AVISO

Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

A partir de agora poderão encontrar-me em:

http://www.arocoutinhoviana.blogspot.com

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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Dr Franco de Castro


Franco de Castro, Homem do Direito e um activista de boas causas sociais e culturais

 

 

Em 25 de Novembro de 1936 nasceu em Lanheses um menino a quem lhe puseram, no baptismo, o nome de José. Seu pai, Manuel Alves de Castro, regedor que foi regedor e presidente da Junta de Lanheses, era um construtor civil. Foi ainda fiscal de obras dos Serviços Médico – Sociais em Vila Nova de Famalicão, Stº Tirso e Braga; e a sua mãe de nome Maria Franco da Silva, era doméstica e uma organista da Igreja Paroquial. Como tal, muitas vezes solicitada para tocar o orgão de foles em muitas outras igrejas vizinhas, sobretudo, em ocasião de festas.

O José Franco de Castro fez a 4ª Classe na escola de Lanheses e fez exame de admissão ao seminário sendo admitido com distinção, em 1948 onde estudou até 1957 tendo frequentando o 1º ano de teologia até 5 de Maio. Quando decidiu sar contra a vontade do Cónego Mouta Reis, mesmo assim, veio embora com a oferta de que ficava com as portas abertas para voltar.

Em Junho do mesmo ano fez o exame do 3º, 4º e 5 anos dos liceus na secção de Ciências. No ano seguinte fez o 6º e 7º ano na secção de Letras, tendo ficado dispensado de admissão à Universidade pela classificação que obteve no Liceu Sá de Miranda, em Braga, depois de ter frequentado o Colégio D. Diogo de Sousa.

Foi sempre dispensado da despesa de propinas. O Director do colégio Pe. Elisio, já falecido, dispensou-o, devido aos seus níveis de classificação, sobretudo, na disciplina de matemática em que era o melhor aluno nos liceus de Braga.

Em 1958 deu entrada na Universidade de Coimbra. Licenciou-se em direito, em Outubro de 1963 e matriculou-se no curso complementar de Ciências Jurídicas de 63/64, só com médias altas apesar da clivagem que na altura faziam.

Casou em 1966 com Maria Margarida Pereira de Brito, também Licenciada em medicina pela Universidade de Coimbra em 1965. A sua esposa foi autoridade de Saúde Pública em Vila Nova de Cerveira, e depois Viana do Castelo, donde se reformou. O casal tem duas filhas, uma delas já premiou os seus pais com um neto.

O Dr. José Franco de Castro foi delegado de Procurador da República Interino em Fevereiro de 1964.

 Em Novembro de 1964 concorreu a magistrado, ficou em 2º lugar tendo sido atribuído o primeiro lugar ao futuro Provedor Geral da República Narciso Cunha Rodrigues com muito bom e o Franco de Castro ficou com apenas “Bom com Distinção”.

Nessa altura veio exercer a magistratura na comarca de Caminha como Delegado e Provedor da República de 3ª classe efectivo, em 1965. Foi promovido a 2ª classe e foi para Ponte de Lima, em 1967, exercendo o mesmo cargo. Aí esteve pouco tempo. Pediu seguidamente para ser autorizado a concorrer ao cargo de Conservador para fazer mais companhia à família.

Como estava vaga a conservatória de Vila Nova de Cerveira, em 1968, ficou aí, por nomeação. Tratou do auto o Dr. Santos Carvalho da relação do Porto. Foi ainda Conservador do Registo Civil e Predial, após um ano e convidado a aceitar o cargo de Notário, exercendo três funções ao mesmo tempo, juntamente com o exercício do cargo de juiz municipal de Vila Nova de Cerveira, onde esteve até quase 1975. Em 1978, no mês de Novembro pediu transferência para a conservatória do Registo Predial e Comercial de Viana do Castelo que era de 1ª classe, tendo sido nomeado, exercendo o cargo durante 19 anos. Foram centenas de milhares largos de registos, que preparou, ou preparados pelos seus funcionários, que ao princípio eram dois, mas quando saiu eram dez, teve de verificar e assinar.

No princípio era primeiro substituto de juiz da Comarca de Viana o que aconteceu durante 2 a 3 anos.

Também algumas centenas largas de julgamentos entre Viana do Castelo, tribunal da Comarca e o Tribunal do Trabalho.

Conseguiu que a Conservatória do Registo Predial de Viana fosse a primeira a nível do país a ser informatizada.

Foi presidente da Comissão de Avaliação dos Prédios Urbanos do Conselho de Viana do Castelo conjuntamente com o Eng.º António Barroso, já falecido e com o Eng.º Felgueiras, este, funcionário da Câmara.

