Rio das Abrunheiros
Uma ocasião, no rio dos Abrunheiros, dizia-se que apareciam lá umas feiticeiras a dançar e uma vez uma pessoa foi lá e esteve muito tempo. Ao fim disseram: Não digas quem somos, porque senão a tua vida será infeliz".
A agulha e o Novelo
Era uma vez uma agulha que disse a um novelo de linha:
- Porque está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste, mundo?
- Deixe-me, senhora.
- Que a deixe, porquê? Porque lhe digo que está com ar insuportável? Repito que sim e falarei sempre que me der na cabeça.
- Que cabeça, senhora? A Senhora não é alfinete, é agulha. Não tem cabeça. Que lhe importa o ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
Poço de Stº Aginha
À beira da ponte de Santo Aginha, há um poço fundo e diz-se que por lá apareciam umas feiticeiras a dançar. Que chamavam por toda a gente que passava por perto. Diziam: “Agora ide embora e não digais quem somos, porque vamos à corte das vacas e matamo-las todas”.
Poço dos Abrunheiros
Os mais velhos diziam antigamente que haviam feiticeiras nos Abrunheiros que saíam dum poço fundo, que mataram um menino e depois o enterraram.
As feiticeiras são mulheres que andam de noite, não podendo andar de dia, Têm resistência necessária para intervirem na vida de qualquer pessoa, que vá seguindo a sua estrada ou o seu caminho para determinar a vida.
Feiticeiras
Era uma vez uma feiticeira que apareceu no regato da fonte do Cando. Depois, passou lá uma mulher. A feiticeira chamou por ela.
- Que é? - Disse a mulher.
E não lhe falou ninguém.
A mulher fugiu. Dali a pouco, chamou outra vez por ela e não lhe respondeu
A seguir, também passou um homem e este disse que não tinha ouvido nada.
A mulher foi ter com o homem e disse-lhe que tinham chamado por ela e ela não lhe tinha falado; voltou a chamar e não lhe respondeu
0 homem foi ver o que era. Eram velas a arder na água.
A Cabra Feiticeira
Na minha aldeia, há muitas cabras que são "apastoradas" pelos respectivos pastores
Aconteceu que, a noite, um pastor deu por falta de uma cabra e foi de noite procurá-la. Encontrou-a muito longe. Ela só queria andar para trás. Teve de a trazer às costas.
Quando chegou a casa, a cabra "urinou" por ele abaixo, molhando-o todo. Ele chamou pela mulher para lhe levar uma candeia. Ao ver a luz da candeia, a cabra deu um “estouro" e desapareceu. Foi quando o pobre homem desabafou, dizendo:
- Ora agora é que eu sei que andei com as feiticeiras as costas.
Rapaz Diabo
Dirigindo-se dois moços da minha aldeia a um baile, num lugar duma freguesia próxima, passaram por uma fogueira que ardia a meio da distância que tinham a percorrer. Como estava frio, dirigiram-se à fogueira e junto estava um rapaz que começou por lhes atirar com brasas. Estes disseram-lhe:
- Está quieto, rapaz.
Mas ele voltou a atirar-lhes. Disseram-lhe novamente:
- Está quieto, rapaz diabo.
Ele, que estava sentado, deu um salto e desapareceu. Foi quando concluíram que o rapaz era o diabo.
Moça que estourou e desapareceu
Uma vez, houve um baile. Um moço disse a mãe:
- Hoje hei-de dançar toda a santa noite, ainda que seja com o diabo.
Ia pelo caminho fora e, a beira de uns sobreiros, apareceu-lhe uma moça muito bonita com os braços abertos, para dançar com ele. Ele olhou para as pernas dela e eram de cabra. E começou a cantar assim.
- Eu, quando saio de casa, Faço o sinal da cruz, Para "arrenegar o diabo Com o Santo Nome de Jesus.
E aquilo deu um estouro e desapareceu.
Cruzes, Abrenuzes, palhas, alhas.
Uma vez, apareceram as feiticeiras, no rio do Juncal, ao tio Severino. Disse este que elas começaram a bater palmas, a dançar e a rir. Começou então ele a dizer:
- Cruzes, Abrenuzes palhas, alhas. E elas desapareceram.
