A PARÓQUIA
VISTA PELO PADRE COUTINHO
“O pastoreiro de paróquias
pequenas requer um tratamento singular, diferente do que lhe temos dispensado
até ao presente.
É conhecido o bairrismo
exagerado das respectivas populações que defendem a sua manutenção como
paróquias. Mas, na realidade, elas não representam mais do que pequenos lugares
duma comunidade maior. No futuro, não fará sentido dizer-se que este ou aquele
sacerdote tem a seu cargo 3 ou 5 ou 7 paróquias, mas uma comunidade paroquial,
distribuída por vários centros. (...)
Esta indispensável mudança só
será positiva se dispusermos de alguns leigos capazes de assumir maiores
responsabilidades nessas pequenas comunidades cristãs. (...) A supervalorização
das capacidades da razão humana, a absolutização dos métodos positivos do
saber, a relativização dos valores, a concepção individualista da vida, a
superocupação das pessoas centradas na produção e consumo de bens materiais,
provocaram profundas mudanças na sociedade e nas pessoas. Afectam o modelo e as
funções da célula familiar sobretudo com o trabalho feminino fora de casa, que
saudamos, apesar dos desafios que levanta. Enfraquecem as motivações religiosas
dos indivíduos e embotam a sensibilidade aos valores consistentes nos quais se
incluem os valores religiosos e tudo o que aponta para o transcendente.(...)
Evangelizar dentro duma
cultura secularizada, pode ter dificuldades acrescidas, mas deve despertar em
nós um desafio entusiasmante.”
“Agora, às nossas comunidades cristãs estão a chegar
imigrantes, vindos de países africanos ou de Leste, da América Latina ou
simplesmente da União Europeia. Temos uma missão a cumprir para com eles.”
(Esse fenómeno) “requer tratamento pastoral próprio que
passa pelo bom acolhimento, pelo respeito pelas diferenças culturais e mesmo
religiosas, pela ajuda na aprendizagem da língua e na escolarização, pela
colaboração no superar de outras carências como a procura de habitação, a
congregação de toda a família, etc.”
“O pluralismo religioso, que se tornou uma das características
da cultura do nosso tempo, até há pouco inexistente entre nós, será uma
realidade presente em grande parte das nossas comunidades paroquiais. O
fenómeno da mobilidade e a omnipresente comunicação social que traz até nós as
diferentes experiências de vida e de crenças, põem-nos em contacto com pessoas
de outras culturas, vivências religiosas, tradições e formas de manifestação
religiosa. (...)
Um são e esclarecido ecumenismo favorecerá a convivência
entre as pessoas, a tolerância e respeito mútuo pela vivência religiosa dos
outros e a descoberta e assimilação daqueles valores de que essas Igrejas
também são portadoras (...) Por motivos diferentes, mas com igual delicadeza e
caridade, devemos manifestar estima pelas principais religiões não cristãs historicamente
fundamentais como são: o Judaísmo e o Islamismo, religiões monoteístas, e ainda
pelo Budismo, não só pelo elevado número de praticantes que congrega mas também
porque ele «constitui um grande acontecimento da história».”
“Aos fiéis leigos – é nossa convicção –
está reservada uma missão de evangelização desta cultura contemporânea marcada
pela secularidade. (...)
Vós, melhor do que ninguém, podeis marcar presença junto
dos vossos contemporâneos. Conheceis e utilizais a mesma linguagem, usufruís
das mesmas ou semelhantes experiências de vida, ao nível pessoal, da família,
do mundo do trabalho, da produção e consumo, dos locais de lazer, do sagrado e
do profano. Tendes a experiência do positivo e do negativo da modernidade.”
“A paróquia não mais subsistirá como mundo fechado sobre
si próprio. O pastor que não se abra à coordenação supra-paroquial perde, em
boa parte, a capacidade de cumprir a missão de despertar o desabrochar da fé
dos seus paroquianos e de alimentar o seu crescimento. A coordenação a nível de
unidades pastorais, envolvendo várias paróquias com relações sociológicas de
proximidade, a nível de zona, de arciprestado ou a nível diocesano, constitui
um imperativo indispensável para a eficácia e frutuosidade da evangelização.”
“Tudo leva a crer que se venham a introduzir entre nós as
celebrações da fé orientadas por Diáconos permanentes ou por leigos de
reconhecida formação e competência. Urge promover a sua formação humana,
teológica e pastoral.”
in Carta Pastoral de D. José
Augusto Pedreira
(nos
25 anos da Diocese)
Já em Julho, no Conselho Paroquial de Pastoral, foi
sugerida a realização de uma Missão Popular na Paróquia, neste ano de Pastoral.
Voltou a ser discutido o mesmo assunto na última reunião de Outubro, por ocasião
da apresentação, apreciação e aprovação do Plano de Pastoral para este ano, mas
ninguém incluiu esta iniciativa e continua em discussão, o que não impede que
ela seja uma realidade ainda este ano de pastoral.
Tudo indica que a acção, por aqui ou por acolá, seja uma
realidade na Paróquia de N.ª Sr.ª de Fátima. Há necessidade de uma sacudidela
especial e a Santa Missão é um tempo especial de intensiva e extensiva
evangelização, de retiro espiritual popular, um tempo de misericórdia, de
diálogo eclesial, de ecumenismo e de serviço pastoral e fraternal.
Qual o sentido a dar à vida e à história, assim como
descobrir o mundo em que vivemos como sujeitos, os anseios que sentimos, a
descoberta de respostas, o motivo da nossa fé cristã e o sentido da Comunidade
serão objectivos que nos orientarão na estratégia para a eficácia da Missão.
O Conselho Paroquial de Pastoral e a
Diocese em Sínodo
“O primeiro documento para estudo, ou para trabalho,
distribuído pelo grupo dinamizador diocesano pelos organismos e movimentos não
foi muito fácil de digerir pelos responsáveis da pastoral paroquial, devido à
profundidade teológica das questões.
Os objectivos não foram talvez, por isso, alcançados na
sua plenitude, mas é possível que valessem por si, para pôr os crentes mais
responsáveis a reflectir e a tirar uma conclusão: falta algo importante para a
caminhada- -formação e
conversão.
Prevendo esta conclusão, já em Julho de 2002, no Conselho
Pastoral Paroquial, foi lançado por mim um repto aos conselheiros: nunca
poderemos ir longe se não houver um trabalho de base, e esse trabalho, penso
eu, é incluir no programa de pastoral para 2003 um Missão Popular na
Comunidade. Há necessidade de uma sacudidela especial e a Santa Missão é um
tempo especial de intensiva e extensiva evangelização, de retiro espiritual
popular, um tempo de misericórdia, de diálogo eclesial, de ecumenismo e de
serviço pastoral e fraternal.
No fundo é isto que a Diocese quer em Sínodo e que uma
paróquia deve procurar.
Uma Missão Popular ajuda a dar sentido à vida e à
história, assim como a descobrir o mundo em que vivemos como sujeitos e os
anseios que sentimos, as respostas que procuramos. O motivo da nossa fé cristã
e o sentido da Comunidade serão os objectivos que nos orientarão na estratégia
para a eficácia da Missão. Entendo que a Missão Popular seria uma rampa de
lançamento e para a tornar mais renovada, convertida, comprometida e atenta aos
reptos que vêm de cima, isto é, aos frutos dos trabalhos duma Diocese em
sínodo. Houve discussão, e nenhum organismo ou movimento mais falou nisso, nem
a isso se referiu na apresentação dos programas do Ano Pastoral.
Voltou a ser discutido o mesmo assunto na última reunião
de Outubro, por ocasião da apresentação, apreciação e aprovação do Plano de
Pastoral para este ano, mas ninguém incluiu esta iniciativa, o que não impede que ela seja uma realidade
ainda neste ano de pastoral.
No próximo C.P.P. vamos ter testemunhos diversos de
crentes atingidos por Missões Populares e por evangelizadores com diversas metodologias,
com métodos verdadeiramente missionários de evangelização para os tempos de
hoje.
Muitos poderão achar difícil, mas não é com coisas fáceis
que se consegue viver sempre em tempo de páscoa.
A Ressurreição, Fundamento da nossa fé, custou um calvário
bem mais doloroso.”
P.e Coutinho
O Conselho Económico Paroquial
“O Conselho Económico Paroquial ou, mais comummente
conhecido por Comissão Fabriqueira, é o órgão que administra os bens, zela o
património da Comunidade, responde por ele, desenvolve-o, regista-o e guarda-o.
Dele dá contas à Comunidade e ao Bispo.
A este Conselho Económico preside, por natureza, o pároco
coadjuvado por um grupo de leigos, onde há um secretário e um tesoureiro,
ouvindo a comunidade através de pedidos de sugestões, ou eleições, conforme o
pároco entender, pois ele tem um papel preponderante nas opções a fazer.
Reúne uma vez por mês ou mais, conforme as necessidades
da Comunidade.
Numa comunidade pequena não será preciso tanto, mas
quanto maior for a comunidade e a actividade desenvolvida por ela, pode levar a
reuniões mais frequentes. Tudo depende do trabalho desenvolvido e dos bens
patrimoniais.
Numa Diocese em Sínodo, nesta altura, parece que o que se
deve procurar incutir a um C.E.P. é a uma maior abertura, não só à comunidade
em si (paroquial), como também e, sobretudo, ao exterior, a começar pela
Diocese.
A Igreja Diocesana é uma família. Ou não é? Eu acredito
que é uma família, por isso os C.E.P.(s) devem estar abertos às partilhas a
favor da Diocese como Igreja Mãe, Igreja Plena com o Bispo à frente e aberta às
C.E.P.(s) das outras comunidades, sobretudo das mais pequenas ou com
dificuldades e com grandes obras urgentes a fazer.