Durante 6 anos foi presidente do Conselho Juridicional  da Associação de futebol de Viana do Castelo, por eleição. Foi sócio fundador do Clube Desportivo de Cerveira, presidente da C. Instaladora e 1º Presidente da Assembleia Geral desportiva Clube de V. N. Cerveira.

Tendo em vista uma próxima passagem à situação de aposentado foi ocupar o lugar de Conservador do Registo Comercial do Porto durante 4 anos, entre 1993 e 1997, data em que regressou a Viana definitivamente, onde tinha residência na Estrada da Papanata, da freguesia de Sta. Maria Maior, Paróquia de Nossa Senhora de Fátima.

Em Viana, foi instado a aceitar a candidatura a presidente do Coral Polifónico , tendo aceitado a eleição cerca de 6 anos, onde continua como coralista.

Na qualidade de Presidente da Direcção do Coral Polifónico exerceu conjuntamente com os seus colegas e amigos uma acção que dinamizou o coral e o levou a várias actuações no país e no estrangeiro, assim como a tomar parte numa apresentação em Espanha, onde foi galardoado com o primeiro prémio. Foi nessa altura também que se tornou uma colectividade com maior nível artístico e social a ponto de ter recebido a medalha de mérito da Cidade de Viana do Castelo.

Ao ser aposentado continuou com uma tarefa bastante stressante, pois reinscreveu-se na Ordem dos Advogados pelo que não tem muito tempo disponível. Tem o seu gabinete à Praça 1º de Maio e, para concluir, o Dr. José Franco de Castro continua a ser coralista no Orfeão de Vila Praia de Âncora, para além do Pólifonico.

Foi vice-presidente da Direcção do Centro Social Paroquial de Nossa Senhora de Fátima, ao qual dá a sua contribuição preciosa nas decisões de Direcção e na substituição do Presidente.

Como advogado, só uma causa perdeu no Supremo Tribunal. Todas as outras ganhou. Em Cerveira tinha a fama por ganhar as causas todas e, em Viana, ganhava os recursos todos. Colegas de Trás-os-Montes e, de outros lados, às vezes telefonavam-lhe a pedir a sua opinião. Só interessava investir naquilo que a gente tenha razão, mas pode perder a razão. Não interessa, nos tempos de hoje, investir no que tem razão e deve pensar duas vezes antes de ir para tribunal porque pode sair sem razão. Mas, se não tiver razão, talvez valha a pena porque pode sair de lá com ela.

Sente-se um homem feliz por tudo o que fez na vida. Algumas não foram tão claras, mas, o saldo é positivo. Tudo o que fez, fê-lo com espírito de o fazer a favor da sociedade, ou melhor na defesa dos direitos do outro.

Ainda hoje é presidente da Assembleia Geral do mesmo do Coral Polifónico. É presidente da Assembleia Geral do Coral Polifónico de Vila Praia de Âncora, presidente do Concelho de Administração da Fundação da Cultura Musical Fernando e Lúcia Carvalho com sede em Viana.

Esteve na criação do Berço e manteve-se muito para além da Inauguração do novo com o Eng. Mota, o Comandante Martins, Drª Teresa Barroso, Engª Natália e Joaquim Arantes, conforme o registo à porta da Capela Jesus Maria José, construída em 1731, no dia da inauguração do novo Berço..

 

 




 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

O Comandante Oliveira Martins

 

