana, era pessoa de grandes haveres. Pelo testamento que tive o prazer de consultar por especial deferência da Secretaria da Santa Casa da Misericórdia de Viana verifiquei isso mesmo.

       Deixou grandes somas a diversas instituições, parentes, empregados e os bens remanescentes foram divididos em partes iguais por 4 sobrinhos. Da mesma maneira a família Barbosa tornou-se a família mais rica da freguesia e mandou construir esta casa que, na ocasião, 1894, ficou por cerca de 5 000$00.

       Esta foi a razão que mais tarde lhe chamaram a «casa da riquíssima.»

       Todavia esta riqueza fazia bem falta, pois rodeava este casal uma numerosa geração... nada menos de 11 pérolas nesta aliança matrimonial como: A Maria, que casou com António Afonso da Silva, de Subportela; o Manuel, que se ordenou de sacerdote em Beja, vindo mais tarde a ser capelão da capela da Senhora das Boas Novas e pároco de Darque; a Rosa, que faleceu aos 4 anos de idade; o José, que casou para S. Lourenço do Mato; o João, que casou para Serreleis; a Ana, que casou com Joaquim Alves de Araújo, de Darque; a Joaquina, que casou com Francisco da Silva Carvalho, de Mazarefes; a outra filha de nome Rosa, que casou para Subportela, a Antónia, que casou com José de Oliveira Reis, de Mazarefes; a Teresa, que casou com José António de Oliveira Reis, também de Mazarefes, pais do actual proprietário; e a Emília, que casou para Galegos, Barcelos.

       Como, porém, esta riqueza recebida da herança do tio viesse melhorar ainda muito mais as condições económicas da família, os devotados pais de tão numerosa família mandaram construir esta casa mais condigna, ficando, desde aí, a ser conhecida por Casa das Marinheiras, devido talvez ao facto da herança recebida do tio que era marinheiro e, possivelmente, ao número de filhas casadoiras existentes neste lar. Assim se explica que, para onde elas casaram, se implantasse a alcunha marinheira.

       Também não faltou brio e bairrismo e, sobretudo, devoção à Senhora das Boas Novas para, à semelhança de uma casa enorme em que gastaram muito dinheiro, mandarem fazer aquela grande torre, que hoje vemos e admiramos, na capela da «Senhora dos Emigrantes» e, sobretudo, dos emigrantes que se encontravam, naquele tempo, no Brasil.

       Nessa torre gastou a família Barbosa para cima de 600$000 mil reis só para a mão de obra que dizia respeito a pedreiro. O construtor que erigiu a torre era de Santa Marta de Portuzelo – o Rocha. A pedra veio do alto de Mazarefes, mas alguma também veio de Anha.

A família Barbosa, (Manuel A. Fernandes Barbosa e esposa), custeou todas as despesas, à excepção do relógio oferecido 10 anos mais tarde, em 1911, pelos emigrantes no Brasil, através de uma subscrição. A inauguração desta torre foi em 1901, como muito bem assinala a lápide em pedra já existente.

       Uma moça de 18 anos subiu as escadas da torre com o bronze de um sino enfuado na cabeça que pesava cerca de 115 quilos!

       É um facto curioso que ilustra a história da torre e da família Barbosa ou por alcunha, Marinheira. Foi a filha Emília, a mais nova, nascida em Setembro de 1883. Dizem que era moça muito forte, aliás como as outras irmãs, que se aventurou a subir os degraus da torre com cerca de 115 Kg à cabeça. Bravo!

       Esta Emília casou para Barcelos, mas veio a morrer muito nova e sem geração.

       À morte do senhor Manuel Augusto Fernandes Barbosa, esta casa coube em herança à filha Joaquina, nascida em Fevereiro de 1889 e falecida em 1928, casada. Porque do matrimónio apenas se vingou uma filha de nome Albina da Silva Carvalho, foi a única filha, e marido desta, que a recebeu à morte de seus pais. São hoje os actuais proprietários, sempre muito conservadores e zelosos por aquilo que os seus antepassados deixaram, procurando também melhorar e actualizar aquilo que é susceptível de perfeição.

       Este casal a exemplo de seus pais e avós continua a ser um dos casais mais beneméritos da freguesia e tem só uma filha, professora Maria Eugénia da Silva Reis Lima, casada.

 

10.10.1971.    Artur Coutinho

 

 

 

 

Escola de Mazarefes

 

 

Em 1932 o Manuel Rodrigues Coutinho foi para a Escola que funcionava onde mora está a Ermelinda Oliveira, na altura era uma casa da cunhada do Abade Matos que tomou depois a Maria, esposa do Manuel Gonçalves Dias, o capador, por herança.

No entanto, ele sabe que a Escola funcionava antes na  Casa conhecida pela Casa da “Marta do Lexandre”, isto é,  filha do Alexandre Rodrigues de Araújo Coutinho. Esta casa ficava no Ribeiro ou no Montinho, quase no limite com Vila Fria, e ficava dentro da Quinta do Carvalho velho, pai do Luciano, o chefe da Banda. O Carvalho era professor de primeira. Depois vendeu e foi para Viana.

Tinha funcionado ainda a Escola na Casa do Zé da tia Deolinda, onde nasceu o professor Magalhães que vivia na casa onde está a Rosa do Manão, Rosa Gomes Viana, junto ao sítio conhecido por Augusto da Castela. Os filhos do Magalhães foram viver para Viana, onde eram professores, e depois foram todos para a África, talvez Lourenço Marques. Uma filha, chamada Alzira, veio cá depois de casada, mas parece já terem morrido todos, em África.

     A casa da Ermelinda ficou nessa altura a ser a Escola só para Raparigas. Aí leccionou a D. Isabel Ferreira.

     Os Rapazes não tinham Escola. Conseguiram que a casa conhecida por casa do Piroco  que tomou o Pedra fosse aberta para  Escola dos Rapazes. A Casa era do José do Cordoeiro, José de Araújo Coutinho, o avô paterno de Manuel Rodrigues Coutinho. Aqui, nesta casa, leccionou um Professor, Manuel António, de Mogadouro. Este viveu na Casa do João Cordoeiro, o Brilhante, pai do actual Francisco do Cordoeiro.

Seguiu-se a este professor, a professora Emília Fernandes, do Porto que o levou a exame porque o Manuel passou pela transição entre a Escola que funcionava na Casa da Ermelinda e a Escola que funcionava na Casa do Piroco.

O professor Coelho que vivia em Subportela, onde tinha casado, foi o que se seguiu...

As aulas que funcionaram na Casa do Pe. Zé Pinto, hoje da Nadir, eram aulas a pagar e levavam o exame através de um professor oficial.

Apareceu a construção da Escola no conjuntos das Escolas do Estado e em 1934 estava a obra em fase de acabamento.

Agora abandonado o edifício do Estado Novo funciona numa outra construção moderna que se localiza no Bairro Novo da Celnorte. A do Estado Novo vai ser a Sede da Junta de Freguesia.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

FILHOS DE MÃES SOLTEIRAS

 

 

               

Entre os anos 1803 e 1854, pelo menos 49 indivíduos, entre masculinos e femininos, foram filhos naturais, espalhados por todos os lugares actuais da freguesia e incluindo o da Namorada, Souto, Penas, Gavinhos, Boas-Novas, Possa, Formiga, Senhora, Repeidade, Redondelo e Forca.

            Apresentamos só os nomes e os lugares que registei:1803 - Maria Gomes, Namorada; 1803 - Maria Rodrigues, Monte; 1803 - João Gonçalves Capota, Souto; 1803 - António Ribeiro Dias, Regadia; 1804 -             Mariana Gonçalves, Regadia; 1804 - Rosa (Violante); 1805 - José Gonçalves (Capota); 1806 - Jerónimo Gonçalves, Monte;     1807 -António Alvares, Monte; 1808 - Rosa Morais, Monte; 1812 -Ana; 1816 - José Gonçalves, Monte;     1820 - Caetano Lourenço, Penas; 1822 -Maria de Castro, Monte;1823 - António Gonçalves, Monte; 1825 - Teresa Pinto, Monte; 1825 - Teresa Rodrigues, Boas Novas; 1828 - Maria Antónia,  Monte; 1828 - Caetano Rodrigues, Monte; 1832 - José Violante, Ferrais; 1833 - Ana Ribeiro, Ferrais; 1835      - Manuel Violante, Ferrais; 1835 - Maria Rodrigues Novo, Ferrais; 1837- Teresa Rodrigues, Ferrais;1838 -João Ribeiro Taborda, Boas Novas; 1840 -             Maria Fernandes, Conchada; 1842 - Manuel Afonso Forte, Ferrais;1842 - Caetano Silva, Serreleis; 1842 - Joaquim Alves Ferreira, Conchada;         1843 - José Oliveira, Monte; 1843 - Manuel Ferreira, Monte; 1843 - Rosa Alves, Monte; 1843 - Maria Martins Rodrigues, Monte;         1845 -Teresa Ferreira, Monte; 1845 - José Francisco Dias; 1845 - Maria das Dores Franco; 1846 - Maria Lima; 1848 -          Luisa Ferreira; Ana Rodrigues Leite; 1848 - Miguel Correias, Penas; 1848 - José Ferreira Polónia; 1850 - Manuel Lima; 1850 - Domingos Ferreira; 1851 -     Maria Gonçalves; 1852 - Maria Ferreira, Ermijo; 1852 - Maria Bernardina Pinto; 1852  - Maria Granja; 1852 - Ana Correia; 1854 - Francisco Ribeiro.

           

Expostos

 

            Entre o ano de 1746 e 1755 foram expostos 14 indivíduos do sexo masculino e feminino.

            Aqui apenas expomos os nomes dados no Baptismo e os anos, assim como alguns locais onde foram achados estes humanos. Bento, à porta da igreja, em 1746; Bento, à porta de Brízida, em 1759; Catarina, em 1737; Domingos José, à porta da Catarina, em 1746; Francisco em 1723; Inácia, à porta de Manuel Pereira, viúvo, em 1744; Jacinta, em 1738; Joana, à casa de Jorge Pessanha Pereira, em 1714; José António, à porta de Jerónimo Rodrigues, em  1759; Luzia   à porta de Manuel Moreno, 1756 ; Maria, à porta de Jerónimo Rodrigues, em 1756; Maria, em 1728; Rosa, em 1774; Teresa,    à porta de Cristóvão Gonç, Ribeiro, em 1755.

