Viana do
lado de lá
A falar de
Viana, não sei se seria melhor falar do lado poente, do lado nascente, do lado
norte ou do lado sul.
Viana é
contemplada sobretudo do lado sul, de Darque, da entrada na Ponte nova, ou da
Ponte velha.
No entanto,
em cada dia há sempre uma Viana remoçada seja de que lado for, e sobretudo, do
lado nascente para onde se expande mais, ou para o poente que pode ser
observada do mar-alto.
Esta Viana do
lado de lá é onde eu gostaria de estar para observar aquilo que me vai no
coração, na alma de quem vive a cidade dos homens e neles pensar em elevá-los à
dignidade e ao nível que todos ansiamos por uma cidade cada vez maior, mais
bela, mais pacífica. Do norte ao sul, da nascente ao poente se quer como uma
grande família, onde todos dêem as mãos para marchar em frente pelo bem-estar
de todos e cada um.
Acordei eu!...
Sou suspeito para falar
de Viana porque Viana é a terra onde a “minha alma gentil” camoniana, gravita.
Para além disso “sou sujeito a estas distrações, a este sonhar acordado. Que
lhe hei-de eu fazer? Andando, escrevendo, sonho e ando, sonho e falo, sonho e
escrevo. Francamente me confesso de sonâmbulo, de solilóquio, de... Não, fica
melhor com seu ar de grego (hoje tenho a bossa helénica num estado de
tumescência pasmosa!); digamos sonílogo, sonígrafo... A minha opinião sincera e
conscienciosa é que o leitor deve saltar estas folhas, e passar ao capítulo
seguinte, que é outra casta de capítulo” segundo “Viagens na Minha Terra”, de
Almeida Garret.
Virando a folha sentirá outra aragem,
outra doçura, outro ambiente, outro conteúdo que o fará descer mais à
realidade.
Acredito no outro lado do meu lado
seja esquerdo ou direito, da frente ou de trás. É o lado da minha sombra. Sou
eu. É a minha terra, o meu berço, a minha pátria, o meu torrão, o meu lar,
porque Viana está no meu coração.
Olho para o rio e ao contemplá-lo
gostava de cantar com o meu lado:
A
água do rio Lima
Foge
que desaparece;
Nem
a água apaga a sede
Nem
o meu amor me esquece.
A
água do nosso rio
Bate
toda em cachão,
Assim
batem as penas
Do
meu coração. (Cancioneiro da Serra de Arga)
Assim
como a minha terra Mazarefes que é Viana, assim o meu outro lado que cantava a
saudade:
A carta
que te mandei
Foi
escrita à candeia;
Com
suspiros foi fechada,
De
saudades vai cheia.
As
cantigas são saudades,
Quem
canta, saudades tem;
Quem
canta para esquecer
É
certo que lembra alguém. (Cancioneiro da Serra de Arga)
O outro lado é o outro ao qual eu quero sair ao seu encontro,
para, de mãos dadas construirmos, lado a lado, a cultura vianense e criarmos
uma comunhão que conduza a uma maior beleza desta cidade, desta terra que se
chama Viana. Quem a visita esquece o outro lado por entrar na nostalgia de tudo
o que é belo, desde o ambiente até à alma vianense de todos os outros que fazem
uma festa e sabem acolher com alegria e amor quem chega.
Quero deixar de lado a mitologia do esquecimento, bem como a
lembrança de Estrabão e estar ao lado do lutador romano, destemido e impulsivo,
Júnio Bruto, sem esquecer o nosso lado da raiz límica, desde as suas nascentes,
a 975 metros de altitude no monte Talariño, do lado poente, nas costas das
nascentes do rio Sil, no Sarreaus, Couso (…) o rio, não do esquecimento, mas da
lembrança, do encanto porque era terra do bem fascinante guardada na memória do
coração de todos os que aqui chegam.
Tinha razão Júnio Bruto que, então, é mesmo verdade: “Quem
gosta vem, quem ama fica!”
Tudo o que Deus fez é belo, mas para mim, Viana é o meu lado
mais nobre, depois de Deus que adoro.
Viana é a terra do coração.
Padre Artur Coutinho
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