O Comandante Oliveira Martins
 
Conhecia o Comandante Oliveira Martins, natural de Vale de Cambra, casado com Maria do Céu Oliveira Tavares Dias Martins e pais de um casal de filhos, a Carmélia e o Eduardo e são avós. Fizeram no ano passado as Bodas de Ouro de vida conjugal a 31 de agosto de 2024,
Foi membro da Direção do Centro Social Paroquial de Nossa Senhora Fátima até depois da inauguração do novo Berço e do Refeitório Social.
Foi o responsável pela Biblioteca do Centro Social com a ajuda da Drª Judite Cruz e do Sr. Francisco,de Anha…..
Catalogaram perto de 20.000 livros com classificação oficial e a Biblioteca está unida por via digital, à Biblioteca da cidade e das Escolas.
Sabia que era um amigo muito culto, mas não sabia que é um especialista em matéria de águas dos mares, do trabalho no mar. Depois de ter lido o livro “Naufrágios no mar de Viana” de entre os vários livros da sua autoria, acabei de ler o livro último “Última Campanha de Pesca à linha”. Também da sua autoria mostra com clareza o que é vida no Mar, sobretudo, quando um barco vai ao fundo, ou se quebra e como o “salve-se quem puder”. Aconteceu com ele. É um sobrevivente de uma dessas tragédias de naufrágios
É muito belo ler os seus livros porque escreve com a razão e o coração vivências desde a preparação para as saídas e para os retornos e os tempos passados no mar alto e na pesca do bacalhau na Terra Nova, nos tempos livres, o dia-a-dia de todos desde o moço, ao 1º maquinista e 2º maquinista, ao tanoeiro, ao cozinheiro e ajudantes, desde os pescadores ao contramestre, ao capitão, ao imediato, etc.
O livro “Naufrágios de Viana” é um dos livros que todos os de Viana, os do litoral, deviam ler. O Comandante Oliveira Martins sobre esta temática oferece a comunidade em geral com beleza tudo o que sabe que é do interesse de todos. È que não basta comer o peixe, mas saber o que custa no mar a sua faina, já para não falar no comum dos mortais. Vemos o mar, contempla-mo-lo na sua imensidão volumosa de água que se mexe, observamos os barcos maiores longe da Costa na faina marítima e os mais pequenos de trabalho ou recreio. Ficamos estarrecidos quando a bravura das suas águas levantam ondas enormes que até parece que o medo se apodera de nós. Esmagam-nos. A terra parece que nos foge debaixo dos pés e ficamos com vontade de nos afastar.
Todos estudamos em geografia os Oceanos, os Mares e as Marés, os Lagos e os Recifes, figuras mitológicas e que a água cobria montanhas de areia, penedia, os mais quentes e mais frios, o peixe que nos oferece e a história de alguns acidentes trágicos.
No fim de contas não sabemos nada. Ouvimos os marinheiros falar e pouco mais. Ora este livro é bem elucidativo do que é o Mar e que todos devíamos conhecer para deixar de ter tanto medo, mas tudo quanto deixar as famílias com a esperança de as reencontrar. Também na terra acontecem tragédias, assim como no ar.
Quando era jovem gostava de nadar e mergulhar no mar, de cortar as ondas ou de me deixar embalar por elas. Era bom quando o mar estava mais calmo, mas se elas subissem alto também gostava de me fazer a elas com coragem e força para as subir ou cortá-las a meio para elas andarem e eu ficar, vencer e sair salvo à procura de uma outra, e sempre mais outra até vir ao areal da praia!...
Para além da história do barco feito de um tronco de árvore até chegarmos aos barcos a vapor, muita mais história se passou, mesmo a propósito de naufrágios há um que nunca se esquece que é o de Luís Vaz de Camões em que apenas se salvou ele e o seu livro “Lusíadas” que tinha escrito. Caso contrário, talvez esta obra épica fosse hoje desconhecida no mundo.
Este livro, «Naufrágios “Mar de Viana”» que é prefaciado pelo Doutor José Carlos Loureiro, presidente do CER, associação regional que o editou, traz-nos muitos conhecimentos do mar não só para todos os que se encontram junto à Costa, como os vianenses, que sempre trabalharam e viveram desta planura de água, mas também a todos os que usufruem das actividades marítimas.
A todos os do interior chega o fruto deste trabalho, por vezes difícil e tramado por uma “volta de mar” inesperada e sem hipótese de poder escapar trazendo apenas sofrimento, dor e morte como fruto da luta pela sobrevivência de todos. Trabalhar no mar é belo!...Nunca experimentei, é só pelo que vejo e pelos testemunhos que me dão, mas não é um trabalho fácil, pois a bravura do mar quando arreganha os dentes e engole seja o que for, isto é, nunca se sabe o resultado do que possa acontecer com a iniciativa do homem para a vencer.
Este livro de 346 páginas e