Não pode um C.E.P. considerar-se feliz, se outro, ao seu
lado, porque é uma comunidade mais pobre, está em dificuldades sérias ou tem
uma igreja a cair porque, de facto, os paroquianos são tão pobres que não podem
sequer conservar o que têm de comum. Isto, a propósito do C.E.P., penso-o de
igual modo a partir do Conselho Económico Diocesano ao qual preside o Bispo,
que deve partilhar com as paróquias com evidentes necessidades.
Não posso esquecer que um incêndio deflagrou numa
sacristia duma Igreja. Não faltou solidariedade e recordo um C.E.P., de Paróquia vizinha, que deu uma contribuição sem que tenha sido
pedida. Esta abertura à solidariedade, numa situação destas, não é difícil, mas
aquilo que mais sensibilizou foi a comunhão entre duas comunidades. É claro que
os paroquianos contribuíram e até houve pessoas, completamente alheias a ela, que
quiseram participar.
Uma Diocese em Sínodo, é uma diocese em mudança. Daí que,
nesta área, também o C.E.P. se deve
abrir à mudança e a dar testemunho de pertencer a um conjunto de famílias,
sujeitas a uma só família que é a Diocese, célula, por sua vez, de uma grande família eclesial a que preside
o Papa.
Foi com agrado que se recebeu o 2º Caderno da equipa do
Sínodo sobre «As celebrações litúrgicas para o cristão de hoje», caderno
muito mais feliz que o anterior porque muito melhor estruturado, mais claro
,mais conciso, mais acessível ao comum dos fiéis. Está de parabéns a equipa que o elaborou.
Se o nosso C.E.P. comprou umas dezenas, foi para ajudar
os mais responsáveis a reunirem-se e a estudar um tema tão caro como é para nós
a celebração da fé. Não foi por acaso que o CEP ofereceu a todos os lares da
Comunidade em dia de Páscoa, 3520 exemplares de um livrinho sobre os diversos
passos da liturgia eucarística, preparado pelo Padre Belo e que, mês a mês, foi
publicando no Paróquia Nova. Tem feito isto como um adicionante à catequese ao
domicílio.
Veio mesmo a calhar porque completam-se nesta área de tão
grande significado para os cristãos.”
Paróquia e a Diocese – a Unidade
“A Paróquia, tal como se apresenta na nossa realidade, é
uma Instituição eclesiástica, reconhecida pela ordem civil e administrativa,
não deixando de ser uma instituição social de características próprias.
A palavra “paróquia” vem do grego e significava, no
início, “habitação ou reunião de habitantes”. É o primeiro nome dado à diocese
no início da Igreja, havendo, por vezes, confusão entre diocese e paróquia.
Segundo Miguel de Oliveira, em «As paróquias rurais
portuguesas», qualquer destas etimologias se adapta ao primitivo
significado de paróquia (paroikia em grego ou parochia em latim ) que era o
primeiro habitáculo que um cristão ou uma igreja cristã encontram na
peregrinação terrena, a caminho da pátria celeste.
Entrou no século IV na linguagem administrativa da
Igreja. A palavra pároco teve três etimologias: do grego, párokos, colono ou
cultivador; do latim, parochi, funcionário encarregado de subadministrar o
necessário em nome de alguém; ou ainda do grego, paroikeo que significa morar
na vizinhança. O pároco tinha de morar entre os paroquianos.
Até ao século III a Catedral era a única paróquia e o
bispo o único pároco. Só as catedrais tinham Pia Baptismal e só lá eram feitos
os baptismos. Com o aparecimento das igrejas rurais começou a criar-se a ideia da necessidade de criar também a Pia
Baptismal, para que não se tivessem de dirigir à igreja onde estava o Bispo.
Aparecem assim as igrejas paroquiais, a que, por confusão, também chamaram
diocese. Também este facto deu origem a chamar Pias a algumas paróquias, porque
tinham igreja com pia e Paróquias eram as dioceses. Essa confusão só passou
quando, de facto se começou a chamar Diocese ao território sob a admnistração
dum Bispo, conjunto de Paróquias.
A palavra ecclesia, igualmente do latim, tomou do grego o
sentido de comunidade regularmente reunida ou, como hoje ainda, o local sagrado
onde se reúne esta assembleia, com certa regularidade sob a direcção do chefe,
em nome do Bispo. Na Igreja, enquanto ajuntamento dos fiéis, “filius” (filhos),
nascerá o termo freguesia, o mesmo que agrupamento dos filhos da Igreja. A
Freguesia, normalmente, era uma Paróquia. Hoje há Freguesias que têm mais que
uma Paróquia, como no nosso caso - Paróquia de Nossa Senhora de Fátima,
freguesia de Santa Maria Maior, com a igreja matriz, hoje catedral ou Sé (Sede)
do Bispo.
Uma vez que somos Paróquia autónoma e não freguesia,
então não utilizarei freguesia, mas Paróquia, palavra esta que começou a ser
usada com o significado que tem, depois do Concílio de Trento.
A Paróquia é hoje a divisão mais pequena, a célula da
divisão territorial da Igreja, da Diocese, e define-se como: pessoa moral,
jurídica, nascida por um acto da autoridade eclesiástica competente, uma vez
que tenha povo e território, pároco e igreja, para a cura de almas. Com este
acto vem o benefício eclesiástico, com dotes para a manutenção de lugar sagrado
e para sustentação do sacerdote instituido de modo permanente e subordinado ao
Bispo. Surgem paróquias urbanas e rurais.
A nossa paróquia foi um acto de D. Francisco Maria da
Silva, Arcebispo de Braga, em 1967. Consta que na mesma altura criou também a
do Senhor do Socorro. Foi a título experimental a do Senhor do Socorro e com
carácter definitivo a de Nossa Senhora de Fátima. O decreto foi assinado pelo Arcebispo, segundo testemunhos da época,
mas como o mesmo não apareceu, mais tarde presumiu-se que seria também a título exprimental, sendo D. Armindo Lopes
Coelho, o então 2º Bispo de Viana, que a criou definitivamente, conforme o
decreto que se transcreveu no livro «A Cidade de Viana, no presente e no
Passado - da Bandeira à Abelheira». Este já não se perderá.
Na origem, o Cristianismo centrou-se nas cidades e as
paróquias ou dioceses eram, portanto, de carácter urbano e presididas sempre
por um Bispo, sucessor dos Apóstolos. Só mais tarde as comunidades com pia
baptismal começaram a aparecer no meio rural. Até aí, os aldeões eram pagãos.
Pagão era rural.
Os pagãos convertidos ao cristianismo deram origem a igrejas particulares e também rurais, tendo
dos fiéis serem baptizados nas igrejas do Bispo porque só aí havia pia
baptismal. Depois estas igrejas particulares e também rurais deram origem às
paróquias rurais, aos seus párocos também, pelo que a Paróquia rural é
posterior à urbana, que era a Diocese. E as primeiras paróquias rurais não
tinham todo o culto, tinham ainda os fiéis de ir à Catedral participar na maior
parte dos sacramentos, como o baptismo.
Por isso não foi uma disposição legal que criou as
paróquias rurais, estas foram uma exigência espontânea pela conversão dos
pagãos, longe da cidade. Inicialmente, por isso, os párocos eram: residentes
uns e itinerantes ou visitadores outros. Devido a isso não se sabe como
nasceram e quando nasceram a maioria das paróquias. Ao mesmo tempo era uma
exigência apostólica, própria da fé, ir ao Campo levar a fé e a vida de fé...
para sair das cidades...
No século III, o Concílio de Elvira, na Península
Ibérica, mostrou uma grande difusão territorial do cristianismo e uma
organização muito desenvolvida. Nesse Concílio participaram representantes das
comunidades cristãs de mais de 50 povoações, das quais 20 eram episcopais e 19
tinham, ao menos, um sacerdote à frente; três dos Bispos eram da Lusitânea.
É claro que a unidade da diocese quebrou-se com o
aparecimento das paróquias rurais, não só quanto ao culto como quanto ao
património. Hoje há uma preocupação enorme para que se volte tudo para a
Catedral, onde preside o Bispo. Aqui também pode andar a ideia de globalização,
que sendo coisa boa, também traz irremediavelmente os seus erros, dum modo
particular em relação à Religião. Isto tem muita lógica, mas, muitas vezes, as
horas e os espaços litúrgicos duma Catedral são pequenos para que se possa
congregar tudo num só lugar à volta do Bispo. O Bispo é, de facto, a plenitude
do sacramento da Ordem, é o chefe da Igreja Particular. Não há celebração nenhuma,
de nenhum dos grandes momentos ou dos sacramentos da Igreja que o Bispo celebre
na Catedral, em que tenham de fechar as igrejas à volta. Era bom, mas temos de
ter em conta as realidades como o espaço, o momento, a predisposição das
pessoas, o conforto. Não está aí uma demonstração da unidade, às vezes pode
trazer enfraquecimento da vida de fé,
por se querer dar a ideia que é obrigação e medo de quebrar a unidade à volta
do Bispo. Ainda que para isso não haja condições e queiramos viver sempre como
parasitas à custa das catedrais ou das igrejas que os outros nos deixaram.
Vejamos, por exemplo, uma crismação, em dia de
Pentecostes, de 150 pessoas, com os pais, os padrinhos, já para não falar nos
irmãos, nos tios, ou nos avós, não há catedral nem igreja nenhuma em Viana que
ofereça as condições mínimas para uma celebração condigna, em que 60% dos
familiares não poderão ser testemunhas, não poderão assistir, não poderão fazer
a unidade, a não ser espiritual e à distância... É certo que também tem valor,
mas humanamente falando é errado. Muitos já nem vão. Esperam em casa ou no
café...
A tão desejada e justa Unidade não se faz com a multidão
acotovelada ou incomodamente instalada horas e horas. Só os mais pacientes
muitas vezes fazem essa “unidade”, mas quantas vezes arreliada e a dizer
impropérios, nada testemunhantes de uma sadia Unidade.
Não é preciso ir muito longe. Infelizmente, encontramos
isso dentro de casa, na família. Todos em casa vivem, comem e dormem, são
família e quantas vezes não há comunhão autêntica, falta de verdade?...