 

Alcunhas

 

            Algumas alcunhas e os anos em que foram registados:     A Caguelha -1775;     A Paraca -1786; A Pisca - 1789; A Rata - 166; Alfatorra -          1711;   Camelo- 1771; Capota;  Caramuja; Carnaquo - 1670; Carnoto - 1746; Carrega - 1710; Cordas - 1699; Curto - 1771; Gaio - 1710; Galante - 1764; Galega - 1719;        Guingão - 1692; Homem - 1772; O Barrolo -   1651;   O Bolha - 1761; O Carniceiro - 1617; O Carnoto 1779;       O Carraxel -   1789; O Cavalo - 1720; O Frade - 1715; O Fura Mundo - 1756; O Galego -1759; O Ganhão - 1755;   O Grande - 1724;O Maganão - 1590; O Maldisposto - 1711; O Manso - 1713; O Rendilha - 1781;O Tagarela - 1617; O Torto - 1707; O Toureiro - 1725; O Troiano - 1751; O Velho - 1788; O Velho - 1745; Piza Barro -1774;Salta  - 1693; Terra Velha - 1709; Terra Velhaca - 1762; Troino -            1734.                                                                                                                       

 

Lugares

 

            De igual modo lugares ou sítios registados que foram descobertos entre 1696 e 1753

 

 

 

 

O CRISTIANISMO E OS  PADROEIROS DE MAZAREFES

 

S. Paulo teve intenção de vir à Península (Rom. 15,24-28), mas ninguém sabe se chegou a concretizar ou não a viagem. S. Tiago é o que se sabe. Não vamos falar dos caminhos de  Santiago. (No entanto, um testamento do séc. XVII, suponho que da família de A . Forte, meus vizinhos e que li quando andava no Seminário dizia que deixava bens a quem fosse por si a Santiago após a sua morte, uma vez que não o pôde fazer em vida).

Por ocasião das perseguições de Décio, no Séc III havia várias dioceses na Península Ibérica. Em princípios do século IV houve um Concílio peninsular e no séc V o bispo de Braga esteve presente no Concílio de Toledo (ano 400). É, por isso, muito provável que no século V houvesse já numerosos cristãos nesta zona da Península, inclusivé em Mazarefes.

Nessa altura já tinham passado muitas gerações sobre a quebra do mito a propósito do Rio Lima que o corajoso Décimo J. Bruto ultrapassou. A invasão da Península, em 411, não veio alterar muito os hábitos romanizados...

No século VI, vindo do Oriente, S. Martinho, bispo de Dume, ajudou com zelo apostólico, firmeza e dedicação a conversão dos suevos e a purificação das superstições ainda conservadas do paganismo nesta zona. Também, em meados deste século, realizou o 1º Concílio de Braga.

S. Simão teria sido o primeiro padroeiro da freguesia, pois os castrejos, habitantes pré-romanos, teriam já deixado, a alguns séculos, os altos dos Montes e o vale do Lima teria sido procurado não só para a agricultura colectiva, como também zona habitacional e o rio para a pesca. S. Simão era o apóstolo, advogado das tempestades e dos afogamentos e não o S. Simão estilita, aliás, como é natural porque os cristãos de Mazarefes dedicavam-se também nessa altura, a actividades aquáticas (à pesca, à extracção do sal e ao transporte pelo rio...).

A existência da actual Capela e documentos antigos, um deles de 985 (um dos poucos, anterior à nacionalidade), 1220, 1258, 1290, 1320, 1402, 1528 e 1551 mostram-nos que S. Simão de Junqueira era de tempos imemoriais: foi vila, foi couto, freguesia e a existência de dois padroeiros: “Sam Simam de Junqueira que se ora chama Sam Nicolau de Mazarefes.”

Não se trata de duas freguesias, mas uma única freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes ou S. Nicolau de Mazarefes. Os seus limites, em 1063, seriam com Sabariz, Vila Fria, Darque e Anha.

            O documento mais antigo existente e anterior à nacionalidade, é de 985, século X, segundo consta de alguns autores de incontestável mérito. Este documento é uma doação das terras da vila de Mazarefes aos frades beneditinos de Ante Altares de Santiago de Compostela.

            “985, doação do conde Telo Alvites «in hora maris villa vocitata Mazarefes cum domibus (...) et cum suas salinas», a que, em 1603, Fernando Magno deu carta de couto: «in villa Mazarefes incipimus terminis id sunt (...) inter Gundulfe et Mazarefes (...) dividet inter Savariz et Villa Fria et Mazarefes (...) dividit inter Agnea et Mazarefes (...) Rio Covo (...) illa Junqueyra et inde in derecto at Limia recto estariz de Foz Maiore» («Arq. Port.» XXVII, ps150-154). D. Fernando deu carta de Couto, na vila dos Arcos de Valdevez, a Mazarefes.

            A presença dos Monges beneditinos  é incontestável, e não haverá dúvida que os monges deveriam ter propagado a devoção a S. Bento. Alguns achados, disso nos dão conta. Mas a Vila de Mazarefes já existia há mais tempo, e já se tinha perdido na memória dos “avoengos”.

A subida das águas do rio, a inundação das suas margens devido ao assoreamento obrigaram os habitantes a refugiarem-se mais para sul, em zona mais alta e longe das águas.

É tradição viva ainda falar-se do cemitério junto a S. Simão. A calçada romana entre S. Simão e o antigo Passal onde acaba a Veiga e começam as bouças, ainda a conheci. Fala-se da última casa de Mazarefes quando a população se distribuía à volta da Capela de S. Simão como sendo no local onde hoje é a casa do “Necas Reis” e a primeira depois de toda a freguesia passar para cima. A primeira casa a construir-se mais a sul da casa do “Necas Reis” teria sido a casa das “Capotas”. É vulgar na Veiga, nos esteiros e nos muros encontrarmos pedras trabalhadas, antigos tranqueiros de portadas de quintais ou de casas. Como foram lá parar... não é difícil, apenas lá foram abandonadas e, caídas em ruínas, serviram, mais tarde, para parede umas, e outras estão, ou encontram-se, enterradas nos esteiros. Assim, observei na minha infância quando andava lá com o gado, e na minha juventude, quando comecei a interessar-me por estes assuntos.

Depois dos habitantes terem abandonado a zona baixa e terem ao lado a Capela da Senhora dos Prazeres, no lugar da Senhora, que depois lhe deram o nome de Nª Sra. das Boas Novas, após a imigração para o Brasil, não admira que a igreja do ex-convento começasse a servir a população.

Esta freguesia teve por isso dois padroeiros, talvez mais tempo usufruiu do patrono S. Simão desde o século X,  se não remontar ao século IV ou V, até ao século XVI, altura em que passou a existir alguma dúvida entre S. Simão e S. Nicolau. Esta dúvida deveria manter-se até ao séc. XVIII, segundo podemos deduzir de escritos do abade Matos.

O uso como igreja paroquial foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro, os fidalgos Pereiras e os Azevedos que tinham o direito de apresentação do abade.

            Em 1551, o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos Fidalgos «Pereiras», os quais fizeram obras na Igreja. Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores, completando as obras que os «Pereiras» tinham começado, sobretudo de talhas de altares.

A igreja de S. Nicolau passou a ser a paroquial e, segundo diz o Abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos, numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes, foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja, à freguesia.

 

Artur Coutinho

 

 

 

OS PEQUENOS

 

       José Gonçalves Pequeno, lavrador filho de João Gonçalves e Teresa Rodrigues, casado em 1895 com Maria da Silva Meira, lavradeira, filha de Caetano Fernandes Pitta e de Teresa da Silva,  eram pais do Zé Gonçalves Pequeno, nascido em 1902, falecido em 03.07.1957, altura em que eu me encontrava de cama com anginas. A filha mais nova era a Albina Gonçalves da Silva e conhecida por"Albina do Pequeno" que casou com Joaquim de Matos Gonçalves da Cunha, o ferreiro, e moradora em frente à Casa dos Cordoeiros da Capela.

Maria da Silva Matos da Cunha, casada com Manuel Inácio Ribeiro Correia, de Vila Franca  é mãe de 6 filhos, o José da Silva Matos da Cunha, casou com uma senhora de Celorico da Beira, com dois filhos e esteve em Inglaterra, 28 anos, em Londres, onde deixou a família (esposa e dois filhos), o João casado com Maria Amélia Ribeiro Dias da Cunha, de Vila Franca, foi pai de 7 filhos, tendo morrido um menino, ficaram 5 raparigas e um rapaz, o Joaquim casou com Deolinda Rodrigues, de Vila Franca, dos da Talaia, pai de 4 filhos, Maria José casada com Joaquim Lourenço de S. João da Ribeira, Ponte de Lima, ausente, em França, com 2 filhos. O ainda famoso José Pequeno faleceu novo com doença grave no fígado, foi o autor da firma Garagem José Pequeno ou Auto-Vianense, casado com Jovita Taveira e só teve uma filha a Maria José, falecida em 15.04.2000, deixando um neto. A Maria, casada com o José Gonçalves (Vergas), carteiro, foi mãe de: Raolinda que casou com o José Augusto Machado, de Vila Franca e mãe de 3 filhos: o José Augusto, o Manuel e o António; a Augusta casou com Manuel Moreira, da Conchada e teve um filho; a Lucinda casou com um senhor de Anha e é mãe de um casal; o José casou para Trás-os-Montes, teve um filho deficiente, o Manuel casou com uma senhora de Vila Fria, e foi pai de 2 rapazes e 2 raparigas, faleceu na França, num acidente de trabalho; o Francisco casou com uma senhora de Chaves e esteve no estrangeiro e o António casado em Lisboa. A Rosa casada com o José Liquito, que, de cantoneiro passou a madeireiro, e mãe dos Liquitos: o José solteiro, o Álvaro casado com a do Franco, irmã da viúva do Paulino, o António casado com a Pericas, da Regadia, a Maria e pai de 3 raparigas e um rapaz, o Manuel que casou com a Zélia de S. Romão e tem duas filhas, o Joaquim que está na África do Sul casado com a filha de Ana Teima, com 2 filhos. A Maria que está casada com o Portela de Vila Fria, mãe de 2 raparigas e 2 rapazes, a Albina que casou com o Torres, de Vila Fria que vive junto à casa antiga dos pais e mãe de 5 filhos, a Rosa que casou com o Joaquim Catena e tem 3 filhos; o Manuel que trabalhou na Singer, casado com a Professora D.Branca (desentenderam-se e, quando se reformou, foi para Mazarefes, onde morreu passados uns dias), deixou duas filhas, a esposa faleceu em 1994, o António casou com Teresa Loureiro, na Meadela, mas viveu em Viana e era pai da Julieta casada com o Jeromenho e antiga catequista, na Igreja Matriz de Viana e o pai do actual José Gonçalves Pequeno, sócio-gerente da Auto-Vianense, morreu pouco antes de fazer 41 anos de idade, em 1949, a Emília que morreu aos 7 anos de idade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A Banda do Carvalho

 

            Na década de 1940 extinguiu-se uma banda de música com o nome de “BANDA DO CARVALHO”. Esta banda teria uma longa história, e se houvesse documentos escritos para seguir a par e passo o seu dia a dia, dificilmente seriam as páginas do “Serão” o seu livro de oiro.

