AVISO

Meus caros Leitores,

Devido ao meu Blog ter atingido a capacidade máxima de imagens, fui obrigado a criar um novo Blog.

A partir de agora poderão encontrar-me em:

http://www.arocoutinhoviana.blogspot.com

Obrigado

domingo, 20 de novembro de 2011

Rio das Abrunheiros-A agulha e o Novelo-Poço de Stº Aginha,Rapaz diabo- Deiticeiras- Moça que estoirou-Cruzes ,abrenuzes, pallhas, alhas, Vacas Feiticeiras.- a feiticeira, o conto da Branca Flor

Rio das Abrunheiros


Uma ocasião, no rio dos Abrunheiros, dizia-se que apareciam lá umas feiticeiras a dançar e uma vez uma pessoa foi lá e esteve muito tempo. Ao fim disseram: Não digas quem somos, porque senão a tua vida será infeliz".

A agulha e o Novelo

Era uma vez uma agulha que disse a um novelo de linha:

- Porque está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste, mundo?

- Deixe-me, senhora.

- Que a deixe, porquê? Porque lhe digo que está com ar insuportável? Repito que sim e falarei sempre que me der na cabeça.

- Que cabeça, senhora? A Senhora não é alfinete, é agulha. Não tem cabeça. Que lhe importa o ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.



Poço de Stº Aginha



À beira da ponte de Santo Aginha, há um poço fundo e diz-se que por lá apareciam umas feiticeiras a dançar. Que chamavam por toda a gente que passava por perto. Diziam: “Agora ide embora e não digais quem somos, porque vamos à corte das vacas e matamo-las todas”.



Poço dos Abrunheiros

Os mais velhos diziam antigamente que haviam feiticeiras nos Abrunheiros que saíam dum poço fundo, que mataram um menino e depois o enterraram.

As feiticeiras são mulheres que andam de noite, não podendo andar de dia, Têm resistência necessária para intervirem na vida de qualquer pessoa, que vá seguindo a sua estrada ou o seu caminho para determinar a vida.

Feiticeiras

Era uma vez uma feiticeira que apareceu no regato da fonte do Cando. Depois, passou lá uma mulher. A feiticeira chamou por ela.

- Que é? - Disse a mulher.

E não lhe falou ninguém.

A mulher fugiu. Dali a pouco, chamou outra vez por ela e não lhe respondeu

A seguir, também passou um homem e este disse que não tinha ouvido nada.

A mulher foi ter com o homem e disse-lhe que tinham chamado por ela e ela não lhe tinha falado; voltou a chamar e não lhe respondeu

0 homem foi ver o que era. Eram velas a arder na água.

A Cabra Feiticeira

Na minha aldeia, há muitas cabras que são "apastoradas" pelos respectivos pastores

Aconteceu que, a noite, um pastor deu por falta de uma cabra e foi de noite procurá-la. Encontrou-a muito longe. Ela só queria andar para trás. Teve de a trazer às costas.

Quando chegou a casa, a cabra "urinou" por ele abaixo, molhando-o todo. Ele chamou pela mulher para lhe levar uma candeia. Ao ver a luz da candeia, a cabra deu um “estouro" e desapareceu. Foi quando o pobre homem desabafou, dizendo:

- Ora agora é que eu sei que andei com as feiticeiras as costas.

Rapaz Diabo

Dirigindo-se dois moços da minha aldeia a um baile, num lugar duma freguesia próxima, passaram por uma fogueira que ardia a meio da distância que tinham a percorrer. Como estava frio, dirigiram-se à fogueira e junto estava um rapaz que começou por lhes atirar com brasas. Estes disseram-lhe:

- Está quieto, rapaz.

Mas ele voltou a atirar-lhes. Disseram-lhe novamente:

- Está quieto, rapaz diabo.

Ele, que estava sentado, deu um salto e desapareceu. Foi quando concluíram que o rapaz era o diabo.



Moça que estourou e desapareceu

Uma vez, houve um baile. Um moço disse a mãe:

- Hoje hei-de dançar toda a santa noite, ainda que seja com o diabo.

Ia pelo caminho fora e, a beira de uns sobreiros, apareceu-lhe uma moça muito bonita com os braços abertos, para dançar com ele. Ele olhou para as pernas dela e eram de cabra. E começou a cantar assim.