ditado pelo CER, consta de seis capítulos sob a autoria de Dr. Manuel Oliveira Martins. Relata-nos um património cultural sobre o mar de Viana nos séculos 19 e o 20. São histórias que todos os vianenses deviam conhecer, desde a costa negra passando pelos faróis, as sinalizações dos barcos, a ronca dos nevoeiros que ainda eu conservo na memória auditiva do tempo de criança, tipos de barcos, de imagens, assim como documentos coloridos, os vários naufrágios, desastres, socorros, pequenos e grandes barcos e os seus nomes, as suas proveniências, os locais que por algum motivo houve registo, a morte de pilotos, pescadores e outros. As diversas embarcações tipos de socorros, geometrias de salva-vidas, tragédias de rebocadores, barcos em perigo, inspecção marítima, visita de D. Carlos à estação de socorros a náufragos, alarmes, formação, subsídios, medalhas, bombeiros voluntários, ex-votos, missas pedidas, a religiosidade popular, depoimentos de náufragos, um deles do próprio autor. Além disso este livro contém um rico glossário marítimo e trata-se de um trabalho científico, de rigor, bem fundamentado como demonstra a sua longa bibliografia.
Na página 62 refere-se a um iate “Barbosa” que em 1989 se perdeu na pedra do ladrão a 20 de Abril, fico com curiosidade de descobrir o seu proprietário e a sua naturalidade. Outro pormenor na página 169 é que em 1924 houve um naufrágio do “Britónia” seria de facto o nome atribuído pelo nome da cidade antiga de Santa Luzia, ou provenientes de outros topónimos. Existe outro topónimo Britónia na Serra d’Arga e mais que ouvi, sobretudo, na zona da Galiza. Parece-me que esta palavra devia ser estudada por linguistas e historiadores…
Viana do Castelo através deste autor, depois dos livros que já publicou como os Pilotos da Barra de Viana e a Pesca do Bacalhau a juntar a este é já muito bom e uma generosa dádiva de muito trabalho que este comandante Martins, natural de de Vale de Cambra está a oferecer a esta cidade, região de Viana do Castelo. E se Deus lhe der vida e saúde ainda não ficará por aqui.
Parabéns, amigo. Continue que Viana parece nunca ter tido um Piloto da Barra assim tão profícuo e trabalhador pela causa pública vianense. Parabéns ao CER por mais estas edições.
Por isso, tão justa e merecida foi a homenagem da Câmara Municipal no dia 20 de janeiro como cidadão de mérito a alguém que adoptou Viana para trabalhar, educar os filhos e os netos.

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Filantropia versos Caridade





Filantropia versos Caridade
A Caridade cristã não é simples filantropia “porque o cristão é sacerdote, profeta e rei. Como tal, ele vê os outros com os próprios olhos de Jesus”.
Por outro lado, procura ver Jesus no rosto dos pobres.
Filantropia é uma palavra composta de origem grega. Significa amigo do Homem, da humanidade.
A Caridade tem a ver com Amor, não um Amor qualquer, mas um Amor que vem de Deus. Tudo o que é feito de bem ao outro é motivado pela fé num Ser transcendente, Absoluto a quem aderimos pessoalmente.
Por isso, os não crentes chamam à caridade filantropia, mas a caridade fica e a filantropia passa. Vemos isso em muitas coisas que nasceram ao longo dos séculos por motivos filantrópicos e já não existem. A Caridade jamais será Stop, mas um caminho que se vai fazendo. “A caridade começa por casa”. Se em casa não existir um amor oblativo, muito menos existirá fora de casa. Jesus pediu que nos amássemos uns aos outros, como Ele nos amou. É este o mandato divino que não pode ficar pela filantropia. Foi um acto de Amor.
O exemplo de Cristo não foi um outro filantrópico, foi mais longe.
Há gente que faz muito bem aos outros e não é cristã. É muito bom, mas ~´e apenas um acto humanitário.
Nós temos de deixar a nossa marca própria. Quem faz hoje e sempre sem se cansar, e caminha no sentido do Bem, seguindo uma Luz, uma Estrela que ilumina, tudo realiza em nome de Deus Pai.
Isso pode partir de um coração cheio de misericórdia, de bondade, amando a todos depois de Amar a Deus sobre todas as coisas.
A Caridade é uma virtude teologal e Jesus Cristo dez dela o vínculo e fundamento dos que Amam a Deus.
S. Paulo disse que a maior das virtudes é o Amor, (a Caridade).
Diz o Papa Francisco: “a Caridade é sempre a via mestra do caminho da fé, da perfeição da fé. No entanto é necessário que as obras de solidariedade que fazemos não nos distraiam do contacto com o Senhor”, na oração pessoal e comunitária. Um Amor assim, só um crente o pode entender…






 

O CRISTIANISMO E OS PADROEIROS DE MAZAREFES

 