            Com os poucos dados que consegui recolher de diversas pessoas que a conheceram ou que dela chegaram a fazer parte, poderei reconstituir alguns aspectos da sua história nas poucas linhas que se seguem.

            O professor António Alves de Carvalho, nascido em 2 de Janeiro de 1849 em Alvarães, formou-se na escola normal de Lisboa e contraiu matrimónio pelos 23 anos com uma senhora de Mazarefes - Teresa Alves Pereira.

            Por força das circunstâncias veio a ser professor primário de Mazarefes e a viver no lugar de Ribeiro, na casa e quinta que hoje é de Marta Coutinho.

            O Sr. Carvalho, de grandes dotes musicais, e outros apaixonados pela “Arte dos Sons” tiveram a belíssima ideia de formar uma banda. Entre os 27 elementos que arranjaram, encontravam-se músicos de Mazarefes, Alvarães e de outras terras limítrofes.

            Depois de interrogar várias pessoas conceituadas sobre a data da sua fundação não cheguei a saber nada de concreto. Apenas pude verificar que seria fundada imediatamente depois do casamento acima referido. Sendo assim, deve Ter sido na década de 1870. Como não soube da data da fundação, do mesmo modo apenas consegui informar-me de que se extinguiu no ano de 1940 (talvez em 1942). Portanto, 60 ou 70 anos que ela existisse, já é motivo de grande júbilo e honra para o seu fundador, homem activo, energético e bom. Além de professor primário exerceu a  magistério musical. A sua casa era a escola da música, era a casa da banda. Lá se davam os ensaios com rigor e disciplina e ensinavam-se os adolescentes a tocar as escalas.

            Filho de peixe sabe nadar” - Poderíamos aplicar este ditado à família do Sr. Carvalho. Todos os seus filhos sabiam música. Muitas vezes foi substituído pelo seu filho Casimiro, ex - seminarista, que dizimado por doença que não perdoa faleceu aos 27 anos. O primeiro sucessor na regência foi o Luciano que nasceu em 1890.

            Alguns músicos, devido à sua preparação e ao saber vieram a ingressar noutras bandas de maior nível. Quando o Sr. Carvalho deixou a regência, o seu filho, Eugénio Alves de Carvalho, também veio a alistar-se na dos B. V. de Viana.

Este Sr. Eugénio é o único filho vivo com 76 anos e residente em Seixas.

            O fundador era severo mas muito delicado. Daí a muita estima e consideração que lhe dispensavam os elementos da banda e grande aceitação e influência no povo de Mazarefes.

            Contudo, os estatutos eram para se cumprir.

Seria expulso aquele músico que se apresentasse numa festa com a roupa em desalinho e menos fresca.

            O bairrismo, como é natural, sempre dominou o Sr. Carvalho, por isso, a festa das Boas-Novas era o palco das estreias de algumas novas peças de música, novos instrumentos e novas fardas de 2 em 2 anos. Tudo se inaugurava no palco maravilhoso do adro das Boas-Novas, tendo como cenário o arvoredo que então ali existia e ao longe o recorte no céu azul dos montes e do alto de S. Silvestre.

            Dizem-nos que era uma boa banda. È certo que actuou em diversos meios como: Monção, Maia, Santo Tirso, Ponte da Barca, Arcos, Ribeira da Pena, Alijó do Douro, Vila Nova de Cerveira, Barcelos, Famalicão, Fão, Ponte de Lima, Esposende, Vila do Conde, Azurara, Apúlia, Viana, e durante 15 anos consecutivos actuaram em Âncora na festa da Bonança.

            Andava pelos 12$50 (12$5000 reis) por cada dia de actuação. Fazia as deslocações no carro de cavalos do falecido Cura quando iam para longe.

            Era constituída de 27 a 35 figuras cuja farda característica parecia muitas vezes contrastar com os tons estridentes dos seus instrumentos que, a princípio, eram de metal amarelo.

            De dois anos havia farda nova com certa modificação no feitio ou na cor. Dizem-nos todavia, que se manteve sempre no seu tom característico em que havia nascido.

            Chegaram a usar calça amarela afestoada a princípio, e mais tarde com vivo. Usavam casaco azul escuro, de gola alta, com alamares em branco guarnecidos de fitas douradas e largas, e com 3 filas verticais de botões ovados, dourados, onde (abotoavam) apertavam o casaco e prendiam os alamares. Nos ombros usavam dragonas em metal dourado com muitas franjas também douradas.

            O boné era de cor azul por cima e vermelho à volta com pala preta e horizontal à estilo francês e com um penacho ao, encarnado.

            Como dissemos, no princípio os instrumentos eram em metal amarelo. Podemos enumerara os seguintes ao tempo do seu fundador: 4 cornetins, 2 trompas, 3 trombones, 2 bombardinos, 4 clarinetes, 3 saxofones, 1 flautim, 2 clarins, 2 contra-baixos, 1 caixa,2 bombos, pratos e uma miniatura de carrilhão.

            A maior parte dos elementos sabiam música. O Sr. Carvalho chegou a fazer composição orientado pelo capitão Torres, chefe da Infantaria 3 de Viana do Castelo.

            Em 1918 quando actuavam na festa de S. Silvestre - Cardielos - receberam a notícia de que a casa do Sr. Carvalho tinha ardido. Desgostoso com o que aconteceu veio vender a casa e Quinta, em 7-5-1919, ao Sr. António Coelho, de Viana do Castelo, por 1.900 reis. Comprou com esta soma duas casas em Viana: uma, na rua dos Manjovos e, outra na rua da Gramática onde morreu em 1930.

            Foi com mágoa que a banda vira partir para Viana o seu fundador já com a idade dos 70 anos, cansado e desgostoso. Abandonou, então, as suas actividades de músico e professor primário.

            Sucedeu-lhe na regência o seu filho Luciano Alves de carvalho que faleceu em Mazarefes aos 54 anos. Pouco antes da sua morte, ocorrida em 1944, sucedeu a este na regência o seu filho e consequentemente neto do fundador, Casimiro Alves de Carvalho, que tendo casado em Anha, em 1942 (?) pela ocasião da festa da SENHORA DO ROSÁRIO, depois de atrevida zaragata, a levou para esta terra.

            Veio a extinguir-se por completo em 1961, com o nome de “ Banda da Casa do Povo de Anha”.

 

 

 

 

Os monges nas terras de Mazarefes

           

            Pertenciam estas terras, no século X, ao reino de Leão.

            Elas foram pertença de D. Telo, fidalgo do reino e vassalo do rei, durante a sua vida. Não tendo este fidalgo geração que viesse a herdar estas terras, resolveu, no ano de 985, fazer uma doação das mesmas à Congregação de S. Paio de Ante-Altar, constituída pelos monges beneditinos de S. Tiago de Compostela. Foi esta doação feita na presença de alguns altos signatários da Igreja e da corte de Leão. O rei, D. Bermudo II, confirmou aquela doação por estes termos: “ Em nome do Senhor, eu, Bermudo, por Graça Divina Rei confirmo o voto de holocausto do meu dux”.

            Senhores destas terras, em breve, começaram os monges a exercer aqui o seu domínio, edificando um convento de que apenas restam vestígios, como uma extensa muralha, um paredão que formava um dos lados do referido convento, vários tijolos, pedras lavradas e algumas das inscrições que hoje se encontram no Paço, devem ser dessa época. È possível que o templo do convento fosse edificado no local onde hoje se encontra a igreja paroquial, sob a invocação de S. Nicolau, segundo documentos antigos. Contudo não existem documentos que comprovem a invocação de S. Nicolau para o primitivo templo.

            Durante a sua permanência nestas terras de Mazarefes, os monges ocuparam-se no cultivo das mesmas, pelo menos as mais férteis, e até no arroteamento das bravias.

Assim, este centro se foi tornado cada vez povoado, mas os monges tiveram-no de deixar aquando das guerras com Castela, retirando-o para a Galiza; depois de terem obtido para isso licença pontifícia, fizeram emprazamento dos bens que aqui possuíam aos parentes mais próximos dos fidalgos D. Telo e, sua esposa, D. Muma que lhas haviam doado.

            A testemunhar, ainda, a passagem destes monges por aqui, ainda hoje é conhecida com o nome de S. Bento toda a região do lado norte da igreja paroquial até à estrada Darque-Ponte de Lima.

            A tradição diz Ter havido uma capela de S. Bento naquela região, mas tal não é localizada. Mas também a mesma tradição dizia ter havido um fontenário de S. Bento, junto da igreja paroquial e, o que é certo, é que há anos quando se abria um poço a cerca de trinta metros daquela, numa propriedade que confina com o adro do lado nascente, apareceram ainda os vestígios d adita fonte e mais abaixo um cano em pedra para condução de água.

            Ainda existe um facto muito interessante na acção dos monges, foi terem pedido a D. Fernando Magno a constituição destas terras em couto, o  que aconteceu em 1063 com as seguintes terras limítrofes: Sabariz, Vila Fria, Anha, Rio Corvo, Rio Lima, Darque e Gondufe.

 

Os PEREIRAS de Mazarefes

 

            Em 1451, passou o domínio útil destas terras para a filha de Rui Pereira, D. Messia Pereira, mulher de Martins Mendes de Berredo. Como tivesse enviuvado e resolvesse fundar um convento, em Aveiro, esta senhora como não lhe sobejasse o dinheiro, pediu licença aos monges para vender o domínio útil a seu parente Diogo Pereira, Cavaleiro na casa de El-Rei e almoxarife, um dos cargos mais elevados do reino.

            Resolveram os monges, em 1494, vender o domínio directo a um filho de Diogo Pereira, chamado Rui Pereira, e foi o filho deste, Gaspar Pereira, que fundou o morgado de Mazarefes com permissão do Rei D. João III, em 1579.

            Por esta altura já os monges tinham perdido todo o interesse nas terras de Mazarefes, pois davam-lhes prejuízo.

            Foi talvez Gaspar Pereira o fidalgo mais ilustre e relacionado com a história desta terra.                        Dele se conserva ainda hoje um jazigo na capela-mor da igreja paroquial com a seguinte legenda pintada na parte superior: “ Este jazigo mandou fazer o Dr. Gaspar Pereira, Senhor dos Coutos de Mazarefes e Paradela, cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo-mor de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor, Chanceler da Casa da Suplicação. Ano de 1579.