- Eu, quando saio de casa, Faço o sinal da cruz, Para "arrenegar o diabo Com o Santo Nome de Jesus.

E aquilo deu um estouro e desapareceu.



Cruzes, Abrenuzes, palhas, alhas.

Uma vez, apareceram as feiticeiras, no rio do Juncal, ao tio Severino. Disse este que elas começaram a bater palmas, a dançar e a rir. Começou então ele a dizer:

- Cruzes, Abrenuzes palhas, alhas. E elas desapareceram.

As Vacas e as Feiticeiras

Uma vez, fui a Santo Aginha. Tinha lá um poço muito fundo com feitiçaria. As feiticeiras disseram:

- Ide embora e não digais donde ides, porque senão vamos às cortes das vacas e fugimos com elas.

Mulher Grande

Uma vez, o tio António do Loureiro vinha do "jornal" com mãe. Ao passarem na fonte do Loureiro, começou ele a dizer assim:

- 0 mãe, olhe!

A mãe não viu nada. Mas ele disse que tinha visto uma mulher muito grande com uma saia muito comprida e muitos meninos com velas acesas.

Mulher Encantada 

Um dia, fui à festa da Capela de Santa Luzia. Lá estava a mãe e o filho. 0 rapaz disse:

- Mãe que é aquilo? A mãe olhava e não via nada.

Já era uma feiticeira.

O Conto da Branca Flor

Era uma vez um homem que gostava muito de jogar cartas mas, como perdia sempre, um dia jogou a alma. Quando chegou ao fim do jogo, tinha perdido» Disse-lhe o colega:

-Tu, sabes com quem estás a jogar?

Ele respondeu!

- Não.

Disse então o outro:

Tu estás a jogar com o diabo; como jogaste a alma e eu a ganhei, qualquer dia venho-te buscar.

E foi-se embora.

Um dia, estava ele a aprontar-se para ir a uma feira e chegou o diabo para o levar.

- Estas pronto para me acompanhares? - Disse o diabo.

- Pois não - respondeu o homem.

- Pois então apronta-te e vai ter ao monte das pedras negras.

E retirou-se.

0 Homem aprontou-se e lá foi a caminho, perguntando aqui e ali onde era o monte das pedras negras. Encontrou-se com um lobo e perguntou-lhe onde ficava o monte das pedras negras.

Disse-lhe o lobo:

- Não sei. Mas vai perguntar a minha comadre lua, que essa deve saber.

Ele foi e perguntou-lhe. Ela disse-lhe;

- Não sei. Mas vai perguntar ao meu compadre sol, que ele diz-te.

Chegou perto do sol e perguntou;

- Você não me pode dizer onde fica o monte das pedras negras?

Ele respondeu:

- Não sei. Mas vai perguntar ao rei dos animais, que esse sabe.

Ele perguntou;

- Quem e o rei dos animais?

0 Sol respondeu:

- É o leão.

Lá foi ele perguntar ao leão o qual lhe respondeu;

- Não sei. Mas espera aí que eu vou chamar os meus animais e, como tenho muitos números, algum deve saber.

Chamou então todos os animais, mas faltava o numero doze, que era o corvo. Como tardava, perguntou aos que ali estavam:

- Algum de vocês sabe onde é o monte das pedras negras? Todos lhe disseram que não sabiam. 

Então dali a muito tempo veio o corvo, quando chegou, disse para o Leão:

Dá-me licença que me apresente?

Ele disse-lhe:

- Já devias ter vindo há muito. Já vens muito atrasado. E disse-lhe:

- Tu sabes onde é o monte das pedras negras?

Disse o corvo:

- Sei. E de lá venho eu agora.

- Pois então vais levar este homem lá.

Ele disse:

- Vou, mas para ir, tenho de levar meia vaca e uma pipa de água.

- Pois isso tudo se arranja.

Pegou então numa meia vaca e numa pipa de água e levou o homem, mas disse-lhe:

- Quando eu te pedir água, dá-me carne e quando eu te pedir carne, dá-me água.

Assim foram viajando, até que a carne acabou. Então o corvo pedindo-lhe água e ele disse-lhe:

- Não tenho. Mas deixa lá que eu corto ora pedaço da minha perna e já dou.

E o corvo disse-lhe;

- Não, que já estamos perto.