As Vacas e as Feiticeiras
Uma vez, fui a Santo Aginha. Tinha lá um poço muito fundo com feitiçaria. As feiticeiras disseram:
- Ide embora e não digais donde ides, porque senão vamos às cortes das vacas e fugimos com elas.
Mulher Grande
Uma vez, o tio António do Loureiro vinha do "jornal" com mãe. Ao passarem na fonte do Loureiro, começou ele a dizer assim:
- 0 mãe, olhe!
A mãe não viu nada. Mas ele disse que tinha visto uma mulher muito grande com uma saia muito comprida e muitos meninos com velas acesas.
Mulher Encantada
Um dia, fui à festa da Capela de Santa Luzia. Lá estava a mãe e o filho. 0 rapaz disse:
- Mãe que é aquilo? A mãe olhava e não via nada.
Já era uma feiticeira.
O Conto da Branca Flor
Era uma vez um homem que gostava muito de jogar cartas mas, como perdia sempre, um dia jogou a alma. Quando chegou ao fim do jogo, tinha perdido» Disse-lhe o colega:
-Tu, sabes com quem estás a jogar?
Ele respondeu!
- Não.
Disse então o outro:
Tu estás a jogar com o diabo; como jogaste a alma e eu a ganhei, qualquer dia venho-te buscar.
E foi-se embora.
Um dia, estava ele a aprontar-se para ir a uma feira e chegou o diabo para o levar.
- Estas pronto para me acompanhares? - Disse o diabo.
- Pois não - respondeu o homem.
- Pois então apronta-te e vai ter ao monte das pedras negras.
E retirou-se.
0 Homem aprontou-se e lá foi a caminho, perguntando aqui e ali onde era o monte das pedras negras. Encontrou-se com um lobo e perguntou-lhe onde ficava o monte das pedras negras.
Disse-lhe o lobo:
- Não sei. Mas vai perguntar a minha comadre lua, que essa deve saber.
Ele foi e perguntou-lhe. Ela disse-lhe;
- Não sei. Mas vai perguntar ao meu compadre sol, que ele diz-te.
Chegou perto do sol e perguntou;
- Você não me pode dizer onde fica o monte das pedras negras?
Ele respondeu:
- Não sei. Mas vai perguntar ao rei dos animais, que esse sabe.
Ele perguntou;
- Quem e o rei dos animais?
0 Sol respondeu:
- É o leão.
Lá foi ele perguntar ao leão o qual lhe respondeu;
- Não sei. Mas espera aí que eu vou chamar os meus animais e, como tenho muitos números, algum deve saber.
Chamou então todos os animais, mas faltava o numero doze, que era o corvo. Como tardava, perguntou aos que ali estavam:
- Algum de vocês sabe onde é o monte das pedras negras? Todos lhe disseram que não sabiam.
Então dali a muito tempo veio o corvo, quando chegou, disse para o Leão:
Dá-me licença que me apresente?
Ele disse-lhe:
- Já devias ter vindo há muito. Já vens muito atrasado. E disse-lhe:
- Tu sabes onde é o monte das pedras negras?
Disse o corvo:
- Sei. E de lá venho eu agora.
- Pois então vais levar este homem lá.
Ele disse:
- Vou, mas para ir, tenho de levar meia vaca e uma pipa de água.
- Pois isso tudo se arranja.
Pegou então numa meia vaca e numa pipa de água e levou o homem, mas disse-lhe:
- Quando eu te pedir água, dá-me carne e quando eu te pedir carne, dá-me água.
Assim foram viajando, até que a carne acabou. Então o corvo pedindo-lhe água e ele disse-lhe:
- Não tenho. Mas deixa lá que eu corto ora pedaço da minha perna e já dou.
E o corvo disse-lhe;
- Não, que já estamos perto.
E então foi pousá-lo acima de um penedo e disse-lhe:
- Tu vens para a casa do diabo, não e verdade?
Ele disse-lhe:
- Venho pois.
- É aquela em frente®
Foi o homem bater a porta. Veio o diabo falar-lhe com uma bota calçada e o outro pé descalço.