            Sucedeu-lhe no domínio destas terras seu filho Rui Pereira, homem de grande cultura, mas de Temperamento despótico que muito lhe valeram os grandes serviços prestados ao Reino, pois não conservou sempre elevada a honra que devia merecer e que o seu pai tinha conquistado.

            Era tirano, exigente para com os seus caseiros, não lhes permitindo levantar casa sobrada ou lagar sem sua licença, obrigando-os a pagar anualmente os quartos da sua renda.

            Cometeu vários crimes e, se não fossem os grandes serviços prestados ao reino não teria alcançado perdão. Não lhe aconteceu assim com o caso de Vila Fria porque embora tivesse cometido várias tropelias e fugindo à responsabilidade, desta vez nunca mais voltou a Mazarefes e foi morrer às mãos dos cafres, no Cabo da Boa Esperança quando pela 3ª vez, regressava da Índia para onde se evadira quando a justiça o condenou.

            Foi de grande importância a acção dos Pereiras as terras de Mazarefes. Ainda nos resta destes fidalgos um casarão antigo de que mais adiante se tratará.

            Sucederam a Rui Pereira seu irmão Nuno Pereira e, à morte deste, o seu filho Gaspar Pereira que casou com Bernarda Coutinho, e Jorge Pessanha. Foi, mais tarde, legítima sucessora a filha do último fidalgo, que não deixou geração e por isso, sofreu violenta questão da qual sairam vencedores os Azevedos como parentes mais próximos e herdeiros dos bens.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os Gandras em Mazarefes

 

 

Em 1838 veio para Mazarefes Manuel Luís Gandra, com 28 anos de idade, da freguesia de S. Tiago de Aldreu, Barcelos, por casamento com Rosa Rodrigues, a Cordoeira,do Ermijo.

Do casamento resultou uma prole de 9 filhos, 5 varões e 4 mulheres.

  Manuel Luís Gandra enviuvou em 1857. A mulher morreu de parto. O referido Gandra herdou a alcunha “Cordoeiro” do sogro. Casou pela segunda vez com Rosa Gonçalves e consta na tradição da família que esta mulher de quem teve mais duas filhas, não era nada meiga para com os enteados. Faleceu em 1881. O filho mais velho com 17 anos partiu para o Brasil, em 1857 e levou consigo o irmão José com 14 anos. Quatro anos mais tarde, levou o irmão Manuel com 12 anos e o António com 11 anos, o João, o mais novo que vivia na Meadela, aos 38 anos, também.                  Em 1861, foi para a terra das patacas, para poder pagar a casa que teria comprado na rua da Altamira, onde hoje vive a neta Raquel. A Francisca casou para a Meadela com Manuel Francisco Oliveira, em 1869 e com 24 anos de idade.

O António reemigrou em 1896 e em 1899, sinal de que andou lá e cá, assim como o José em 1890 e em 1892.

Não sei nada do que terá acontecido às mulheres, a mais velha, a Maria Rosa faleceu em 1869, aí com 31 anos de idade, em Mazarefes, quanto à Maria Cândida, nascida em 1848, morreu bébé, e a Maria Teresa casou com Luciano Paulo, de Caria, Sermancelhe concelho de Moimenta da Beira, de Guarda Fiscal de profissão. Casou em Monserrate e baptizou uma menina, Eduwiges, na mesma igreja, em 1884. Há, portanto, motivos para  o que ouvi dizer  “ terá ido para os lados da Serra da Estrela”.

 O filho João, depois de ter comprado a casa e ido ao Brasil, casou com 60 anos em 1914, com uma mulher de Refóios do Lima, mas ficou viúvo e sem filhos, tendo voltado a casar com uma sobrinha da mulher, que se chamava Maria de Jesus Gonçalves e de quem teve 3 filhos, o Manuel Luís, o José (morreu crança) e a Rosa Guilhermina. O João para adquirir o passaporte apresentou a sua residência, aos 38 anos, na freguesia da Meadela e, de facto, constava que tinha primos na Meadela, os mata sete, e que por ocasião da revolução da Traulitânia que rebentou lá para os campos da Agonia, fugiu com duas crianças que estavam com ele para a Meadela. Ao  Ao passar pela Capela de N.ª Sr.ª das Candeias, levou consigo (também uma criança mais)  António Costa, irmão do Severino Costa para a salvar de alguma situação desagradável pela revolução rebentada, isto teria acontecido por volta de 1919, no tempo da Monarquia do Norte que durou apenas 25 dias. Isto já depois de ter vindo do Brasil. A propósito, uma criança morreu no Campo da Agonia por causa deste conflito traulitano em Viana.

Do 2º casamento do velho Manuel Luís Gandra, o Cordoeiro de Mazarefes, nasceram mais duas meninas, a Ana, que foi tecedeira e casou em 1883 com Manuel Afonso Forte e morreu com 50 anos, em 1909 e a Maria Rosa que morreu bébé..

Quanto às duas senhoras que foram para a região da Serra da Estrela ou Viseu, trata-se de uma hipótese, pois, certo dia, entrando uns turistas dessa zona no Banco Nacional Ultramarino, logo um deles que era Gandra disse para o outro: “Olha ali está um Gandra” referindo-se a um empregado bancário que de facto até era Gandra. Travaram diálogo e chegou-se à conclusão que talvez fosse família, pois o Gandra de Coimbra dizia que a sua família foi do norte e o Gandra de Viana achava que antepassados houve que não sabia deles. O Gandra a trabalhar no Banco era muito parecido com um outro familiar de que passava por Viana. Esta coincidência levou a concluirem que seriam família e que a Maria Teresa, filha do primeiro casamento do Manuel Luís Gandra teria ido para a zona da Serra da Estrela.

 

 

 

A Capela de N.ª Sra. das Boas Novas

 

            Não se conhece a origem desta capela.  Localiza-se do lado nascente da estrada que corta Mazarefes no sentido norte-sul, ligando a estrada nacional nº 203, de ligação entre Darque e Ponte de Lima e a nacional nº 201, de ligação entre Darque a Vila Verde.

            No entanto, pela tradição que o Abade António Matos confirma na sua monografia, ela teria sido inicialmente uma capela sob a invocação de Nª Sra. dos Prazeres e que corresponderá, nesse caso, à imagem que se venera ainda hoje no nicho da frontaria da mesma capela.

            A mudança de nome de Nª Sra. dos Prazeres para Nª Sra. das Boas Novas terá sido depois da descoberta do Brasil, por ocasião da imigração das suas gentes para a terra das patacas.

            Por um acentuado número de mazarefenses falecidos, no Brasil, se pode constatar que teria sido forte a evasão para lá. Não é dificil, por isso, de antever uma devoção acrescida à Senhora dos Prazeres, pedindo-lhe boas novas dos seus entes queridos, ausentes em terras de Stª Cruz, ao ponto de lhe terem  começado a chamar-lhe, com carinho e devoção, a Senhora das boas notícias,a Senhora das Boas Novas.

            O certo é que a influência da Senhora dos Prazeres ou das Boas Novas foi tão grande que à região onde estava implantada a sua capela começou a chamar-se apenas pelo sítio da Senhora, nem sequer era da capela, naturalmente mais vistosa, mais sensível ao comum dos mortais, mas simplesmente o lugar da Senhora; nem era a Senhora dos Prazeres, nem a Senhora das Boas Novas, simplesmente Senhora.

            Antes dos meados do século XVIII já este nome da  Senhora das Boas Novas era conhecido porque, em 1747, a viúva de Jorge Pessanha Pereira, fidalgo da casa do Paço e falecido a 09.10.1724, sepultado na capela-mor da igreja, instituira aqui um morgado com o nome de Nª Sra. das Boas Novas.

            Esta devoção também foi grande entre os pescadores, e as gentes do mar. Ainda conheci romeiros vindos da Ribeira de Viana e de Darque que aqui afluiam com frequência, durante todo o ano, para agradecer graças, bençãos ou implorar a sua protecção cuja necessidade a hora do infortúnio trouxe.

            Esta capela passou por várias transformações. Inicialmente teria sido uma pequena capela no meio de um oliveiral. Com as proporções que hoje se conhecem, deve vir do princípio do século XVIII. Sabe-se duma intervenção animada e proporcionada pelo Pe. Manuel Martins de Carvalho, depois de regressar  do Brasil, na capela e no adro, em 1805. Nessa altura fez-se a grande ampliação e, na obra foi utilizada pedra da antiga igreja paroquial em ruinas (S. Simão).

            As ofertas dos romeiros que aqui chegavam eram feitas em dinheiro, tranças de cabelo, azeite, cera e também frequente o uso da mortalha. Em 1881 o rendimento foi o seguinte:

            Juros 5.390 - réis; 0,5 almude de azeite - 2880 réis; Azeite das Oliveiras - 2400 réis; Aluguer de uma mortalha - 160 réis; uma mortalha - 360 réis; uma trança de cabelo - 500 réis; Caixa - 1230 réis; Total: 12.920 réis

                        A Sacristia da capela foi feita em 1883 e custou 50.000 réis. A Torre foi construida  em 1901, por iniciativa de Manuel Augusto Fernandes Barbosa, da casa das Marinheiras, e o Relógio da Torre que ainda hoje funciona, em 1911, pelos ausentes no Brasil. . Sempre nestas transformações esteve presente a contribuição dos emigrados no Brasil e seus familiares que, aos pés da Senhora, mergulhados pela saudade e incertezas pediam as boas novas ou agradeciam graças recebidas.

            As transformações continuaram por aí fora, quer no adro, quer na capela, ou na sacristia, porque, afinal, a Senhora apesar de nome mudado, Ela na realidade é a mesma, a Mãe de Jesus e continua a ser sempre a mesma e única Senhora de Mazarefes. N’Ela todos os mazarefenses têm os olhos e para ela todos se voltam, por isso lhe fazem festa grande no Domingo de Pascoela,  a famosa romaria da Senhora das Boas Novas..

            A devoção tão enraizada à Senhora das Boas Novas, Senhora de Mazarefes, faz com que a capela, onde se venera, esteja sempre muito limpa e asseada. Há poucos anos o pároco, Pe. Manuel Parente Pereira, fundou uma Confraria para institucionalizar este asseio e culto.

            As sucessivas comissões de festas sempre têm trabalhado com brio e entusiasmo para fazer a melhor festa e a melhor obra. A deste ano, formada por José Maria Ribeiro Cunha, Armindo Magalhães, José Maria Pinto Bouças e Américo Afonso da Balinha, já repete por quatro vezes esta façanha e começou com restos de festas e outros apoios  a levar  a efeito grandes melhoramentos no adro da Capela, no seu traçado, novas aberturas, sobretudo, para norte com chão empedrado, canteiros, e bom embelezamento da zona circundante fazendo um conjunto bem soberbo!  Para além diso, aproveitou sob o adro espaços para criar estruturas de apoio às actividades da festa e a da paróquia. Boa iniciativa! De parabéns está a  referida Comissão, assim como a Paróquia pelo brio das suas gentes e pela Senhora a quem  prestam culto. Prepara-se ainda para fazer 2 coretos desmontáveis para as Bandas de Música.