O CRISTIANISMO E OS PADROEIROS DE MAZAREFES
S. Paulo teve intenção de vir à Península (Rom. 15,24-28), mas ninguém sabe se chegou a concretizar ou não a viagem. S. Tiago é o que se sabe. Não vamos falar dos caminhos de Santiago. (No entanto, um testamento do séc. XVII, suponho que da família de A . Forte, meus vizinhos e que li quando andava no Seminário, dizia que deixava bens a quem fosse por si a Santiago após a sua morte, uma vez que não o pôde fazer em vida).
Por ocasião das perseguições de Décio, no Séc III havia várias dioceses na Península Ibérica. Em princípios do século IV houve um Concílio peninsular e no séc V o bispo de Braga esteve presente no Concílio de Toledo (ano 400). É, por isso, muito provável que no século V houvesse já numerosos cristãos nesta zona da Península, inclusivé em Mazarefes.
Nessa altura, já tinham passado muitas gerações sobre a quebra do mito a propósito do Rio Lima, que o corajoso Décimo J. Bruto ultrapassou. A invasão da Península, em 411, não veio alterar muito os hábitos romanizados...
No século VI, vindo do Oriente, S. Martinho, bispo de Dume, ajudou com zelo apostólico, firmeza e dedicação a conversão dos suevos e a purificação das superstições ainda conservadas do paganismo nesta zona. Também, em meados deste século, realizou-se o 1º Concílio de Braga.
S. Simão teria sido o primeiro padroeiro da freguesia de Mazarefes, pois os castrejos, habitantes pré-romanos, teriam já deixado, há alguns séculos, os altos dos Montes e o vale do Lima teria sido procurado não só para a agricultura colectiva, como também zona habitacional, e o rio para a pesca. S. Simão era o apóstolo advogado das tempestades e dos afogamentos, e não o S. Simão estilita, aliás, como é natural porque os cristãos de Mazarefes dedicavam-se também nessa altura, a actividades aquáticas (à pesca, à extracção do sal e ao transporte pelo rio...).
A existência da actual Capela e documentos antigos, um deles de 985 (um dos poucos, anterior à nacionalidade), 1220, 1258, 1290, 1320, 1402, 1528 e 1551 mostram-nos que S. Simão de Junqueira era de tempos imemoriais: foi vila, foi couto, freguesia e a existência de dois padroeiros: “Sam Simam de Junqueira que ora se chama Sam Nicolau de Mazarefes.”
Não se trata de duas freguesias, mas uma única freguesia de S. Simão da Junqueira de Mazarefes que a partir do séc. XV-XVI começou a aparecer o nome de um segundo Santo, o S. Nicolau de Mazarefes que era o padroeiro da igreja do antigo convento ou dos fidalgos.. Os seus limites, em 1063, seriam com Sabariz, Vila Fria, Darque e Anha.
O documento mais antigo existente é anterior à nacionalidade, é de 985, século X, segundo consta de alguns autores de incontestável mérito. Este documento é uma doação das terras da vila de Mazarefes aos frades beneditinos de Ante-Altares de Santiago de Compostela.
“985, doação do conde Telo Alvites «in hora maris villa vocitata Mazarefes cum domibus (...) et cum suas salinas», a que, em 1603, Fernando Magno deu carta de couto: «in villa Mazarefes incipimus terminis id sunt (...) inter Gundulfe et Mazarefes (...) dividet inter Savariz et Villa Fria et Mazarefes (...) dividit inter Agnea et Mazarefes (...) Rio Covo (...) illa Junqueyra et inde in derecto at Limia recto estariz de Foz Maiore» («Arq. Port.» XXVII, ps150-154). D. Fernando deu carta de Couto, na vila dos Arcos de Valdevez, a Mazarefes.
A presença dos Monges beneditinos é incontestável, e não haverá dúvida que os monges deveriam ter propagado a devoção a S. Bento. Alguns achados, disso nos dão conta. Mas a Vila de Mazarefes já existia há mais tempo, e já se tinha perdido na memória dos “avoengos”.
A subida das águas do rio, a inundação das suas margens devido ao assoreamento obrigaram os habitantes a refugiarem-se mais para sul, em zona mais alta e longe das águas.
É tradição viva ainda falar-se do cemitério junto a S. Simão. A calçada romana entre S. Simão e o antigo Passal onde acaba a Veiga e começam as bouças, ainda a conheci. Fala-se da última casa de Mazarefes quando a população se distribuía à volta da Capela de S. Simão como sendo no local onde hoje é a casa do “Necas Reis” e a primeira depois de toda a freguesia passar para cima. A primeira casa a construir-se mais a sul da casa do “Necas Reis” teria sido a casa das “Capotas”. É vulgar na Veiga, nos esteiros e nos muros encontrarmos pedras trabalhadas, antigos tranqueiros de portadas de quintais ou de casas. Como foram lá parar... Não é difícil, apenas lá foram abandonadas e, caídas em ruínas. Serviram, mais tarde, para paredes umas, e outras estão, ou encontram-se, enterradas nos esteiros. Assim, observei na minha infância quando andava lá com o gado, e na minha juventude, quando comecei a interessar-me por estes assuntos.
Depois dos habitantes terem abandonado a zona baixa e terem ao lado a Capela da Senhora dos Prazeres, no lugar da Senhora, que depois lhe deram o nome de Nª Sra. das Boas Novas, após a imigração para o Brasil, não admira que a igreja do ex-convento começasse a servir a população.
Esta freguesia teve por isso dois padroeiros, mais tempo usufruiu do patrono S. Simão desde o século X, se não remontar ao século IV ou V, até ao século XVI, altura em que passou a existir alguma dúvida entre S. Simão e S. Nicolau. Esta dúvida deveria manter-se até ao séc. XVIII, segundo podemos deduzir de escritos do abade Matos.
O uso como igreja paroquial foi facilitado pelos possuidores do domínio útil do mosteiro, os fidalgos Pereiras e os Azevedos que tinham o direito da apresentação do abade.
Em 1551, o mosteiro e todos os bens vieram a pertencer aos Fidalgos «Pereiras», os quais fizeram obras na Igreja. Depois vieram os «Azevedos» a serem os possuidores, completando as obras que os «Pereiras» tinham começado, sobretudo de talhas de altares.
A igreja de S. Nicolau passou a ser a paroquial e, segundo diz o Abade António Francisco de Matos, daqui natural e pároco durante 50 anos, numa monografia que ele escreveu sobre Mazarefes. Foi em 1724 que os «Azevedos» oficialmente cederam a igreja, à freguesia.
A Capela de S. Simão é uma memória da iniciativa do Padre José R. Araújo Coutinho, depois de regressar do Brasil, que construiu sobre os escombros da antiga igreja de S. Simão uma capela. Esta foto talvez de 1964, foi depois de uma requalificação da iniciativa do Casimiro Araújo, regresssado de Moçambique casado com a Emília Coutinho no lugar de bis-sobrinha do referido Padre Coutinho.