- Há és tu? Pois eu ia agora à tua procura. Estava a calçar-me.
Mandou-o entrar. Mas naquele dia, como era tarde, mandou-o ir descansar. Ao outro dia, deu-lhe um pouco de centeio todo picado dos bichos e mandou-o ir para o monte semear aquele centeio. E disse-lhe que à noite queria umas espigas daquele centeio e um bolo para comer a ceia.
0 homem lá foi e pôs-se sentado debaixo de uma pedra a chorar.
Mas o diabo tinha três filhas: uma era santa que se chamava Branca-Flor e duas eram bruxas. A mulher também era bruxa. Então a. Branca-Flor foi ter com o homem e disse-lhe:
- Tu que tens, que choras tanto?
- Olhe, o seu pai mandou-me fazer isto e não sei de que maneira hei-de começar o trabalho.
Ela disse-lhe:
- Deita-te aí e dorme, que eu vou tratar disso.
Ele dormiu e ela mais tarde veio acordá-lo e disse-lhe:
- Anda ver o que tu tinhas de fazer.
Ele foi e viu toda a seara tão linda, que ficou louco e ela deu-lhe então o que o pai lhe tinha mandado fazer. E disse-lhe:
- Se o meu pai te disser "Aqui andou Branca-Flor", tu respondes: Nem eu vi Branca-Flor nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus valha agora aqui."
Ele foi para casa e o diabo perguntou-lhe:
- Fizeste o que eu te disse? Ele respondeu:
- Fiz. Aqui tem.
0 Diabo ficou espantado e disse-lhe:
- Aqui andou Branca-Flor.
- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.
- Não quero cá pragas na minha casa - disse o diabo.
No dia seguinte, deu-lhe umas vides podres para ele ir plantar, e à noite levar-lhe dois cachos de uvas e vinho para a ceia.
0 Homem lá foi. Pôs-se de novo a chorar. Quando lá chegou Branca- Flor disse-lhe:
- Que é que te mandou fazer hoje o meu pai? Disse-lhe o homem:
- Foi isto.
Ela de novo mandou-o dormir e, depois de tudo pronto, chamou-o e disse-lhe.
- Aqui tens. Mas se meu pai te disser "Aqui andou Branca-Flor", já sabes como lhe hás-de dizer.
A noite, chegou o homem e o diabo disse-lhe;
- Fizeste o que eu te mandei?
- Fiz. Aqui tem as uvas e o vinho. 0 diabo disse-lhe:
- Aqui andou Branca-Flor. 0 homem disse:
- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.
- Já lhe disse ontem que não quero pragas na minha casa. Foram-se deitar. E disse o diabo para a mulher:
- Que é que eu lhe vou mandar fazer amanhã?
- Olha, eu perdi um anel no mar há dois anos e manda-o lá procurar disse a mulher.
Assim fizeram. De manha, o diabo disse ao homem:
- Olha, hoje vais ao mar, que a minha mulher perdeu lá um anel e: tens que o trazer.
0 homem ficou triste, mas lá foi. Ia passeando pela margem e bateu-lhe a Branca-Flor nas costas. Ele voltou-se e viu-lhe um lençol debaixo do braço.
Ela disse-lhes
- Vês este lençol? Estende-o no chão e, com esta faca, retalha-me toda, mas não deixes cair gota de sangue nenhuma fora do lençol.
Ele disse:
- Tudo faço, mas isso não, que não tenho coragem. Ela disse:
- Tens que o fazer, para te salvares a ti e a mim e no fim deitas o lençol ao mar, que há-de vir um peixinho com o anel na boca e tu tira-lo.
0 homem encheu-se de coragem e lá o fez, mas deixou cair uma gota de sangue fora do lençol e, apenas deitou o lençol ao mar, veio um peixinho com o anel na boca. Ele tirou-o e voltou-se para trás. Já estava Branca-Flor por trás dele.
- Viste a gota de sangue que deixaste cair, aqui? Tenho a marca no dedo.
Tinha uma faltinha na ponta do dedo, não fez mal. Chegou a casa com o anel e disse-lhes o diabo:
- Aqui andou Branca-Flor.
- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.