O mesmo pode acontecer na celebração à qual preside um
Bispo ou um Pároco, em que, apesar de multidões acotoveladas, de “casa cheia”,
pode haver menos comunhão e verdade do que com menos multidão. Mas, com gente
que livremente participa e pelo conforto até escuta a Palavra e ouve o Bispo,
comunga com ele e pela fé no Maior -
Jesus Cristo - vai depois para o meio do mundo com a missão de prolongar a
Unidade e a Comunhão com os irmãos .
A palavra paróquia, hoje, começa a perder o seu uso
normal para se chamar, aliás, aquilo que sempre foi: “Comunidade”.
Ouve-se já, na era pós-conciliar, chamar comunidade
paroquial para se distinguir de outras comunidades que não são paroquiais. A
Comunidade Paroquial é a Paróquia que tem um padre nomeado pelo Bispo, e as
outras comunidades não têm pároco. Assim, aqui entre nós, há a comunidade do
Carmo que não tem pároco, mas é uma comunidade religiosa que depende do
superior da Congregação dos Padres Carmelitas Descalços. A sua Paróquia, em razão
da sua localização, é a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima. O seu superior é
um sacerdote, mas não tem a missão de pároco, embora colaborante como
paroquiano e sacerdote, como todos os seus colegas da comunidade que nesta
altura não tantos como noutros tempos.
Isso não acontece com facilidade porque à Paróquia, geralmente, está ligado um
território com fronteiras e um grupo de pessoas que se identificam sócio- -culturalmente. Hoje discute-se se
a Paróquia ou a Comunidade e o pároco deve estar ligada ou definida por um
território ou se por um conjunto de pessoas que fazem comunidade e que, muitas
vezes, podem ser de culturas diversas, de territórios diferentes, que se juntam
por relação de conhecimento, amizade, relação de serviço profissional ou por
uma relação vivencial da fé.
No futuro, este sentido de Comunidade é o que irá
prevalecer em prejuízo do da Paróquia, ou, melhor dizendo, virá a Paróquia a
ser “Diocese” com o Bispo à frente, e as Comunidades com sacerdote ou diácono
designado pelo Bispo, delegado dele junto das pequenas comunidades. E as
comunidades serão menos comunidades em razão do espaço, mas maiores em razão do
espírito, do carisma. Assim, haverá a comunidade que se pode confundir com uma
paróquia actual, mas há a comunidade religiosa que vive à volta duma igreja,
duma capela, dum carisma próprio como, por exemplo, a comunidade dos
carismáticos, dos neo-catecumenais, da
Opus Dei, e virão depois os que são focolares, legionários de Maria,
Vicentinos, etc.. Hoje tudo isso já existe, mas em função da Paróquia
territorial.
A Igreja do futuro irá estar mais aberta, será mais
pobre, organizar-se-á de outra maneira e a sua administração será diferente,
mas talvez vivencialmente mais rica, a confundir-se com as primeiras
comunidades.
As Comunidades de Base, nascidas no Brasil, foram a
primeira abertura a um espírito novo da Igreja e o desconhecimento do Concílio
Ecuménico, pela parte de muitos leigos e outros “hierarquicamente superiores”,
a propósito da co-
-responsabilidade eclesial é que vai resistindo à lufada dum “espírito
novo”...
P.e Coutinho
Os Movimentos numa diocese em sínodo
“Os Movimentos duma Paróquia podem ser de origem
paroquial e devem ter a aprovação do Bispo, ou podem ser organismos ou movimentos
que têm aprovação da Igreja Universal e são reconhecidos pelo Bispo da Diocese.
Esses têm, normalmente, uma hierarquia própria através de Sedes Diocesanas,
Nacionais, Internacionais... e são representados por Secretariados, Direcções,
Delegações, Centros próprios, conforme a estrutura estatutária ou as
orientações de cada Bispo na sua Diocese.
Há variadíssimos movimentos ou organismos, serviços e
obras, conforme a diversidade de carismas existentes na Igreja. Não vou
apontá-los porque seria uma lista interminável,
mas não resisto em falar daqueles que melhor conhecemos porque até trabalhamos
com eles na Paróquia.
Na Comunidade de N.ª Sr.ª de Fátima existe o
Movimento dos Cursos de Cristandade, a Legião de Maria, a Sociedade de S.
Vicente de Paulo, o Apostolado de Oração, o M.E.V. (Movimento Esperança e
Vida), os Cruzados de Fátima, o Coral Litúrgico, o Coral Juvenil, o Coral de
Música Clássica, o dos Leitores, o dos Ostiários, o da P. da Família, o da
Catequese, o do Escutismo, o dos Acólitos, o dos Ministros Ext. da Comunhão, o
do Acolhimento, o dos Zeladores; o Serviço de Comunicações Sociais (Luz
Dominical e “Paróquia Nova”), o Centro Social Paroquial com as valências ( o
Centro de Acolhimento de Bebés e Crianças Abandonadas ou de Alto Risco - vulgo
Berço, o Jardim Infantil, o Centro de Deficientes (Samaritanos), o Centro de
Cegos e Ambelíopes, o Centro de Dia, o Centro de Convívio, o de Assistência ao
Domicílio Integrado, o do Serviço de Apoio ao Domicílio, o Refeitório Social
(para passantes, vagos, ex-toxicodependentes, indigentes, sem-abrigo,) a Escola
de Música, o Ozanan-Centro de Juventude (assistência aos tempos livres de
crianças e jovens), o Cecan-rd ou Centro Comunitário de Apoio aos Necessitados-
Recolha e Distribuição; a Comissão Fabriqueira, o Concelho Pastoral Paroquial.
Na área da Paróquia, ainda existe um Seminário da Ordem do Carmo – Carmelitas
Descalços, com alunos e com uma obra social de reintegração de pessoas de
várias carências sociais (desde a indigência aos ex-toxicodepentes) e dirige
ainda um Gabinete de Apoio à Família com o Projecto Casinha para as crianças
das famílias que acolhe, Projecto “Viana sem Fronteiras” ao serviço dos
imigrantes sobretudo do Leste, Rotas de
Intervenção, Estrada com Horizontes em relação a pessoas da rua , Ecos
(Prevenção Primária da Toxicodependência), Casa Abrigo, Casa de Acolhimento a
mulheres vítimas de maus tratos ou vítimas da violência doméstica, assim como
os seus filhos.
A Diocese é composta de tudo isto... e muito mais. Se se
está em Sínodo, quer dizer que todos nós estamos envolvidos nesta tarefa da
Igreja, como tempo de reflexão, de mudança. Quando digo nós, digo, os que estão
ou não comprometidos em movimentos ou grupos, sejam de carácter diocesano,
sejam de carácter paroquial ou sejam simples cristãos empenhados em tarefas
temporais. Como nos partidos políticos, nos sindicatos, nas comissões de
trabalhadores ou ainda sem nenhum compromisso oficial. Todos os baptizados
devem sentir este movimento sinodal, movimento de conversão, de mudança, numa
Igreja co-responsável, onde o Bispo sozinho não tem razão de existir, como sem
o Bispo não há baptizados, não há expressão laical e co-responsabilidade. A
Igreja faz-se desta comunhão não só com Deus, mas com os irmãos, com aqueles
que se cruzam também connosco no trabalho, na rua, no café, ou dormem debaixo
do mesmo tecto, com aqueles que se sentam à mesma mesa, em família.
Sendo assim, não se compreende que, nesta altura, um
movimento paroquial ou não, desde que a trabalhar na Diocese, viva de costas
voltadas ao trabalho do Sínodo, ou que este não seja motivo de discussão, de
debate, de estudo nas respectivas reuniões e quem diz um grupo, diz um cristão
isolado ou dedicado a obras temporais que devem ser sempre iluminadas com o
espírito do Evangelho.
Ainda
há pouco, celebrámos a Páscoa e ela foi celebrada depois de uma Sexta-feira
Santa onde a Cruz foi a bandeira da glória para o crente e do fracasso para o
malfeitor.
Nós celebrámos a Páscoa, somos crentes...Não podemos
esquecer que se queremos permanecer em Páscoa, teimosamente temos que amar sem
explorar o outro, sem lhe faltar ao respeito, sem lhe querer tirar o lugar mas,
pelo contrário, partilhar, dar amor,
para que o ressuscitado continue vivo no coração dos humanos, no coração da Diocese, em todos possa brilhar
o testemunho d’Aquele que O descobrimos vivo e dinâmico. Quem sabe se, “desanimadamente”, Ele no irmão
que está ao nosso lado, não venha a exclamar: “não valeu a pena”, “ continua
tudo igual”, “se ao menos Deus me levasse...” ou não é verdade que ouvimos
muitas vezes isto a muitos sofredores...
Que Ele possa brilhar em todos...
P.e
Coutinho
A Administração de uma Paróquia
“A origem da maioria das nossas paróquias não a sabemos,
como referi no número anterior, mas sabemos que muitas delas nasceram dos
Castros existentes. Houve Castros que deram origem a várias igrejas rurais e
privadas que, até ao séc. VII, nem funcionavam como paróquias porque se tinha
de ir à igreja onde presidia o Bispo ou à igreja que, por este ou aquele
motivo, já era possuidora de pia Baptismal. Portanto, algumas não tinham culto
com carácter paroquial.
Também no início não estavam definidas estas paróquias
por limites territoriais, como hoje. Tudo isso aparece mais tarde.
Canonicamente, cada paróquia tinha a sua própria organização. Cada Comunidade
criava a Instituição à sua maneira.
Com a organização e a fundação de Portugal, a diocese de
Tuy por exemplo, perdeu as paróquias entre o Rio Minho e o Rio Lima. Também
nessa altura, a divisão territorial das paróquias e dioceses não foi sempre
pacífica. Os bispos e o Papa tinham de intervir. Às vezes, sem resultados tão
claros como seria para desejar, como aconteceu com Viana do lado norte.