Capela de S. Simão da Junqueira de Mazarefes

 

Capela de S. Simão
S. Simão da Junqueira de Mazarefes era inicialmente o nome cristão desta terra implantada na margem esquerda do Lima, confrontado do poente com Darque, do sul com vila Fria e do nascente com Vila Franca. Assim se chamava no século X, antes da fundação de Portugal.. Esta designação lembra-nos, como aliás é tradicional dizer-se na terra que a população desta freguesia era ribeirinha, condensava-se na veiga do mesmo nome, Veiga de S. Simão, pela existência da Igreja paroquial no centro da mesma.
A seis quilómetros aproximadamente da capela de S. Lourenço, no Cais Novo, em frente à Vila de Viana e também não muito longe da Capela da Senhora das Oliveiras, na Areia, e mais próxima da Capela de S. Brás, ainda em Darque.
Esta igreja paroquial, também pela tradição que chegou até nós e de que o abade António de Matos escreveu, não seria um grande templo, mas o suficiente para servir a população local. O local onde a capela se situa hoje, construída em meados do século XIX, seria ali a implantação dessa igreja sob a invocação de S. Simão, padroeiro da terra. No entanto, como já referi noutro apontamento, a população, devido ao assoreamento do rio Lima, foi-se mudando para a parte mais alta, a partir do lugar de Gavindos, e ter-se-á estendido pelo lugar de Regadia, do Ferrais, da Conchada e do Monte.
Por esse motivo a Igreja foi ficando isolada, solitária e ao abandono porque ficava longe. Os cristãos teriam outras alternativas como a capela da Senhora dos Prazeres, hoje Capela de Nª. Srª. das Boas Novas e a Igreja do convento beneditino existente no lugar de Ferrais.
Não é difícil antever o desmoronamento completo da referida igreja, embora no século XIX ainda fossem evidentes as suas ruínas, pelo que, pela acção de um padre natural da terra, foi construída sobre essas ruínas a capela que ainda hoje podemos admirar. Lá permanece a manter a memória colectiva de um povo nómada porque deixou de viver onde primitivamente se estabeleceu para fugir mais para sul e para o alto...
Ao fazermos uma visita a esta capela observamos que se encontra de facto construída numa curta e abrupta elevação de terreno, junto a um afluente do rio Lima a que vulgarmente lhe chamam “o esteiro de S. Simão” e que lhe passa no sentido de noroeste para nordeste. É notório para um espírito um pouco observador que, na base das muralhas construídas como suporte do referido terreno, se vem com clara evidência, pedras e pedaços de pedra trabalhadas, pedaços de colunas, tranqueiro, lajedo que facilmente nos ajudam a perceber qu