Lá continua a Senhora e, sempre esta Senhora, a ser o símbolo da unidade da nossa terra!

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Artur Coutinho

Casa dos Araújos Amorins

 

 

A Casa do Monte começou por ser a Casa dos Araújos e surgiu por 1789 com António Gonçalves Araújo (de Amorim?) que nesse ano, casava com Maria Rodrigues, filha de Custódia Rodrigues, solteira, para a casa que se situava na Conchada.

  O António Araújo veio de Chafé, filho de Manuel Gonçalves Rego e de Fernanda Araújo da Silva.

Do casal houve sete filhos, a Maria (1790), o José (1791), o António (1792), o José (1794), a Teresa (1795), o João (1798), a Rosa (1802). O João casou com a Maria Teresa de Jesus e apenas teve 2 filhos, a Maria Rosa de Jesus (1838) e o António (1836) e foi o que ficou em casa.

A Maria Rosa casou com Manuel de Matos, filho natural de  Violante, solteira, a zabumba, e foi pai de Manuel Amorim de Matos que, por sua vez, casado com Maria Rodrigues Calheiros, foi o pai de Rosária, nascida em 1909, e ainda de boa saúde, e de mais quatro homens. O Albino, o António, o Artur e o Manuel.

O António casou com Maria Alves, filha de Manuel José Barbosa e Maria Alves, (de Vila Fria) e foram os pais de Manuel,  António (1878), Maria (1872), José (1876), Domingos (1880), Clara (1982), e de Ana (1987).

Deste casamento, a Maria foi para a casa dos avós maternos, em Vila Fria, a conhecida “Casa do Couto”. Não Teve filhos.

O José casou com a Antónia Rodrigues Araújo, dos Catrinos. Ficou em Mazarefes e teve da sua mulher 4 filhos. O Domingos morreu com 2 anos queimado por lhe ter o fogo da lareira chegado à roupa, no dia de Páscoa, pouco antes de chegar o compasso pascal. Curiosamente, em 1965, uma filha de uma sobrinha, na mesma lareira, e em dia de Páscoa, à noite, ficou sem a mão esquerda por rebentamento de uma bomba de foguete. Eram 10 horas da noite. O José foi para a casa da tia casada com o Couto, em Vila Fria, e casou com a Conceição Lima de quem teve 5 filhos varões. A Conceição morreu de doença cancerosa e o José casou 2ª vez com Alice Ferreira, de Belinho, de quem teve mais duas filhas. A Maria casou com Artur Matos, de Vila Franca. Não teve filhos e foi viver na Casa da Quinta dos Oliveiras comprada pelos seus pais. A Deolinda casou com Manuel Coutinho e teve 3 filhos. Ficou na casa onde nasceu a família Araújo, vulgo, catrinos.

O António casou para o Ribeiro com uma irmã do Dr. Ferreira de Vila Fria; Maria Rosa Fernandes, da família Caroças, do lugar da Cavagem e teve 4 filhos: Maria, Maria Deolinda, Conceição e Manuel. A Maria Rodrigues Amorim casou com José Augusto, carteiro, vivia no Ribeiro ao lado da Quinta e Casa que foi da Marta do Alexandre e teve 1 filho,o Anselmo, que foi para o Brasil onde casou com uma brasileira Maria Estela ou Maristela, o Manuel que casou no Brasil com uma senhora Estela da qual teve dois filhos (o Maurício e a Estela), a Conceição que casou com José Rodrigues, de Darque e foi mãe de 5 filhos: a Maria, o Manuel, António, a Maria de Lurdes e o Mário. A MARIA casou com Augusto Marques e é mãe da Elisabete, casada com Valdemar e com 2 filhos: Filipe e a Patrícia o Manuel R. Amorim que casou com Lucinda Mesquita, de Sta. Marta, e foi mãe de 3 filhos (o Rui, o Paulo e a Anabela); o António casado com Ana Lopes e pai de Eric; a Maria de Lurdes que casou com o cunhado do irmão, o Manuel Mesquita de Sta. Marta e foi mãe de 4 filhos (o Ricardo, o Vitor (casado com Isabel e pai de Sara e Laura), o Sérgio e a Paula (casada com Artur Pinto e mãe de Cristianao e Joana). Uma história trágica e misteriosa neste ramo, foi que a Maria de Lurdes, o Manuel Mesquita e o filho dos dois, o Sérgio, foram barbaramente mortos à machadada num dia após o almoço em sua casa de Vila Fria, no Ribeiro, onde estavam a passar férias vindos da Alemanha, onde eram emigrantes. O autor da mortandade foi um sobrinho, o Rui, filho do Manuel e da Lucinda.. A Maria Deolinda casou com José Ferreira Silva, de Anha, e teve 8 filhos e vivia ao lado da casa dos pais, no Ribeiro. Dos filhos da Deolinda, o Valentim, casado com Palmira e pai de 4 filhos (Fernando casado com Fátima Pereira e pai de Sanbrine e Laetitia, Augusta casada José Manuel Pereira e mãe de David, Fátima casada com Alberto Martins e mãe de Carla casada com Paulo Queirós e de Cédric e Carlos casado com Maria José Guerreiro e pai de Miguel e Cátia casada com Albino Gomes); o Jorge, casado com Irene Ferreira de Mujães e pai de 4 filhos (Jorge casado com Emília Jácome e pai de Karina, Manuela, Fernando  casado com Rosa Pinto e pai de Tatiana, Maeva e Irina e Isabel casada com Phillipe Nourry); a Fátima, casada com Fernando Miranda e mãe de 4 filhos (Paulo Jorge, Carlos Miguel casado com Ana Lopes e pai de Laura, Alberto Filipe e Fernanda); o José, casado com Margarida de Sta. Marta e pai de 2 filhos (o Nuno e o José Carlos); o Manuel, casado com Lurdes Morais, de Outeiro e pai de 2 filhos; o Carlos casado com a Sílvia e o Frederico, o Carlos, casado com Cândida de Sta. Marta e pai de 2 filhos Sara casada com Roberto e mãe de Rafael; o António casado com Natália e pai de um filho e o Augusto casado com uma francesa, a Patricie e pai de 3 filhos: da Christielle Jean e mãe da Marine e Lou-Anne, da Virginie e de Marybelle.

 O Domingos casou para Vila Fria com Ana Lima, de Anha. Em Vila Fria foi viver para a casa que o irmão Manuel tinha comprado na altura que era para casar com a do Fornelos. Teve 2 filhos: o José e o António. O José casou com Maria Clara, filha do Hélio e foi pai de 2 filhos nascidos na Cavagem, onde vivam. A Ana Maria casada com António Cunha e mãe do Humberto o Joaquim que casou com Gorete Cunha, de Viana e é pai de Pedro; a Maria da Conceição que casou com Alberto Varajão e é mãe da Joana; a Rosa Maria que está solteira; o José Carlos que Casou com Maria da Conceição, de Águas Santas e ainda não tem filhos; a Maria do Carmo e o Luis António que ainda são solteiros.  O António casou para Anha com Rosa do Carmo Lima e criaram 7 filhos, no lugar de Noval. A casa do Domingos ficou para o filho José e deste para o neto Miguel.

A Clara casou com Manuel Pereira, de Vila Fria, e ficou na casa. Do casamento resultaram 3 filhos e uma filha. O José que morreu solteiro. Fazia vinhas de arame e morreu de acidente ao cair duma meda de palha. O António que casou com Maria Coutinho e foram os pais da Rosa que casou com Vasco Bandeira e é mãe de 2 filhos: António Alberto e José Rui. O Manuel que casou com Maria Barreto e não têm filhos. A Maria que casou com José Forte e foram pais de Deolinda que casou com um jovem de Alvarães.

 A Ana casou com Manuel Forte (o Barrolo). Foi mãe de 5 filhos. A Maria que morreu solteira e viveu sempre em casa. A Deolinda que casou com António Forte e foi mãe de 3 filhos que os criou na casa junto à estrada nacional que liga Darque a Vila Verde. Esta casa foi comprada aos Zabumbas. A Deolinda foi mãe de Maria Teresa, José e Maria Augusta. A Maria Teresa casou com António da Silva e são pais de Jorge Ricardo e Maria Elisabete. O José casou com Maria Ester e são pais de Paulo Ricardo e Sara Manuela. A Maria Augusta casou com António e são pais de Rafael.  A Rosa que casou com José Cunha e foi mãe de 3 filhos. Foi viver para a casa do marido, na Regadia. Um filho da Rosa, o António faleceu jovem e de acidente de viacção; ficaram duas filhas, a saber: a Idalina casada com o Porfírio Silva e mâe de Filipa, Vasco e Diana, e a Maria casada para Vila Franca com José Luis e mãe de Marcelo e Elisa.  O Manuel que casou para Vila Fria com Maria da Conceição Ferreira e foi pai de 1 filho chamado Manuel     que vei a casar com Mª  Olívia Coutinho Forte, de Mazarefes. O José que casou com Cândida Araújo, de Anha e ficou na casa. Aí criou 3 filhos, um casal e mais um até aos 7 anos, pois faleceu com essa idade. Ficou a Mª de Fátima casada com Francisco Matos de Barros é mãe de Pedro Duarte e Miguel. O Manuel  casado com Cândida Barbosa e é pai de Ana Catarina e Raúl.

O Manuel morreu de paixão por uma namorada que a deixou depois de tudo preparado para o casamento.

 

 

CESTARIA DE  MAZAREFES

 

                Ainda não há muitos anos, havia, no concelho de Viana, cesteiros em quase todas as aldeias.

            Cremos que alguns destes centros de tal artesanato se encontrem hoje extintos.

            Em Mazarefes existe uma grande família de afamados cesteiros que pratica arte desde tempos imemoriais: os Galhofas. De pais a filhos todos são cesteiros e bem exímios, diga-se sem lisonja, a tal ponto que os seus produtos figuraram já em diferentes exposições em Lisboa e já vieram à sua oficina as câmaras  da televisão Portuguesa que filmaram várias fases da conecção dos cestos.

            Antigamente, como todos os cesteiros, os Galhofas apareciam nas feiras para vender cestos que para tal lhe apareciam. Andavam também por casa dos lavradores que lhe solicitavam  o trabalho.

            Hoje, porém, os dois irmãos Galhofas trabalham em casa, numa melhor organização de trabalho.