A invasão Árabe, encurralando os Ibéricos nas Astúrias,
também foi obra e deixou marcas, sobretudo, na reconquista, o que alterou
muitas formas de viver na igreja, fosse uma igreja particular, fosse paroquial.
É nessa altura que dão mais valor ao padroeiro ou seu fundador. Desse tempo é a
Senhora da Vinha, na Areosa; Senhora das Areias, em Darque; S. Simão da
Junqueira, em Mazarefes, etc.
As igrejas particulares foram-se convertendo em igrejas
públicas, e os bispos começaram a impedir a construção de igrejas que não
tivessem um verdadeiro fundamento, isto
é, tinha de haver grande motivo pastoral para facilitar aos fiéis o cumprimento
dos actos do culto, sobretudo a missa, pelo que a distância, o aglomerado
populacional, os rendimentos destinados à manutenção do templo e do culto eram
algumas das condições fundamentais para a autorização. Tinha de haver uma
dotação capaz da manutenção e, às vezes, como não chegasse, recorriam aos
ex-votos que usavam como propriedade própria
e que passavam de herdeiros para herdeiros...Estes abusos, ou
intromissões no governo de ex-votos, bens esprituais, acabaram nas igrejas
tornadas paroquiais. Aliás, na Idade Média, havia determinação hierárquica para
usar os meios ao seu alcance a fim de conseguir que as igrejas, bens
espirituais por excelência, deixassem de
fazer parte da administração apenas e só pelos leigos ou mordomos.
O direito do patronato substituiu a propriedade e, já no
séc. XI, grande número de igrejas rurais são oferecidas como esmolas pelos seus possuidores (padroados) aos
cabidos das catedrais e aos mosteiros. Os templos consagrados ao culto eram
considerados propriedade da Igreja e o Bispo nomeava o clérigo enquanto o padroado apenas ficou com o direito de
apresentação, como uma honra, privilégio, mas ainda com a obrigação de
alimentar, em caso de necessidade, de defender os seus bens e direitos. Tais
privilégios, muitas vezes foram perdidos, porque alguns caíam na indigência ou
eram dados como incapazes de assumir tais compromissos.
Até ao séc. XIV,
por vezes, levavam os visitadores rendas, frutos que muitas vezes até
faziam falta ao sustento do presbítero ou à manutenção do respectivo templo, ou
da casa residencial do mordomo ou do pároco...
Começavam a receber a visita do Bispo ou dos seus
visitadores, delegados do Bispo . Ainda assim acontecia no séc. XIX e ainda hoje, quando o Bispo faz uma
visita pastoral a uma Paróquia, o Arcipreste faz uma visita canónica para
apresentar um relatório, preparando a visita pastoral. Na alta Idade Média
havia nobres que faziam capelas com dotes, para justificar o cumprimento do
preceito dominical da família, dos
criados e dos caseiros... um pouco contra o espírito de Paróquia, mas não de
comunidade!...
A nossa Paróquia
nasceu dum acto de D. Francisco, Arcebispo de Braga, em 1967, pois ainda fazia parte de Braga,
portanto, a sua história é recente, como Comunidade Paroquial.
A Paróquia continua hoje a ter a sua própria
administração, de que já se falou neste local aquando do Conselho Económico
Paroquial, o C.E.P. ou Fábrica da Igreja Paroquial. Mas, a propósito, há ainda
muita coisa a dizer.
Na
administração duma Paróquia, temos, em primeiro lugar, o património :a igreja,
as capelas, os seus recheios artísticos, como altares ou as talhas, a
estatuária, ou imagens, as alfaias litúrgicas, todo o mobiliário, não só
destinados directamente ao culto, como o destinado também aos escritórios ou a serviços dependentes da vida paroquial.
Mas o C.E.P. é o
responsável, a nível paroquial, por todo o tipo de arquivo: orientações
pastorais saídas do Papa ou do Bispo,
registo dos actos, como reuniões, deliberações, correspondência recebida
e expedida, o registo de documentos institucionais, registos dos baptismos, dos
casamentos e dos óbitos; registos que temos verdadeiramente organizados e estão
já informatizados para fácil consulta. Tem mensalmente de ter a contabilidade
organizada dos dinheiros recebidos como donativos, partilhas feitas nos ofertórios das missas,
ex-votos lançados nos peteiros da igreja ou capelas...legados, rendas, foros,
rendimentos diversos, e guardar em lugar seguro as ofertas, ex-votos, em
espécie, como objectos em ouro ou de outro valor, como um terreno ou uma casa,
as quais não os pode vender sem expressa licença do Bispo. Fazer escrituras
para eles precisa da autorização expressa do Bispo. Também lhe compete,
seguidamente, fazer os respectivos
registos de propriedade; zelar pela manutenção das igrejas ou capelas, fazendo
obras de conservação, assim como dos terrenos ou casas desde que sejam
propriedade da Paróquia. Tem ainda o registo dos ficheiros dos paroquianos, que
habitam naquele território sob a jurisdição de um pároco. Poderá não estar actualizado porque as pessoas até
mudam de residência com facilidade. Mudam de Paróquia e esquecem-se da sua fé
religiosa, da inserção na comunidade. É que há freguesias que possuem várias
paróquias, como Santa Maria Maior, com duas. Por isso este ano entregámos a
todos os habitantes um mapa...
Há pessoas que só quando precisam de documentos para
casamentos, para baptizados ou por óbitos, é que acordam e vêm fazer a sua
inscrição paroquial. Às vezes, o pároco tem dificuldade de atestar aquilo que
não conhece. Não conhece a pessoa, não conhece a família.... Como pode numa
situação destas o pároco atestar idoneidade moral ou religiosa na organização
de um processo de baptismo, de casamento?... E, às vezes, nem com a ajuda dos
leigos vizinhos...
Não se fica por aqui a administração duma Paróquia. Vai
mais longe. Estende-se a todos os sectores da vida da comunidade e, sobretudo,
é mais complicada quando uma Paróquia tem nos seus diversos sectores da Pastoral
uma actividade intensa e bem organizada, na Catequese, na Liturgia e na Acção
Social e Caritativa. Nesta Acção Social há iniciativas que podem gerar
instituições ou fundações que são autónomas na sua administração. Embora sempre
integradas na Comunidade e tendo como pano de fundo esta que, às vezes, não só
lhes serve de suporte moral, mas também económico, apesar de, para o mesmo
efeito, ter possíveis apoios através de acordos com o Estado.
A conhecida por Comissão Fabriqueira deve prestar contas
anualmente aos paroquianos e ao Bispo, assim como cada direcção de alguma instituição ou fundação o deve
fazer. Estas também, em relação ao Estado, pois se com ele têm acordos,
advêm-lhe o direito a saber como é que o dinheiro foi gerido.
De qualquer modo, gerir bens relacionados com os bens do
espírito não é assim tão fácil como parece. Esta administração tem as suas
regras canónicas e é de grande responsabilidade para aqueles que na Comunidade
têm esta função. Desta o pároco não se pode abster e tem de ser o primeiro
responsável com os leigos, que para o efeito foram eleitos. Esta é a
co-responsabilidade em que o Concílio Vaticano II tanto se empenhou. Os padres
não podem fazer tudo e os leigos devem ocupar o seu lugar em igreja tão
responsavelmente como a hierarquia.”
P.e
Coutinho
A Paróquia e a Espiritualidade...
“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu
estarei no meio deles”. Estas palavras de Jesus aplicam-se à Comunidade em que
sempre devemos estar integrados.
A descoberta de Deus trinitário leva à descoberta do
outro. O nosso Deus é um Deus de relação. A descoberta de Deus leva
necessariamente a uma relação de amor, de diálogo que se projecta para os
irmãos do lado, porque não podendo ver a face de Deus, reconhecemos a sua
transcendência e o seu poder absoluto, Ele é o Criador e Todos somos irmãos.
Ser irmão é relação fraternal, é ser amor e quem ama
aproxima-se e dialoga, ou se não dialoga pelo menos gosta de estar ao pé de
quem se ama. Se isto acontece em relação aos irmãos, o que se dirá em relação
aos Pais e, em especial, ao Pai comum a quem chamamos Deus, Senhor do Céu e da
Terra.
Deus não é exigente, mas é Amor.
Não é preciso grande arte para este diálogo que é oração,
mas ela terá outro sabor, se fizermos o que fizeram os discípulos de Jesus:
“Senhor, ensinai-nos a orar”. Também podemos rezar com arte, isto é, rezar bem,
com fé, com humildade e confiança. Sempre devem estes itens ser objecto de uma
relação filial em relação aos irmãos.
Importa rezar com fé, com amor, humildade e solidariedade
porque no mundo não estamos sós e reconhecemos a Deus nos irmãos porque se
amamos a Deus é porque amamos os irmãos, pois é mais fácil amar o que se
conhece do que aquilo que não se conhece...
Já falamos da evangelização que nos abre os sentidos para
o conhecimento de Deus e O amarmos mais.
A Humanidade tem necessidade deste diálogo amoroso com o
seu Deus, um diálogo verdadeiro e autêntico, mas às vezes é capaz de ter as
mãos cheias de sangue e Deus dizer como no Antigo Testamento: “cessai de
fazer o mal, aprendei a fazer o bem, caso contrário os meus olhos fecham-se
perante os vossos actos e os meus ouvidos fechar-se-ão à voz das vossas
súplicas”.
A nossa oração deve ser sempre nova, adaptada às
circunstâncias e sempre em busca de uma nova imagem de Deus que nos chama à
conversão, que quer o nosso bem e que, se o soubermos fazer, Ele sempre nos
atenderá: “Batei, batei e abrir-se-vos-á...”.
Por vezes, somos tentados mais a pedir a Deus do
que a louvá-Lo, quando temos mais motivos para louvar do que para pedir. Ele
sabe do que cada um precisa. Conhece-nos e até sabe o número dos nossos
cabelos.