E então foi pousá-lo acima de um penedo e disse-lhe:

- Tu vens para a casa do diabo, não e verdade?

Ele disse-lhe:

- Venho pois.

- É aquela em frente®

Foi o homem bater a porta. Veio o diabo falar-lhe com uma bota calçada e o outro pé descalço.

- Há és tu? Pois eu ia agora à tua procura. Estava a calçar-me.

Mandou-o entrar. Mas naquele dia, como era tarde, mandou-o ir descansar. Ao outro dia, deu-lhe um pouco de centeio todo picado dos bichos e mandou-o ir para o monte semear aquele centeio. E disse-lhe que à noite queria umas espigas daquele centeio e um bolo para comer a ceia.

0 homem lá foi e pôs-se sentado debaixo de uma pedra a chorar.

Mas o diabo tinha três filhas: uma era santa que se chamava Branca-Flor e duas eram bruxas. A mulher também era bruxa. Então a. Branca-Flor foi ter com o homem e disse-lhe:

- Tu que tens, que choras tanto?

- Olhe, o seu pai mandou-me fazer isto e não sei de que maneira hei-de começar o trabalho. 

Ela disse-lhe:

- Deita-te aí e dorme, que eu vou tratar disso.

Ele dormiu e ela mais tarde veio acordá-lo e disse-lhe:

- Anda ver o que tu tinhas de fazer.

Ele foi e viu toda a seara tão linda, que ficou louco e ela deu-lhe então o que o pai lhe tinha mandado fazer. E disse-lhe:

- Se o meu pai te disser "Aqui andou Branca-Flor", tu respondes: Nem eu vi Branca-Flor nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus valha agora aqui."

Ele foi para casa e o diabo perguntou-lhe:

- Fizeste o que eu te disse? Ele respondeu:

- Fiz. Aqui tem.

0 Diabo ficou espantado e disse-lhe:

- Aqui andou Branca-Flor.

- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.

- Não quero cá pragas na minha casa - disse o diabo.

No dia seguinte, deu-lhe umas vides podres para ele ir plantar, e à noite levar-lhe dois cachos de uvas e vinho para a ceia.

0 Homem lá foi. Pôs-se de novo a chorar. Quando lá chegou Branca- Flor disse-lhe:

- Que é que te mandou fazer hoje o meu pai? Disse-lhe o homem:

- Foi isto.

Ela de novo mandou-o dormir e, depois de tudo pronto, chamou-o e disse-lhe.

- Aqui tens. Mas se meu pai te disser "Aqui andou Branca-Flor", já sabes como lhe hás-de dizer.

A noite, chegou o homem e o diabo disse-lhe;

- Fizeste o que eu te mandei?

- Fiz. Aqui tem as uvas e o vinho. 0 diabo disse-lhe:

- Aqui andou Branca-Flor. 0 homem disse:

- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.

- Já lhe disse ontem que não quero pragas na minha casa. Foram-se deitar. E disse o diabo para a mulher:

- Que é que eu lhe vou mandar fazer amanhã?

- Olha, eu perdi um anel no mar há dois anos e manda-o lá procurar disse a mulher. 

Assim fizeram. De manha, o diabo disse ao homem:

- Olha, hoje vais ao mar, que a minha mulher perdeu lá um anel e: tens que o trazer.

0 homem ficou triste, mas lá foi. Ia passeando pela margem e bateu-lhe a Branca-Flor nas costas. Ele voltou-se e viu-lhe um lençol debaixo do braço.

Ela disse-lhes

- Vês este lençol? Estende-o no chão e, com esta faca, retalha-me toda, mas não deixes cair gota de sangue nenhuma fora do lençol.

Ele disse:

- Tudo faço, mas isso não, que não tenho coragem. Ela disse:

- Tens que o fazer, para te salvares a ti e a mim e no fim deitas o lençol ao mar, que há-de vir um peixinho com o anel na boca e tu tira-lo.

0 homem encheu-se de coragem e lá o fez, mas deixou cair uma gota de sangue fora do lençol e, apenas deitou o lençol ao mar, veio um peixinho com o anel na boca. Ele tirou-o e voltou-se para trás. Já estava Branca-Flor por trás dele.

- Viste a gota de sangue que deixaste cair, aqui? Tenho a marca no dedo.