e esta reconstrução deveria Ter sido sobre os escombros da antiga igreja paroquial.
Também consta na tradição que na capela da Senhora das Boas Novas foi aplicada muita pedra que veio dessa igreja, assim como pedra para esta capela, quando foi construída, veio da Casa dos Melos de Vila Franca, junto ao...., um pouco mais para nordeste... Por esse motivo, sobre a pedra do entravamento cimeiro da porta e pelo lado de dentro, lê-se algo que também já referi: “Esta sala a mandou fazer (...) e sua mulher...).
Continua esta capela branquinha, de pequenas dimensões, muito simples, quase sem arte, a ser memória de uma fé que já não é muito vivida na devoção a S. Simão, embora a 15 de Agosto se realizem aqui grandes festejos. Grande acção desenvolvida para manter este documento preservado, quase como símbolo da união de Mazarefes da antiguidade, com Mazarefes da modernidade. São os mais novos, os jovens que, naturalmente com o apoio de toda a freguesia, fazem os festejos com grande animação. Nesta acção podemos recordar do nosso tempo os “galhofas” que durante muito tempo conduziram as operações. Mais tarde, um homem natural de Vila Franca, e casado com Emília Coutinho, irmã de Monsenhor Vaz Coutinho,, muitos anos ausente em Moçambique, mas que regressou a Portugal com a família, estabelecendo-se em Lisboa, mais concretamente em Almada, procurou dar novo empurrão para que a capela não entrasse, de novo, em ruínas. Foi Casimiro Araújo, pai da Cecília Coutinho de Araújo e de Clara.
Apesar da pobreza desta Capela, agora não brilha tanto no meio da veiga porque os olmos lhe fazem um pouco de sombra e a escondem, os de Mazarefes, quando pensam no passado, na história, na sua origem, ainda olham com saudade para a Capela de S. Simão e todos apontam: “a nossa terra nasceu ali, isto é, a nossa comunidade, este povo, nasceu junto ao rio e teve S. Simão como seu patrono”.
E são jovens que mantêm a festa anual em 15 de Agosto.

Igreja Paroquial de Mazarefes

 