A oração de petição sustenta a ideia de eficácia com
Deus, pois Ele faz o que diz: “Quando um filho lhe pede peixe, dar-lhe-á um
escorpião?”.
A Paróquia é um espaço composto de pessoas com
cultura e costumes semelhantes, que têm os mesmos objectivos comuns como um
povo em marcha. Daí que este espaço seja o espaço mais próprio para o crente
que precisa de se relacionar com os outros e sente a necessidade de orar em conjunto
com eles, porque a sua oração até parece ser diferente e ter mais força diante
de Deus Pai.
É importante a oração individual, naturalmente, e é a
partir dela que o orante sentirá a necessidade da oração comunitária, da oração
com os outros, com os mais conhecidos.
A Paróquia é esse espaço privilegiado onde o crente
encontra lugar e tempo próprio para a eucaristia, a oração por excelência do
cristão, para outros momentos oferecidos pela Comunidade para a oração
colectiva. Não só na administração de sacramentos, mas também noutros momentos
paralitúrgicos...
Na Comunidade, o crente encontra o ambiente que dá
expressão vital à fé e não é possível rezar e roubar ao mesmo tempo, atraiçoar,
prejudicar, maldizer ou cometer toda a espécie de injustiças e atropelos à
dignidade e aos direitos dos outros...
É também, na Comunidade, onde pode e deve encontrar a
escola de oração para que a oração seja sempre um acto digno, um acto feito com
arte, aquela arte que faz com que a oração seja a expressão sincera e autêntica,
adequada e perfeita, confiante e humilde.
Não foi por acaso que este ano de pastoral 2002/2003 foi
um ano em que o C.P.F. levou a efeito uma reflexão, ao longo de todo o ano,
sobre a oração por especialistas nesta matéria, como são os senhores padres
carmelitas.
Nós queremos uma vida com sabor, isto é, com qualidades,
com entusiasmo, uma vida que seja sal da terra. Somos nós que, ao corrompermos
a terra, deixamos de ser esse sal, que não serve para nada a não ser para ser
lançado fora e ser pisado pelos homens (Cf. Mt. 5,13).
Ao vermos hoje tantas desgraças, tanta corrupção, tanta
violência que mais é que havemos de esperar?
Renovar a nossa aliança com Deus e com os Homens.
É fazer com que este sal que somos não se deixe corromper
neste mundo secularizado. É voltar à graça do baptismo que nos regenera pela
Confissão e faz de nós membros activos, nos identifica com Cristo, nos abre o
coração e a mente ao Espírito, nos faz disponíveis para os outros e nos põe à
escuta interior que nos conduz à espontaneidade com alegria para a relação
tanto com Ele, como com os Irmãos.
A Espiritualidade não consiste em escolher ou ir aqui ou
acolá fazer exercícios espirituais, ou à igreja. Ela é algo mais fundamental
como um desejo interior que nos arrasta para Deus e para a Humanidade... e nos
conduz a Cristo que nos amou até ao fim, à caridade que é o Amor e à oração que
é a fonte de toda a vida espiritual. A vida espiritual é que conduz à Liturgia
onde ritualmente se envolve o silêncio, a palavra, a posição do nosso corpo,
todos gestos com um significado adequado àquilo que se está a viver.
Por isso, a espiritualidade de um povo é o motivo mais
forte que leva à Comunidade, é a alma da Comunidade. É o tal sopro que faz um
povo viver como um só Corpo, um só Espírito porque baptizados num só Baptismo,
no dizer de S. Paulo.
Esta espiritualidade, vivida na Paróquia de N.ª Sr.ª de
Fátima, tem, naturalmente um outro sabor: é o sabor mariano, não fosse a
Comunidade centrada no espírito de Maria, em N.ª Sr.ª de Fátima que é a Padroeira,
a Senhora do Carmo outro centro importante com Igreja e Seminário dentro da
Comunidade, assim como em N.ª Sr.ª das Necessidades com capela no coração do
lugar da Abelheira.
A espiritualidade, como princípio de toda a vida
sobrenatural, que é o Divino Espírito Santo é a posse da Graça de Deus, é
chamada à Santidade, à unidade, e na diversidade dos seus dons, na variedade
dos seus carismas.
Numa Diocese em Sínodo, como está a actuar o Espírito em
cada uma das Paróquias, células da Diocese? A pergunta é extensiva a todas,
inclusivé, à Paróquia de N.ª Sr.ª de Fátima.”
P.e
Coutinho
A Liturgia e a Paróquia numa Diocese em Sínodo
“Sem evangelização não poderá haver liturgia, pois esta é
fruto da experiência de fé para poder compreender vivencialmente a complexidade
tão nobre, como é nos seus aspectos, compromissos e experiências pessoais e
comunitárias para todos os que participam numa celebração litúrgica.
Não se celebra a liturgia sem comunhão entre os
participantes, pelo menos, não será verdadeira liturgia. Não haverá liturgia
autêntica se não houver comunidade e a comunidade é fruto da liturgia, sem que
se despersonalize a pessoa que, na comunidade, participa. Uma comunidade
religiosa é uma realidade social, quer queiramos, quer não, quer seja perfeita,
quer seja imperfeita.
A comunidade religiosa é um grupo de pessoas que vivem
com objectivos comuns do âmbito religioso, onde a pessoa se realiza
socialmente. Ninguém, pois, se pode realizar independentemente dos outros...
Ninguém pode neste mundo ser uma ilha...
É na dimensão social do Homem que ele vive mais
profundamente a comunidade religiosa e, através dela, forma uma comunhão
pessoal de vida. É através da Comunidade que a pessoa comunica e participa, dá
e recebe e onde exerce as virtudes da humildade e da generosidade, do
compromisso e da partilha...
Está com os outros e é com os outros. Enriquece a sua
espiritualidade porque “nem só de pão vive o homem”. É nela que se integra e se
manifesta ser para os outros e ser com eles. Há aqui uma relação diferente
quando ela é religiosa, cultural, pois vai mais além, é transcendente e não é
aleatória; parte da vontade própria e sente a necessidade de intervir, de ser
no mundo assim, com os outros e para os outros...
A base desta comunidade litúrgica está na trindade, onde
ela é perfeita. A nossa, por mais perfeita que seja será sempre um sinal muito
frágil da Trindade Santíssima.
Através da liturgia, os fiéis entram em comunhão com a
Santíssima Trindade.
Pela encarnação do filho de Deus, Deus estabeleceu a sua
morada entre nós, não está junto a nós, mas está connosco. Isto quer dizer que,
pela encarnação do Verbo, nasceu a Igreja. A Igreja é a humanidade reunida e
convocada para a comunhão com Deus, para a comunhão entre os Homens, e entre
estes e Deus. Só assim é possível pelo Espírito vivermos congregados num só
Corpo.
Nos Actos dos Apóstolos há uma passagem muito
significativa quando se refere a Ananias e Safira que usurparam dos bens que
lhes pertenciam não os entregando todos como os outros fizeram generosamente ao
serviço da Comunidade. Pedro chama-lhes a atenção: “Mentistes contra o
Espírito... contra Deus...”. Cf. Hebreus 5.
A comunidade deve discernir que não é ela própria que
escolhe, mas Deus. Não somos nós que escolhemos, ou nos elegemos, para viver
comunitariamente um ideal inspirado pelas nossas aspirações
religioso-ascéticas. É Jesus que actua para a nossa santificação. Tem de
aceitar que nela pode haver pluralidade de carismas. Se o Espírito Santo é a
alma da comunidade, a pluralidade de carismas é natural porque onde está o
espírito está a abundância das suas graças, na construção do Reino, onde sempre
existirá o pecado entre os membros. Será uma comunidade de pecadores, e
ininterruptamente chamados à conversão.
Já
aqui abordei a origem da comunidade cristã.
E, como comecei, não há comunidade sem Liturgia, nem
Liturgia sem comunidade, daí que até um sacerdote sozinho pode rezar, fazer a
oração, rezar a liturgia das horas com toda a Igreja, mas não tem que celebrar
a Eucaristia que é um acto estritamente comunitário, onde a comunhão se deve
manifestar e o padre sem fiéis não tem motivo para esta oração, acção de
Graças.
Toda a liturgia nasce da comunidade cultural. O culto é a
fonte sempre insubstituível da vida e do desenvolvimento.
A liturgia da Igreja não tem como objectivo aplacar os
desejos e os medos do homem, mas escutar e acolher Jesus ressuscitado.
A liturgia é, por isso, um mistério e renovar o
ritualismo desta vivência cultual, exige grande trabalho, esforço de formação
para que a espiritualidade que a liturgia envolve seja o mais concreta possível
e de acordo com a espiritualidade de Jesus Cristo.
É por isso que sempre tivemos o cuidado de celebrar os
sacramentos com a liturgia mais adequada, a começar pela Eucaristia que, depois
do Baptismo, é aquela que alimenta a vida de Comunhão.
Logo em 1979 já tínhamos uma equipa de liturgia que
preparava as missas de cada Domingo. Dela fizeram parte várias pessoas que,
semanalmente, na sacristia, se reflectia sobre a liturgia da Palavra, etc..
Logo houve no princípio um curso de leitores que já se
repetiu por quatro vezes. Embora tenhamos insistido, nem sempre se lê do melhor
modo, o que me faz muita pena. Ainda outro dia ouvi um comentário destes, “O
meu marido telefonou-me para que se fosse à missa desse atenção à primeira
leitura e afinal não entendi uma palavra sequer”. E isto que eu estava a ouvir
uma senhora a contar a outra, era na realidade, uma verdade porque tinha sido
eu o celebrante e ouvi e calei-me. Muitas vezes acontece isso, um ou outro leitor
não sabe o que vai ler e depois lê para ele e nem sequer ele, às tantas, foi
capaz de compreender.
Tudo tem de ser preparado com antecedência.
Pessoas que nunca participaram em formação de leitores,
só em caso de suplência devem ler, mas deve preparar-se antes, como qualquer
outro o devia fazer.