            Têm a oficina num desvão do coberto. Trabalham sentados no chão sobre uma espessa camada de fitas de madeira e com o canivete entre as pernas.

            O canivete é uma prancha de madeira de que apoiam no chão e encostam superiormente a uma mesa velha. Os seguintes apontamentos foram-me enviados pelo amigo Artur Coutinho,

 

            Ferramenta:

            Cutelo – para lavrar a madeira. Pudinha – para limpar fitas e talas. Furador – para bordar o cesto. Navalha de tessumo – para fazer o tessumo, isto é, fitas com cerca de dois milímetros de largura para tecer os cestos finos ou também chamados «de noivas». Achassó – para acamar as talas do fundo, fundar o cesto. Foice – para rachar a madeira. Mascoto – para a achassó. Usam também o cavalete composto de unha e cunha.

 

Material:

Castanho, salgueiro, loureiro, mimosa e austrália.

 

 

 

Dicionário do Cesteiro:

 

Tala – é cada uma da peças que forma o fundo cesto e a altura antes de tecer.

Fitas de tecer – é cada uma daquelas fitas que se entrelaçam na altura do cesto.

Fita de cozer – é aquela que cose o bordo do cesto.

Fita de bordar – é aquela fita que passa em volta do bordo.

Cinta – é a primeira fita a contar do fundo do cesto.

Tomadeira – é a fita que segue por cima da cinta.

Cápia – é um caveiro que se coloca por fora do bordo propriamente dito para que seja mais fácil bordar.

Bordo – é uma peça redonda colocada por dentro e junto à cápia.

Tala – dão principalmente este nome à que está ao centro e que costuma ser mais larga.

Parelhas – Costumam dar este nome  às outras talas porque são colocadas aos pares no fundo do cesto.

Caveiro – é a parte de fora da madeira isto é, uma tala que só foi rachada por um lado.

Cruzeira – é uma das talas centrais rachada em toda a altura do cesto e onde as fitas de tecer se cruzam. Está aqui o segredo do cesto.

Asas – semi-arcos para pegar no cesto.

Arqueira – Arco de uma cesta.

Asa redonda – Costuma ser a do cesto rústico.

Asa redonda – costuma ser a do cesto.

Asa enxadrezada ou repassada – aplica-se no cesto de noiva.

 

Medidas do fundo:

 

Estas medem-se de canto acanto em quadrado.

 

Medidas da altura:

 

 

 

 

Medem-se do canto ao bordo.

Qualidade                    M/fundo                       M/altura                       Preço                         

Cesto de 3 alq.            46 cm                          20 cm                          60$00                         

Cesto de 2 alq.            40 cm                          16 cm                          50$00                         

Cesto da vila               36 cm                          11 cm                          50$00                         

Cesto de noiva            30 cm                          9 cm                            150$00                       

Cesto de páscoa         26 cm                          8 cm                            120$00                       

Cesto de lav.               29 cm                          15 cm                          30$00                         

 

 

      Estes apontamentos foram tirados na cestaria Zé Galhofa de Mazarefes.

 

Como se faz um cesto?

 

Em Janeiro e Dezembro corta-se a madeira: castanho ou salgueiro. Corta-se nestes meses porque a madeira, neste tempo, perde o vício. Traça-se a madeira e aquece-se ao lume. Depois racha-se com uma foice no mês de Março. Tem de ser rachada com sol para que a madeira fique branca. Antes de fazer o cesto demolha-se a madeira durante 12 horas. Na ocasião  lavram-se as telas do fundo com o cutelo no cavalete. É limpa a madeira com a  achassó e mascoto.

 

Urde-se o cesto da seguinte maneira:

Em cima de um estrado 2 parelhas centrais ladeadas por mais duas (uma de cada lado). Colocam-se mais suas talas: uma de cada lado e a seguir 2 caveiros, um de cada lado e a seguir 2 caveiros, um de cada lado também. Entrelaça-se horizontalmente: uma tala central, a mais  larga de todas; 3 talas de cada lado desta, sendo uma mais larga e as outras duas menos largas; e um caveiro de cada lado.

            Levantam-se as talas com uma corda. Começa-se a tecer o cesto com uma fita que se chama cinta e é a primeira a contar do fundo do cesto. A seguir  a esta leva  a tomadeira. E finalmente a restantes fitas de tecer.

            Depois de tecido é parelhado com a cápia e o bordo. Esta parelha é bordada com fitas de cozer e com o furador.

Colocam-se as asas, limpa-se, lixa-se e prega-se.

 

 

O «BICHO» DE  MAZAREFES

 

Será uma história? Será um conto dos antigos serões à lareira?! Não, respondem as pessoas idosas. Todos os velhos aldeões da terra contam a história do Bicho assim: Aquela casa da Quinta do Sr. Artur Matos, onde vivem agora dois inquilinos, pertencia em tempos a um tio Bicho e à sua mulher. Viviam ali apenas os dois. Não eram do nosso tempo, mas do tempo dos nossos avós.

O Bicho era muitíssimo rico e em certa ocasião teve um criado. Por motivos que se desconhecem este deixou os patrões e afastou-se para lugar incerto.

Numa noite de Verão arrombaram a porta da casa para roubarem as libras do Bicho. Quando este acordou, sobressaltado, já não teve tempo nem meios de defesa e os ladrões trouxeram-no para a cozinha prendendo-o, em cima de um banco, de pés e mãos.

A mulher estava entrevada.

Obrigaram-no a dizer onde tinha as libras ameaçando-o de faca em punho. O pobre Bicho disse onde estava a ceira das libras: num buraco da parede por cima do forno. Depois de se apoderarem da ceira, percorreram a casa e foram-lhe roubar o porco da salgadeira, o milho das caixas, o centeio e os feijões.

No dia seguinte, já perto do meio dia, o tio Santa Marinha, que vivia numa casa relativamente perto – conhecida hoje pela casa dos cirurgiões de que brevemente se tratará nesta página – admirou-se por não Ter visto ainda o Bicho pois era costume encontrá-lo todos os dias pela manhã.

Como a mulher estava entrevada e o homem era já pessoa de velhas cãs lembrou-se que até estivesse doente. Resolveu ir a casa dele. Ao aproximar-se ouve gemidos e, entrando na cozinha, com espanto, vê  o homenzinho no estado em que o deixaram os malvados gatunos: preso de pés e mãos, alguidar, sal, cebola e faca à beira. Claro, o homem estava já sem forças e meio morto.

-     O que foi? Perguntou o Santa Marinha.

-     Foi tudo. Roubaram-me esta noite. Levaram-me uma ceira com libras e andaram-me pela loja. Era uma quadrilha de ladrões.

Depois de desprender o homem do banco andaram a ver os delitos cometidos e seguiram os rastos até ao Rio Lima, junto a S. Simão. Os ladrões tinham passado no rio para o lado de Santa Marta.

Mais tarde vieram a descobrir que o roubo tinha sido cometido por uma quadrilha de gatunos espanhóis chefiados pelo antigo criado que tinha emigrado para Espanha e que para ajudar a malta algumas muares.

Quem conta a história só fala no tio Bicho e não sabe o nome dele nem da mulher. Era o Bicho e pronto

Na história apenas nos aparece mais o nome do Santa Marinha, aliás, ao contrário do que se deu com o bicho, esta personagem está quase identificada. Era um senhor que veio de Anha (?) casar com uma mulher dos Matos, da casa dos cirurgiões. Viveu no século passado, como pude verificar numa escritura de doação, e não levará muito tempo a dar mais pormenores sobre este homem ao falar da casa dos cirurgiões.

Todavia, uma ou outra pessoa diz que o Bicho era um grande ladrão e chefiava uma quadrilha.

É tudo verdade?!

 

Artur Coutinho

 

Terrenos que pertenceram à Paróquia de Mazarefes em 1765

 

Em 1765, a freguesia possuía várias propriedades que faziam parte do passal: Possuía junto da capela de S. Simão, do lado sul, uma propriedade que, em troca, João Dias Novo desta freguesia, deu à igreja, a sua propriedade das Boas-Novas, como consta do Dec. Do Gov. de 23-12-1863 e da aprovação do prelado diocesano de 17-3-1863 e de escritura feita nas Notas do Tabelião João José d‘Afonseca da cidade de Viana em 31-5-1863. Ficando ainda a igreja sendo senhora de um pedaço da mesma propriedade em que está situada a capela e adro de S. Simão e um pouco de terreno ao sul e ao norte da mesma como conta da escritura referida(2).

            Também fazia parte do património paroquial a «Bouça do Tojo» que dava de centeio 15 alqueires. Esta propriedade é hoje de José Rodrigues de Araújo Coutinho o qual deu em troca a propriedade das Boas-Novas, que corre pelo pé da casa que a freguesia comprou para residência, ficando mais a sul a que deu João Dias Novo. O decreto, a aprovação e escritura foi junto com a antecedente.

            Também era da freguesia uma propriedade conhecida por «Devesa» e dava de rendimento 40 alqueires de centeio. Confinava com uma terra da confraria das almas. «Este terreno, excepto o campo do nascente, é hoje do referido João Dias Novo por emprazamento perpétuo, sendo ele obrigado a pagar a esta igreja sete mil réis por ano».

            Além disso, fazia também parte do tesouro paroquial uma terra chamada «Campo» que rendia anualmente cerca de 10 alqueires de centeio e a vinha de nome «muro» que rendia 6 alqueires de centeio.

            Algumas terras como se deduz do tombo da freguesia localizavam na Veiga, Uma nota quase ilegível nos livros paroquiais diz: «Estas terras já existiam como sendo da freguesia no tempo do P.e João de Barros (1644-1688).

            Outras propriedades teriam existido, mas não encontrei qualquer referência mais a este respeito.

            A maior parte destas propriedades já não existem com património paroquial.

            É sugestivo o nome que se dá de «passal» a certas terras juntas à Veiga de S. Simão e que, de facto, não pertencem agora ao património da freguesia, mas a pessoas particulares.

            Alguns destes apontamentos foram encontrados à margem, em livros velhos do

P.e Matos.

 

 

 

Histórias antigas

 

      Vai longe o tempo em que a família se juntava, normalmente, ao domingo de tarde em casa, em convívio, como que se catando uns aos outros, carpindo mágoas, exaltando êxitos ou confessando alguns fracassos, enfim, falando das coisas da vida. Criavam-se momentos oportunos para o desabafo, para uma comunhão cada vez maior entre irmãos, entre pais e filhos e primos.

            Isto para não falar dos longos serões à lareira que reuniam a gente da casa ou juntavam ainda algum vizinho ou vizinhos. Para passar o tempo, exclusivamente, ou para servir de fundo a um trabalho artesanal lá vinham as histórias, os contos, as anedotas, as cantigas, as cantilenas, as lengalengas, a música e a dança... Muitas destas coisas eram criações da hora a par de outras tantas que andavam de boca em boca.