- Já estou farto de te dizer que não quero pragas na minha casa. A noite, disse-lhe então:
- Como tens sido um criado, vou-te dar uma minha filha a escolher, mas vais escolhê-la pelo buraco da fechadura pelos dedos.
Então Branca-Flor pôs-lhe o dedo que tinha a falta. Ele disse:
- Quero esta.
- Estamos perdidos, que é Branca-Flor, mas seja como for, prometi e agora tem que ser.
Lá fizeram o casamento e na mesma noite o diabo ia matar o homem, mas Branca-Flor disse para o marido:
- Vai à corte dos cavalos e traz-me um dos cavalos mais forte, que ande mais, para fugirmos, que eles querem matar-te.
Ele foi e ela pôs quatro vassouras, uma em cada canto do quarto e pôs um pipo de vinho na cama coberto com as mantas.
Chegou ele com o cavalo e trouxe o Vento, pensando que era o que corria mais.
Ela disse:
- Não era esse cavalo que devias trazer, mas agora temos de seguir.
Puseram-se a caminho e ela levou uma manada de borralha, uma de pulhas e uma de sal. 0 diabo levantou-se da cama para o ir matar, deu um jeito à porta do quarto e caiu uma vassoura. Voltou para a cama e a mulher perguntou-lhe;
- Já o mataste?
- Não, que ainda estão acordados.
Foi por mais três vezes e sempre sentiu estrondos, mas quando foi pela 5ª vez, não sentiu nada, entrou e, com uma tranca na mão, começou a malhar na cama e, quando começou o vinho a correr pelo chão, retirou-se.. Quando chegou à cama, disse a mulher:
- Mataste-o?
Ele disse:
- Matei-o. E olha que era forte, até o sangue corria pelo chão.
Disse-lhe a mulher:
- Olha que não era ele. Devia ser o pipo de vinho. Vai ver. O homem foi ver. Viu que era vinho. Foi dizer à mulher.
Ela disse-lhe:
- Fugiram, Vai à corte ver o cavalo que eles levaram.
Ele foi ver e disse:
- Levaram o Vento".
Disse a mulher:
- Monta no pensamento que ainda os agarras.
Lá foi ele. Branca-Flor e o marido iam a caminho. E diz Branca-Flor:
- Estamos perdidos, que vem aí o meu pai.
Ela formou uma capela, pôs o homem a tocar o sino e ela pôs-se de santa no altar. Chegou ali a diabo e disse-lhe:
- Você não viu passar aqui um homem e uma mulher a cavalo?
- Eu não. Estou a tocar o sino para a missa. Se quiser, entre. 0 homem deu volta e, qando chegou a casa, disse-lhe a mulher:
- Ainda os apanhaste?
- Não, encontrei uma capela. Estava um homem a tocar o sino. Perguntei-lhe se tinha visto passar um homem e uma mulher a cavalo. Disse-me que não.Se quisesse entrar, que entrasse para a missa. Eu vim-me embora»
Disse-lhe a mulher:
- Olha que eram eles. Vai outra vez que ainda a os agarras. 0 homem tornou a ir e a Branca-Flor, quando o viu, mandou uma manda de borralha que se formou um nevoeiro cerrado, que não se via para lado nenhum»
0 homem deu volta, chegou a casa e perguntou-lhe a mulher:
- Ainda os apanhaste?
- Não. Cerrou-se um nevoeiro que eu não consegui ver o caminho.
Dei volta»
- Olha que eram eles. Homem, torna a ir, que ainda os agarras. Lá foi o homem outra vez, mas quando Branca-Flor o viu ir outra vez, atirou uma manada de agulhas para trás e transformaram-se num pinhal, que não se passava para lado nenhum. 0 homem não rompeu, deu volta e disse-lhe a mulher:
- Apanhaste-os?
- Não, encontrei um pinhal, que não consegui passar,
- Olha que eram eles, homem. Mas agora vou eu lá.
Foi ela. Apenas Branca-Flor a avistou, disse para a marido:
- Lá vem a minha mãe. E agora é pior.
Branca-Flor atirou com uma manada de sal e formou-se um rio e iam num barco com eles dentro. Quando a mulher chegou perto deles, disse-lhes:
- Vocês não viram passar aqui um homem e uma mulher a cavalo?