Tinha uma faltinha na ponta do dedo, não fez mal. Chegou a casa com o anel e disse-lhes o diabo:

- Aqui andou Branca-Flor.

- Nem eu vi Branca-Flor, nem Branca-Flor me viu a mim. Se eu vi Branca-Flor, Deus me valha agora aqui.

- Já estou farto de te dizer que não quero pragas na minha casa. A noite, disse-lhe então:

- Como tens sido um criado, vou-te dar uma minha filha a escolher, mas vais escolhê-la pelo buraco da fechadura pelos dedos.

Então Branca-Flor pôs-lhe o dedo que tinha a falta. Ele disse:

- Quero esta.

- Estamos perdidos, que é Branca-Flor, mas seja como for, prometi e agora tem que ser.

Lá fizeram o casamento e na mesma noite o diabo ia matar o homem, mas Branca-Flor disse para o marido:

- Vai à corte dos cavalos e traz-me um dos cavalos mais forte, que ande mais, para fugirmos, que eles querem matar-te.

Ele foi e ela pôs quatro vassouras, uma em cada canto do quarto e pôs um pipo de vinho na cama coberto com as mantas.

Chegou ele com o cavalo e trouxe o Vento, pensando que era o que corria mais.

Ela disse: 

- Não era esse cavalo que devias trazer, mas agora temos de seguir.

Puseram-se a caminho e ela levou uma manada de borralha, uma de pulhas e uma de sal. 0 diabo levantou-se da cama para o ir matar, deu um jeito à porta do quarto e caiu uma vassoura. Voltou para a cama e a mulher perguntou-lhe;

- Já o mataste?

- Não, que ainda estão acordados.

Foi por mais três vezes e sempre sentiu estrondos, mas quando foi pela 5ª vez, não sentiu nada, entrou e, com uma tranca na mão, começou a malhar na cama e, quando começou o vinho a correr pelo chão, retirou-se.. Quando chegou à cama, disse a mulher:

- Mataste-o?

Ele disse:

- Matei-o. E olha que era forte, até o sangue corria pelo chão.

Disse-lhe a mulher:

- Olha que não era ele. Devia ser o pipo de vinho. Vai ver. O homem foi ver. Viu que era vinho. Foi dizer à mulher.

Ela disse-lhe:

- Fugiram, Vai à corte ver o cavalo que eles levaram.

Ele foi ver e disse:

- Levaram o Vento".

Disse a mulher:

- Monta no pensamento que ainda os agarras.

Lá foi ele. Branca-Flor e o marido iam a caminho. E diz Branca-Flor:

- Estamos perdidos, que vem aí o meu pai.

Ela formou uma capela, pôs o homem a tocar o sino e ela pôs-se de santa no altar. Chegou ali a diabo e disse-lhe:

- Você não viu passar aqui um homem e uma mulher a cavalo?

- Eu não. Estou a tocar o sino para a missa. Se quiser, entre. 0 homem deu volta e, qando chegou a casa, disse-lhe a mulher:

- Ainda os apanhaste?

- Não, encontrei uma capela. Estava um homem a tocar o sino. Perguntei-lhe se tinha visto passar um homem e uma mulher a cavalo. Disse-me que não.Se quisesse entrar, que entrasse para a missa. Eu vim-me embora»

Disse-lhe a mulher:

- Olha que eram eles. Vai outra vez que ainda a os agarras. 0 homem tornou a ir e a Branca-Flor, quando o viu, mandou uma manda de borralha que se formou um nevoeiro cerrado, que não se via para lado nenhum»

0 homem deu volta, chegou a casa e perguntou-lhe a mulher: 

- Ainda os apanhaste?

- Não. Cerrou-se um nevoeiro que eu não consegui ver o caminho.

Dei volta»

- Olha que eram eles. Homem, torna a ir, que ainda os agarras. Lá foi o homem outra vez, mas quando Branca-Flor o viu ir outra vez, atirou uma manada de agulhas para trás e transformaram-se num pinhal, que não se passava para lado nenhum. 0 homem não rompeu, deu volta e disse-lhe a mulher:

- Apanhaste-os?

- Não, encontrei um pinhal, que não consegui passar,

- Olha que eram eles, homem. Mas agora vou eu lá.

Foi ela. Apenas Branca-Flor a avistou, disse para a marido:

- Lá vem a minha mãe. E agora é pior.