            Algumas dessa histórias registaram-se no Centro. Aquilo que se ouviu, aqui vai como uma pitada para aguçar o apetite...

 

Meus senhores,

Eu tinha uma galinha, já me davam pela galinha a tapada da meirinha e já me davam pelo papo uma onça de tabaco, já me davam pelas penas trinta barras de renda, já me davam pelas pernas umas meias amarelas e já me davam pelo cu, cucu mama-o tu.

 

Meus senhores,

Eu tinha um gatinho que conservava com amor. Todos os dias, esse gatinho me trazia seu ratinho, mas houve um certo vizinho que me matou o gatinho. Quando eu vou à janela chamar por ele e quando não o ouço miar, logo me desconsolo: que há-de ser de mim que estou cercada de ratos que me sobem pelos cabides e me roem os novos fatos...

Um dia, fui pé ante pé, fui dar com uma data de ratazanas sentadas à chaminé.

Os ratos são o diabo

Fazem barulho a quem dorme

Quem acode à ratazana

Que dá cabo do meu homem?

Deolinda Amorim (03.02.1997)

 

Havia um homem que tinha uma figueira que dava figos muito bons e uns senhores amigos disseram-lhe: Você tem uns figos tão bons... não tem medo que os roubem?

Não, que eu costumo vir ter conta de noite. Mais tarde, os amigos resolveram vestir-se de branco e foram para cima da figueira e começaram a cantar assim: “Quando nós éramos vivos, comíamos destes figos. Agora que somos mortos vamos aos dos pés tortos.” O homem apanhou um susto para a vida... Ele assustado a fugir para casa até cheirava mal e dizia a mulher: “Ó homem mete-te aqui”... debaixo da roupa vinha todo borrado...

 

Havia um sogro que esperava todos os dias pelo genro quando este chegava do trabalho. Acontece que, sempre que o genro chegava, ele dizia a mesma coisa: “Graças a Deus para sempre assim como eu estou, esteja toda a minha gente.”

Um dia, atrás de outro dia e sempre a mesma coisa... Até que num outro dia, o genro que tanto se foi enchendo do que todos os dias ouvia, decidiu desafiar o sogro que já tinha comido e ele não. Passou então a responder-lhe: “ Se você já tem comido, eu ainda não comi...”

O sogro tinha entretanto no borralho um bolo de lar para mais comer...Mas o genro começava a gozá-lo batendo o pé...

 

Havia um casal em que a mulher era coxa e ficava em casa e o homem ia sempre para o trabalho. Um dia, meteram na cabeça ao homem que a mulher se portava mal com um determinado fulano que era padre.

Quando este chegou a casa, ralhou-lhe e ela, como era coxa, disse-lhe: “Se lá me levasses, eu arrasava-o” E ele levou-a... Chegou lá e disse ela:

“Manga larga do meu linho

Beiça untada do meu toucinho

Chamaste ao meu homem Zé da Gouveia,

        Melhor lhe chamasses o maior corno desta aldeia.”

“Basta mulher que tu já o arrasaste.”, disse o marido.

 E, ao regressar, disse ela para o marido: “Se te abaixasses e apanhasses aquelas lousas...” e ele abaixou-se e ela, segurando nas lousas e a fazer festa, disse:

“Rindo, cantando

Se contam as coisas

Corno me levas

A mais as loisas!”

Deolinda Amorim

 

 Nome: Deolinda Rodrigues de Araújo Amorim

IIade: 79 anos

 

Deolinda nasceu em Mazarefes, no Lugar do Monte, a 20 de Julho de 1920, filha de José Amorim e de Antónia Araújo, lavradores de profissão. Para além disso, a sua mãe era tecedeira nas horas vagas e o seu pai negociante de gado.

“Gostei de tecer e de fazer crochet, mas já há mais de quarenta anos que me deixei disso. A minha vida foi passada mais no campo e na feira. No mercado vendi muitos milhares de molhadas de grelos a 1.00.

Muita gente da cidade conhece-me da praça, onde tinha sempre clientes certos à terça e à sexta-feira.

Quando era nova vivi a minha juventude à moda da época e o mais que pude. Não me faltavam namorados! Sempre soube tirar o melhor partido e, como o meu falecido, não arranjava outro.

Até de longe vinham às desfolhadas na nossa casa, pois os meus pais eram pessoas de muitos “teres”.

Ai como nós cantávamos no sacho do milho, nas desfolhadas, nas vindimas...

O meu pai tinha muitas terras em Vila Fria, e quando vínhamos do sacho, pela estrada fora, às vezes, cantávamos para nos rirmos:

Minha caixinha de prata

forrada de pa..., forrada de pa... forrada de papelão.

Eu dei-a a cheirar, cheirar,

cheirai-me no co..., cheirai-me no co..., cheirai-me no coração.”

 

 Nome: Deolinda Fernandes Dias Barbosa

Idade: 77 anos

 

Deolinda Barbosa é natural de Mazarefes. Eram sete irmãos e o pai morreu quando tinha apenas sete anos, por isso mesmo só andou dois anos a estudar pois tinha de ajudar no trabalho do campo. Apesar disso, mais tarde, quando os irmãos estavam na guerra (Ultramar) começou a escrever-lhes e com muita força de vontade lá conseguia fazê-lo. No entanto, demorava muito tempo a redigir um aerograma (tipo de carta autorizada no tempo da guerra colonial que não necessitava selo). Para além de tudo isto, ainda foi vendedora de leite para “arranjar uns tostões” tendo que fazer as contas...mas sempre deu conta do recado! Como ela própria afirma.

 

“A minha mãe andava a vender pelas feiras para nos poder sustentar e, na nossa casa, não faltava que comer.

No tempo da guerra, havia falta de muitas coisas, mas nós tínhamos lavoura, tínhamos tudo, desde o feijão às hortaliças e à carne de porco. Na nossa casa, cozia-se o pão todas as semanas.

Um dia, o presidente da Junta de Freguesia veio pedir à minha mãe para ela repartir alguma coisa com aqueles que quase não tinham nada para comer. A minha mãe disse-lhe que não podia assumir esse compromisso, não ia dar o sustento da minha família. Nós éramos muitos lá em casa, sendo, com uma tia e os filhos que também lá moravam, treze pessoas à mesa.

Mas a minha mãe sempre que podia fazia bem aos pobres. Recordo-me de um dia ao chegar da feira de Ponte de Lima, mandou-nos a mim e a uma minha irmã encher umas sacas com várias coisas e levar a uma pobre que tinha sido apanhada pelos fiscais na camioneta quando regressava da feira e tinha ficado sem nada. E como foi dessa vez aconteceram muitas mais.

Nesse tempo, o tempo da guerra, quem plantava e semeava tinha que comer ou então tinha que ter muito dinheiro para poder comprar.

Ainda me lembro de parte da “lição do cuco” do livro da Segunda Classe. Lembro-me melhor das coisas que se passaram há muito tempo do que das coisas que se passam agora:

‘-Ó cuco em que mês estamos?

- Estamos em Abril, meu menino.

-Ó cuco preguiçoso, que fazes tu a não chocar os teus ovos?

O cuco envergonhado continuou a cantar, cuco, cuco...’

Quando era nova não tínhamos tempo para namorar pois trabalhávamos muito. Até ao Domingo se trabalhava! Mesmo assim “falei” para muitos rapazes e como se costuma dizer...Quem muito escolhe, pouco acerta. Depois de casada, o meu marido foi para África e lá apanhou o maldito vício do vinho (O vinho e a aguardente não tinham espinhas!). Morreu muito cedo, com apenas 56 anos de idade. Agora vivo com a minha filha, o meu genro e duas netas. Como a minha filha vai trabalhar para a fábrica da madeira e o meu genro para os Estaleiros, propuseram-me que viesse para aqui (Centro de Dia) para não estar sozinha durante o dia. E já venho para cá há três anos e gosto muito de cá estar. ”

 

 Lengalengas

 

  Como as histórias, as lengalengas faziam parte desses passatempos dos nossos antepassados. Estes não usavam apenas cantilenas para os tempos lúdicos. Às vezes, faziam também verdadeiras narrativas monótonas e enfadonhas que, de tão grandes, faziam adormecer. Conheci algumas dessas grandes narrativas, mas aqui no centro não as ouvi. Uma ou outra cantilena foi registada que encerra uma máxima como os adágios ou algo que ninguém percebe e também já não é para perceber, pois ou é um enigma ou uma verdade "la palisse".

 

O machado racha o pau

O machado racha o nó

Sou filho da minha mãe

E neto da minha avó.

 

Quando Deus queria

Do Norte ventava

E do Sul chovia.

 

Uma meia feita

Outra meia por fazer

Quantas meias vêm a ser?

 

Com licença...

Canta o pisco

Seu papinho quer encher,

Onde anda galo de fama

Que vem o pitinho fazer?

 

Era, era, não era

Andava a lavrar,

O arado às costas

E os bois a pastar.

 

O canário canta na gaiola,

Canta tão bem

Que até consola.

 

Quem cria dá leite,

Quem mama que se ajeite.

 

Que contas? Linhas quebradas, tudo são pontas...

 

Assim se amassa

Assim se peneira

Assim se dá a volta

Ao pão da maceira.

 

Mas,

Quem manda?

Quem manda é Miranda.

Quem governa é o Perna

O Perna morreu

Quem manda sou eu!

 

Como é que vai?

Como é que vai?!...

Da forma do costume

Com os joelhos queimados

De assar batatas ao lume.

 

Numa casa onde havia muitos filhos...

Minha mãe faz um bolo de la(r)

Toma tu, toma lá

Minha mãe fica a apita(r).

Uma meia feita

Outra meia por fazer

Quantas meias vêm a ser?

 

Boca grande

Um só dente

E chama por muita gente.

O que é?

 

Queres mais?

Vai buscar ao cais.

 

A roca da fiandeira

Fia. Fia, fia bem

Sentada ao lume à lareira

Fia, fia, fia, bem.

 

Ó que linda maçaroca

Do linho da minha roca

Fia, fia, fia bem

Fia, fia, fia  bem

Deolinda Amorim

 

 

 

TROVOADA

 

            Quando troveja, além de acenderem uma vela de cera em frente de um crucifixo ou oratório, costumavam rezar a seguinte oração:

 

                        Santa Bárbara Virge se vestiu e calçou

                        Para o céu abrandar a trovoada.

                        O Senhor lhe perguntou:

- Bárbara onde vais?

Senhor, ao céu vou

Abrandar a trovoada

                        Que em cima de nós está armada.