Também em 1979, surge a primeira “Luz Dominical” de forma
muito rudimentar, mas havia esse cuidado, com comentários às leituras e
informações paroquiais. Nesta altura é de formato A5 e contém os cânticos da
missa sobretudo da missa vespertina.
O coral a que chamamos coral litúrgico, é o coral dos
mais velhos, formado de pessoas que ficaram do Espectáculo Marcos 9,37 animado
por Joaquim Gomes. Aqueles que pertenciam ao coral quando aqui entrei
continuaram, mas a pouco e pouco, por isto ou por aquilo, foram deixando, mas
há um núcleo que vem desde 1979 ao qual já se juntaram vários colaboradores e,
assim, se tem mantido o coral que anima a missa vespertina e festas importantes
da Paróquia.
A missa da catequese sempre foi animada por outra gente,
mas há 15 anos que a Célia Novo, formada em Arte e Design é a animadora de um
grupo juvenil, sempre escolhendo cânticos ao gosto das crianças...
Aparece, mais tarde, um grupo de jovens que supriu a
falta do “coral litúrgico” que também cantou na missa do meio-dia, a tomar este
lugar. Na maioria são alunos da Academia de Música, cantam cânticos às vezes a
4 vozes, cânticos clássicos; enfim, uma missa diferente e que a assembleia
também gosta.
Logo que aqui dei entrada pareceu-me litúrgico o
sacerdote receber à porta da igreja todos os que chegavam para a celebração.
Fiz isso muitos anos. Agora é raro, mas quando posso ainda me sinto bem a fazer
esse acolhimento a quem chega para celebrar comigo.
Há sempre uma palavra diferente para um ou para outro,
enfim... Vamos fazer comunhão poucos momentos depois...
No entanto, estão sempre dois paroquianos a receber quem
chega a entregar a “Luz Dominical” e, certamente, a fazer um pouco aquilo que
eu fazia... Um olá! Uma palavra! Um benvindo!... Como está?
Entretanto, enquanto se faz o acolhimento, o animador da
assembleia e o coral faz os últimos ensaios dos cânticos para que a assembleia
aproveite e possa acompanhar depois o coral, fazendo com que muitos participem
no canto. O mesmo se diga dos salmistas que também têm sido preparados para que
a celebração seja sempre muito digna.
Procuro não me alongar na homilia, apenas 5 a 7 minutos.
Não vá a minha palavra ser mais importante que a palavra de Deus!... Também não
tenho grande dom de palavra!...
Deste modo, são sempre os 45 a 50 minutos o tempo da
celebração. Às vezes, por motivo de festa, pode ir mais longe...
Os Ministros Extraordinários da Comunhão não só colaboram
na distribuição da Sagrada Comunhão, como levam a comunhão aos doentes.
Já há uns anos que fizemos paroquialmente formação para
Acólitos Adultos e, desse modo, temos uma equipa que soleniza os dias de festa
com o sacerdote, utilizando a procissão com o crucífero com a cruz levantada à
frente, os ceroferários, o turiferário e o ajudante com a naveta, seguindo os
dois acólitos e o sacerdote.
Mas, a missa não é o único acto de culto. Todos os outros
sacramentos são actos de culto com liturgia também apropriada.
Lutamos pelos baptismos comunitários, celebrados em
colectividade ou celebrados dentro das missas. Os pais são acolhidos por um
casal e depois há preparação para pais e padrinhos mensalmente feita pelo
pároco. Os párocos da cidade distribuíram ultimamente uns desdobráveis dando
informações sobre o que é e as condições necessárias para o Baptismo. Um
trabalho foi feito em comum com as paróquias da Meadela, N.ª Sr.ª de Fátima, S.ta M.ª Maior, Monserrate, Senhor do Socorro,
Areosa e Darque.
Para o sacramento da Penitência que renova a graça
baptismal, prejudicada pelo pecado, temos tempos fortes pela Páscoa e pelo
Natal. Pela Páscoa temos 24 horas de acolhimento para a Confissão e, durante o
ano, à quinta-feira, pela manhã antes da missa e à tarde também antes da missa.
Já se fizeram celebrações penitenciais por altura da
Quaresma, mas as pessoas não aderiam com facilidade. O número era muito
reduzido. Fazêmo-las agora na festa do Perdão para as crianças da catequese.
O sacramento da Confirmação é administrado, há 24 anos,
aos jovens que completem 10 anos de catequese. No tempo de D. Armindo Lopes
Coelho, de 2 em 2 anos sensivelmente vinha crismar aqui na Paróquia, embora
alguns fossem à Sé para não esperar pela data da Paróquia. Com os critérios do
novo Bispo de Viana alguns têm ido à Sé Catedral para serem crismados no dia de
Pentecostes. Aqui agora só haverá crisma quando for marcada visita pastoral.
Para os que saem fora do esquema da catequese normal, e
já têm idade adulta, há outro tipo de preparação para o Crisma.
O Sacramento da Santa Unção tem sido administrado
anualmente a idosos e doentes na quarta-feira santa na Igreja, de forma
comunitária, e ao domicílio quando pedem. Procuramos que cada ano seja
diferente a festa da Administração do Sacramento da Santa Unção e da Comunhão
Pascal.
Quanto ao Sacramento do Matrimónio é feito um acolhimento
por um casal e depois é feito o C.P.M. (Centro de Preparação para o Matrimónio)
ao Domingo pela manhã, no Colégio do Minho, de organização diocesana.
Temos tratado do processo civil para ajudar, ou
facilitar, os noivos e organizamos o processo religioso, como não poderia
deixar de ser. Quanto à liturgia procuramos dar a oportunidade aos noivos de
escolherem as leituras e, até às vezes fazer uma liturgia apropriada a cada
casamento para não ser tão repetitiva.
Quanto ao Sacramento da Ordem!... nada se tem feito a não
ser o aconselhamento e o desafio feito para que despertem vocações sacerdotais
ou religiosas, mas... infelizmente sem sucesso! Só houve um seminarista no
Seminário Diocesano e no Seminário do Carmo, nestes 25 anos. E o último sacerdote
que esta zona deu à Igreja foi o P.e Manuel Miranda; ainda não era Paróquia e já
faleceu, assim como uma irmã religiosa.”
P.e Coutinho
A Paróquia e as Migrações
“A Comunidade Paroquial não pode estar alheia aos
problemas das migrações. Esta comunidade já teve um número razoável de
emigrantes, como em todos os lados. Não tanto talvez, como nas aldeias, porque
na cidade sempre se abriam mais facilmente perspectivas aos necessitados de
trabalho.
Quando para aqui entrei havia emigrantes em número de mais
de vinte famílias. Algumas nunca tinham voltado a Portugal.
Hoje, as contas são forçosamente outras não porque os que
cá estavam, tivessem saído, mas porque muitos emigraram de outras terras
vizinhas e aqui compraram um apartamento para viver, ou por motivos
profissionais, passarem a semana de trabalho, ou para passar férias. Esses em
relação à comunidade, podemos considerá-los também imigrantes.
Nós somos emigrantes no Brasil, na França, na Argentina,
na Venezuela, África do Sul, etc.. Sabemos o que custa ser emigrante, por isso,
devíamos compreender a dificuldade daqueles que são hoje imigrantes na nossa
terra.
Um problema novo que nos surge para reflexão e para um
debate de carácter social, cultural, económico. A paróquia tem de criar
processos dinâmicos de integração do imigrante e, para isso, há esforços que
têm de ser feitos mutuamente, os que acolhem e os que são acolhidos. Exige uma
interactividade, de igual para igual, caso contrário não conseguiremos a
verdadeira integração dos que chegam, porque só assim haverá afecto comum que
conduzirá ao respeito mútuo.
Onde os direitos e os deveres, a precaridade e
vulnerabilidade, de empregadores sem escrúpulos, e equiparação dos salários aos
nacionais, pois trabalho igual ... o facto de acesso à formação profissional...
Os imigrantes se chegam é porque fazem falta. Se houver
ofertas de trabalho que não são preenchidas pelos nossos, devemo-nos sentir
felizes porque há quem chegue e os imigrantes não só levam o dinheiro a que têm
direito para a terra deles, mas também deixam obras e dinheiro à nossa terra.
Em 2001, segundo dados estatísticos deram um rendimento público de 65.000.000
contos.
Mais uma razão para além da fraternidade cristã que uma
comunidade deve acolher e defender às vezes perfilidades injustas e
explorativas Há que potenciar e facilitar a comunicação e lutar contra a
discriminação étnico-cultural.
Quando uns e outros puderem exercer a cidadania num país,
isto é, exercer direitos e deveres iguais então temos uma integração social e
cultural.
É importante que na Paróquia os movimentos ou as
instituições participem num acolhimento claro e franco aos que chegam como
gostaríamos que os outros, noutros tempos, ou ainda hoje, nos acolhessem aonde
chegarmos.”
P.e
Coutinho
A Paróquia e a Evangelização, numa diocese em Sínodo
“A Evangelização é uma das vertentes fundamentais da
Teologia Pastoral da Igreja: “Ide e ensinai!...”
Trabalhai, dai testemunho e falai das coisas de Deus, da
fé, aos homens de boa vontade, a “tempo e fora de tempo”. Esta é a missão de
qualquer crente baptizado. A Evangelização não é só devida ao Bispo, ao padre
ou ao diácono... – a eles pertence salvar a doutrina e ajudar a interpretá-la e
ensiná-la, – mas falar de Deus, falar da fé, falar da vivência de uma fé
autêntica e cristã é, sem dúvida nenhuma, um dever para qualquer um dos
baptizados.
Evangelizar é oferecer uma Boa Nova, oferecer aos Homens
que vivem, numa sociedade concreta, Jesus Cristo, como modelo da Humanidade.