Responderam eles:
- Não.
Diz a mulher;
- Eu bem vos conheço, mas andai que vos haveis de separar um do outro.
Lá seguiram e andaram, andaram, até que chegaram a uma serra e disse-lhe ele:
- Olha, ali em baixo e a casa dos meus pais. Eu muito queria ir lá vê-los.
Ela disse-lhe:
- Olha, vai lá, mas não te deixes abraçar por ninguém, que senão esqueces-me e nunca mais te lembras de mim.
Ele lá foi. Entrou em casa. Todos queriam abraça-lo, mas ele não consentiu. Depois chegou uma velhinha que saía de uma corte e vindo por detrás dele, abraçou-o. Foi a partir daquele momento que ele jamais se lembrou da mulher. E a Branca- Flor, coitada, ficou ali perto numa casinha que arranjou, metendo-se de costureira. Um dia mais tarde, o marido dela casou-se novamente : foram ter com ela para fazer o vestido da noiva. Ela fez-lhe o vestido e a noiva perguntou-lhe quanto era. Disse que não era nada, A noiva, por sua vez, disse-lhe que estimava que ela fosse ao casamento. Mas ela disse:
- Eu vou, mas queria que me dessem licença para eu levar um casal de pombos.
Os noivos disseram que podia levar. Chegou-se ao dia do casamento e Branca-Flor lá foi para o casamento. Quando estavam ao almoço, tudo ria, falava e ela nada, estava triste e trazia os pombos um em cada ombro pousados.. Perguntaram-lhe:
- Você esta triste, não fala nem ri aqui connosco.. É certo que você está estranha, mas agora, como é de cá, tem de se meter à conversa connosco.
Ela disse:
- Se me dão licença, falam os meus pombos.
Os noivos disseram:
- Gostaríamos imenso de os ouvir falar.
E toda a gente insistia.
Então começou a pomba para o pombo:
- Não te lembras de seres muito jogador e, um dia, jogaste a tua alma e perdeste-a?
- Não me lembro - disse o pombo.
- Não te lembras de o meu pai ganhar a tua alma e depois vir-te ar e tu não foste com ele e viste-te enrascado para chegares ao monte das pedras negras?
- Não me lembro.
- Não te lembras de o meu pai te mandar com centeio podre e, à noite, teres que trazer pão para a ceia e duas espigas?
- Não me lembro»
E tudo estava varado com a pomba. Ela era para abrir a memória ao noivo, mas ele de nada se lembrou. Tornou a pomba;
- Não te lembras de, no dia seguinte, meu pai mandar-te com vides secas e podres para, à noite, trazeres vinho para a ceia e dois cachos de uvas e a seguir, mandou-te para o mar procurar um anel da minha mãe e eu apareci lá com um lençol para tu me cortares e me deitares ao mar e depois veio um com o anel na boca e, quando tu te viraste, já eu estava por detrás das costas, mas deixaste cair uma gota de sangue e eu fiquei com uma falha no dedo com que por esse dedo tu me escolheste para tua mulher?
- Não me lembro.
- Não te lembras de pormos uma vassoura em cada canto da quarto e pipo de vinho na cama e fugirmos, num sítio formámos uma capela, noutro um nevoeiro e noutro um pinhal, a seguir formámos um rio e um barco e depois a minha mãe dizer-nos que nos havíamos de esquecer um do outro?
- Não me lembro.
- Não te lembras de andarmos muito e chegarmos por cima da tua casa dizeres-me que querias ver o teu pai e eu mandei-te ir, mas que te não deixasses abraçar e chegou uma velhinha e abraçou-te e tu esqueceste-te de mim e nuca mais me lembraste?
0 noivo recordou. E diz o pombo;
- Já me lembro.
Levantou-se o noivo da mesa e disse:
- Eu perdi uma navalha de ouro e perdi outra de prata. Qual valia mais a de ouro ou a de prata?
Tudo respondeu:
- A de ouro.
- Pois então a minha mulher é esta e não aquela.
Deixou a noiva e foi para junto da Branca-Flor. Tudo louvou à acção do noivo.
Sem comentários:
Enviar um comentário