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sábado, 11 de julho de 2020

joão Pires Costa

João Pires Costa, conforme a foto que se mostra sempre colaborou com a igreja. É um Mestre na arte de transportar um andor, como muito bem ele escreveu uma ocasião, suponho que para o nosso "Paróquia Nova" e do qual terá falado num programa da Rádio em "Igreja Presente". Mas não só nesses trabalhos, mas em todos os trabalhos necessários para o bem comum duma festa, dum povo, não só na Paróquia, mas em toda a cidade. É um homem de muito e bom trabalho profissional e um bom apicultor. Portanto, resta-lhe pouco tempo livre, mas, mesmo assim, é generoso. E sempre tem um tempo para dar aos outros e para a igreja. Na foto, está em serviço de leiloeiro para recursos financeiros para a festa e capela de Nossa Senhora das Necessidades, na Abelheira.
Vejamos o que escreve sobre como transportar un andor numa procissão.
A Arte de levar Andores
Pequeno ainda, comecei a admirar os andores que nas múltiplas procissões desfilavam.
Longe estava eu de pensar, que um dia estaria ocupado quer da tarefa de ajudar a levar esses andores, que também, muitas vezes, de organizar o grupo de modo a assegurar o número de elementos suficiente para que o andor possa estar presente.
Parece fácil, mas por vezes a coisa é complicada, dado que, para alguns andores, é necessário um considerado número de homens e todos mais ou menos da mesma altura.
Não sei se foi sempre assim, mas uma coisa é certa, a arte de levar os andores aqui no nosso meio vem de longe no tempo. As várias gerações foram capazes de dar resposta, então nós e os que virão queremos segui-los.
Por vezes fácil não é, o próprio acto de levar o andor, pois alguns são extraordinariamente pesados e ainda devido à sua altura criam oscilações nas várias direcções, o que torna ainda mais difícil.
Neste contexto, a única forma de dar resposta é ter força para aguentar o peso e usar de técnica adequada para que o andor passe mostrando-se de uma forma tranquila e serena para que o olhem, o vejam, o respeitem e até o adorem.
Na arte de levar o andor, terá sido transmitido, de elemento para elemento, que a melhor forma de o fazer seria caminhar com o passo certo, ao jeito de marcha. Para tal nada melhor do que bater a forquilha para que aquele som se transformasse no grito de ordem e acerto entre todos os elementos do grupo.
Essas forquilhas têm ainda outra função de grande importância. Quando em marcha suportam o peso do andor e assim descansam os ombros dos homens, por vezes magoados e que por isso reclamam.
Essa forma de bater, repetidamente pelo tempo fora, deu lugar àquilo que podemos chamar tradição.
Olhando para os andores, os que vemos aqui na nossa cidade têm algo de diferente dos outros que são usados nas terras mais próximas ou mais distantes.
Os andores que desfilam nas procissões da cidade são na sua maioria e logo à partida autênticas obras de arte.
Se repararmos, vemos lá sinais de que aquilo é trabalho realizado por gente que nós não conhecemos e se calhar nunca conheceremos, mas na realidade trata-se de grandes artistas que na nossa terra vivem ou viveram.
Na realidade, creio eu que todos os que acreditam nos seus Santos querem o melhor, para que nos momentos em que os mostram nas ruas e caminhos das suas terras, eles sejam os mais ricos, os mais lindos, os mais belos...
Daí que por muitas terras, seja uso cobrir o andor de flores e mais flores. Noutras vemos luzir múltiplas cores, em outras tantas pratas recortadas em formas diversas. Tudo isso sempre com o mesmo espírito, olhai e vêde é o nosso, que bonito!
Aqueles que ajudo a transportar, que na nossa cidade também são cuidados na hora, para estarem bonitos, mas não é só; as suas talhas, as suas pinturas, os seus dourados, os seus estilos, ou mesmo até os materiais mais simples de que são construídos, são a prova de muitos anos ou até séculos de fé e devoção às imagens da nossa terra.
Recordando de novo os tempos de criança lembro-me de ver aqueles homens, aspecto de fortes, levando o andor. Dos seus rostos saíam expressões que mostravam que aquilo custava mesmo. Mas com mais ou menos sacrifício, aquilo era para eles.
Já nessa altura as pessoas que assistiam diziam: “São os carreteiros da Abelheira!”
Aos 18 anos fui nomeado mordomo da festa de N. Sra das Necessidades. Surge assim a estreia e a oportunidade de ver como era aquilo. Levámos o andor.
No ano seguinte fui convidado para ajudar a levar o andor de Santa Maria Maior na procissão da Senhora D’Agonia ao que respondi sim e daí em diante tem sido prática comum quer na Senhora D’Agonia quer em muitas outras.
Hoje, olhando para trás recordo tantos nomes desses homens, que muitos deles que já “partiram” e outros que felizmente ainda estão entre nós, mas que foram esses tais da Abelheira, que se responsabilizaram por mostrar sobretudo o Senhor dos Passos e Santa Maria Maior às gentes que enchem a nossa terra por altura das festas.
Parece estranha esta ligação dos homens d’Abelheira a essas tarefas, mas não é. A Abelheira, hoje dita, é uma pequena área, mas noutros tempos não distantes os seus limites eram muito mais amplos.
Também é verdade que fazia parte da paroquia de Santa Maria Maior, isto até à criação da paroquia de N.ª Senhora de Fátima, mas ainda hoje faz parte de uma só freguesia.
Voltando aos d’Abelheira é perceptível o porquê de serem homens adequados a esse serviço. Esses homens começavam de muito novos a trabalhar, quer a guiar os carros de bois usados nos transportes da cidade fazendo cargas e descargas quer, paralelamente, a trabalhar na agricultura pois as duas actividades complementavam-se.
Tanto uma como a outra eram ponto de treino para o desenvolvimento de força e sobretudo a capacidade de sacrifício.
O espírito desses homens tem sido tão grande, que os leva ao ponto de passar parte da sua vida e em certos momentos de lazer, para estarem presentes e prontos a dar o contributo por vezes imprescindível nesse acto de levar a andor.
Não espanta então, que se conheça um rol grande de nomes, que até então ligados por laços familiares aos que hoje participam, que já morreram mas nunca é demais recordar.
Temos exemplos como do meu bisavô João Gonçalves da Balinha (o pintor), que terá levado o andor há mais de 100 anos, Manuel Cambão e filho com o mesmo nome, António Outeiro, Pedro Viana, António da Correia, António Balinha e filho João, António Silva e tantos outros.
Por tudo isto, julgo ser mais que justo que apareçam sempre homens dignos e corajosos para que a tradição não acabe.

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