A fé é um dom e esse dom recebe-se no Baptismo. A fé não é um conjunto de
verdades estáticas, ela tem de ser, sobretudo, uma realidade dinâmica, pelo que
conduz ao encontro, ao relacionamento com o outro, ao desenvolvimento normal de
relações humanas, na medida em que ela se revela na pessoa do outro, porque os seus
conteúdos não são o bastante para o convencer. Só há evangelização quando o
outro começa a ter uma atitude diferente no modo de acolher o que o outro lhe
comunica.
Quando mutuamente começamos a acolher a mensagem, a
vivê-la no dia a dia, há compromisso, fé, evangelização...
Portanto, a fé é o resultado de um encontro interior com
alguém que se nos revela, seja pelo outro, seja por qualquer sinal que tornou
alguém atento e dinâmico, com vontade de o mostrar e não de o esconder. É como algo de maravilhoso na
vida que o leva a comunicar-se igualmente como crente, porque se confrontou com
a revelação de Deus e para quem esta teve sentido.
Cremos que muitos dos nossos cristãos não são religiosos.
Todo o homem tem uma dimensão religiosa e isso defendemos, mas o “modus
vivendi” de muitos... que está longe da religião que é algo em que se vê o
senhor absoluto, transcendente, algo de divino, sobrenatural que tem uma
relação de Amor com o Humano, a quem este
obedece e para quem ordena toda a sua vida, segundo a sua vontade.
Não é uma tendência constante para o “religioso”, como um
mito; isso será religiosidade mas não
religião. Não é medo de lobisomens, de almas do outro mundo, do obscuro, para o
que precisam de esconjuros ou ritos mágicos para aplacar o transcendente que
domina e castiga.
Há muita falta de clareza de ideias, de descernimento nos
nossos crentes, às vezes com projectos humanos tão próximos da realidade, e tão
longe de Deus, que não é o “salva vidas”.
“Hoje, à medida que o Evangelho entra em contacto com
áreas culturais que estiveram até agora fora do âmbito de irradiação do
cristianismo, novas tarefas se abrem à inculturação. Colocam-se à nossa geração
problemas análogos aos que a Igreja teve de enfrentar nos primeiros séculos”,
segundo João Paulo II, in “A Fé e a Razão”.
A evangelização, nesta altura, é uma das vertentes da
Igreja que mais necessita do empenho não só dos pastores, dos responsáveis
hierárquicos, mas de todos os leigos que devem aproveitar todas as formas de
catequese através dos Institutos Católicos, (em Viana temos um), como através
da Catequese ou organizações sistemáticas, para jovens e adultos, ano a ano,
para que fique, de uma vez para sempre, para trás a fé infantil, a fé dos
bancos da catequese, a fé da tradição, a fé dos antepassados que já não oferece
respostas aos problemas que o mundo de hoje apresenta.
Cada vez mais a nossa fé tem de ser pessoal, opcional,
clara, tão dinâmica e luminosa que deixe passar a mensagem que se vive. Essa
mensagem deve ser evangélica. O
Evangelho nunca é contrário a esta ou àquela cultura, mas, sem as privar de
nada, as estimula a admitirem-se à novidade da verdade evangélica, da qual
recebem impulso para novos progressos”(Cf. “A Fé e a Razão” n.º 71).
É claro que o nascimento do homem novo encontra sempre
alguma resistência tanto a nível pessoal, como social. É a experiência que
temos quando em 1984 lançámos as
catequeses quinzenais para adultos na Paróquia
.
Quantos e quantos foram convidados, apesar dos apelos
feitos nas missas de Domingo!... Sempre tão poucos os que aproveitam momentos
de reflexão, estudo, para que cada um possa compreender os problemas da nossa
sociedade de hoje e poder ter respostas de fé
para as novas questões que nos são levantadas.
Cristo continua, hoje, a ter lugar na nossa esperança, na
nossa vida, ainda que muitos tenham medo de o escrever como Alguém que mudou a
história da Humanidade. Trouxe uma nova civilização, na qual a Europa se
envolveu e se empenhou.
Esse medo é fruto do que dizia antes. Está visto que os
nossos políticos, os que nos representam, como eleitos do povo, das
Comunidades, também terão aquela fé infantil que não tem valor nenhum para os
dias de hoje.
É isto que temos de combater. A Paróquia falha, se não se
interessar por este sector da teologia pastoral. Nas Paróquias temos de acabar
com a catequese infantil se não nos debruçarmos também e a sério numa catequese
de adultos, dos pais e dos avós.
Tudo pode funcionar concomitantemente. Não podemos falar
da catequese de Infância sem falarmos na necessidade que os adultos têm de
frequentar cursos de Teologia, algumas cadeiras no Instituto Católico ou, ao
menos, na Paróquia, aproveitar o que ela oferece para que não se fique com uma
fé tão débil, porque o mundo de hoje exige muito mais de todos.
A Paróquia só pode dar sentido à celebração litúrgica se
tiver fé, e ter fé é ter conhecimento, experiência vivencial de Deus, na vida
em comunhão com os outros. Se for assim, a Paróquia pode ser uma comunidade acolhedora para fazer
festa, celebrando-a na comunhão na
alegria e no perdão.
A Paróquia, como célula viva da Igreja particular, a
Igreja Diocesana, não se esgota na evangelização: ela é missionária, é
evangelizadora, é acolhedora, participa na igreja universal através da igreja
diocesana, à qual preside o Bispo.
Não pode haver Paróquia sem baptismo. No início, só a
Igreja do Bispo tinha pia baptismal e tudo partia daí, mas, com o passar dos
tempos, a evangelização teve de chegar ao campo, saindo da cidade. Assim,
surgiu a necessidade de aparecerem igrejas mais ao longe com pia para o
baptismo. Então o baptismo passou a ser feito também nessas igrejas.
A
Igreja nasce do baptismo.
Muita gente tem sempre uma certa afeição, e muito justa,
pela igreja onde foi baptizada, pela pia por onde passou, no Baptismo, a Homem
Novo. Este sentimento é justo e respeitável.
Hoje, já se baptizam crianças crescidas, em idade de
catequese de adultos para o que é necessária uma adequada preparação. O
Baptismo será melhor entendido.
Não basta querer ser baptizado. É preciso saber por quê e
para quê? É necessário conhecer a razão que é a razão de Cristo.
É por isso que se exige tempo e amadurecimento para este
“querer ser baptizado”. Conhecer bem os objectivos de Cristo, a pessoa de
Cristo, para iniciar então um caminho novo na vida, um caminho com olhos novos
preparados para ver o outro e amá-lo até ao fim, à maneira do Bom Samaritano.
No outro pode estar representada toda uma comunidade de fé, de escuta, de
esperança vivida e comunicada, no trabalho com os doentes, nos que mais precisam,
nos que passam fome ou têm sede, nos imigrantes, nos presos, nos que precisam
seja lá do que for. Só assim entenderemos a Paróquia como uma Comunidade de
Amor, feita de comunidades mais pequenas que são as famílias – a igreja
doméstica. Estas serão as primeiras experiências de comunidade, de
evangelização e complementaridade numa Comunidade maior que é a Paróquia, onde
todos serão co-responsáveis e participativos, cada um segundo o seu carisma e
vocação.
Inseridos, pelo baptismo, na comunhão dos filhos do
Reino, no Corpo Místico de Cristo, vamos padres e leigos levar a mensagem com
dignidade, fundamentalmente iguais perante Deus, fundamentalmente iguais
perante a natureza humana. Para satisfação e salvação, peregrina e vocacional, conforme Jesus a
assumiu. Os leigos, no mundo, têm eles a facilidade de sacralizar a família, o
trabalho e a comunidade, não como quistos, mas na diversidade da unidade
através da Legião de Maria, Vicentinos, Coralistas, catequistas,
administradores, consultores, comissões de Pais, animadores, asseios e
limpezas. Aos padres cabe o mesmo, mas o seu objectivo fundamental é acompanhar
com a Palavra, alimentar com a Eucaristia, e salvar em Jesus Cristo o Homem
caído.
Aliás, o Projecto de Deus sempre foi este, desde Adão e
Eva, uma comunidade de Homens livres. Desde Abraão que, pela fé, fez a
Comunidade dos Crentes; desde Moisés que pela lei fez a Comunidade Libertadora;
desde os Profetas, que pela palavra, fizeram a Comunidade da Diáspora se
preparar para receber Cristo. Pelos Apóstolos, chegou às pequenas comunidades,
e só depois à Igreja, Povo de Baptizados, povo da Eucaristia e povo missionário
(missa = enviado) até à Plenitude que será a Comunhão dos Santos.
Numa Comunidade envolvida em Sínodo Diocesano, a
evangelização talvez seja o fundamental, porque a maioria dos cristãos não sabe
sequer o que é um Sínodo, porque se o soubesse, e conhecesse a
co-responsabilidade que os documentos conciliares lhes confere, iria trazer
muitos efeitos de renovação, de Igreja nova, de homem novo, a começar pelos
padres, até ao mais simples dos fiéis. Se assim fosse... os alheios ou não
crentes poderiam sentir algo que os fizesse reflectir.
Vamo-nos
contentando com o que se passa na sacristia?!...”
P.e Coutinho
A Paróquia e a Demografia
“Há vinte e cinco anos esta Paróquia
tinha pouco mais de mil fogos e hoje tem mais de quatro mil.
Nada acontece para muita gente. Mas
se olharmos à nossa volta verificamos que o litoral cresce em população contra
a desintegração do interior.
Será que uma coisa destas pode
deixar-nos a todos de mãos cruzadas a deixar que tudo corra como corre, sem
regras, sem sugestões para um desenvolvimento harmonioso, também no interior.
Isto mesmo no aspecto político.
Bom,
mas o que aconteceu já não vai acontecer para gáudio de alguns porque o índice
de natalidade desceu. Será esta a solução mais adequada e mais justa?
Vejamos
na nossa cidade o seu crescimento populacional de há 25 anos para cá... Nas
paróquias da cidade (Areosa, Meadela, N.ª Sr.ª de Fátima, Darque, Monserrate e Socorro).
