Santa Ira
Estando eu à janela
A coser numa almofada,
Minha agulha de oiro,
Meu dedal de prata.
Passa um cavalheiro,
Me pediu pousada,
Meu pai lha negou,
Quanto me pesava.
Roguei e pedi,
Mas ele não cessava,
Mas eu tanto fiz,
Que por fim deixava.
Fui-lhe abrir a porta,
Muito contente entrava,
Ao lar o levei»
Logo se sentava.
Nas mãos lhe dei água,
Nela se lavava,
A toalha lhe pus,
Nela se limpava.
Pus-lhe a ceia,
Muito bem ceava;
A cama lhe fiz,
Nela se deitava.
Lá pela meia-noite
Me eu sufocava.
Senti que me levavam
Com a boca tapada.
Levam-me: a cavalo,
Levam-me abraçada,
Correndo, correndo,
Sempre à desfilada.
Sem abrir os olhos,
Vi quem me roubava;
Calei-me e chorei,
Mas ele não falava.
Dali por muito longe
Ele me perguntava,
Lá na minha terra,
Como me chamava.
Chamavam-me Ira»
Ira afidalgada»
Agora por aqui,
Ira cansada.
Horas esquecidas.
Comigo lutava,
Sem forças nem rogas,
Tudo lhe mancava.
Virou um alforge,
Ali me matou»
Abriu uma cova,
Onde me enterrou.
Dali por sete anos,
Passa o cavalheiro,
Uma linda ermida
Viu naquele outeiro.
A Urtiga e o Pieiro
A Urtiga e o Pieiro
Que sua fala elegeu,
De tantas gemadas tomadas
Por fim enfraqueceu,
Os dentes da nossa urtiga
O ferreiro os limou,
De tanto papel cortar
Até se assim se ????Msou.
A boca da nossa urtiga
Tem uns dentes muito afiados,
Som beleza e formosura
Assim foram encantados.
As orelhinhas compridas
Seu rabinho auxiliava
E de várias olhadelas
Até de alegria saltava.
0 feno da nossa aldeia
Na beirinha do centeio
E lá o foram buscar
Para depois fazer paleio.
No alto daquela serra
Está ervinha a brilhar,
De tão nuas que andavam
Até lá a foram buscar.
Do pinheiro da saldanha
Fizeram a sua roca,
De vários fios torcidos
Chegaram à massaroca.
A urtiga e o pieiro
Foram aclamados p'ra rei,
Para tanto não saltarem
Até os tiçar lhe piei.
As cerejas da nossa aldeia
Estão agora a encarnar,
Aqui está a nossa urtiga
Quando nos quer arranhar.
As pedras fazem penedos,
Dos penedos fazem rochas,
De tantas coisas que tens
Aqui algumas me mostras.
As batatas da nossa aldeia
Estão agora a florir,
Assim é o meu pieiro
Quando mostra os dentes para rir.
0 tojeiro e a carmeisa
Estão agora a florir,
Nos imos não pressas,
Não nos dá vontade de rir.
No fundo daquele poço
Vê-se a minha fotografia,
A flor anda perra,
Não anda com alegria.
Ó urtiga, aonde estas?
Se cantasses, é que era!
A flor te ia buscar,
Que há tantos dias te espera
Ó Sobreiro do meu quintal»,
Para que: secaste: tão cedo?
Foi se calha o pieiro
Que te pôs um grande medo.
Ó minha fontinha verde,
Não dê água nem com agres;
Não venhas para a minha beira.
Porque fazes mil milagres.
A ideia não me vence
A escrever tudo que eu quero;
Estou à espera da urtiga,
Que há tanto tempo espero.
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