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quinta-feira, 2 de abril de 2020

Altar-mor da Igreja de S. Nicolau de Mazarefes

Altar-mor na década de 60 do séc. passado. Também a tribuna e seus arcos ornamentais fechados por um bonito medalhão. Esta foto foi feita por mim e é a melhor que fiz a este altar. Não era dia de festa, mas vê-se bem o cuidado da zeladora ao jeito do tempo com flores e velas que ladeavam o sacrário, bem como a verticalidade das velas aprumadas pela tribuna acima e equidistantes umas das outras. Descrevi esta talha toda em 1971 no "Notícias de Viana"


A IGREJA PAROQUIAL DE MAZAREFES


     Esta igreja, nos primeiros tempos da sua edificação constituía o mosteiro do convento beneditino, aqui fundado pelos monges de Santiago de Compostela.
     Quanto à sua actual posição topográfica, fica situada a 2km da capela de S. Simão, para o lado sul, num local onde se torna vista e admirada desde Santa Luzia a S. Silvestre, sem, todavia, acontecer o mesmo do lado sul, nascente e poente. Destes dois últimos pontos cardeais duas perspectivas maravilhosas se desfrutam mas só podem ser focadas a menos de 500m.
     Pela retirada dos monges e passagem destas terras para os Pereiras, começou a ser utilizada pelos fidalgos como capela da sua casa, sob a invocação de S. Nicolau.
     Foram várias as transformações por que passou até aos nossos dias, como indica a diversidade de estilos.
     Vejamos: A capela-mor apresenta-nos do lado norte e nascente uma parede românica, actualmente coberta com cal. A cornija do norte é diferente da cornija do lado sul e do lado nascente (em papo de rola). A cornija do lado sul é igual à cornija do corpo da igreja.
     As duas cruzes que encimam a capela-mor são diferentes da que está na parte frontal da igreja. São duas cruzes estreadas e de pequenas dimensões. A que se encontra sobre a frente é uma cruz latina trevada e de maiores proporções.
     Portanto, não há dúvida em afirmar que é a capela-mor a parte mais antiga, talvez uma das partes primitivas do convento.
     O corpo da igreja, bem como a ampliação da capela-mor com a sua tão artística tribuna e os dois altares laterais em talha de estilo barroco-renascentista, foi obra dos Pereiras, continuada depois pelos Azevedos, vendo-se a águia (brasão dos Azevedos) sobre os referidos altares.
     Por cima da porta de travessa, na parte exterior, encontra-se um brasão com as armas dos fidalgos «Pereiras» e «Pessanhas» (?).
     Também a ornamentar a porta principal existe em cantaria um frontal aberto simples com uma concha na abertura e mais acima uma rosácia e um nicho com a imagem, em pedra, do padroeiro. A frente deve ser dos fins do séc. XVIII.
     Há ainda várias obras, como a construção do passadiço, da casa para o coro, a construção da torre, a ampliação do coro e das escadas que para ele dão entrada.
Diz o Pe. Matos que sobre o levantamento da torre é um facto ainda bem vivo na tradição. Sabe-se, diz ele, que antes desta obra os sinos se encontravam pendurados nos troncos de castanheiros a pequena distância da igreja. A torre é obra dos princípios do séc. XIX.
     É recente a construção e ampliação do coro, bem como os dois últimos altares laterais, (fins do séc. XVIII ?) feitos em estilo bastante diferente do que já existia e o sanefão adquirido na igreja de Caminho em estilo barroco tardio (D. João V) e aqui adaptado.
     O guarda-vento existente na porta principal também foi construído neste século em 1903.
     A tribuna do estilo barroco-renascentista está deveras bem centrada, com um grande altar na base. A talha é admirável. Os arcos reais e as colunas salmónicas com o fuste retorcido imitando os pámpanos de ramos e parra com cachos de uvas a serem comidos pelas aves estão bem delineados. Os arcos reais estão unidos por um grande laço ao centro. Aqui e acolá encontram-se repolhudos, ora mostrando só o rosto, ora mostrando todo o corpo suspenso do conjunto das colunas com as suas bases áticas de pequena dimensão e com capitéis de ordem composita e folhas de acanto. Todo um conjunto é de uma beleza incomparável embora de tom um tanto pesado.
     Os degraus do trono apresentam características de um estilo posterior (D. João V) e sobre eles existe um resplendor com uma dezena de rostos de anjos em adoração.
     Em alguns retábulos vê-se com frequência folhagem serpeante e algumas grinaldas.
     É também interessante a configuração do sacrário: Tem em forma de espelho, por baixo da porta, um dístico com as palavras da consagração; a porta tem o livro dos evangelhos e sobre ele descansa o cordeiro pascal; ao centro da porta vê-se uma bandeira formando o monograma de Cristo; em toda a volta encontra-se um floreado ou arabescos com dois grandes anjos sustentam e por cima dela uma cornija com umas palmetas ou volutas amplas formando um pequeno frontal com uma flor ao centro, característica da renascença.
     O altar-mor é muito posterior e talvez do séc. XIX. Do lado esquerdo da capela-mor há um grande jazigo do séc. XVI, metido na parede com uma armação em madeira e uma bela pintura da época. Vendo-se ao centro o brasão de fidalgo e cavaleiro. Na parte superior tem a seguinte legenda: «Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira senhor dos Coutos de Mazarefes e Paradella cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor Chanceler da Casa de Suplicação. 1579.»
     Os dois altares laterais são posteriores mas de estilo semelhante ao da tribuna.
     Os arcos reais dos referidos altares são entremeados por uma espécie de cairel. Os meninos geralmente apresentam-se com uma faixa azul e branca ou vermelha e branca, conforme o altar. Sobre a cornija do altar encontram-se dois meninos enfaixados, de pé, com uma palma da mão direita. Ainda sobre a cornija vê-se uma espécie de frontão triangular feito de folhas de acanto e anjos, com um espelho ao centro e uma águia sobre o vórtice superior, símbolo heráldico dos Azevedos.
O púlpito é da mesma ocasião, com base em pedra, pintada com motivos da época e gradeamento em madeira torneada e pintada.
     São de bela e variada escultura as imagens. De entre elas distinguem-se pelo seu valor histórico a de S. Simão e a de S. Bento; a primeira com todas as características da sua antiguidade, de escultura bastante tosca, popular, mas feita numa das madeiras mais preciosas do tempo e a segunda é ainda a da antiga ermida desta invocação e de talha bastante perfeita. Outras se distinguem pela sua talha artística modelar e escultura antiga de grande  perfeição. São elas a dos padroeiros S. Nicolau e S. Paulo que se erguem na tribuna.
     A mais bela, pelo seu valor artístico, é a da Sr.ª do Rosário, uma grande imagem de escultura e pintura muito perfeita.
     As cancelas em ferro do adro foram colocadas pela junta em 1883, quando os enterros começaram a ser feitos no adro. Fica mais ou menos descrita a igreja paroquial, modesta mas rica no confronto dos seus tons arquitectónicos e na beleza do seu ambiente perfeitamente religioso.
- Em 1882 foi estucado todo o tecto. A obra esteve a cargo de um mestre de Vila de Pune que a faria de Agosto a Outubro por 165.480 réis.
- Em 1887 o trono e a tribuna estavam em muito mau estado.

15 de Agosto de 1971.


     Esta igreja entrou há bem pouco tempo em obras de restauro e ampliação que lhe vão dar mais formosura dentro do mesmo estilo. 

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