Se formos um pouco mais além, vejamos o que aconteceu em
Barroselas, Lanheses, freguesias do concelho para além de outras...
Não fiquemos por aqui, o que aconteceu, de há 25 anos
para cá, nas vilas da nossa Diocese.
A nossa Diocese não é a mesma, os nossos arciprestados
não são os mesmos, as nossas paróquias não são totalmente iguais.
O Concílio Vaticano II já foi há mais tempo e os
documentos conciliares obrigam-nos a não ficarmos impassíveis com as mudanças
sociais, os problemas novos da sociologia humana.
Quando passei algum tempo como arcipreste de Viana do
Castelo tive oportunidade de organizar um convívio de sacerdotes do
arciprestado. E à sombra dos pinheiros, junto à Urbanização Nova que se
encontrava em construção na Praia da Amorosa, foi feita uma reflexão sobre a
demografia das nossas paróquias, vilas e cidade. Isto levantou uma série de
problemas pastorais reflectidos ali
quanto ao acolhimento, quanto às iniciativas novas para poder atingir pastoralmente
esta mobilidade de pessoas. Uma das questões foi até aos espaços litúrgicos na
cidade e vilas ou paróquias. Por fim, na qualidade de arcipreste, fiquei de ser
o porta-voz junto do Bispo em nome dos padres do Arciprestado para lhe
comunicar a necessidade de se criar uma equipa pluridisciplinar, composta por
Teólogo da Teologia Pastoral, Sociólogo, Engenheiro do Ambiente, Engenheiro
Civil e um Arquitecto, para que, a nível diocesano, pudesse acompanhar os
planos de pormenor concelhios ou os, na altura, P.D.M., para que estudando em
equipa juntamente com os párocos, envolvidos em desenvolvimento demográfico
inesperado, fossem ajudados a que a dimensão religiosa duma povoação, paróquia,
vila ou cidade em que a maioria é católica, não fosse esquecida.
Deste modo, há mudanças do centro de gravidade,
deslocamentos populacionais, as igrejas longe das povoações ou tão pequenas que
não favorecem o empenhamento pastoral, a descoberta de respostas futuras para
os problemas que já são de hoje, ou já eram de ontem.
Este é um problema de hoje, depois... há paróquias que
não conseguem terreno para uma igreja, por exemplo, não é preciso ir mais
longe, vejam o que aconteceu à Paróquia de N.ª Sr.ª de Fátima que, por este ou
aquele motivo, ninguém compreendeu o pároco actual, nem aqueles com quem ele
trabalhou e trabalharam a não ser o Dr. Defensor Moura, actual Presidente da
Câmara Municipal que mesmo sem audiências de 30 pessoas, resolveu o problema...
Para já esperamos!... porque para outros lados, incluindo
religiosos, as coisas parecem não ser tão prioritárias como deviam... uma
Paróquia que nasceu em 1967 que se pensava numa residência, numa igreja nova,
mas as coisas se interessavam a uns, não eram convenientes para outros. Vejam
agora o deslocamento da igreja em relação à população em geral. O que fazer e
como fazer acolhimento a tanta gente que aqui chega?
Há uns anos tentei participar no colóquio nacional de
paróquias. Só estive um dia, mas gostava de continuar. Nem sempre me condizia
com o meu programa de pastoral paroquial. Este ano, por motivos de saúde, não
participei no Colóquio Europeu de Paróquias, como tanto gostava, na Suíça, de 6
a 10 de Julho, no seu já 22º colóquio.
Uma das conclusões é que as Paróquias continuam a manter
estruturas passadas perante as transformações que se dão na sociedade de dia
para dia.
As Paróquias, os Arciprestados e as Dioceses têm que
continuar a oferecer ao homem de hoje o espiritual, a oração, a vida interior
que tanto o homem procura, mas não pode ficar só por aqui. Tem de ser criativa
para quebrar a rotina que o homem não gosta, a paróquia tem de ser criativa e
oferecer oportunidades a todos os que se dizem paroquianos, tem de ser lugar
para a festa, para o perdão, para a fraternidade e para a reconciliação. Não se
pode fechar na sacristia ou reduzir-se a festas com sermões ou pregações.
Uma Paróquia que não proporcione ou não esteja atenta
àquilo que é capaz de unir os paroquianos nos mesmos objectivos de fé, é
paróquia que tende a morrer.
Dizia aqui noutra local que a Paróquia ou volta a ser
aquilo que era no princípio ou, então, não há razão para existir e ir
resistindo ao tempo, apenas para constar e fazer parte das estatísticas, também
não vale a pena.
É claro que a evolução social e o crescimento
demográfico, as novas vias rodoviárias, a democratização da cultura e da
mentalidade corrente oferecem problemas novos não só aos políticos que agora
querem ser concelhos e não o são.
O que acontece na política, por conta dos votos, não pode
acontecer na Igreja, mas a Igreja às vezes peca em retardar demais ao ver que o
padre não responde às exigências pastorais duma determinada Paróquia, não é
sinal eficaz da presença da Igreja naquele local, a Igreja não tem resposta
para poder beneficiar da qualidade de vida religiosa de muitos que ficaram
isolados, longe da sua igreja paroquial...
O facto da Igreja ter em conta a evangelização, a
celebração e a partilha fraternal, identidade cultural e religiosa não serão os
únicos meios, ou argumentos, que podem levar um Bispo a exercer a competência
da erecção de uma Paróquia quer lhe dê um padre ou um diácono; já que os padres
podem escassear.
Os bispos como co-responsáveis que são na vida da Igreja
tudo devem fazer para que a autoridade competente sinta a necessidade de uma
acção eclesial mais eficaz. É importante hoje mais que noutros tempos a relação
pessoal Bispo e Padre com o seu povo como elemento determinante para a fundação
de uma Paróquia ou Diocese.
Caso contrário não se precisa de padres, bastam os
diáconos e um Bispo, mas não creio que essas medidas evangélicas, sejam verdadeiramente
proféticas para a fé dos nossos crentes.
Paróquia, volta àquilo que foste, lugar de culto, de
fraternidade, de perdão e de festa e voltarás a ser alfobre de vocações a
nascerem nas famílias.
Volta
a ser comunidade aberta às outras comunidades, tenham elas os carismas que
tiverem, desde que o Espírito seja o mesmo.”
P.e Coutinho
A Paróquia e o Domingo
“Não foi por acaso que, ao sétimo dia, Deus descansou,
segundo o livro do Génesis. É de direito divino descansar ao menos um dia em
cada semana. O Homem encontra-se consigo mesmo, com Deus e com os outros.
Desde o nascimento da Igreja, os primeiros cristãos
começaram a celebrar o primeiro dia da semana, o dia da ressurreição do Senhor,
com cânticos dos salmos e leituras, começando depois a celebrar também a
Eucaristia, o partir do pão e a bênção do mesmo, segundo a ordem de Jesus.
Como à Paróquia presidia um Bispo, era a comunidade maior
sediada nas cidades, só quando passaram para o campo e mais tarde, pelo séc.
III ou IV, atingiram as terras mais longínquas, aí surgiram Paróquias sem
bispo, presididas por um presbítero ou diácono, umas com pia outras sem pia,
isto é, umas com direito a baptizar e outras não, pois o ideal era sempre que
alguns sacramentos, como os de iniciação cristã, fossem administrados pelo
Bispo que, então, na igreja da cidade onde presidia, era já a diocese.
O Domingo foi sempre um dia sagrado para os cristãos, dia
de oração, de missa, de encontro, de festa, de partilha, de fraternidade, de
solidariedade, dia da família.
Criaram-se costumes interessantes que bem manifestam a
importância do Domingo.
Antiga mente
a roupa de Domingo era diferente da roupa da festa e da semana. A roupa era
normalmente comprada para a “festa”, passava a ser a roupa domingueira e depois
era a roupa da semana ou do trabalho.
Ao Domingo comia-se melhor, mas do que havia em casa, o
chouriço, o presunto ou o toucinho ou outra parte do “frigo”, a salgadeira.
A carne de vaca ou da melhor rês do rebanho era coisa que
se usava apenas nas festas.
Era ao Domingo que as pessoas reservavam tempo para ir à
missa e, no final, encontravam-se com os amigos. Quando estes estivessem
doentes havia que destinar tempo, na tarde de Domingo, para os visitar, em
casa, ou no Hospital.
Um
outro tempo do Domingo era passado em família e, muitas vezes, um almoço mais
demorado, talvez um piquenique, juntava-se a família. Os casados visitavam os
seus progenitores, juntando-se muitas vezes os irmãos em grande cavaqueira na
casa paterna até altas horas da tarde.
Era um ritual que o Domingo trouxe para além do descanso,
convívio familiar, encontro com Deus na Oração ou na Eucaristia, enfim, o
encontro com os outros amigos da mesma terra que normalmente ao sair da missa
havia mais uns minutos de cavaqueira, com este ou com aquele, porque todos eram
conhecidos e viviam na mesma terra, às vezes com os mesmos problemas.
Não era difícil esses momentos serem também momentos de
decisões importantes, de acordos, para a comunidade, e às vezes com a “bênção”
do padre, outras vezes, ocasião para coisas em contrário à harmonia.
Ao Domingo também era o dia destinado para o passeio ou
para a romaria...
Mas, para um cristão, Domingo sem missa, não era Domingo
e consideravam o maior dos pecados porque era apenas uma questão de tempo, e o
tempo Deus dá-o de graça.
A missa era assim como o principal elo de união entre os
paroquianos à volta do seu pároco. Dela as pessoas voltavam mais alegres e
felizes a casa, por terem encontrado o transcendente, o absoluto, o divino e
tendo-o comungado, voltam às suas casas, a comungar do bem ou do mal, que
muitas vezes descobriam com os amigos, no fim da mesma.
Por isso, o Domingo não é um dia qualquer para uma
Comunidade Cristã, como deve ser uma Paróquia.”
P.e
Coutinho
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