A IGREJA PAROQUIAL DE MAZAREFES
Esta igreja, nos primeiros tempos da sua edificação constituía o mosteiro do convento beneditino, aqui fundado pelos monges de Santiago de Compostela.
Quanto à sua actual posição topográfica, fica situada a 2km da capela de S. Simão, para o lado sul, num local onde se torna vista e admirada desde Santa Luzia a S. Silvestre, sem, todavia, acontecer o mesmo do lado sul, nascente e poente. Destes dois últimos pontos cardeais duas perspectivas maravilhosas se desfrutam mas só podem ser focadas a menos de 500m.
Pela retirada dos monges e passagem destas terras para os Pereiras, começou a ser utilizada pelos fidalgos como capela da sua casa, sob a invocação de S. Nicolau.
Foram várias as transformações por que passou até aos nossos dias, como indica a diversidade de estilos.
Vejamos: A capela-mor apresenta-nos do lado norte e nascente uma parede românica, actualmente coberta com cal. A cornija do norte é diferente da cornija do lado sul e do lado nascente (em papo de rola). A cornija do lado sul é igual à cornija do corpo da igreja.
As duas cruzes que encimam a capela-mor são diferentes da que está na parte frontal da igreja. São duas cruzes estreadas e de pequenas dimensões. A que se encontra sobre a frente é uma cruz latina trevada e de maiores proporções.
Portanto, não há dúvida em afirmar que é a capela-mor a parte mais antiga, talvez uma das partes primitivas do convento.
O corpo da igreja, bem como a ampliação da capela-mor com a sua tão artística tribuna e os dois altares laterais em talha de estilo barroco-renascentista, foi obra dos Pereiras, continuada depois pelos Azevedos, vendo-se a águia (brasão dos Azevedos) sobre os referidos altares.
Por cima da porta de travessa, na parte exterior, encontra-se um brasão com as armas dos fidalgos «Pereiras» e «Pessanhas» (?).
Também a ornamentar a porta principal existe em cantaria um frontal aberto simples com uma concha na abertura e mais acima uma rosácia e um nicho com a imagem, em pedra, do padroeiro. A frente deve ser dos fins do séc. XVIII.
Há ainda várias obras, como a construção do passadiço, da casa para o coro, a construção da torre, a ampliação do coro e das escadas que para ele dão entrada.
Diz o Pe. Matos que sobre o levantamento da torre é um facto ainda bem vivo na tradição. Sabe-se, diz ele, que antes desta obra os sinos se encontravam pendurados nos troncos de castanheiros a pequena distância da igreja. A torre é obra dos princípios do séc. XIX.
É recente a construção e ampliação do coro, bem como os dois últimos altares laterais, (fins do séc. XVIII?) feitos em estilo bastante diferente do que já existia e o sanefão adquirido na igreja de Caminho em estilo barroco tardio (D. João V) e aqui adaptado.
O guarda-vento existente na porta principal também foi construído neste século em 1903.
A tribuna do estilo barroco-renascentista está deveras bem centrada, com um grande altar na base. A talha é admirável. Os arcos reais e as colunas salmónicas com o fuste retorcido imitando os pâmpanos de ramos e parra com cachos de uvas a serem comidos pelas aves estão bem delineados. Os arcos reais estão unidos por um grande laço ao centro. Aqui e acolá encontram-se repolhudos, ora mostrando só o rosto, ora mostrando todo o corpo suspenso do conjunto das colunas com as suas bases áticas de pequena dimensão e com capitéis de ordem composita e folhas de acanto. Todo um conjunto é de uma beleza incomparável embora de tom um tanto pesado.
Os degraus do trono apresentam características de um estilo posterior (D. João V) e sobre eles existe um resplendor com uma dezena de rostos de anjos em adoração.
Em alguns retábulos vê-se com frequência folhagem serpeante e algumas grinaldas.
É também interessante a configuração do sacrário: Tem em forma de espelho, por baixo da porta, um dístico com as palavras da consagração; a porta tem o livro dos evangelhos e sobre ele descansa o cordeiro pascal; ao centro da porta vê-se uma bandeira formando o monograma de Cristo; em toda a volta encontra-se um floreado ou arabescos com dois grandes anjos sustentam e por cima dela uma cornija com umas palmetas ou volutas amplas formando um pequeno frontal com uma flor ao centro, característica da renascença.
O altar-mor é muito posterior e talvez do séc. XIX. Do lado esquerdo da capela-mor há um grande jazigo do séc. XVI, metido na parede com uma armação em madeira e uma bela pintura da época. Vendo-se ao centro o brasão de fidalgo e cavaleiro. Na parte superior tem a seguinte legenda: «Este jazigo mandou fazer o doutor Gaspar Pereira senhor dos Coutos de Mazarefes e Paradella cavaleiro da ordem de Cristo, fidalgo da casa de El-Rei Nosso Senhor e do Conselho do mesmo Senhor Chanceler da Casa de Suplicação. 1579.»
Os dois altares laterais são posteriores mas de estilo semelhante ao da tribuna.
Os arcos reais dos referidos altares são entremeados por uma espécie de cairel. Os meninos geralmente apresentam-se com uma faixa azul e branca ou vermelha e branca, conforme o altar. Sobre a cornija do altar encontram-se dois meninos enfaixados, de pé, com uma palma da mão direita. Ainda sobre a cornija vê-se uma espécie de frontão triangular feito de folhas de acanto e anjos, com um espelho ao centro e uma águia sobre o vértice superior, símbolo heráldico dos Azevedos.
O púlpito é da mesma ocasião, com base em pedra, pintada com motivos da época e gradeamento em madeira torneada e pintada.
São de bela e variada escultura as imagens. De entre elas distinguem-se pelo seu valor histórico a de S. Simão e a de S. Bento; a primeira com todas as características da sua antiguidade, de escultura bastante tosca, popular, mas feita numa das madeiras mais preciosas do tempo e a segunda é ainda a da antiga ermida desta invocação e de talha bastante perfeita. Outras se distinguem pela sua talha artística modelar e escultura antiga de grande perfeição. São elas a do padroeiro S. Nicolau, bem como S. Paulo que se erguem na tribuna.
A mais bela, pelo seu valor artístico, é a da Sr.ª do Rosário, uma grande imagem de escultura e pintura muito perfeita.
As cancelas em ferro do adro foram colocadas pela junta em 1883, quando os enterros começaram a ser feitos no adro. Fica mais ou menos descrita a igreja paroquial, modesta mas rica no confronto dos seus tons arquitectónicos e na beleza do seu ambiente perfeitamente religioso. O muro e as cancelas ainda chegaram ao nosso tempo, mas foi retirado o muro e as cancelas há muitos antes, antes das obras de requalificação, restauros e ampliações por que foi passando esta igreja.
Já em 1882 foi estucado todo o tecto. A obra esteve a cargo de um mestre de Vila de Pune que a faria de Agosto a Outubro por 165.480 réis.
Em 1887 o trono e a tribuna estavam em muito mau estado.
15 de Agosto de 1971.