                        E o Senhor lhe respondeu:

- Vai, Bárbara.

                        Leva-a para o monte maninho

                        Onde não haja pão nem vinho

                        Nem bafinhos de menino

                        Nem coisas de cristandade.

 

 

PORCO

            Quando se compra um porco, este, ao entrar pela primeira vez no portal do quinteiro, tem de o fazer ao recuo. De contrário, fica tolhido e não cresce.

 

 

FOLARES

            Os padrinhos costumavam (ainda há pouco tempo) dar aos afilhados pela Páscoa um ou dois «petins» conforme a idade deles.

            Quando atingiam os dez anos, então o folar passava a ser dado em prendas de maior valor ou mesmo em dinheiro.

 

 

PÃO

            Depois do pão enfornado e ao tapar a porta do forno, diz-se: «Deus te acrescente dentro do forno e cá fora, para te distribuir pelos pobres.»

 

 

SAUDAÇÃO

            A caminho da igreja, seja de noite ou de dia, ao passar uns pelos outros, dizem:

-     Ora vamos lá!

E respondem:

-     Vamos lá, vamos...

 

SANGUE

            Quando a alguém se solta o sangue pelo nariz, é costume fazer, qualquer outra pessoa, uma cruz pequenina (por exemplo com dois pauzinhos) e colocá-la na testa do padecente, inclinando este a cabeça para traz. A epistaxis pára.

 

 

 

 

OBRADAS

            No primeiro Domingo, depois do funeral, é costume «obradar-se».

            Vão obradar todos os amigos do falecido e oferecem um escudo. Antigamente a oferta da obrada era de um tostão ($10) e daí para cima o que cada um entendesse.

 

 

FUNERAL

            Quando os amigos vão apresentar pêsames à família dorida, ao entrarem na sala onde o defunto está depositado, esteja muita ou pouca gente, dizem sempre:

-     Louvado seja N. S. Jesus Cristo!

E todos respondem com a fórmula usual.

 

 

CEMITÉRIO

            Ao Domingo, o cemitério apresenta-se muito asseado com novas flores em todas as sepulturas e todas elas muito bem alinhadas. Este trabalho é executado nos Sábados, de tarde.

            Aos Domingos, antes e depois da missa quase toda a gente, principalmente as mulheres passam pelo cemitério para rezar ao pé desta ou daquela sepultura, onde repousam familiares ou amigos.

            Ao cemitério chamam «Campo Santo».

 

 

4 de Março de 1968

 

 

PROCISSÃO DOS DEFUNTOS

 

Qual a atitude que se deve tomar quando se topa com a temível «procissão de defuntos»?

Em MAZAREFES havia um homem que se deitava imediatamente de barriga no chão, apertando a areia ou a terra com as mãos e enchendo a boca com ervas, terra ou areia...

Este homem via a procissão, dentro de uma urna, aquela pessoa que estava próxima a morrer...

 

 

3 de Outubro de 1968

 

 

GALINHAS

 

            A dona de casa costuma deixar no ninho onde as galinhas põem os ovos um ovo.

            A esse ovo costumam dar muitos nomes.

            Eis alguns: inês, indês, endês, endes, aninhadouro, ninhadouro, chamadouro e chôco.

 

29 de Setembro de 1969

 

 

ORAÇÃO PARA DEPOIS DA SEMENTEIRA

            Deus te ponha a Sua santa virtude,

            Que eu cá de mim fiz o que pude.

 

 

COISA MÁ

            Quando de repente, se vê a coisa má, deve-se fechar as mãos e dizer:

                        Credo em cruz,

                        Santo nome de Jesus,

                        Eu cá bou... eu cá bou...

 

 

FORNO NOVO

            A primeira cozedura de um forno tem privilégios especiais, um deles é livrar de maleitas a quem comer desse pão.

 

 

VIUVEZ

            Ainda por 1920 era geral o costume de as viúvas não saírem de casa ao Domingo, para ir à missa, sem deitarem uma saia pela cabeça.

            Os viúvos deixavam crescer excessivamente a barba.

            Essa costumeira hoje está quase banida; dela resta apenas o costume de os viúvos andarem com a barba sem fazer durante os primeiros quinze dias.

 

 

 

 

CRIANÇAS

            A luz da lamparina que assistiu ao nascimento de uma criança só se apaga depois do respectivo baptizado.

 

 

ORAÇÕES

MARTÍRIOS DO SENHOR

 

            (Estes versos eram cantados e, ainda, hoje algumas pessoas de idade os dizem em casa).

 

            Ó meu Senhor do Cruzeiro

            Vossa Cruz é de oliveira

            Foi o mais bonito ramo

            Que apareceu entre a rozeira.

 

            Que o vosso é

            Meu Jesus de Nazaré

            Eu protesto de morrer

            Pela nossa santa fé.

 

            Vosso Santíssimo cabelo

            Mais fino que o mesmo ouro,

            Minh’alminha, entrai por ele

            No vosso santo tesouro.

 

            Vossa Santíssima cabeça

            Besbotar uma coroa de espinhos

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tantos martírios.

 

            Vossa Santíssima testa

            Cheia de mil suores

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tantas dores.

 

            Vossos Santíssimos olhos

            Inclinados pelo chão

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tanta paixão.

 

            Vosso Santíssimo rosto

            Cheio de escarros enojentos

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tantos  tormentos.

 

            Vossa Santíssima boca

            Vos deram fel amargoso

            Por via dos meus pecados

            Senhor Deus todo poderoso.

 

            Vossos Santíssimos lábios

            Mais roxos do que os mesmos lírios

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tantos martírios.

 

            Vosso Santíssimo pescoço

            Vos ataram uma corda

            Por via dos meus pecados

            Senhor Deus, misericórdia.

 

            Vossos Santíssimos ombros

            Besbotaram o madeiro

            Por via dos meus pecados

            Jesus Cristo verdadeiro.

 

            Vossos Santíssimos braços

            Vos abriram numa cruz

            Por via dos meus pecados

            Ó meu amado Jesus.

 

            Vosso Santíssimo peito

            Vos abriram com uma lança

            Minh’alminha entrai por Ele

            Senhor dai-lhe a confiança.

 

            Vossa Santíssima cinta

            Vos ataram uma toalha

            Na hora da minha morte

            Ela me sirva de mortalha.

 

            Vossos Santíssimos joelhos

            Arrastinhos pelo chão

            Por via dos meus pecados

            Sofreu Deus tanto paixão.

 

            Vossos Santíssimos pés

            Mais frios que a neve pura

            Eles vão vertendo sangue

            Pela rua d’amargura.

 

            Estas quinze partições

            Meu Senhor vo-las entrego

            Na hora da minha morte

            Me tenhais o Céu aberto.

 

            Quem as sabe não as diz (1)

            Quem as ouve não as aprende

            Lá no dia do juízo

            Verão como se arrependem.

 

(1)  Vid. Serão nº 57, pág. 4, in «Oração ao entrar na Igreja».

 

 

 

NO DIA DA SENHORA DA CONCEIÇÃO

 

            Depois da seguinte oração conta-se o terço 3 vezes, dizendo: Senhora da Conceição.

 

                        Senhora da Conceição

                        Vós dissestes

                        Quem no Vosso Santíssimo Dia

                        Disser 150 vezes Senhora da Conceição

                        Que librarias da morte

                        Repentina e sem confissão (1).

 

            (1) Vid. «Superstição» in Serão nº 68, pág.2. Esta está implicitamente incluída na espécie «NUMEROS».

 

 

AO DEITAR

 

            Nesta cama me deito

            Com esta roupa me cubro

            Se a morte me perseguir

            Anjinhos do Céu me acudam.

 

                        Ou:

 

            Nesta cama me deitei

            7 anjinhos nela achei

            3 para os pés, 4 para a cabeceira

            E Jesus Cristo na dianteira.

 

AO LEVANTAR

 

            Ó Anjo da Guarda

            Ó Santo do meu nome,

            Santo ou Santa deste dia

            Interceda a Deus Nosso Senhor

            Por mim e me guarde de todos os males

            E perigos que me possam acontecer

            nesta vida.

 

                        Ou:

 

            Ó Anjo da minha guarda

            Semelhança do Senhor

            Que do Céu vieste mandado

            Para ser o meu guardador.

            Peço-vos Anjo Bendito

            Pelo vosso divino poder

            Que dos laços do demónio

            Me ajudeis a defender

 

 

AO ENTRAR NA IGREJA

 

            Aqui me ajoelho, meu Jesus

            Tão triste e afligida

            Vós como divino Pastor

            E eu como ovelha perdida

 

            Aqui vos venho pedir

            Salvação

            E remédio para a minha vida.

 

            Obrigado meu Jesus pelos benefícios

            Que me tendes feito

            Durante a minha vida

            E me tendes de fazer

            Até à minha morte.

 

            P. N. Avé Maria, Estação e Terço.

 

7 de Setembro de 1970

 

 

 

ORAÇÃO PARA AS TROVOADAS

 

            São Jerónimo

            Santa Bárbara Virge!

            Santos Deus,

            Santos fortes,

            Santos imortais,

            Miserere nobis!...

 

 

ORAÇÃO PARA ANTES DA COMUNHÃO

 

            Salvé Rainha,

            Rosa divina,

            Cravo de amor,

            Mãe do Senhor,

            Daí-me juízo

            E entendimento

            P’ra receber o Santíssimo Sacramento.

 

 

 

ORAÇÃO PARA DEPOIS DA COMUNHÃO

 

            Senhor:

            Pela minha boca entraste.

            Dela fizeste porta,

            Da minha língua altar,

            Do meu coração assento.

            Bendito e louvado seja

            O Santíssimo Sacramento.

 

 

ORAÇÃO PARA O DEITAR

 

            Ó meu Senhor Jesus Cristo,

            Amor do meu coração,

            Aos vossos divinos pés

            Faço a minha confissão.

            Perdoai-me os pecados,

            Sabeis quantos eles são.

            Dai-me neste mundo paz,

            E no outro salvação.

            Pelas vossas cinco chagas,

            Dai-me a vossa salvação!

 

                                                                                                                                                                                    

REMÉDIO AO CAIR UM DENTE (infantil)

 

            Dente fora,

            C... na cova.

            Torne a vir outro,

            P’rá casinha nova.

 

 

REMÉDIO PARA OS SOLUÇOS

           

            Primeiramente, deve-se estar uns momentos sem respirar. Depois, bebe-se sete golinhos de água. E os soluços desaparecem...

 

 

TESOUROS ENTERRADOS

 

            Diziam os antigos que junto da ermida de S. Simão da Junqueira (MAZAREFES) havia um grande tesouro enterrado. E afirmavam isto apoiando-se numas luzinhas que viam nascer nas imediações do local.