Branca-Flor atirou com uma manada de sal e formou-se um rio e iam num barco com eles dentro. Quando a mulher chegou perto deles, disse-lhes:

- Vocês não viram passar aqui um homem e uma mulher a cavalo?

Responderam eles:

- Não.

Diz a mulher;

- Eu bem vos conheço, mas andai que vos haveis de separar um do outro.

Lá seguiram e andaram, andaram, até que chegaram a uma serra e disse-lhe ele:

- Olha, ali em baixo e a casa dos meus pais. Eu muito queria ir lá vê-los.

Ela disse-lhe:

- Olha, vai lá, mas não te deixes abraçar por ninguém, que senão esqueces-me e nunca mais te lembras de mim.

Ele lá foi. Entrou em casa. Todos queriam abraça-lo, mas ele não consentiu. Depois chegou uma velhinha que saía de uma corte e vindo por detrás dele, abraçou-o. Foi a partir daquele momento que ele jamais se lembrou da mulher. E a Branca- Flor, coitada, ficou ali perto numa casinha que arranjou, metendo-se de costureira. Um dia mais tarde, o marido dela casou-se novamente : foram ter com ela para fazer o vestido da noiva. Ela fez-lhe o vestido e a noiva perguntou-lhe quanto era. Disse que não era nada, A noiva, por sua vez, disse-lhe que estimava que ela fosse ao casamento. Mas ela disse:

- Eu vou, mas queria que me dessem licença para eu levar um casal de pombos.

Os noivos disseram que podia levar. Chegou-se ao dia do casamento e Branca-Flor lá foi para o casamento. Quando estavam ao almoço, tudo ria, falava e ela nada, estava triste e trazia os pombos um em cada ombro pousados.. Perguntaram-lhe: 

- Você esta triste, não fala nem ri aqui connosco.. É certo que você está estranha, mas agora, como é de cá, tem de se meter à conversa connosco.

Ela disse:

- Se me dão licença, falam os meus pombos.

Os noivos disseram:

- Gostaríamos imenso de os ouvir falar.

E toda a gente insistia.

Então começou a pomba para o pombo:

- Não te lembras de seres muito jogador e, um dia, jogaste a tua alma e perdeste-a?

- Não me lembro - disse o pombo.

- Não te lembras de o meu pai ganhar a tua alma e depois vir-te ar e tu não foste com ele e viste-te enrascado para chegares ao monte das pedras negras?

- Não me lembro.

- Não te lembras de o meu pai te mandar com centeio podre e, à noite, teres que trazer pão para a ceia e duas espigas?

- Não me lembro»

E tudo estava varado com a pomba. Ela era para abrir a memória ao noivo, mas ele de nada se lembrou. Tornou a pomba;

- Não te lembras de, no dia seguinte, meu pai mandar-te com vides secas e podres para, à noite, trazeres vinho para a ceia e dois cachos de uvas e a seguir, mandou-te para o mar procurar um anel da minha mãe e eu apareci lá com um lençol para tu me cortares e me deitares ao mar e depois veio um com o anel na boca e, quando tu te viraste, já eu estava por detrás das costas, mas deixaste cair uma gota de sangue e eu fiquei com uma falha no dedo com que por esse dedo tu me escolheste para tua mulher?

- Não me lembro.

- Não te lembras de pormos uma vassoura em cada canto da quarto e pipo de vinho na cama e fugirmos, num sítio formámos uma capela, noutro um nevoeiro e noutro um pinhal, a seguir formámos um rio e um barco e depois a minha mãe dizer-nos que nos havíamos de esquecer um do outro?

- Não me lembro.

- Não te lembras de andarmos muito e chegarmos por cima da tua casa dizeres-me que querias ver o teu pai e eu mandei-te ir, mas que te não deixasses abraçar e chegou uma velhinha e abraçou-te e tu esqueceste-te de mim e nuca mais me lembraste?

0 noivo recordou. E diz o pombo;

- Já me lembro.

Levantou-se o noivo da mesa e disse:

- Eu perdi uma navalha de ouro e perdi outra de prata. Qual valia mais a de ouro ou a de prata? 

Tudo respondeu:

- A de ouro.

- Pois então a minha mulher é esta e não aquela.

Deixou a noiva e foi para junto da Branca-Flor. Tudo louvou à acção do noivo.

Sem comentários: